Friday, December 26, 2008

2009 = ANO DO SOL!



Tania Cavalheiro, minha amiga numerologa, mandou algumas dicas para 2009 que resolvi compartilhar com vocês:

Na astrologia, 2009 vai ser regido pelo Sol, o centro do nosso universo, o que nos instiga na busca da expansão.

SOL fornece energia, vida, força e calor. Começa por portar-te ( e sentir-te) como o que és: o centro do teu universo! BRILHA, aparece, irradia energia e luz!

2009 vai te propiciar a chance  de criar, de “ser”  e de organizar.

Uma dica: PRECISAS ter projetos em mente, ok?

Será um ano de grandes desafios, então estabelece metas e caminhos pra chegar a elas e não saias dos teus planos nem permitas interferências alheias.

Busca tua individualidade te policiando para evitar o egoísmo, a arrogância e o orgulho.

Na mitologia grega, SOL era associado a Apolo (beleza!) então capricha no visual, cuida da tua aparência e da tua saúde.

BRILHA  por dentro e por fora, TU PODES!

A soma de 2009 é 11, que resulta em 2. Isso mostra que será um ano no qual deveremos ter muito tato, força de caráter e paciência.

Nada de querer que as coisas aconteçam de forma instantânea. Observa o que acontece ao teu redor, ouve a voz de tua intuição e cuida dos sentimentos.

Vais colher exatamente o que plantares!

2 na numerologia é sinônimo de paz, união e harmonia. Não é uma linda chance?!

Wednesday, December 24, 2008

Estou roubando este texto do perfil do Orkut de uma amiga, da qual não vou dizer o nome porque não pedi licença! Mas, acho muito perfeito. Só troquei o lance do signo, para encaixar com o meu. O resto, acho que é assim com todo mundo, por isso, cometi este gesto ilícito de copiar e colar. Somos assim mesmo...muitas. Acadêmicamente falando: é uma questão de recepção!

"O horóscopo diz que sou libriana com ascendente em peixes, minha mãe diz que eu sou preguiçosa, minha irmã diz que sou bagunceira, uma amiga diz que sou perfeccionista, um amigo diz que sou madura, meu irmão diz que sou infantil, uma colega diz que sou tímida, outra diz que sou louca, um guri já me chamou de patricinha, uma guria disse que sou estilosa, na rua já gritaram: ET!, e tb: gostosa... um ficante disse que sou fogo, outro disse que sou fria, um cara me disse que sou misteriosa, outro me disse que sou cheia, alguém disse que sou boa atriz, minha professora disse: tá horrível!... uma pessoa disse que sou inteligente, um cara me disse que quase tenho uma falha de caráter, uma pessoa diz que sou chata, outra me chama de amiga, já me chamaram de lady e de barraqueira, já me chamaram de liberal, já me chamaram de ciumenta, já me chamaram de palhaça, já me chamaram de emburrada, já me disseram que estou à frente dos meus tempos e já me disseram: evolua!... já arregalaram os olhos e me disseram: que corajosa! já me disseram: ah vai pôr uma mochila nessas costas! já me chamaram de calma, já disseram que sou neurótica, já disseram que sou estressadinha, já disseram que tenho um bom coração, já disseram que sou narcisista, dizem que sou debochada, dizem que sou negativa e já me chamaram de idealista, dizem que sou teimosa, já me chamaram de hippie e de capitalista egoísta e nazista, dizem que sei o que quero, já me perguntaram: o que tu quer?...

Sunday, December 21, 2008

Um ritual de casamento

Hoje, fui a um casamento que teve um ritual budista. Lindo...Uma das coisas que eu achei muito bacana é que eles acreditam que para o relacionamento dar certo é preciso a presença dos elementos terra, água, fogo e ar e eles explicam por quê. O noivo lava os pés da noiva (e vice-versa) para limpar todas as vivências negativas anteriores, abrindo espaço para as que estão começando com a união dos dois. Teria muitas coisas para escrever sobre, mas, este calor do dia todo me deixou mortinha e se esperar descansar vou acabar entrando 2009 sem dizer nada. Então, coloco aqui a mensagem do convite da minha amiga que eu achei maravilhosa e uma foto dela linda de morrer! Foi minha professora de yoga por muitos anos, agora é uma grande amiga. Aproveito para dizer Namastê que para quem não sabe quer dizer que o Deus que está dentro de mim, saúda o Deus que está dentro de cada um. 

"Hoje eu caso com meu amigo, o único com quem eu tenho rido e chorado. O único com quem aprendi e compartilhei. O único que eu escolhi para apoiar, encorajar e dar a mim mesma todos os dias que nos for permitido compartilhar. Hoje eu caso com meu único amor."

Thursday, December 18, 2008

De olho no meu umbigo

Estou literalmente de olho no meu umbigo. Fazendo exercícios e fechando a boca para perder a barriga que está em volta. Mas, só fui perceber isso quando li a notícia ontem, quarta-feira, sobre o jornalista iraquiano que atirou os sapatos em Bush no Domingo. Nem sempre me interesso por notícias políticas. Internacionais, então, menos ainda. Mas, vamos ter que concordar que esta, além de interessante, é divertida.

Eu, assim como escreveu Marta Medeiros em sua coluna da Zero ontem, não consigo aprovar estas manifestações de jogar torta na cara dos políticos, ovos, tomates e fazer estas coisas terrivelmente constrangedoras, sejam as vítimas merecedoras ou não. Ainda acho que a palavra deve ser a nossa arma. Quanto mais de jornalistas! No entanto, pensar no instante que inspirou este jornalista a tirar os seus sapatos e jogar no ex-presidente é algo que me atrai. A agência France Press disse que suas palavras na hora do arremesso foram:É o beijo do adeus, espécie de cão”.  Direto lembrei de uma tia que tem uma ojeriza aos americanos. Rebate qualquer um que tente dizer algo a favor. Nada escapa. Ela deve ter vibrado com a notícia. O problema é que acabam tratando o caso como se o autor da atitude tivesse tentando ou mesmo conseguido dar um tiro no dito cujo, o que não é nada incomum na história política americana. Aliás, gente muito boa (diferente deste caso) já foi vítima.

Afinal, os sapatos...Acho até que quem saiu perdendo (mesmo antes da punição) foi o jornalista. Porque mesmo sendo sapatos baratos, nada parecido com os de Carrie Bradshaw dos Sex and the city, não deixa de ser um desperdício. Por outro lado, a cena valia cada centavo. Pena que o jornalista tivesse uma mira tão ruinzinha.

Quanto a Bush tentou fazer uma de suas piadinhas dizendo que só calçava o número 10. Espero, do fundo do coração, que ninguém tenha rido na hora. Afinal, mesmo os puxa-sacos poderiam dar uma folga agora que ele não é mais o presidente.  Bem, mas, por falar nisso, “I don’t wanna walk in your shoes” Obama!

Wednesday, December 10, 2008

Falando de pretensão

Escolhi como tema para a minha pesquisa de mestrado a crítica teatral. Não foi uma escolha ao acaso. Como jornalista e apaixonada por teatro, esta questão estava sempre presente. Creio que nem preciso dizer que logo percebi a grande lacuna que há no Rio Grande do Sul em relação a este tema. 

Bem, o primeiro ano de mestrado já está no fim e confesso que não foi um período fácil. Do meu projeto, apresentado para seleção dos escolhidos para fazer o mestrado, até agora, muita coisa mudou. Meu primeiro contato com o meu orientador Edélcio Mostaço foi interessantíssimo e impactante. Enquanto o escutava falar com tanta propriedade, via minhas questões sobre quem deveria fazer crítica, quais eram os critérios da crítica, etc, etc, caírem por terra. Precisávamos falar na morte da crítica. Ou seja, meu projeto era um natimorto. Embora o trabalho ainda nem tivesse começado não me parecia, naquele momento, tão simples mudar a rota. E agora? Pensei. Mas, tive a humildade de não rebater os aspectos que estavam sendo apresentados por uma pessoa que subiu aos palcos, exerceu a crítica por muitos anos e obteve reconhecimento nacional. Não seria pretensão. Não seria ousadia. Seria burrice.

