Friday, October 26, 2007

Os desígnios de Deus são insondáveis para nós

Os desígnios de Deus são insondáveis para nós. Já há algum tempo, assumi esta frase como uma verdade. É claro que isso pressupõe que eu acredite em Deus. Bem, não é naquele cara que fica lá com cara de mau, cobrando um monte de coisas. Mas, acho, sim, que existe algo. Uma energia, sei lá. Não acredito no puro e simples caos. E acho que a natureza é uma prova disso. Posso ser até mais específica: as cores e os desenhos de uma borboleta ou de uma flor, por exemplo.

Bem, mas deixemos esta discussão metafísica para lá. Queria escrever mesmo é sobre a passagem do tempo, mais precisamente sobre o meu tempo. Não só esta questão de anos, mas, as experiências, os sonhos, as frustrações. Se por um lado, acho que compreendo coisas que só podem ser compreendidas por um espírito que já tenha lá certa vivência, por outro, os anos passam e eu continuo me sentindo uma menina. A cada ano, esta frase do Mario Quintana fica mais verdadeira para mim: Não vos iluda o velho que aqui vai: Eu quero meus brinquedos novamente! Sou um pobre menino... acreditai... Que envelheceu, um dia, de repente!... "

Convivo com gente mais jovem. Há muitos anos que é assim. O fato de não me casar e não ter filhos fez com que eu tivesse uma disponibilidade maior e, consequentemente, me relacionasse com pessoas assim. Bem, vamos, então, partir daí. Do fato de não ter me casado e nem tido filhos. Nossa...Como eu queria! Minha primeira paixão foi aos 10 anos, só para terem uma idéia. E aos 12 já havia conhecido o cara com quem passaria os próximos nove, ou seja, toda adolescência e um comecinho do que deveria ter sido a minha vida adulta. Só que aos 18 já comecei a ficar irriquieta. Morria de medo de já estar decidindo o resto da minha vida ali. Tinha uma enorme curiosidade do mundo e das coisas que me cercavam e aquele relacionamento não parecia poder me dar as oportunidades que eu desejava. Resumindo: acabou. E, embora tenha me apaixonado muitas vezes depois disso, até ter tido alguns namorados e um curto noivado: nada de igreja, aliança, nem uma cama compartilhada. Triste. Muito longe do que eu havia imaginado por tanto tempo.

Ah, e eu poderia continuar aqui me lastimando por muitas linhas sobre isso, mas, eu não estaria sendo exatamente justa com o cara lá de cima. Afinal, fui ser jornalista. Algo que nunca havia imaginado antes, a não ser poucos dias antes do meu primeiro vestibular. Trabalhei em tantos lugares que, vira e mexe, esqueço de algum ou lembro de outro. Em contato com os temas e pessoas as mais diversas, pegando informações sobre realidades e atividades que só quem lida com aquilo pode saber. Já era uma forma de entrar na vida de outros. Provavelmente, uma aproximação com o teatro. Ah, o teatro...Certamente, uma das minhas melhores paixões. Não tão correspondida como eu gostaria, mas, que me fez conhecer muita gente interessante e o melhor de tudo, descobrir o afeto. E ao receber carinho, aprender a dar também. Sem cerimônia. Sem ocasião especial. No dia-a-dia mesmo. Tem gente que pode achar que isso é pouco. Não para mim. Foi a partir dele (e de cinco anos de terapia) que eu fiz as pazes comigo mesma. Fui apagando as mágoas, as más lembranças, a rejeição que eu sentia, meio sem motivo, meio cheia de teorias a respeito. Não posso também deixar de registrar a yoga. Uma prática que me centralizou e me deu uma harmonia interna que eu nem sabia que existia.

Claro que isso não é tudo. Certo de que tenho dúvidas, que me pergunto qual será minha missão nesta vida? O que ainda me reserva? E por que ainda não apareceu alguém que queira compartilhar comigo aquele cinema, aquele vinho, aquela viagem. Por falar nisso, mais um sonho concretizado: Paris. Algo sonhado, idealizado, sem muita chance de virar real e que, agora, tenho as fotos para provar. Nem precisaria. Minha alma sabe. Tiveram outras viagens menos importantes, mas, que me deram também muito prazer. Algumas idas a Buenos Aires, outras tantas ao Rio de Janeiro. Ah, até pulei um carnaval na Sapucaí! Aliás, recomendo. Pelo menos uma vez na vida.

