Friday, May 30, 2008

A língua dos homens


Estou vivendo uma crise lingüística. Por um lado, mergulhada em textos para o mestrado onde há maioria das palavras é no nível de “hermenêutica” e “epifania”. Por outro lado, recebendo aqui em casa um Canadense que aprendeu português em um ano. Fala bem para o pouco tempo. Juro! Mas, não posso dizer “eu tava lá”, nem “péra aí”. É claro que ele não entende. E não tiro a razão dele, mas, aposto como vocês não fazem a mínima idéia de quantas palavras abreviadas ou metafóricas ou gírias vocês usam em apenas um dia. Aliás, estou adorando esta percepção, mas, é claro que, junto com as sete resenhas que estou fazendo, está um pouco cansativo.
Hoje, por exemplo, percebi que ainda pouco sei do Charles Fréderick e amanhã faz uma semana que ele dorme e acorda na minha casa. Um fracasso para uma jornalista. Não é que a gente não tenha conversado, mas, vai uma meia hora para explicar o que é “torcer”, não a roupa, mas, para o Inter, meu time e uma referência para o caminho dele até a casa. E o pior é que mesmo que eu o desobedecesse e puxasse o meu francês (ops, já vejo ele me imaginando, agarrando um francês pelos cabelos) tem palavras que eu também não sei na língua dele. Bom, mas tudo isso vai parecer que estou reclamando e, na verdade, estou feliz que ele esteja por aqui. Ele é muito simpático e para ele, tudo está bom (acho que já disse isso antes). Ah, mas, eu ainda não disse que o som da palavra ruim não existe em francês e ele não sabe dizer! Quero ver a hora que aprender. Confesso que não estou fazendo força para ensinar. Por falar nisso, os mais velhos devem lembrar de um quadro cômico em que a personagem era uma americana que pedia explicações sobre o significado das palavras e alguém malandro sempre dizia uma baixaria ou algo nada a ver e ela saia pelos cantos dizendo errado e o bordão: "brasileiro é tão bonzinho"...É quase assim.
Mas, o que eu queria mesmo com este texto era chamar a atenção para este lance da língua que a gente fala. Acho bacana a gente se dar conta de que aprender uma língua é muito, mas, muito mais do que decorar um dicionário. Por falar nisso, é melhor eu ir fazer meus temas de francês para amanhã, língua que eu passei anos aprendendo e que tantas vezes quando ouço no cinema ou lá nos DVDs da faculdade não consigo entender. Muito rápido, palavras estranhas... Então, quem sou eu para não ter paciência com o meu hóspede? Até o início de julho ele vai ter pegado o ritmo (e inclusive entendido esta frase). Agora, tem coisas que são mesmo universais. A boa música, por exemplo. Fomos ontem no Ocidente ouvir o pessoal da Roda viva tocar e cantar Chico Buarque. Tinha mais duas bandas juntas, é verdade. Carne de panela e Tribo Brasil, me disseram. Ótimo som. O canadense que o diga. Não está acostumado a músicos ao vivo e ao ouvir “Ela é carioca” e outras coisas lindas queria mesmo era dançar. E esta língua eu entendo.

Arnaldo Jabor sobre o RS



Pois é.

O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo
ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'..
Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.
Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem
'que baixaria'.
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'.
E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa'.
Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém.
No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso.
Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!

'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '

Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo.
Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem.
Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é....
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em
participação ativa?
De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o
deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização.
Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'.
A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira.
Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.

Que venham, pois.
Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:

'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'

Arnaldo Jabor

Monday, May 26, 2008

Tempo,tempo,tempo...