 

Então, tudo o que tinha a fazer era recomeçar com outro olhar o meu trabalho e foi, então, que ele se tornou ainda mais atraente. Hoje, 10 meses depois, vejo que meus questionamentos eram ingênuos, que não estava dando a atenção a questões mais importantes do que o como fazer crítica. Que é preciso discutir o por que e o quem a fará. Ainda é muito insipiente a minha pesquisa (em março, achava que já estaria com tudo quase pronto), mas, olhando a história da crítica pude concluir que estas idéias que temos sobre quem pode fazer crítica é algo que nos foi imposto. No início, a crítica era uma voz que questionava o poder reinante, mas, depois, ela passou a ser este poder. Chegou um momento em que os acadêmicos estabeleceram diversas regras, estilos e sabe-se lá mais o que para julgar, avaliar o que era posto em cena.   que por mais que os fazedores de teatro se sintam abalados com o que é escrito sobre o seu trabalho, trata-se de uma ilusão achar que isso, hoje em dia, influi na quantidade de público. São outros fatores. Talvez, até as fases da lua...Ok. Exagerei. Mas, não são as críticas. Ao contrário, quantos exemplos temos de que críticas extremamente negativas levam a platéias cheias? Imagino que isto ocorra justamente porque as pessoas não querem que alguém julgue as coisas por elas. Querem ter suas próprias opiniões. E eu, acho isso ótimo. Ainda não tenho a menor idéia de que rumo a minha pesquisa irá tomar no futuro. 

Mas, percebo e acho engraçado que algumas pessoas tentem defender uma reserva de um mercado que nem existe: o dos críticos. Dizem que não pode ser qualquer um a comentar, mas, sabem definir o que este qualquer um deveria saber para ser aceito? O levantamento que fiz até agora de todas as pessoas que mantém algum espaço com críticas de teatro em blogs, sites, comunidades, são de pessoas que estão relacionadas com a arte, que estudaram estes temas, que atuam na área e por aí vai. O que não deveria surpreender ninguém, pois, quem iria se dispor a escrever sobre teatro sem ser alguém que se interesse muito por ele? Tem que ter disponibilidade para ir assistir aos espetáculos e depois ter a paciência e a coragem de escrever sobre. Definitivamente não é para qualquer um. Assim, não vejo porque o temor. Além disso, acredito (até prova em contrário) que uma boa forma de manter esta arte viva é falando e escrevendo sobre ela.  Os meios virtuais facilitaram isso. Que prejuízo isso pode causar, afinal? Manter o teatro em uma redoma, intocável e indiscutível e acessível somente a eleitos é matar a sua essência.  Para mim, o crítico é mais um expectador e quem faz teatro sem querer ter o retorno do que está fazendo está no rumo errado. 

Décio de Almeida Prado, considerado um dos maiores críticos do Brasil, escreveu uma carta de despedida, dizendo que não tinha mais como criticar o teatro que estava surgindo onde todos os parâmetros estavam desaparecendo e encerrou sua carreira. Pode-se concluir daí, que esta tarefa ficara ainda mais difícil e que tenha surgido, a partir deste momento, todo este caos sobre a crítica. 

Estou sendo muito pretensiosa com o título: A crítica teatral na era digital – da poética a cibernética, mas, tenho consciência disso e estou pronta para correr os riscos. No entanto, não tenho muito a perder. Lá se vão mais de 20 anos quando ainda estava começando a tentar achar meu lugar no mercado (coisa que continuamos fazendo sempre), mas, já não há mais porque não ousar, não provocar polêmica. Foi esta maneira que conquistou o diretor da Aliança Francesa de Porto Alegre que me abriu o espaço no site www.afpoa.com.br para o que ele chamou La Chronique d'Helena, onde falo sobre a cultura francesa, outro tema que me apaixona. 

Nas pesquisas que fiz, recebi respostas maravilhosas, de gente muito reconhecida no meio teatral e acadêmico, doutores, mestrandos, atores globais, etc,etc, mas, também tive dois críticos que se manifestaram negativamente. Um apenas disse que não responderia a SPAM (?) e outro ficou chocado com a contundência do meu título e disse: “Mas, o que é isso? O teatro é mais gentil.” 

Bem, o teatro eu não sei, mas, os espaços virtuais acho que devem ser. Sou totalmente contra usá-los para denegrir a imagem de quem quer que seja.  Fora isso, fico bastante feliz quando tenho retorno ao que escrevo aqui, pois, antes, tudo acabava guardado em minhas gavetas e eu perdia a chance de compartilhar com outros idéias e pensamentos, o que acho muito enriquecedor e estimulante. 

Tuesday, December 09, 2008

Projeto Picasso – um sonho realizado


À convite de Thiago Pirajira, que foi meu colega no DAD e com quem muito simpatizo, fui assistir O Projeto Picasso, com direção de Julia Rodrigues. O espetáculo, baseado no texto As Quatro Meninas de Pablo Picasso é apresentado por seus autores como o resultado de uma pesquisa de linguagem e identidade do Grupo Barraquatro.

Tenho lido em textos escritos pela classe que os espetáculos que são realizados por alunos em fase de experimentação não devem ser avaliados com os mesmos critérios dos demais. O Projeto Picasso, para mim, é uma prova de que isso não é sempre verdade. Por quê? Porque se trata de um espetáculo extremamente bem feito, digno de qualquer espaço teatral e de uma bela temporada. E digo isso com alívio e alegria, pois, justamente neste momento acontece uma polêmica na comunidade do DAD sobre um comentário que fiz sobre as apresentações do departamento serem pretensiosas. Tudo que este não é. 

A simplicidade da proposta (que sem dúvida exige complexidade em sua execução) é arrebatadora. O trabalho é realmente de um grupo e de talento, sem celebridades, mas, com várias estrelas, pois, sem dúvida, brilham. A trilha sonora nos delicia. Projeto Picasso traz para a cena uma delicadeza da qual acredito que o teatro esteja necessitando e o público ainda mais. Nesta mesma linha do simples está o figurino e o cenário, mas, não há como continuar vendo um pano branco da mesma maneira depois de ver o que este pessoal fez. E que jeito criativo de fazer uma cadeira entrar em cena! Elementos como o fogo, a água e o ar se fazem presentes real ou metaforicamente. 

Estavam certos aqueles que disseram que é preciso assistir os espetáculos para poder comentar, mas, não fui eu que disse, mas Bárbara Heliodora, que o grande problema dos espetáculos ruins é que eles afastam o público do teatro por muito tempo e, às vezes, para sempre e é por isso que fico tão constrangida e provocada quando isto acontece. Felizmente, não foi o caso. Assim, pude ver atores como Thiago, a Carol Pommer, a Daniela Dutra, a Juliana Dias e a Kayane Rodrigues provocando risos e emoções com gestos, expressões e movimentos totalmente integrados e que nos falam, mesmo quando não há texto. Saí do teatro com a alma lavada, com a leveza que a má-fé e as maledicências costumam consumir no nosso dia-a-dia. Espetáculos como este colaboram para que esta arte maravilhosa do teatro continue viva. E eu também. Obrigada Barraquatro!

Monday, December 01, 2008

PÓS SEGUNDA DRAMÁTICA

Não pude acompanhar, realmente, a programação das Segundas Dramáticas, atividades realizadas no Departamento de Artes Cênicas da UFRGS durante o ano.  Recebia os convites, colocava na agenda e no dia alguma coisa acontecia e me impedia de ir. Nestas ocasiões, ficava sempre aquela sensação de perda. Assim, quando soube que seria a última apresentação do ano, comecei a me programar bem antes. A proposta era uma conversa sobre Dramaturgia com Ivo Bender e Jorge Furtado. Dois nomes que, sem dúvida, impõem respeito, sendo que do primeiro, como sempre confesso minhas fraquezas, pouco sei e muito ouço falar há anos. Do segundo, acompanho há bem mais tempo. Ainda era estudante de jornalismo quando comecei a ir a Gramado para participar do Festival de Cinema de Gramado e ele já era presença destacada por lá.

Bem, mas, antes da tal conversa, estava prevista uma leitura dramática da colagem de textos produzidos durante a oficina de Criação dramatúrgica com o Bender. Já estive em outras leituras e quando dá para ser ruim, é trágico. Se teatro mal feito é lamentável, leitura dramática mal executada é um tédio absoluto. No entanto, não foi assim.  Foi muito bom ver gente nova sabendo dizer um texto. Todos mostraram competência em relação a isso. Agora, Ian Ramil tem um jeito de estar no palco que merece destaque. É um jeito despretensioso, natural, mas, ao mesmo tempo impactante, convincente que se transforma de acordo com o personagem lido. Personagem? Na leitura nem chega a ser isso. Mas, Ian os fez aparecerem. Eu os vi.