Teve outro momento marcante, também. Não tão agradável. A descoberta de uma doença rara e sem cura que me colocou em risco de vida e que, no entanto, me ensinou tanto sobre ela. Foi o medo que me mostrou como dar valor aos pequenos momentos, as pessoas queridas, as coisas que não devemos deixar para dizer depois, aquelas que nunca devemos falar. Só queria voltar a ter uma saúde perfeita se pudesse manter tudo que aprendi. Simplesmente, voltar no tempo para ficar saudável, não me interessa nem um pouco. Quem diria que eu sobreviveria ao meu irmão? Um baque. Sem dúvida, a maior tragédia da minha existência até hoje. Se eu soubesse disso quando chorava copiosamente o sumiço de uma das minhas paixões...Mas, talvez, tenha sido um preparo para aprender a reagir as coisas que acontecem e sobre as quais nada podemos fazer.

Bem, mas, não quero deixar este texto muito mais longo e, ao mesmo tempo, não é nada fácil resumir quase 50 anos em duas páginas. Logo eu, que ainda tenho cadernos e mais cadernos com escritos quase diários sobre fatos tão menos importantes. No entanto, como jornalista, sempre tive que exercer minha capacidade de síntese, o que também se faz necessário agora se eu quiser que alguém leia o meu texto até o fim. Assim, de volta ao começo, talvez devesse ter feito mais planos, tido mais coragem para mudar de cidade, sair sozinha na noite, buscar minha alma gêmea nos bares. Porém, a vida é feita de escolhas, das que fazemos todos os dias desde o momento em que decidimos o que vamos tomar no café da manhã e, também, do que o lá de cima “programou”. Sigo sem queixas, apenas com algumas reivindicações associadas à esperança de amar mais e fazer cada vez mais amigos.

Viagem ao Templo budista

A viagem a Três Coroas começa muito antes da chegada no templo. Inicia quando o professor começa a dar dicas sobre o que levar: água ou suco, lanche para a tarde, um casaco. "Porque lá vai esfriar", dizia ele. Sua preocupação com o nosso bem estar já é um afeto. Depois, na praça, somos recebidos pela camisa do André! Sim, porque um grande elefante em tons rosa seco e vinho chama mais a atenção do que sua fisionomia sorridente. Lista de chamada. Sinal de organização. Entramos na Van. A trilha sonora é uma mistura de músicas new ages, mantras, entre outras melodias que relaxam e vão acentuando a paisagem verde que vai se revelando aos nossos olhos. Mal chegamos e já começamos a sentir que o "passeio" tem o seu propósito. O professor distribui a todos a programação. Um texto bem estruturado e apresentado, incluindo uma imagem budista. Vamos para a sala de vídeo onde Lucélia Santos com seu olhar de "Escrava Isaura" nos recebe com a história do lugar e os princípios do budismo. Hora de adaptar. O sol nos orienta para mudarmos nossas atividades. Vamos direto para o templo. Tiramos os sapatos. Cores vibrantes, imagens enigmáticas e objetos que nos indicam reflexão, cuidado, atenção. Silêncio. Hora da meditação. Como explicar para alguém que não pratica yoga o prazer que é ficar sem se mover, sem dizer nada e, pelo menos, tentando não pensar em nada? É uma sensação deliciosa. Ficar observando a mente, no início, agitada e impaciente, ir serenando, dando espaço para o vazio, para o momento presente. Só ele. Sem preocupações, sem lembranças. Quem diria que eu, tão expansiva, tão multimídia, descobriria nesta prática, uma das coisas mais agradáveis para fazer na vida? Vamos para a Estupas. Alguém pergunta o que é. Não se preocupem. Vocês vão saber quando chegarem lá. Começamos a tomar conhecimento dos ensinamentos de Budha. Não são coisas para se aprenderem apenas em uma tarde, mas, com certeza, vale a pena começar um dia. Diferente do professor que acha que tudo que está ali já está introjetado em cada um de nós, eu me questionei a cada afirmação. Minha mente, crítica, não tinha certeza se sou capaz de "abster-me do que não me for dado". Lembrava das brigas com minha irmã por pegar suas roupas emprestadas. Nem de que posso "abster-me de substâncias que perturbam a mente". Deixar de tomar meu vinho? Essa é difícil! Bem, mas, o importante é estar ali, refletindo sobre estas coisas, me dando este momento. Intervalo. Vamos às compras. A disposição artigos budistas, é claro! Assim, podemos exercer nossa tendência consumista sem culpa. E, cá entre nós, tem coisas lindas. Assim, mesmo que vocês queiram se despir de coisas materiais, levem um dinheirinho para trazer algo bonito para casa e que lembrem os bons momentos da viagem. Bem, sobre o resto da programação, não vou entrar em detalhes para que aqueles que ainda não tenham ido possam ter o prazer do inesperado. O que posso dizer é que fui relaxando, fui ficando centrada em quem eu sou, nas coisas que ainda gostaria de aprender sobre mim. Pintando ao som das bandeiras que acumulam milhares de mantras era como se eu ouvisse vozes orando por mim e por todos os seres da terra... Mas, nem tudo foi absolutamente perfeito. Queria que todos esquecessem o calor, os mosquitos, a fome e mergulhassem em si mesmos. Mas, isso é uma das coisas que preciso trabalhar em mim: parar de querer as coisas do MEU jeito!De qualquer forma, voltei relaxada e feliz por ter me dado este tempo para mim.