Parece mentira que já faz uma semana que escrevi por aqui. Nem senti o tempo passar, mesmo apesar do feriado. Também fiquei estudando com duas colegas. Lendo textos que estão dando nós nos meus neurônios, lacinhos, eu diria...E com o prazo para a entrega das 7 resenhas (que já decidi que serão 6) justamente para o meu orientador do mestrado a vida está de pernas para o ar. Passo a maior parte do tempo lendo, o resto achando que deveria estar lendo e uma pequena parte não aguentando mais ler nada. A boa notícia é que estamos hospedando um Canadense. Não...não é ninguém do circo que veio parar aqui em casa por engano. É um estudante de português do Quebéc que veio para fazer um curso na UFRGS e fica até julho por aqui. Quando a gente pergunta por que estudar nossa língua, aí, sim, ele não entende. Ora, por que, porque o Brasil é um país interessante e porque a língua é linda! É fiquem sabendo, meus leitores incrédulos. Bem, mas, ele chegou no sábado à noite. Já foi ver uma maratona, comeu o churrasco que eu assei, foi ver um show com músicas do Raul Seixas no Gasômetro, deu várias voltas em torno da reitoria e viu Dois filhos de francisco com legendas em inglês (afinal, o sotaque perturba). Um banho de brasilidade. Hoje, saiu para o curso e acabou caindo na noite. Ainda não chegou. Ainda é cedo,mas, estamos gostando da idéia. Ele acha tudo ótimo. Aliás, ótimo não, achou o quarto dele "magnífico" e agradece tudo. Sorri bastante também, o que é "ótimo". Ñão quer falar francês. Quer mesmo esforçar-se para aprender. Os verbos vão saindo meio tortos e a palavra não vem à cabeça, mas, ele insiste. Tinha dito que se ele não fosse bacana, ia deixar ele meio de lado, mas, seu jeito fez com que eu queira ajudar como puder. Ah, na quinta, ele deve ir ao Ocidente com a minha irmã ver um show do grupo Roda Viva que interpreta Chico Buarque. Eu vou estar arrancando meus últimos cabelos na tentativa de entregar minhas resenhas na sexta. E para terminar com nuances da nossa língua um trecho de Raul Seixas: Quem vai chorar, quem vai sorrir? Quem vai ficar, que vai partir?

Sunday, May 18, 2008

Cirque du soleil - Alegria


Acabo de chegar do “Alegria”. Não sei se é esse exatamente o meu sentimento, mas, que valeu a pena, isso é certo. Escrever sobre este espetáculo me lembra que minha tese é sobre crítica, mas, ao mesmo tempo me dou conta de que ainda vai levar um tempo para eu entrar nos padrões e falar por tópicos, de maneira estruturada. Cheguei a pensar em pegar as diretrizes dadas pela Bárbara Heliodora, mas, por enquanto, ainda prefiro fazer como fiz até hoje: fazer um relato da minha vivência.
Comprei o ingresso de um jeito meio tumultuado. Queria comprar pela internet, pois não tive vontade de ir para uma fila na chuva adquirir um ingresso para algo que ainda faltava tanto meses para acontecer. Não estava disponível e acabei ligando para o telefone que estava no site e o telemarketing, muito bem preparado, me induziu a comprar dois ingressos separados de valores que eu ainda não sabia como iria pagar. Mas, estava feito. O próximo passo era ver para quem eu daria o ingresso que, originalmente, seria da minha irmã, mas, que ao ver o valor acrescido de R$ 40,00 do que havia previsto, desistiu. Segunda opção: meu sobrinho que teve a coragem de ir fazer um curso em Pelotas no Tholl e passou por um treinamento rigoroso, sendo, inclusive, escolhido para fazer parte a trupe (o que não fez devido a todas as implicações deste ato). Estava aí alguém que saberia dar valor.
Resolvido isso, começamos a esperar o dia da nossa apresentação e, justamente, hoje, meu sobrinho acorda se sentindo mal. Mas, isso não iria impedi-lo e assim, às 19h, uma hora antes do espetáculo lá nos fomos. Já de cara uma facilidade: moro praticamente do lado. Fomos a pé. E ao irmos nos aproximando e vendo o picadeiro já fomos nos entusiasmando. Depois, passamos pela área de compras. Não impunemente porque eu comprei uma das coisas mais baratas que tinha lá, um pôster, pensando que estou para receber um canadense aqui em casa, enviado pela UFRGS. Ainda nem sei se ele vem, mas, achei que seria uma boa recepção.
Começa o espetáculo. Todos os lugares ocupados. O público aplaude. Pronto. É o suficiente para eu sentir a energia do lugar. Como já havia dito para o meu sobrinho, o que me atraia para esta apresentação era poder deixar por algumas horas todos os problemas, todas as situações negativas da vida de lado e entrar em um mundo mágico, mas, feito de pessoas reais. Acho fascinante que isso seja possível. Enquanto do lado de fora, a gente é bombardeada por notícias ruins de todos os tipos, sanguinárias até, ali naquele tempo e espaço é só “Alegria.” No mais, não tenho como descrever a capacidade de movimentos daqueles corpos. Não há nenhum respeito pela lei da gravidade. Fico ali, boquiaberta, pensando que a estrutura daquela gente é igual a minha e sei (embora fique até difícil imaginar) que aquele resultado tem a ver com muito treinamento e técnica. Nenhum ser humano faz todos aqueles saltos mortais impunemente. De quantas coisas eles devem abrir mão para me oferecer estes instantes? Tento ficar atenta a tudo. Percebo a estrutura por trás, material e humana. Observo as questões comerciais em jogo. Mas, nada disso tira o brilho do que vejo. Ao contrário. Sim, havia diferença (e grande) no valor dos ingressos de acordo com o lugar, mas, ao cruzar “a porta”, todos nos transformamos em público. Um público que aplaude, grita, assovia e que mal pode crer no que os olhos podem ver e no que os ouvidos podem ouvir. Sim, porque a música ao vivo é um espetáculo a parte. Lindas vozes, ritmos perfeitos. E alguém tinha dúvida de que é possível sonhar acordado? Uma coisa eu sei. Nem em sonhos imaginaria um figurino tão adequado, tão poético. E como se não bastasse tudo isso, para colaborar ainda mais para que a gente volte à infância, quando tudo ainda era esperança, tem maçã do amor, algodão doce e cachorro-quente. E os palhaços... Deliciosos palhaços que brincam justamente com a humanidade de todos nós, com este espaço que existe entre alguém comum e aquele artista, capaz de algo simplesmente fantástico.