 

Logo depois, começou a conversa. Ivo Bender falou sobre a oficina e foi logo dizendo: “É muito penoso escrever”. Ele atribui a isso o fato das pessoas irem desistindo dos laboratórios, na época em que ele ministrava aulas no departamento e, agora, da oficina. No entanto, segundo ele, aqueles que ficam produzem algo interessante. Para ele, o ator tem outro feeling em relação ao texto. “Quem tem experiência de palco, tem mais facilidade na redação dramatúrgica”, afirmou. Disse também que para escrever era preciso ler muito, tudo. Jorge Furtado foi entrando na conversa dizendo que era um leitor compulsivo e que ficava sempre com a impressão de que ainda há muito para ler, que não leu nada. Explicou que, no início, achava que havia dois mundos inconciliáveis: o das palavras e o das imagens até que assistiu Deu pra ti anos 70 e acreditou que era possível uma relação entre os dois. “A escrita exige três coisas: memória, observação e imaginação”. Para ele, é o que possibilita escrever algo. Disse que depois a gente não sabe mais o que é uma coisa ou outra. Que, muitas vezes, pensa que está se lembrando de algo que viveu e, na verdade, é algo inventado. Falou das preocupações que tem como diretor e que, várias vezes, lê, pensando: “e se eu for filmar como faço?”. 

Ivo Bender disse que uma das primeiras coisas que fala para quem está começando a escrever é: “não tente ser Shakespeare, nem Racine, nem Molière”.  Defende que existem elementos que podem ser identificados em um bom texto. Para ele, isso só se perde no teatro pós-dramático que ele considera “um bom barbitúrico”. Jorge Furtado disse que os textos que vão ser transformados em cena têm que ser lidos em voz alta. Contou que ele criara uma piada em que o homem dizia que havia abandonado a mulher porque ela comprara uma calça de couro. Como esta última palavra não foi compreendia pela platéia, a piada se perdeu.

Comparando literatura e cinema, Furtado disse que o cinema tem um tempo, que a literatura não tem. No primeiro, cabe ao diretor definir que tempo será esse em cada cena e, na leitura, o tempo é o do leitor, ou seja, pode levar anos. E, apesar de dar exemplos de quantos aspectos precisam ser levados em conta na hora de filmar, garantiu que “nada supera o texto”. Deu como exemplo a afirmação do quadro de Magritte: Isto não é um cachimbo, para mostrar que só na linguagem escrita é possível empregar a negação. “No entanto, o cinema é comovente”.

 

Ambos fizeram indicações de leituras imperdíveis. Jorge Furtado disse que Gonçalo de Tavares chega a ser irritante de tão bom e Ivo Bender disse que seríamos, praticamente, amaldiçoados se não lêssemos até o final do ano O Romanceiro da inconfidência, de Cecília Meirelles. Baseada na competência destes dois, acho melhor seguir estes conselhos. 

Autores dos textos da leitura dramática: Alexander Kleine (Cargo de Desconfiança), Clóvis Massa, (Das Profundezas), Marcos Chaves (Quartas-feiras de Três Notas) e Shirley Rosário (Emma Zunz, de Borges)

 Direção de LUCIANA ÉBOLI 

com Francine Kliemann, Ian Ramil, Karine de Bacco, Luísa Herter e Pablo Damian.

Thursday, November 27, 2008

Exigências

Muita gente já disse que estou sozinha porque sou muito exigente.
Mas, será que é exigir demais querer alguém que como você tem conversas inteligentes, gosta de cinema, de um bom vinho, de estar ao ar livre, de andar pelas ruas se deixando levar?
Será que é exigir demais querer ter alguém que goste de gente,
que goste da vida, de ser e de estar?
Que saiba sorrir quando eu falo e adore viajar?
Alguém que como você seja firme em suas convicções, mas, meigo e compreensivo em relação ao meu modo de pensar?
Que me faz sentir segura, mas, que também aparenta precisar de mim para se reafirmar?
Alguém que me abra a porta para eu passar, puxe uma cadeira para eu sentar, não em um gesto machista, mas, em uma atitude gentil que demonstra que era ali mesmo o meu lugar?
Que até vai achar graça quando ver que eu fui escrever algo sobre ele e que, sem querer, tudo me levou a rimar?
Se é exigir demais, por que você veio, mostrando que existe alguém com o jeito que eu sonho para amar?

Sunday, November 16, 2008

O mar quando chega na praia é bonito


Passei dois dias e meio na praia. Como sempre, parece muito mais até porque dois foram de céu azul e calor. Ou seja, pude renovar minhas energias entrando no mar, o que adoro fazer. Vou à praia desde pequena, como já disse aqui, e adoro. Depois que cresci, comecei a achar que o mar tem, realmente, algo de transcendente e fica muito mais fácil meditar, pensar na paz, no amor, nos meus planos, nos meus amigos quando estou diante da infinitude das águas marinhas.

Não, não estava nas Bahamas, nem em Salvador, nem mesmo em Santa Catarina. Estava em Capão da Canoa, no apartamento adquirido pela minha cunhada e pelo meu irmão, que já não está mais conosco (sou espírita dizer que ele, simplesmente, morreu não reflete o meu sentimento e quando ouço algumas pessoas dizerem “o finado” acho muito esquisito...). Sim, o apartamento tem muitas lembranças dele, mas, todas boas. Embora eu ele discutíssemos muitas vezes, ele adorava receber a gente. Seja aqui em Porto Alegre ou lá na praia, ele era o anfitrião perfeito. Batia boca comigo quando vinha na casa dos meus pais, vejam só! Em uma das paredes está o brasão da família Mello que eu dei de presente em um Natal. O edifício tem o formato de castelo e meu irmão gostava destas coisas de árvore genealógica, de onde viemos (já que para onde vamos não sabemos mesmo...), então, achei que ele gostaria deste negócio. Encomendei pelo correio e mesmo não tendo chegado na noite do dia 24, quando veio foi recebido com satisfação, minha e dele. 

Eu, minha irmã e minha mãe sempre ficamos felizes (pode parecer incoerente para muitos), quando estamos lá, porque lembramos da torcida dele para que aquele negócio desse certo e da vontade que ele tinha que todos pudessem aproveitar depois. Lembro que ele começou a pensar na possibilidade de ter uma casa na serra e me disse:  “o bom disso é que eu não vou poder estar em duas casas ao mesmo tempo, então, quando eu estiver numa, vocês vão poder estar na outra”! As coisas não saíram bem assim, mas, fazemos questão de aproveitar esta conquista dele. E como... Tem tudo por lá. Entramos e saímos só com as nossas roupas do corpo. Uma delícia. Quando via este tipo de coisa nos filmes, pensava: “não sei como estas pessoas não vendem a casa, com todas estas lembranças de tal pessoa.” Hoje, sei que era uma bobagem, pois, a saudade vai estar em qualquer lugar. Além disso, estar por lá é estar um pouco perto de novo dele. Em um lugar, em que só temos recordações felizes. Ele feliz e nós em volta.

 

Hoje, fizemos algo que, de certa forma, já tinha vontade há mais tempo. De mãos dadas, sentadas à mesa do apartamento, falamos sobre como gostaríamos que ele estivesse, não aqui, se não tivesse morrido, mas, neste outro caminho que a gente acredita que ele deva estar fazendo. Como gostaríamos que ele se sentisse em relação a vida que teve aqui conosco, da forma como lembramos dele, do exemplo que ele nos deixou e do privilégio de ter convivido com ele, mesmo que por pouco tempo. Ele servia de apoio para a minha mãe. Costumava se comportar como um oráculo. Tinha resposta para tudo. De receitas culinárias a casos complicados na justiça. E muito entusiasmo para tudo. Fazer planos era com ele mesmo. Coisas banais, como comprar um carro, a projetos futuros de vida. Era um santo? Não, longe disso. Tinha um temperamento forte. Gostava de discutir ferozmente, ainda mais com quem achava que era páreo para ele. Isso era quase um esporte. Alías, um dos poucos homens que conheço que não gostava de futebol. Em compensação, era daqueles que lia até as bulas de remédio! Ok. Exagerei. Mas, só no tipo de literatura, não na quantidade de livros lidos e quando falava destes os olhos brilhavam. Escrevia também e muito bem. Não tivesse usado este talento tão intensamente para redigir petições, teria mais chance de escrever ótima literatura. Quem leu seus contos e poesias sabe que, agora, não estou exagerando. 

Bom, mas, isso tudo me fez pensar. Às vezes, a gente não precisa deixar grandes descobertas para humanidade, nem ser reconhecido por milhões de pessoas como um Dorival Caymmi. Ser um bom exemplo para aqueles que estão em volta também pode ser, totalmente, inesquecível. Para menos gente, é verdade, mas, não com menos importância ou intensidade. 

PS: Minha intenção, quando comecei a escrever, era falar dos babacas do trânsito na estrada que estão sempre com pressa, cometendo imprudências e ameaçando a vida dos demais. Acabei mudando o assunto. Mas, não demora, vou retomar esta bronca.  