Um dia muito especial

Um dia muito especial

Nos últimos dias, as mediações não vinham sendo nada fáceis. Alunos exaustos, dispersos, pouco interessados na visita e menos ainda na mediação. Talvez, seja a proposta das escolas em fazer muitos roteiros em um único dia. Aqueles que vem de outras cidades, então, chegam a passar pelo Museu da PUC e pela exposição da RBS, antes de chegarem ao Cais. Ou seja, muita informação gera desatenção. Claro que, também, tem um pouco de falta de preparo mesmo, de disciplina e tantas outras coisas que fazem com que a gente aprenda a ver arte, principalmente, arte contemporânea.

Bem, mas, hoje, foi diferente. Mal entramos no espaço e já deu para ver pelos olhares atentos e curiosos da minha turma de 3ª série, da escola Flores da Cunha de Esteio, que não seria tão difícil. Pretendia começar pelo núcleo do Waltércio Caldas, como já venho fazendo outras vezes, mas, acabei entrando com a turma pelo portão dos fundos. Chiuminatto ocupado, Alvaro Oyarzum idem. Iniciei a visita pela Letícia. Grande desafio. Mas, apesar dos olhares estranhos, eles começaram a participar. Quando falei que o nome de um dos artistas era igual ao do sabonete, eles sorriram. Sabiam do que eu estava falando. E, assim, nem o abstrato de Lux Lindner passou despercebido. O Pablo foi uma festa! Todos queriam dizer o que viam. Todos felizes por ver alguma coisa a mais. Por reconhecer elementos nas paisagens dele, do Couve, da Katie e até por achar os soldados em um dos livros da biblioteca. Nem preciso dizer que a Madalena encantou, mas, talvez deva esclarecer que a Josefina também teve seu crédito. Ninguém na espera? Ótimo. Hora de ver o "efeito dominó" de David e Peter, como eu os chamo. E assim fomos. Núcleo por núcleo e quando eu ia pular a Fernanda Laguna, o Fernando Lopes Laje estava ocupado e a professora disse: "podemos entrar ali". Respondi, sem tanto entusiasmo: "é...podemos". Sim, porque os mediadores também tem seus preferidos. Mas, não importa. Se o grupo quer, assim é. Depois, apesar do chuvisco, lá vamos nós para o A3 vendo o Guaíba. Alegria geral.