Eu esperava mais, mas, não porque tenha faltado, mas, porque ter mais do que vi hoje à noite não iria me fazer nenhum mal. Crítica? Se existe, está anestesiada pelas cores, pelos sons e movimentos de horas em um picadeiro.

Friday, May 16, 2008

Ser ou não ser, eis a questão!


Esta semana assisti a um documentário do Al Paccino sobre Ricardo III. Sim, era minha aula de mestrado. Que privilégio! Muito legal a pesquisa dele sobre este autor que tem esta fama internacional e dificilmente alguém questiona. Por isso, foi bom ver que pode haver sim quem ache chato. Em termos de linguagem, Shakespeare não é nada prático e nem poderia, pois ele é poético. Então, é claro que não diz as coisas de foram direta e simples. As frases são sofisticadas, cheias de entrelinhas, de conteúdos outros. Eu, no entanto, acho maravilhoso. Que delícia ver as coisas sendo ditas de um jeito tão rico, tão interessante. No entanto, creio que o que mais me impressiona em Shakespeare é como ele consegue expor a alma humana...Ninguém trata de poder, de ciúme, de amor como ele. Chega a ser meio assustador. Então, tem gente assim? Que fica por aí usando da sua inteligência para enganar os outros? Para iludi-los, manipulá-los? Alguém tem alguma dúvida? Ninguém trata de persuasão melhor que Shakespeare e, lendo suas obras, tomamos contato direto com o ser humano em suas fraquezas, suas forças, suas felicidades e angústias. Mas não apenas entender o outro, mas, a nós mesmos também. Como disse meu colega Gilberto, os vilões de Shakespeare são profundamente inteligentes. Algo que faz com que a gente acabe sentindo até uma certa admiração (isso sou eu que digo). Acabamos pensando: ele é perverso, mas, genial! Ai,ai,ai...que perigo.
Mas, agora vou me divertir um pouco com esta questão levantada por este ícone do teatro mundial, pois é bom não esquecer (ou ficar sabendo) que ele queria escrever coisas que fossem compreendidas pelo povo. Ser ou não ser...inteligente, amado, seguro, confiável, isso para falar das coisas boas. Mas, ser ou não ser também ético, honesto, justo... e por aí vai. Não passamos todos os dias por estas perguntas? Não são elas que nos fazem agir (ou não)?