Monday, November 10, 2008

Segunda dramática

Andei meio fora do ar, mas, estou por aqui. Nesta segunda-feira nublada em Porto Alegre, deixo vocês com Caetano. Aproveito também para divulgar as Segundas Dramáticas lá no DAD, às 18h. Hoje, é uma apresentação da minha colega de mestrado e amiga Cibele Sastre, chamada Experimento da Cadeira. Não vi ainda, mas, acho que vai valer a pena. Tem bate papo depois.

Wednesday, October 29, 2008

Le rendez-vous cinema

 

Cinema, francês, comidas e vinhos? Morri e fui para o céu? Não, ainda não. Mesmo, assim, não dava para resistir ao convite da Aliança Francesa para “Le rendez-vous cinema”. O filme era “Questão de Gosto”, de Bernard Raap, e mesmo que não tivesse absolutamente naaaada a ver com a minha pesquisa de mestrado em teatro sobre crítica, assim que li o título, fui atraída. Bem, saber que era uma sessão comentada com Philippe Rémondeau e com a mediação do diretor Cristophe Benest também ajudou.

 

No momento, era o mais perto do Chez Philippe que eu podia chegar e quase que isso não acontece, pois, já de cara fomos avisados que ele se atrasara. O que, no entanto, não fez nenhuma diferença, pois, ver o filme no escuro e em silêncio com ele do lado não ia tornar o filme mais interessante do que já é. Talvez, eu pudesse olhar para ele com um olhar de fome cada vez que aparece uma das cenas maravilhosas de comida, mas, sem luz, acredito que pouco adiantaria.

 

O filme é instigante. Com um roteiro desconstruído (linguagem dos pós-dramáticos) cuja primeira cena é o final e já nos avisa de antemão que não será feliz. Eu, que não leio nem caixinha de DVD para não saber os detalhes, não me importei. De qualquer forma, o filme prende e a história vai sendo contada aos poucos. O trabalho dos atores Bernard Giraudeau, Charles Berling, Florence Thomassin, Jean-Pierre Leaud, Jean-Pierre Lorit é muito bom e a relação que se estabelece entre os dois principais é curiosa, bizarra até. Ao mesmo tempo familiar. Sim, porque embora a história vá evoluindo para situações patológicas, trata-se de uma relação de poder, de trabalho, de patrão e empregado. De humilhação, de assédio moral e estas coisas que não são tão desconhecidas assim.

 

Lá pelas tantas, enquanto me perguntava como alguém poderia suportar tanta maluquice, lembrei de um dos meus empregos na virada do milênio (ano de produção do filme, aliás) em que a relação entre eu e meu chefe (um ex caso de amor) também descambou de modo muito esquisito. Pensava nas vezes em que ele me “obrigava” a ir trabalhar nos sábados para realizar reuniões estratégicas para a empresa, garantindo que desta forma me transformaria em sócia, para depois me deixar todo o sábado pela manhã absolutamente sozinha e aparecer, próximo ao meio-dia, com o maior sorriso, me chamando pelo apelido que me criara e dizendo que, infelizmente, tinha ficado preso em uma situação inesperada. Fato que se repetiu por muitos meses e eu continuava indo trabalhar aos sábados contrariada.  E, aproveitando o filme, vou empregar um verbo francês que aprendemos lá na Aliança na aula de sábado de manhã (sim, agora, este é muito melhor aproveitado): subir = suportar alguma coisa dolorosa sem querer.

 

Importante frisar, porém, que eu não tinha as vantagens que o cara do filme teve: o alto salário, as regalias. Aliás, na descrição do filme diz: “o que no início era uma relação profissional acaba por tornar-se muito perigosa para ambos”, eu discordo. Acho que nem, no início pareceu apenas uma relação profissional. Adoro cinema por isso. As coisas vão sendo ditas aos poucos, mas, já estão lá. É um olhar, um jeito de andar, uma frase aparentemente casual. Muitas vezes até o figurino ou um objeto qualquer vão dando indícios do que irá acontecer depois. De qualquer forma, mesmo neste filme em que a cena final já apareceu, e inclui uma camisa encharcada de sangue, ainda queremos saber o que aconteceu até chegar ali. E quando sabemos, não decepciona. Ao contrário, dá vontade de saber mais. É aquele tipo de filme que não termina com os créditos, que podemos aprofundar com as discussões. Importante observar o ritmo deste filme, pois, os franceses têm sua fama de fazer cinema lento e, muitas vezes, sem final, como muitos de nós, brasileiros, costumamos dizer. Não é este o caso.

 

Mas, apesar da presença simpática do Philippe (sim, ele apareceu!) e das coisas curiosas e inteligentes que ele falou sobre culinária, o tema do filme era para uma discussão com psiquiatras e psicanalistas de plantão. Um chef, por mais brilhante que fosse, pouco poderia fazer para explicar aquela relação de dependência doentia que se estabeleceu entre os dois atores principais, mesmo que eles tenham passado quase todo o filme entre uma refeição e outra. Como dizia a chamada do email que recebi convidando: “Goûter n’est pas jouer”! (Provar não é jogar). Agora, verdade seja dita: saímos todos com vontade de jantar. Infelizmente, ainda não foi desta vez que fui parar no Chez Philippe, mas, estou chegando perto...

 
 

Tuesday, October 28, 2008

Teatro quase à força


Fui assistir O Médico à Força, depois de um Domingo de eleição e horas ininterruptas de chuva. Havia escutado alguns comentários não muito bons. Mas, minha irmã me convidou e ela quase nunca vai ao teatro, então, quem sou eu para dizer que não?

Na entrada, sou recebida com as boas-vindas da diretora Margarida Peixoto e na bilheteria ganho o desconto da “classe”. Isso é motivo de satisfação para mim, amante do teatro e dos atores que sou. Em seguida, recebo o programa. Ficamos lendo, minha irmã (professora de francês) e eu, sobre Molière, o autor do texto de 1666, “uma das peças que têm a medicina como alvo principal do riso”. Para mim, que fui assessora de imprensa da Associação Médica do Rio Grande do Sul antes dos anos 90, isso não me surpreende. É uma classe que merece todo o meu respeito, mas, que, convenhamos, é capaz de provocar todas as reações humanas: da ira ao riso. 

Bem, o primeiro impacto é do cenário de Elcio Rossini. Grandes fotos coloridas em painéis separados em formato triangular que se revezam. Interessante. Inteligente. Esteticamente eficiente. Logo no início, Anna Fuão e Marcelo Adams no palco. A primeira, minha colega de faculdade e o segundo, um ator cujo trabalho, até hoje, sempre me agradou. Anna não é ela. É o seu personagem. Inclusive no seu rosto que, mesmo sem máscara, apresenta feições que não é daquela moça de olhos claros que sentava na mesma sala de aula que eu. Atriz. Ponto. Marcelo Adams não poderia ficar atrás. Tem uma presença cênica que admiro. Um jeito de dizer o texto que me atrai. E canta! Bem, por sinal. O último trabalho que vi dele foi Édipo e agora lá está ele vivendo Sganarelo, um lenhador. Para que outras vidas se temos o teatro? E se vamos falar do elenco, todos me convencem, todos me divertem. 

Falei que o texto era de 1666? Segue atual. Por isso, Molière é tão montado. Por isso, chegou aos nossos dias pós internet, pós-dramático, sem as Leis de Incentivo, sem o marketing. Coisa de gênio. Gosto das “confusões verbais” que ele cria, como diz o programa. Não sei se precisava inspirar-se na estética da produtora brasileira Atlântida para me apresentar o que vi. Não li o texto original. Mas, acredito na escolha da Cia. De Teatro ao Quadrado.

Algum “porém”? Quase sempre. Neste caso, em algum momento, sem que eu saiba identificar por quê, algo acontece em cena que me dispersa, me traz aquela sensação incômoda de querer saber quanto tempo falta, estas coisas que não deveriam acontecer em um bom espetáculo. No entanto, como disse, pode ter sido algo daquele dia, ou melhor, daqueles dias, de chuva, chuva, chuva. Felizmente, aceitei o convite de minha irmã, pois, se tivesse dado ouvidos aos comentários, teria ficado em casa sem dar boas risadas e ver um bom espetáculo. 

Thursday, October 23, 2008

Sexy and the city. Where?