A esta altura todos já tinham coisas para dizer sobre o que viam. E pasmem: levantavam os dedos pedindo licença para falar. Lá pelas tantas, cheguei a desejar que não o fizessem, pois, pelo menos umas dez vezes, eu disse: "Fala, Jessica". Nome de uma das meninas atentas do grupo que tomava a frente dos meninos, também cheios de idéias e imaginação. Fizemos o percurso ficando mais tempo na frente de cada trabalho do que já havia ficado até hoje. E não é que quando pensei ter terminado a professora me pediu para levá-los até o banheiro? Mas, não se enganem. Não era lá nos banheiros "ecológicos". Era para ver a obra do banheiro! Bem, sairia do meu setor, mas, com aquela turma, acho que era mesmo minha obrigação. A essa altura já estava de mãos dadas com dois que, de vez em quando, eram obrigados a trocar de lugar para dar vez a outros dois. Alguns alunos passavam correndo, dispersos, por mim, mas, com certeza, não faziam parte do meu grupo da tarde de hoje. A professora até decidiu deixar a turma comigo, enquanto procurava o resto dos alunos e, eles, obedientes, foram ver Cildo Meireles a meu convite. Pronto. Chegaram no banheiro. Olhavam tudo. Comentavam comigo, achando graça, mas, atentos a todos os detalhes. O curador Gabriel estava lá neste mesmo momento. Espero que ele tenha conseguido ver como a turma estava se sentindo por estar ali, pois, deve ser uma satisfação bacana.

Hora de se despedir. As professoras agradecem felizes. Elogiaram meu trabalho e eu a turma delas. Foi uma renovação de energia que eu estava precisando. Energia, aliás, intensificada, por quase 20 abraços e beijos de cada aluno que fez questão de me dizer tchau! Lá se vão eles. Que sejam o espelho de outras turmas que estão por vir.

Tuesday, March 13, 2007

Fim de férias

Começo do ano e eu exausta. Faltando vontade para quase tudo. Menos comer e beber. Resultado? Quilos a mais e menos energia para qualquer atividade. Preguiça... Até de falar com os amigos. Aí já fica preocupante. Será que é depressão? Meu antigo e sempre mestre de teatro Zé Adão Barbosa dizia que se a gente não tem vontade de sair da cama, está deprimido. Ichhi! Então, estou assim desde os meus 12 anos. Não digo antes, pois, não me lembro, mas é provável.

Sou da noite, mas, ultimamente, nem isso. De manhã o corpo dói, não tenho ânimo. Bem aos pouquinhos vou me espreguiçando e me obrigo a sair da cama. Depois pego no tranco e daí não tem mais problema. Quer dizer, não muito. Basta eu pegar um trânsito complicado e essa falta de educação nas ruas para tirar o meu humor. Ah, isso sem falar no calor. Esse mesmo que tá aí junto com a “chuva”. Me deixa arrasada. Os ursos hibernam no inverno, mas, eu quero ir para minha toca é no verão quando a temperatura sobe. Ficar bem quietinha. Tá bem. Já sei. Não é privilégio meu. Começo a falar com as pessoas e está cheio de gente que, como eu, não está agüentando este clima birrento. Este ano parei de achar graça da lembrança de uma entrevista de emprego que fiz lá pelos anos 90 em janeiro e perguntei se eles tinham ar-condicionado. Era uma questão de honestidade. Se não tivessem, o meu rendimento não valeria o meu salário. Agora eu sei.

Mas essa modorra (será que existe mesmo esta palavra?) já está me assustando. Nem me reconheço. Como fazer planos para o ano assim? É, mas, se não faço, vem a culpa. Se não sei o que quero, daí mesmo é que não vou conseguir. Pronto. Está definido o meu destino. Ainda bem que nem eu me agüento assim. Então, aos poucos vai pintando uma reação aqui outra acolá. Revejo algumas coisas que pretendo fazer, vou tocando de mansinho alguns projetos, recomeço de leve os meus contatos. Isso sem falar em medidas mais emergenciais como consultar o médico, voltar às aulas de yoga e marcar sessões de Reiki. Não pretendo deixar o ano passar de Domingo a Domingo sem que eu faça algo que me dê prazer ou seja útil para alguém. Isso é certo. Penso em começar aos poucos lendo o livro de cabeceira Cinco minutos com Deus ou respirar mais fundo, sei lá, mas, algum jeito vou dar.
Parece meio estranho este tédio todo assim nos primeiros meses do ano, mas, se eu parar para pensar dá para entender. Não tive férias. Passei alguns poucos dias na praia na casa de outras pessoas, naquele tumulto que foram as areias aqui no Rio Grande do Sul e, obviamente, com muito pouca grana. É...trabalhar por conta tem suas vantagens. Afinal, fui para o cinema no meio da tarde um dia desses. Vou para o instituto de beleza em dia de semana e tantas outras coisas que a liberdade de horário me dá. Mas, sem chefe, sem salário e sem salário, sem férias. Daí esta sensação de que fiz muito, mas, não fiz nada. Não descansei nem um pouco. Passei o tempo todo desocupada. Coisas de libriana. Bem, pelo menos recuperei a vontade de voltar a escrever. Já é alguma coisa. E, hoje, pensei: a gente fala tanto em ser feliz. Para mim, em 2007, basta que eu seja alegre. Este é o meu plano e vou realizá-lo. Conto com vocês.

