Um
pequeno comentário nas redes sociais sobre o show de Ney Matogrosso não é
suficiente para relatar esse momento. Até porque era minha primeira vez. E como
sempre acontece nessas ocasiões, a gente nunca sabe o que esperar. Que eu não
leio a respeito antes para não perder a surpresa, todo mundo já sabe. Ver uma
lista de músicas? Comentários de pessoas que já assistiram? Ele mesmo dizendo o
que pretende? Não vejo por quê. Afinal, é fácil saber que nada vai ser igual.
Decidi
ir ao show meio por acaso. Minha amiga Betha Medeiros colocou uma foto do seu
ingresso no Facebook e eu pensei: gostaria de ir. Providenciar os ingressos não
foi assim tão simples. Para tirar minhas dúvidas da compra pela internet, fiquei
pendurada no telefone por mais de dez minutos. Acabei levando o cartão de
crédito errado para retirar meu ingresso e fui obrigada a retornar no ponto de
venda lá no Moinhos de Ventos. Detalhe: eu moro na zona sul. Mas, tudo bem. Sabia que quando visse o Ney
esqueceria.
O
lugar era ótimo. Muito próximo ao palco e a última cadeira da fila, o que me
permitiria levantar a qualquer momento. E essa foi a minha vontade durante todo
o show. Porém, ninguém, em uma plateia lotada no Araújo Vianna, fez esse
movimento. E olha que o espaço permite. É algo que já tinha me conquistado em
shows anteriores: a informalidade. Pessoas bebendo, comendo, dançando. Isso sem
prejuízo da visão ou da audição dos demais. E eu, confesso, achei irresistível
aquela figura sensual, dançante no palco. Não esperava que Ney viesse com um
figurino de roupas colantes, penas, brilhos, embora tenha sido assim que ele me
conquistou há quase 40 anos. E se ele cantou poucas músicas daquela época, todo
o repertório ficou lindo com o seu jeito de dançar e suas provocações.
Dizer
que o corpo desse homem de 72 anos é perfeito seria exagero. Mas entre homens e
mulheres não há quem não fique de queixo caído quando ele se movimenta. E é sua
audácia, sua imagem autoconfiante que atrai. Ney Matogrosso é um leonino que
tem o sol na barriga, quer dizer, naquela área chapada e musculosa que ele exibe
ora apenas levantando a blusa ora com um figurino que a expõe completamente. Aliás,
um ponto forte são suas roupas mínimas, suas botas acima do joelho que ele põe
e tira diante dos olhos da plateia.
E
como se não bastasse ser impressionante Ney no palco, ele usa vídeos que
ilustram suas letras e também não teme colocar suas imagens ainda jovem. Parece
não ter a mínima preocupação com as possíveis comparações. Provavelmente, servem
de artifício para permitir que ele aguente por quase duas horas diante de tanta
gente sempre em movimentos e gestos insinuantes. Como aquele de escorregar
pelas escadas em direção à plateia enquanto cantava repetidamente: “beija-me, beija-me”...
ou quando estica-se no chão e, apoiado em apenas um braço, segue cantando
A
voz? É tudo aquilo que o tornou famoso, que encanta as plateias por onde passa,
com seus agudos e sua interpretação incomum. E de lambuja a gente ainda ganha
aquele olhar penetrante que eu poderia jurar, bateu no meu e me levou a querer
dançar com ele. Assim, quando chega o fim, ele canta a música de Vitor Ramil, Astronauta
lírico, bolhas de sabão caem do teto e ninguém quer que termine.
Na
saída, todas aquelas pessoas, das mais diferentes idades, comentam praticamente
a mesma coisa: a performance desse que, sem dúvida, é um homem com H e cujas
imagens vão me servir para aqueles dias em que o desânimo se aproxima. Afinal,
a vida é breve e “já que eu não posso te levar, quero que você me leve”, mas
antes quero encará-la com muita garra, coragem e ousadia, ou melhor, mais Ney.