Fui devolver o filme O criado que havia tirado na locadora devido a disciplina que faço no mestrado sobre a Dramaturgia do Século XX. Olhando o folheto de divulgação, vi que o filme Sex and the city estava na lista de filmes disponíveis e trouxe para casa. Cheguei a pensar em ir ao cinema assistir, mas, o tempo passou. Despretenciosamente, comecei a assistir. Não cheguei a ser graaande fã da série. Um amigo meu achava que eu iria gostar e me indicou há bastante tempo atrás. Só fui ver as reprises. Ele estava certo. Já o filme pensei que ia ser besteira. Aquela história daquelas mulheres. buscando o amor, a Carrie eternamente apaixonada pelo Big que tinha outras e nunca estava disponível... Eu conheço esta história. Não preciso ver na tv. Falso. Acaba sendo emocionante até. Afinal, se fazem um filme sobre algo que me é tão familiar é, no mínimo, interessante. E foi assim que fui vendo o filme. 

Não dou bola para grifes. Reconheço a beleza, mas, em questão de moda, muitas vezes, a esquisitisse anda junto. Então, não ligo se a bolsa é Louis Vitton (talvez, até me darem uma!) e tenho pavor destas griffes por mais chiques que sejam que colocam as iniciais do bambambam no produto. Um horror! Bem, mas, como já disse, não é isso que me impressiona no filme. É que se trata das relações, do amor, da paixão, do perdão e de sexo, é claro. Não podemos esquecer que Samantha faz parte deste relacionamento. 

Outra coisa que me emociona, as lágrimas até, é amizade destas mulheres. Este amor incondicional que resiste a tudo, ao tempo, à distância, as mancadas e, principalmente: a inveja. Elas são bonitas, inteligentes, tem desejos e buscam um amor. É claro que damos um jeito de nos identificarmos. Principalmente as que seguem só. Bateu saudades das minhas amigas. Bateu vontade de estar vivendo uma paixão. Bateu saudade...

Monday, October 20, 2008

O que faz você feliz?


Nunca fui contra propagandas. Todo comunicador convive dois anos com pessoas que estudam para aprender a fazê-las. Assim, aprecio espaços comerciais inteligentes, divertidos e emocionantes. Emocionantes sim. Acho possível um comercial trazer este sentimento.  Mas, como todo mundo, quando o comercial é bacana, esqueço o que estava anunciando. Uma pena...comercialmente falando! Bem, mas, no título ponho a frase de um que me chama, particularmente, a atenção e que repete esta frase: “o que faz você feliz?”* e abre para as muitas possibilidades. Bem, eu já há algum tempo acredito que felicidade, esta permanente, não existe. E repetindo algo bastante batido, ouso dizer: o que existe são momentos felizes. Como passei hoje.

Fui ao litoral a trabalho. Estou fazendo um vídeo sobre o trabalho dos meus pais, no qual já estou engajada há algum tempo, os Jogos Boole (www.jogosboole.com.br). Fui gravar o depoimento de uma professora que decidiu alfabetizar seus alunos utilizando este projeto criado pelo meu pai para desenvolver o raciocínio lógico. Enquanto ela falava, pensava nos longos anos do meu pai tentando explicar sua idéia, parecendo meio louco, insistindo em uma idéia que a maioria das pessoas não conseguia entender e acabava ridicularizando suas atitudes intempestivas que visavam à divulgação do que ele havia descoberto. Hoje, esta idéia se espalha por aí, nas escolas e chega em vários lugares do país, inclusive, em escolas pequenas, mas, com professores dedicados como a professora Vera Traut de Santo Antônio da Patrulha da escola Padre Réus onde estive hoje.

Minha próxima parada era Osório. Falar com outra professora, a Elena Chemale, também entusiasta dos Jogos Boole. Esta foi uma das primeiras a entender a proposta e vibrar com as possibilidades de trabalhar com o material em sala de aula. É assim até hoje, mais de 20 anos depois. Vera Traut, por exemplo, foi sua aluna. Foi muito bom vê-la dando seu depoimento também, falando sobre como o jogo pode ser sempre utilizado em situações difíceis, com crianças desinteressadas que logo se entusiasmam com o trabalho.

Dois momentos, portanto, bem bacanas. Mas, ainda faltava o melhor. Como poderia ir até tão próximo ao mar e não ir lá dar uma olhadinha? Sou fanática pela praia, sua amplitude. O mar tem algo de transcendental para mim. Ah, e preciso dizer que o dia estava absolutamente perfeito? Um céu azul de brigadeiro, como dizia minha vó, enquanto eu pensava no doce (chocolate com leite condensado) e ela se referia a patente mais alta das Forças Aéreas. E como fui com um músico, cantor e compositor, infelizmente, ainda não reconhecido, na última hora, passei a mão no meu violão. Pronto. Céu, sol, sul, água e cor e uma boa música para completar. 

Ainda bem que, hoje, não deixo um momento assim passar em vão. Percebo, imediatamente, que se trata de um momento feliz e faço as pazes com as forças criadoras do universo, esqueço o trânsito, as caras feias, as contas no banco e me deixo levar pelo barulho do vento. Vento....muito vento que espero tenha levado a todos aqueles que fazem parte das minhas relações as energias positivas que mandei hoje. Um dia em que, sem dúvida, eu fui feliz!

* Dei uma pesquisada na "minha bíblia"; o Google. O comercial é do Pão de Açúcar.

Thursday, October 16, 2008

O filho do padeiro não ganhou o Nobel


Márcio Silveira dos Santos

 

     "O teatrólogo brasileiro Augusto Boal, o filho do Padeiro como se intitula em sua autobiografia Hamlet e o filho do padeiro: memórias imaginadas, estava entre os indicados ao Prêmio Nobel da Paz 2008. Boal não levou o prêmio, entregue a um finlandês, mas cabe aqui destacar a relevância do seu trabalho, bem como a influência no que desenvolvo nas aulas de artes com jovens.

     Augusto Boal é um dos mais importantes criadores de teatro de sua época e a sua maior criação, o Teatro do Oprimido, é realizado em mais de 70 países por centenas de grupos em diversas áreas como educação, movimentos sociais e entidades socioculturais. Os grupos de Teatro do Oprimido ajudam milhões de pessoas a afirmarem sua cidadania em suas lutas contra o racismo, o sexismo e todas as formas de desrespeitos aos inalienáveis direitos humanos. Um teatro estruturado na relação dialógica, proposta por Paulo Freire na sua Pedagogia do Oprimido, a qual Boal se inspirou.

      Tenho trabalhado nesta linha com os jovens da periferia da cidade. Utilizando desta potente ferramenta para conscientização de todos que a praticam. Considero minhas aulas como pequenos CTOs - Centros do Teatro do Oprimido. Onde procuro desenvolver caminhos para a transformação da realidade dos alunos, a partir da restauração de suas capacidades estéticas na melhor compreensão das relações que estabelecem socialmente. É um processo lento, respeitando individualidades nos coletivos, que vem apresentando resultados e se multiplicando.

     Recentemente, Boal disse que não tinha expectativa em ganhar o prêmio, mas anda extremamente feliz porque recebeu apoio para nomeação de diferentes pessoas dos cinco continentes. Ainda neste ano o dramaturgo recebeu o prêmio da Fundação Príncipe Claus para a Cultura e o Desenvolvimento, entregue pela Família Real holandesa. No Brasil, não é tão reconhecido quanto no exterior, como em Nova York, onde existe o dia do Teatro do Oprimido, proclamado pela Prefeitura local.

      O fato de Augusto Boal ter sido nomeado candidato já justifica a importância humanística do seu trabalho nos tempos líquidos em que vivemos. Repleto de violência sensacionalista, de falsidades ideológicas, da negligência com a cultura e com quem a faz. Em seu livro Teatro do Oprimido, de 1973, já dizia o que hoje representa sua condição: Tenho sincero respeito por aqueles artistas que dedicam suas vidas exclusivamente à arte - é seu direito ou condição! -, mas prefiro aqueles que dedicam sua arte à vida. Assim o filho do padeiro segue, através do seu teatro, provocando reflexão sobre o humano que ainda há em nós."

Márcio Silveira dos Santos é professor

Este artigo foi publicado no Jornal Vale dos Sinos desta quarta dia 15 (dia do professor). Reproduzo aqui, pois, vejo que muitas pessoas desconhecem ou não tem o devido respeito pelo trabalho de Augusto Boal

Friday, October 10, 2008

"Le malade imaginaire" *


Véspera do meu aniversário. Fui a Aliança Francesa fazer um curso de “Initiation au thêatre” com uma francesa chamada Camille Lacôme que iria propor uma prática segundo o método de Augusto Boal. Achei que era uma chance imperdível para alguém que quer justamente ir estudar teatro na França no futuro. Algo próximo do paraíso já que juntará minhas duas grandes paixões. Ah, detalhe: de graça! 