Tuesday, February 13, 2007

Sobre crimes e criminosos

Sei que várias pessoas que já foram atingidas por algum tipo de violência podem não concordar comigo. Mas, não compreendo este tipo de manifestação que se indigna com a barbárie e fica com o ímpeto de apedrejar os bandidos. A incoerência é muita para que eu consiga entender. Reconheço que existem atitudes que fogem ao que podemos suportar, mas, será que as pessoas não se dão conta de que não bastará intensificar leis, punir os bandidos, mudar todas as regras, se não houver um envolvimento social real? O pior bandido, o mais cruel assassino nasceu um dia uma criança inocente, sem intenções de cometer nenhum gesto de violência. Tudo bem. Alguns vão dizer que a ciência está tentando investigar a índole criminosa de alguns, o mau funcionamento do cérebro, neurônios de outros, componentes que criam uma propensão para estas atitudes, mas, não passa disso, uma tendência.

Eu acredito profundamente que é o meio, as dificuldades, a falta de perspectiva, o mau exemplo dos poderosos, a diferença social absurda que leva a atos insanos, a revolta ou até mesmo a um tiro dado na hora de roubar um tênis. Já fui assaltada. Sei que dá raiva. O sentimento de impotência é irritante, para dizer o mínimo. Poderia ter sido ferida, morta, etc, justamente porque não consegui ver nos indivíduos que me atacaram seres tão diferentes de mim. Sei que isto é ingênuo e pode ser perigoso, mas, também, não posso concordar com estas pessoas que, simplesmente, esquecem a sua responsabilidade diante disso tudo. Será que esta mesma pessoa que se considera tão boa, tão generosa, tão incapaz de qualquer ato de violência continuaria assim se passasse fome, se não tivesse nenhuma perspectiva de futuro, se ao seu redor só visse desesperança e injustiça? Duvido.

Com a morte deste menino João, fala-se muito em não deixar que ele seja mais uma estatística, mas, será que não percebem que dirigir a ira àqueles que praticaram o crime também não resolverá a situação em que vivemos? Não quero dizer que eu tenha a resposta. Não tenho. Tenho idéias, discuto possíveis soluções com várias pessoas, como a maioria faz. Acredito no controle da natalidade, na educação, em dignidade política e em consciência social. Se eu, que sempre tive uma boa qualidade de vida, me perturbo, me desmotivo, me indigno com a falta de oportunidade, de igualdade, de distribuição de riqueza, por que estas pessoas que, praticamente, não têm nada a perder vão se preocupar com o que acontecerá depois?

Acredito que existem desgraças, atos criminosos como este que ocorrem para que todos prestem mais atenção, percebam que precisam se envolver com o que acontece a sua volta antes que seja tarde. Mas, não fazendo discursos, julgamentos sobre os que cometeram os crimes. Acho isso triste. Não acredito que isso resolva absolutamente nada. As pessoas dirigem suas iras aquela pessoa ou aquele pequeno grupo. Prendem, torcem para que morram e de que adianta? Para que outras pessoas, outra desgraça, outro crime hediondo ocorra, é só uma questão de tempo. Porque não preciso de bola de cristal para saber que, se não são alteradas as razões para que existam criminosos desta estirpe, eles continuarão a existir e não adiantará as pessoas ficarem apenas gritando como a Rainha de Alice no País das Maravilhas: "Cortem as cabeças!"