Comentei com a minha mãe francófona e ela disse que faria parte das comemorações. Mas, o dia passou correndo e eu não sabia se estaria com disposição (ou coragem?) de ir até lá. Bem, mas, lá cheguei. Mal nos apresentamos e partimos para os exercícios. Todos que já conhecia. Práticas de desinibição. Caminhar pela sala, dizer o nome, olhar nos olhos uns dos outros. Como acontece no teatro... em pouco tempo éramos cúmplices. Mesmo com a falta de surpresa nas propostas, estava plenamente consciente da importância de estar fazendo uma aula totalmente em francês. A professora não fala português e os demais tinham essa obrigação, apesar de um certo desencanto quando perguntei a uma das participantes quanto tempo duraria a aula em francês e ela, imediatamente, me respondeu em português. Ora, ora.

 

Bem, mesmo naquela sala de aula, ainda de forma insipiente, fui me divertindo com os exercícios. Fechar os olhos e se deixar conduzir. Demonstrar tristeza, alegria, raiva. Passando de uma emoção a outra (como se faz na vida). Era hora de parecer doente? Fácil. Enquanto alguns colegas, como tantas vezes eu fiz, abusavam da palavra, eu trabalhava minha “maladie” interiormente. Até morri hoje. Assim, meu aniversário amanhã vai ter mesmo cara de renascimento.

 

O melhor, no entanto, estava para o final. Terminada a aula, sai comentando com duas colegas que aquelas que tinham feito o exercício anterior só podiam ter morado na França. Dava para perceber pela pronúncia, pelo jeito engraçado de não terminar as frases e por certa “rabugice” que é tão divertida nos franceses. “Je m’en fou!”, diziam elas várias vezes. Divertidas. Fizeram eu me sentir um pouco neste país que eu tanto admiro. 

Bem, as meninas que saiam comigo confirmaram: elas haviam vivido um ano ou mais por lá. É...o curso da Aliança Francesa é muito bom, mas, acho que para se ter fluência em uma língua nada como pisar em solo estrangeiro. Bom, mas, de forma totalmente inesperada elas resolveram me dizer: “mas, tu és atriz, não é?” E eu respondi que era jornalista, que fazia o mestrado em teatro, mas, estudava teoria, mas que, sim, já havia feito práticas de teatro. Elas insistiram: Com certeza, tu és atriz! O que poderia ser melhor do que isso? Que presente! Afinal, neste exercício que as impressionou, tudo que eu disse foi: “non, je ne peux pas t’aider parce que je suis malade aussi” (eu não posso te ajudar porque eu também estou doente).  No entanto, vou aceitar o elogio porque meus estudos indicam que o que importa não são as palavras que saem da boca do ator, mas, a expressividade que transpassa para o público. Ao que parece  gemi e suspirei corretamente até a minha morte!

* Le malade imaginaire: O doente imaginário é a última comédia escrita por Molière.  Representada no Teatro do Palais-Royal em 10 de fevereiro de 1673. 

Monday, September 29, 2008

Caetano, me perdoa...

Ontem, assisti ao show de Roberto Carlos e Caetano Veloso na televisão. Antes de comentar, queria dizer que cresci ouvindo Roberto Carlos. No tempo, em que suas músicas eram “rebeldes”, Maria Rita não tinha chegado nem perto e ele não tinha todas as tais manias.  

 

Cheguei à adolescência, curtindo minhas primeiras decepções e saudades ainda ouvindo suas músicas. “Detalhes tão pequenos de nós dois...” Mas, logo em seguida, fui apresentada a Caetano Veloso e daí, não teve mais volta. Tenho apenas dois ídolos na vida que já se aproxima de meio século: Caetano e Mario Quintana. A voz doce de Caetano, seu jeito displicente, ia na contramão da minha rotina, das cobranças e da rigidez de meus pais. Ele conseguia me provar que a poesia não precisa ficar distante da razão, da lógica, das opiniões fortes e contundentes. Em uma época em que a ansiedade e a insegurança me comiam por dentro, Caetano chegava para me fazer sentir em paz, feliz, amada, completa.

 

Com o passar dos anos, fui ouvindo menos música. Uma pena...e, com isso, menos Caetano. Mas, tento acompanhar o que ele vem fazendo, vejo as polêmicas que se criam ao seu redor e sigo com uma admiração total, coisa que só os ídolos podem ter.

A idéia de um show, reunindo estes dois para comemorar a Bossa Nova e cantar Tom Jobim era algo próximo da perfeição. No entanto, comecei a ler as notícias que antecipavam a possibilidade de assistir a este encontro e vi que não eram favoráveis. Duvidei. Quando vi Caetano abrindo aquele sorriso maroto que faz ele ter cara de menino apesar dos cabelos brancos pensei: que delícia!  Mas, Caetano saiu do palco e veio Roberto Carlos. Bem, já faz tempo que estranho tudo nele. Os cabelos, a cara amassada. Só reconheço a voz. Nunca achei ele bonito, mas, já faz alguns anos que eu acho ele meio deformado, mas, infelizmente, não só esteticamente. Vejo um homem duro, sem graça e foi esta sensação que acabei tendo durante todo o show. Nunca pensei que alguém conseguisse deixar o Caetano pouco à vontade. Pois achei que ele estava. Só conseguia lembrar dele e do Chico cantando juntos, em um programa que deixou tanta saudade. Isso que o Chico, principalmente naquela época, era um poço de timidez. Mas, dava para ver que eles se divertiam, que tinham carinho um pelo outro e que reconheciam e admiravam o talento do outro.

 

Não senti nada disso ontem. Eles foram cordiais, mas, foi só. E o que quer que existisse de dificuldade entre eles apareceu para mim. Acho que para o público também, apesar de ver as pessoas sorrindo, cantando junto e aplaudindo de pé. Acredito que não era exatamente aquele show que elas aplaudiam. Acho que era agradecendo àquelas duas pessoas por terem embalado suas emoções, por mostrar que existem coisas que ainda se mantêm e que nos acalentam ao longo da vida. Infelizmente, para mim, isso não foi o suficiente. 

Thursday, September 18, 2008

Onde está Peter Brook?

Tem gente que cria expectativa. Não adianta. Peter Brook é um. Depois de ver alguns poucos espetáculos ao longo de décadas, mas, também de ver  documentários e ler coisas sobre ele, a gente se interessa. Ponto. O cara sabe das coisas. Então, foi assim que lá me fui para o teatro do CIEE, mesmo lugar onde havia visto o lastimável O Imperador e Galileu e sentido um frio de "ranguear cusco". Bem, mas, é muito agradável ir esbarrando em gente conhecida, que tem os mesmos interesses e que comenta com entusiasmo outros espetáculos. É o real POA em Cena. 

O espetáculo começa. Não há cenário. Um tablado no chão. Duas banquetinhas. Dois homens sentados diagonalmente. O texto dito todo em inglês é forte, instigante. Questiona a presença de Cristo. A Humanidade. Resumindo: o que foi feito de nós. Bruce Meyers é impecável. Todas as entonações perfeitas. As inflexões corretas. Olhares e suspiros. A platéia não respira...mas tosse. Penso: estes deviam ter ficado em casa. Afinal, apesar da fala, praticamente, ininterrupta deste ator, o espetáculo é silencioso. Sua voz e nada mais. Há pequenos deslocamentos e, pouco a pouco, ele aproxima sua banqueta do outro que está no palco, que compreendemos que representa Cristo. No entanto, se não há o que dizer de Meyers, este outro, talvez, nunca tenha pisado em um palco antes e isso é bom perceber, pois, valoriza a prática teatral. Estar no palco, não é como estar na rua, na sala de casa. Contracenar com o Inquisidor exige, sem dúvida, uma tensão corporal que não estava lá. 

O texto vai ficando agressivo. Uma atitude muito significativa encerra os 55 minutos de espetáculo. O "pretenso" Cristo levanta do seu lugar e vai até o outro e lhe dá um beijo. Ação que é narrada e justificada como reação a tudo que foi dito. O caminhar é frágil. O beijo nem morno. Não convencem. Termina o espetáculo.  Estou incomodada. É teatro? Claro.  É um excelente ator? Indiscutível. Mas, lembro de todas as vezes que fui crítica em relação as novas propostas de teatro em que os atores tinham que plantar bananeira, ficar pendurados pelas paredes, misturar-se com o público e que me diziam que eu tinha que gostar. E agora? Agora, Peter Brook vem (vem?) mais uma vez minimalista? Que o espetáculo é, basicamente, o texto? 

Se o professor Décio de Almeida Prado soubesse, não teria dito que não daria conta de continuar fazendo críticas no teatro contemporâneo. Estou sempre dizendo: a vida, como a arte é cíclica. Sabe aquele lance da moda? Saia lá no pé, saia lá no umbigo? Pois é. Vi isso no Porto Alegre em cena e agora estou a refletir o que EU espero do teatro e não o que eu tenho que gostar. 

Wednesday, September 17, 2008

Zé Celso a meus pés


Bem, antes de mais nada, acho melhor explicar o título de hoje.  Como afirmou Sófocles em Édipo, outra obra de teatro: “não se foge ao seu destino”.  Estava na fila do espetáculo do Zé Celso, ontem no gasômetro com uma colega. Lá dentro encontrei outro e foi ele que definiu o lugar que sentaríamos. Quem veio sentar justamente aos meus pés durante todo o primeiro ato? Nada mais, nada menos que o próprio diretor de Os Bandidos, uma adaptação de Friedrich Schiller.  

Zé Celso, que, como ele mesmo diz,  não separa a vida da arte, traz em cena a discussão que persiste do Usyna Usona com o grupo Silvio Santos.  Pronto? É isso? Claro que não. Só quem não o conhece para pensar que seria possível resumir tudo o que acontece nas tais cinco horas (ontem foram seis) de espetáculo. O espetáculo é artístico, político, poético, imagético, tecnológico. Pense em alguma coisa que faz parte do teatro contemporâneo...estava lá. Música ao vivo, telões gigantes, computadores. Uma parafernália que só uma cabeça louca pode dar conta de misturar.  

Fico imaginando que quem simplesmente diz que não gosta do espetáculo, não pára para pensar que tudo aquilo saiu da cabeça de um ser humano, igualzinho a nossa que, como a minha neste momento, pensa no café da manhã. Assim, sendo, não tem como seguir completamente a narrativa. Ela não é mesmo linear. Provavelmente, nem tenha sido feita para ser seguida. Mas, Zé Celso se diverte colocando diversas referências a outras obras, outros diretores, outras personalidades da vida e das artes, outros, outros, outros.

Pesquiso informações e vejo que, no enredo original, os irmãos aristocratas Karl e Franz disputam o amor paterno e sua herança. Idealista, Karl filia-se a uma gangue para questionar o status quo, ao passo que Franz parece envenenar o pai contra o irmão. “Parece”, pois aqui os arquétipos são instáveis. Na releitura de Zé Celso, Cosme e Damião estão no centro da disputa pelo poder na multinacional do audiovisual Pro-World Corporation SS, que celebra 50 anos de atividade às voltas com outro jubileu de ouro, o de um certo teatro paulistano. No meu ponto de vista, continuar descrevendo esta história não vai levar ninguém a ter uma idéia do que são os bandidos.

E com toda a irreverência tão característica dos seus espetáculos, o espetáculo é todo em verso, onde todos os personagens têm algum momento de destaque, lembrando que teatro é uma arte de grupo, mesmo que este não seja o original dos 50 anos do Usyna Usona, isto leva a crer que, se ele ainda continua a ter que disputar por espaço para a sua arte, por outro lado, conseguiu atingir todos os seus objetivos em formar um grupo coeso e de atores e atrizes que impressionam. Isso, porém, não deveria surpreender, porque para fazer parte do universo de Zé Celso é preciso uma entrega que não é qualquer um que se dispõe e consegue fazer.

Zé Celso é um homem do seu tempo, mas, é também, um homem que está além. Ontem, tive mais uma vez a confirmação de que ele continuará sendo estudado nos bancos acadêmicos e que, provavelmente, ainda há muita coisa da sua obra que será melhor apreciada no futuro. Enquanto isso, ele segue tendo que, de vez em quando, replicar a crítica que insiste em tentar enquadrá-lo e a lutar por um espaço não para si, não para o Usyna Usona, mas para a arte brasileira. 

Eu pude ficar vendo aos meus pés, este homem que tem uma energia que só o prazer de fazer teatro pode dar. Que grita para incentivar o público em determinados momentos, bate no chão quando acha que a peça está perdendo o ritmo e ri quando seus atores conseguem colocar em cena aquilo que até então só estava em sua cabeça genial.

Estamos de olho


Foi com muita surpresa e um aperto no coração que dei de cara com esta nota no espaço do Informe Especial da Zero Hora de 16/09, na página 3:
 
Cinco vezes cinco horas
 
Atração do Porto Alegre Em Cena, Os Bandidos, peça de Zé Celso Martinez que estréia hoje, tem cinco horas de duração. Neste tempo, você poderia:
 
1. Ver seções de Batman - O cavaleiro das Trevas (152 minutos) e a Questão Humana (143 minutos), os dois filmes com  maior duração em cartaz em Porto Alegre
 
2. Sair de Porto Alegre, jantar em Gramado e voltar para casa.
 
3. Fazer por três vezes de ônibus, no horário do pico, o trajeto da linha 171, que liga a Estrada da Ponta Grossa, um dos extremos da Zona Sul, ao centro da Capital.
 
4. Acompanhar uma lesma percorrer metade do percurso da prova de cem metros rasos.
 
5. Dormir.
 
Resolvi escrever e enviar ao colega jornalista Marcio Pinheiro, a mensagem abaixo.
 
"Caro colega,
 
Não entendo o propósito da sua lista de cinco coisas que poderiam ser feitas no mesmo tempo do espetáculo de Zé Celso Martinez Correa. Tirando o fato de registrar o desconhecimento do trabalho que esse importante dramaturgo, encenador, ator e homem de profunda importância para  a cultura do país, não me parece acrescentar nada aos leitores deste nobre espaço.
 
É bem verdade que o tempo do espetáculo foge aos padrões de outras encenações brasileiras, mas Zé Celso não tem interesse nenhum em ficar preso a estes. Para este homem que acredita que o teatro é vida, cinco horas é, decididamente, pouco tempo para a existência de qualquer um. O que ele deseja é proporcionar uma experiência que fique na memória, que seja absorvida pela alma e que todo aquele que dela participe não seja o mesmo quando estas cinco horas terminarem.
 
Acredito que tu devas concordar que cinco horas é pouco tempo para mudar alguém, para fazer com que desista de acreditar em falsos heróis, perca sua vontade de consumo e combata seus preconceitos diante da arte e sua falta de ânimo, não só para ficar acordado, mas, vivo e atuante, capaz de mudar a si próprio e as coisas negativas e perniciosas que os rodeiam. Com força para reagir e calar todas as vozes que querem que eles continuem cegos, surdos e mudos, se deixando levar por aqueles que tem poder, mas, não tem a sensibilidade para compreender que o tempo é relativo e que cinco horas é pouco para realimentar o prazer daqueles que são sufocados por comparações  medíocres.
 
Mas, não tenho dúvidas de que existam aqueles que preferem acompanhar uma lesma e que sejam eles cinco vezes mais infelizes. "

Monday, September 15, 2008

Quando o diabo me botou para dormir

Bárbara Heliodora, em sua passagem por Porto Alegre, disse: “Eu vou ao teatro para gostar”. Eu também. Em época de festival fico até querendo ser “arrebatada”. Até agora isso não aconteceu. E, ontem, sabendo que Peter Brook que verei amanhã também não conseguiu fazer isso com uma amiga atriz na qual confio, começo a me preocupar. Mas, começo a pensar o que significa este “ir para gostar”. O que eu espero? Outro amigo ontem (vou ocultando os nomes, pois não sei se eles gostariam de serem expostos) dizia que não eram espetáculos para emocionar. Só que não é apenas isso que eu procuro. É verdade que me agrada assistir a algo que me deixe triste, alegre, nervosa, com medo. Fico bem impressionada quando algo que sei irreal me provoca aqui e agora estas sensações. No entanto, tenho interesse por novas técnicas, um belo trabalho de ator (já sei...tem gente que já se arrepiou só com este adjetivo aí...paciência!), cenografias criativas e por aí vai. O teatro é uma arte muito rica e, nos tempos de hoje, cada vez mais. O hibridismo (falei que queria ganhar dinheiro cada vez que ouvisse esta palavra...então, acho que também vou usá-la), esta mistura de linguagens, diminui ainda mais os limites do que é possível fazer no palco. Bom, mas, por que estou escrevendo tudo isso?

Ontem, assisti a Fausto, um clássico ocidental de Johann Wolfgang. O diretor Eimuntas Nekrosius já é meu conhecido de outros festivais. Assim, lá me fui cheia de expectativas positivas. O espetáculo tinha 3h e 50 minutos, com dois intervalos de 15.  Sabia que era longo, mas, não o tempo certo. Final da primeira parte: estou satisfeita. O texto é difícil, dito em lituano, então...A tradução é numa linguagem muito sofisticada. Mal consigo acompanhar a “historinha” (como costuma dizer outro colega), mas, isto não tem importância. Eles têm propostas cênicas interessantes e surpreendentes. Fica difícil até entender como eles conseguem utilizar recursos fáceis, simples de uma maneira tão impactante. São fios, luzes e o inusitado de um figurino branco que surge na cena final no meio dos demais todos pretos e o efeito é intenso. No segundo ato, seguem-se praticamente todos os elementos que eu já havia visto no primeiro. Minha atenção diminui.