Sunday, February 11, 2007

O Tempo

Envelhecer. Está aí um assunto que me provoca, mas, devo confessar que sobre a idade me expresso diferente da maioria das pessoas. Encho a boca para dizer quantos anos tenho. Não que isso faça realmente diferença, mas, é que acho engraçado as pessoas omitirem esta informação, principalmente, ainda, as mulheres.
A razão para este meu pensamento é algo que o Mario Quintana também já havia falado. Quando estava fazendo 30 anos, descobri que tinha uma doença rara chamada policitemia vera que é o aumento dos glóbulos vermelhos no sangue e, ao ouvir o Dr. Faillace, conhecido como o papa da hematologia, dizer que os riscos eram de ataque cardíaco e derrame cerebral pensei: "vou morrer'. Lá se vão mais de 15 anos. Troquei de médico. Mas, a proximidade da idéia da morte (que sabemos vai acontecer um dia) me fez querer a alternativa, ou seja, ficar uma velhinha bem enrrugada! Nunca mais tive medo de envelhecer. É claro que não quero ficar inativa, cheia de dores, etc, mas, como não tenho grandes restrições mesmo com este problema, a não ser não poder comer carne vermelha e outros alimentos com ferro. No mais não há nada proibido, não acharia ruim viver longos anos. Sim, porque várias pessoas dizem que não se importam de envelhecer desde que tenha saúde e uma cabeça boa. Eu, já não posso dizer que tenha saúde e quanto a cabeça boa...

Agora, pelo fato de não ter me casado, nem tido filhos, acaba ainda mais forte a impressão de que o tempo fica devorando as horas. Acredito que ver os filhos crescerem deve dar uma idéia mais exata do que está acontecendo conosco. Caso contrário, a gente olha algumas rugas no espelho, mas, ainda sente por dentro várias das angústias de menina, ainda segue com os mesmos planos e desejos. Talvez, por isso, conviva hoje com gente bem mais jovem do que eu. Meus amigos, minhas melhores amigas, todas não tem mais de 30 anos. Seguir na faculdade mantém uma energia, uma vontade de aprender que eu tinha nos meus 20 anos (quando eu adorava cantarolar a música do Fábio Junior no violão, que voltei a tocar o ano passado).

No entanto, não me importo de ir trocando a juventude, por uma aceitação e compreensão melhor de mim mesma. Só não me vejo podendo cantar "Non, je ne regrette rien". Eu me arrependo, de vez em quando, de algumas coisas. Às vezes até de coisas que fiz no dia anterior. Só que hoje acho que fiz o melhor que podia na época em que tudo parecia sempre tão confuso, tão decisivo. Lembro de uma vez (acho que tinha uns 25 a 27 anos) em que fui pedida em casamento. Isto nunca tinha me acontecido antes. E eu só chorava. Não era de alegria. É que eu gostava do cara em questão, mas, não estava apaixonada e a idéia de me casar só porque outras pessoas já estavam casadas, ou porque já estava na idade, me apavorava. Disse não. Ninguém nunca mais me pediu, mas, tá aí, uma coisa da qual não me arrependo.

Quando fiz 40, marquei uma festa no Café dos Cataventos lá na Casa de Cultura do Mário Quintana, uma das poucas pessoas que são meus ídolos, e pedi a todos que decorassem algo para dizer no dia. Meu irmão, escolheu justamente uma das poesias dele sobre o tempo ("a vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas..."). Ele nunca queria dizer a idade. Irritava-se quando perguntavam. Se a gente falava a idade que tinha e dizia que ele era o mais velho ficava bravo. Não queria envelhecer. Acabou morrendo aos 49 anos com uma cara de menino e um sorriso maroto que fazia quando dizíamos que estávamos envelhecendo em volta dele, enquanto ele continuava com aquele ar de adolescente. Não vou vê-lo ficar enrrugado, nem com dificuldade de andar ou coisa parecida. Ele conseguiu o que queria, mas, eu, certamente gostaria de continuar tendo meu irmão mais velho por perto! Em minha memória, ainda o vejo de macacão Lee e pés descalços, cantarolando músicas dos Beatles, sua grande paixão. E assim como esta, ainda tenho viva em minhas lembranças muitas coisas do passado, do qual tu fazes parte, e compreendo perfeitamente o Mario Quintana quando ele diz: "Sou um pobre menino... acreditai!...Que envelheceu, um dia, de repente!..."