No terceiro ato, começo a cochilar e o sono vem de um jeito incontrolável. Chego a sonhar com coisas bizarras e volto ao teatro. Outras pessoas dormem também. A maioria segue atenta. É bem verdade que eu vinha de uma semana cansativa e que relaxei no escuro e tal, mas, quero acreditar que o que acontecia no palco teve a ver com isso. Teria eu ficado sonâmbula também? Não sei se “faltou letras no meu alfabeto” para compreender o que se passava lá, nem sei se o fato de outros colegas atores e atrizes que eu encontrei na saída também acharem que o espetáculo era exaustivo me isenta do sentimento de culpa que fiquei por não resistir ao sono.

Se houvesse algo que eu pudesse fazer para que isso não acontecesse, teria feito. Ainda bem que o espetáculo foi na Reitoria e que eu estava bastante longe do palco. Odiaria que os atores vissem meus cochilos, pois, apesar destes, sei que a atuação do grupo merecia maior atenção. Bem, acabo de dar mais uma prova de que não tenho pretensões de fazer críticas, pois, não conheço nenhum que admitiria ter dormido na platéia. Pelo menos posso dizer que, apesar disso, valeu a pena ter ido.

Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio, baseada no médico, mágico e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos romances de ficção, o mais famoso deles do autor Goethe, produzido em duas partes, tendo sido escrito e reescrito ao longo de quase sessenta anos. A primeira parte - mais famosa - foi publicada em 1806 e a segunda, em 1832 - às vésperas da morte do autor.

Considerado símbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que lhe enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.

Fonte: wikipedia

Thursday, September 11, 2008

Aos mestres com carinho

Amanhã, termina a primeira fase das aulas da disciplina de mestrado Cultura e Prática Brasileira com o professor Walter Lima Torres. Precisava registrar aqui a minha satisfação em conhecer este verdadeiro mestre. Não apenas por seu currículo que inclui formação e experiências em Artes cênicas e doutorado na Sorbonne, mas, pela maneira generosa que repassa seus conhecimentos. Ele veio com um conteúdo estruturado, mas, esteve sempre aberto aos comentários sobre nossas experiências profissionais e de uma forma, extremamente, tranqüila e natural incentivou novas ações e sugeriu pesquisas.

Walter me faz lembrar Voltaire Schilling, meu professor de história no Instituto Educacional João XXIII quando eu tinha menos de 18 anos e que hoje dirige o Memorial do Rio Grande do Sul. Costumávamos dizer que ele sabia a cor das cuecas do Napoleão. Na verdade, o que acontecia é que percebíamos que o conhecimento dele não era algo superficial. Ele tinha se apropriado daquelas informações, triturado-as e nos repassava um conteúdo importante de uma forma agradável e divertida. Não sei qual é a sua altura, mas, quem o conhece sabe que ele é alto, tem uma estrutura forte e um visual engraçado. Mas, mesmo para alunos “aborrecentes” e críticos de tudo e de todos sua sapiência era indiscutível. Lá se vão quase 30 anos e ele é ainda uma forte recordação para mim. Ano passado, voltei a fazer um curso com ele e mesmo sabendo que havia uma grande dose de imaginação nestas memórias foi um enorme prazer entrar em contato com alguém que saiba tanto, sobre tanta coisa.

Bem, mas, voltando a esta semana, tenho novamente a alegria de ver entrar em meu caminho alguém que inspira respeito e admiração pelo que sabe e pelo que é. São pessoas assim, como Walter Lima Torres, bem como meus colegas (que têm sido testemunhas de tudo que digo aqui sobre ele) que fazem o mestrado valer a pena. O resto é história...melhor deixar com o Voltaire!

PS: Ah, o link para o blog do professor com vários conteúdos teatrais está aí na minha lista.

Monday, September 08, 2008

Saindo de Cena

Só vou ver outro espetáculo na quarta-feira. A megera domada. Peça daqui com amigos meus que já deveria ter visto faz tempo. Como sempre, vou para gostar. Hoje e amanhã faço uma pausa merecida já que desde sexta passo todas as tardes na oficina de Kil Abreu sobre crítica. Como disse para o meu colega Gilberto hoje, é óbvio (contrariando outra colega com este comentário) que não se aprende a fazer crítica em tão pouco tempo, mas, pelo menos estou tomando conhecimento do que não deveria fazer. Coisas aliás que provocariam mudanças profundas neste jeitinho que eu acabo escrevendo por aqui. Mas, blog é blog, crítica é crítica, então vejamos:

1. Não falar na primeira pessoa.
2. Não adjetivar elementos e atores
3. Evitar falar daquilo que não se sabe. Melhor não tocar no assunto do que tentar achar um significado que talvez não exista.
4. Dar ênfase aquilo que mais provocou interesse. 
5. Procurar um distanciamento do tema, evitando considerações pessoais.
6. Evitar apenas descrever o espetáculo. 

Bem, por enquanto, acho que é isso. Li meu texto sobre o espetáculo Determinadas Pessoas hoje na aula de crítica. De certa forma, pequei em todos os itens acima, mas, foi bacana ver o Kil dizendo que o texto era bom e que não era, realmente, fácil acertar o tom do que deve se escrever nestes casos. 

Buscando auxílio de meus colegas universitários, pedi que me mandassem definições sobre o trabalho dos atores. Confesso que eu não sei como falar disso sem adjetivar. Espero receber ajuda. Não somente deles, mas, de qualquer pessoa que tenha pensado a respeito.

Sugestões do Kil para espetáculos que estão em cena:

- Por Elise
- Amores Surdos





Sunday, September 07, 2008

Muito bem, camarada!

Lembro de Esther Góes do tempo que assistia novelas. De sua voz grave e seu jeito amoroso. Depois, cansei de seguir as histórias que repetiam suas fórmulas televisivas e, distante do eixo Rio-São Paulo, a perdi de vista. Foi com prazer que a reencontrei, ontem, no palco do Porto Alegre Em Cena com o espetáculo Determinadas Pessoas, dirigida por Ariel Borghi, seu filho.

O espetáculo sobre Helene Weigel, a mulher de Brecht, para quem não sabe, um dos dramaturgos mais importantes do século XX, é uma aula de teatro, sem o formalismo e os desconfortos das informações didáticas. Evitando compromissos com uma cronologia histórica rígida e linear, nos leva a conhecer ou identificar fatos ligados à vida destas duas pessoas tão importantes para o mundo das artes.

 

No palco, a projeção de imagens, contextualiza os acontecimentos. Poucos objetos complementam os espaços sugeridos. O resto fica a cargo da atuação competente de Esther Góes. Nesta, podemos ver o caráter forte desta mulher que é esposa, atriz, política, cujo papel foi tão importante seja nos palcos ou fora deles, colaborando, inclusive com a formação do Berliner Ensemble, a companhia de teatro épico. Há na narrativa um trânsito constante da vida particular do casal, para o palco e para o momento político da época. Percorremos assim, os acontecimentos, sejam de seu casamento com Brecht, da fuga do nazismo na Europa e nos Estados Unidos até à Alemanha, depois da guerra. A força expressiva de Esther no personagem de Helène leva a platéia a achar graça de sua maneira contundente e autêntica de dizer o que pensa, tornando evidente a sua contribuição na revolução das artes cênicas e na política provocadas por seu marido. 

O espetáculo inclui a apresentação de cenas de Mãe Coragem, Os Fuzis da Sra. Carrar, Frau Flintz, O Triunfo da Vontade e de músicas de Brecht. Cenário, luz, figurino aparecem de forma sutil apenas para compor o personagem de Heléne e contextualizar a época. Com exceção do uso de uma imensa carroça, usada apenas no final na remontagem de uma cena de Mãe Coragem, quando surge uma dramaticidade que antagoniza com o caráter épico do espetáculo tão coerente, até então. Mas, nem isso, nem as falas ditas em um tom levemente mais baixo no fundo do palco, comprometem o resultado.

Se precisasse resumir o espetáculo em uma só frase, usaria uma do próprio texto: “Política é a humanidade nas pessoas, não na teoria”, pois, é resgatando aspectos particulares da vida desta mulher que a peça traz à tona momentos vividos por estas duas personalidades: Helene Weigel e Brecht e recupera-se sua importância no mundo de hoje. 

Helena Mello