Thursday, January 25, 2007

Mudanças

Hoje, me emocionei bastante ao saber que o escritório do meu irmão será fechado. Haverá uma mudança para um outro local. Logo que ele se foi, acabei tendo que ir lá e ainda havia o cheiro do seu perfume no ar, misturado com o cheiro de cigarro. Algo que numa outra circunstância nem seria tão agradável, mas, naquela me enchia de saudade. Só quem o amava sabe o quanto eu queria aquele cheiro e seu sorrizinho irônico de volta.

Mas, não acredito que a vida se acabe no que nós chamamos de morte. Confio plenamente de que não temos conhecimento total da continuidade da vida e isso sempre acreditei, muito antes de sua partida. E, embora, fique bastante interessada em depoimentos de outras pessoas, em relatos de outras famílias sobre as provas dessa outra existência nem sei se teria coragem de fazer contatos com os meus queridos. Todos nós fomos criados para ter medo e isso é muito mais forte do que qualquer conhecimento, lógica, raciocínio. Mas, acredito que vá chegar o dia em que não será mais tão estranho. Que a ciência vai provar que é assim mesmo e daí, o interesse e a curiosidade vão ser maiores do que o temor. No entanto, hoje, quando minha mãe viu minha emoção e disse: "não sei quando eu vou desabar", respondi me recuperando: "nunca". Temos esta crença, esta força, esta certeza de que meu irmão quer que a gente siga em frente, vivendo com o mesmo entusiamo, com planos de futuro, etc, etc. Ah, mas, fazer o que com a saudade?

Só que, há alguns dias atrás, achei um tanto engraçado quando li que a gente se rasga sentindo saudade e não pensa que eles também sentem e que se nos vêem sofrer por aqui atrapalha as atividades que eles tenham por lá. Claro que tem gente que não acredita em nada disso. Entretanto, não seria mais pertinente deixar uma margenzinha de dúvida e tentar não fazer nada que pudesse ser complicador para aqueles que amamos? Não é isso que fazemos enquanto eles estão ao nosso lado? Só porque não são mais visíveis aos nossos olhos vamos torturá-los com tristezas? Eu, certo que não. Agora, é claro, lembranças são coisas boas e saudade faz parte da vida e, agora sei, deste e do outro lado!

Tuesday, January 16, 2007

A gente nunca tá sozinho

Recebi isto de um amigo. Já conhecia, mas, achei que valia a pena publicar:

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
Coisas inexplicáveis e
Pessoas incomparáveis."

(Fernando Pessoa)

Sunday, January 14, 2007

Recebi esta resposta linda de minha amiga e professora de yoga Letícia Dornelles que está na India. Pedi autorização dela para publicar:

"E aí lindinha...
É questões do coração sempre serão questões do coração. Quanto mais estrada, mais caminho, mas também mais poeira. A idade não interessa, o que interessa e a cabeça sendo renovada. Atenta para as lições que estão aí em todo o nosso cotidiano, numa palavra, num gesto , num silêncio. Atenta para aquele limite, fininho, entre estar aprendendo e estar se aceitando. Aceitar para poder dançar suavemente, sem perder o rebolado e a docura de cada instante. Segue firme...segue acreditando, segue aberta , mas com aquele filtro para que não entrem coisas antigas. Um passo de cada vez, mas o coração entregue completamente...quando for a hora. E se a hora não vier, que venham os amigos, as nuvens , as flores, as viagens e outros sonhos...Afinal, se ainda esta nossa alma que tanto esperamos não apareceu é porque temos alguma coisa para mudar , para crescer... É eu tambem não tenho a resposta, mas vou morrer com esperança... Torcendo, sempre..amor L.

Friday, January 12, 2007

A solidão tá batendo

“A solidão tá batendo. “ Este é o começo de uma música e também meu momento atual. Terminou o ano, começou o outro. Morreu mais uma pessoa amiga, também o pai do meu primeiro namorado. Encontrei o irmão de uma grande paixão no supermercado. Fiquei em dúvida de quantos anos tinha. Lembrei da aventura que começava em janeiro do ano passado... Este ano faço 45. Quem me conhece sabe, adoro fazer aniversário e a idade nunca foi problema. Mas, não está demorando para eu encontrar alguém que queira compartilhar comigo minha vontade de amar? Ah, e de fazer sexo também? Sem as paranóias da juventude, sem vergonha, mas, de um jeito prazeroso, divertido? Sim, quase todo o ano me apaixono. Isso é verdade. E acho isso ótimo. Afinal, se não tenho compromisso e nem devo nada para ninguém, acho que é mais do que natural ter este desejo. Mas, o que me preocupa é que como há um histórico de homens interessantes que me abandonam, ainda tenho dúvidas de que é algo que eu tenha que fazer, mudar, entender, sei lá.

Se é o meu destino, que assim seja. Não vou ficar arrastando corrente por causa disso. Acho que a vida é muito interessante e ainda tem muitas pessoas ótimas que eu posso conhecer, amigos que posso conquistar. Mas, e se há algo que eu preciso compreender, mudar em mim para que aquele velho sonho de ter alguém ao lado venha a se realizar? Isso acaba me atormentando e é claro que me compenso comendo mais do que gostaria, bebendo o que não precisava. Sei que eu não sou a única. Sei que não quero me agarrar com o primeiro que cruzar por mim (embora, às vezes, isso pareça ser algo bem atraente), mas, como não me deixar perturbar por milhões de histórias românticas em filmes, novelas, livros e até na vida real em que as pessoas vão, finalmente, encontram alguém para compartilhar, se não a vida inteira, pelo menos alguns bons e alegres anos? Fico aliviada por não ser a Susana Vieira. Feliz da vida por não ser uma Ciccarelli, mas, não me basta. E se, por um lado, sei que, dificilmente, minha lista vai estar zerada até o final deste ano, quem me conhece sabe que não quero apenas mais um nome nela. Quero AQUELE nome. Mas, querer será o bastante? Há algo que eu deva saber antes? Coisas que devo corrigir em mim nos próximos meses? Novas abordagens? Complicado isso. Me sinto como alguém que passou dos 40, mas, que bem podia ter 12. Ainda bem que estamos vivendo mais e que assim posso (será?) ainda continuar esperando. Agora, bem que aqueles que me deixaram podiam dar uma dica para que eu não ficasse repetindo os mesmos erros, não é mesmo?

Quem sou eu?


Eu gosto muito de trabalhar, de cinema e de estar com os meus amigos. Adoro escrever, ler, estudar,"jogar conversa fora" e amar, é claro! Ah, também gosto de dançar. Sou otimista, ansiosa e, embora pareça extrovertida, na verdade, estou sempre vencendo minhas inseguranças e timidez. Sou bastante passional e apaixonada.Não gosto de chuva. Adoro água.Gosto de chocolateSou persistente. Sou irônica.Sempre briguei com a balança.Pouco subi em árvores.Nunca andei a cavalo.Morro de medo de esportes radicais.Me apaixono fácil.Tenho preguiça de fazer exercícios.Gosto de andar de pés descalços.Não gosto muito de altura.Amo a natureza, mas, gosto de conforto.Dias cinzas me deprimem.Tenho pânico de baratas.Já quis ser psicóloga.Gosto de dar conselhos.Não sei desenhar.Gosto de vento.Sou tensa.Sou compulsiva.Gosto de gente.Me emociono fácil.Choro seguido.Não gosto de ambientes fechados.Não bebo cerveja.Falo demais.Tem gente que me invejaTem gente que me ama.Não sei plantar bananeira.Não conheço ninguém que me odeie.Prefiro comer uma coisa boa a comer muito.Tenho pavor de sujeira.Sei cozinhar.Entendo de estética.Estou sempre sem dinheiro.Gosto muito de viajar.Adoro voltar pra casa.Adoro estar no palco.Sou carinhosa.Sou sincera.