Sunday, May 11, 2008

Auto-estima X vaidade?

Confesso que ainda não tenho uma resposta. Qual a diferença, quais as nuances entre auto-estima ou vaidade e orgulho? Sempre achei que tinha problema de baixa auto-estima, mas, também, percebi que muitas vezes, minha vaidade ou o meu orgulho tentavam falar mais alto. Vejo que estão profundamente relacionados.
Seguido me pego querendo reagir a algo que considero uma agressão, mas, se dou mais um tempo, percebo que era o meu orgulho falando ou a minha vaidade. E, fazendo yoga, sinto necessidade de aplacar estas dois. Não raro, alguém diz ou faz alguma coisa e minha mente salta criando mil respostas revanchistas aquela afirmação ou atitude que considero agressiva. No entanto, se eu der um tempo, vou percebendo que não havia aquela intenção por trás, que era minha baixa auto-estima que a havia criado e alimentado. Que se eu fosse mais segura de mim, pouca importância (ou nenhuma) teria dado. E assim, começo a deixar passar aquelas atitudes que não me agradam, aquelas palavras que não são gentis e, embora todo mundo, assim como as misses, queira a paz mundial, a maioria das pessoas não entende como posso não me afetar pelas agressões alheias, pelas atitudes babacas. Vantagem de ter passado dos 40 e achar que nem todas as brigas valem à pena? A escolha de guardar minhas energias para algo que realmente as mereça? Acho que sim. Ou seja, me vejo de uma maneira muito diferente daquela que já foi um dia e gosto disto. Passiva eu? Creio que não. Complacente? Talvez. E é tão bom quando conceitos como “não é o que acontece com você que importa, mas, a forma como você reage” não são apenas palavras vazias, mas, a prática do meu dia-a-dia, conquistada com muita ansiedade, sofrimentos e lágrimas no passado, mas, que me dão esta tranqüilidade interna para apreciar o que é bom e não dar tanta importância para o que não é.

Ps: me deu vontade de encerrar com uma das coisas escritas pelo meu irmão que já não está mais conosco: “Os amores-perfeitos desabrochavam assustados com a proximidade das bocas-de-leão.”

Friday, May 09, 2008

Quando o amor não compensa?



Por que será que as pessoas, principalmente, as mulheres, adoram ver filmes de amor não correspondido, de almas gêmeas e encontros e desencontros e, quando isto ocorre na vida real, elas só querem que a gente esqueça, saia dessa e abra uma Scholl (olha o merchandising no amor, mas, este bordão é bom mesmo)? Histórias como “Nunca te vi, sempre te amei”, “Razão e Sensibilidade” e “Época da inocência”, só para citar três bons exemplos, arrasam os corações mais endurecidos. No entanto, se temos um amigo ou amiga em uma circunstância parecida, achamos que está perdendo tempo, que está sendo “usada”, passada para trás, etc. Compreendo que no filme a gente tem muito mais informações do que, realmente, se passa, pode ver vários ângulos da questão e mais: saberá como termina. Na vida, não. Nesta, a gente sabe só um pedaço e não tem a menor idéia de como acaba. Mas, eu sou uma romântica incurável e gosto de imaginar que minhas histórias também terão um fim cinematográfico, mesmo que não seja perfeito. Ou seja, que tudo que está ali acontecendo, tem uma razão e que “no final” vou ficar sabendo. Às vezes, invento meus próprios roteiros e prevejo o que está para acontecer. Muitas vezes crio o “happy end”, aquele que vem depois que tudo parecia estar errado, que junta “por acaso” os casais que haviam se separado por anos para uma cena final e um beijo que compensará todas as lágrimas derramadas. Será que me viciei em roteiros hollydianos e a vida não é nada disso? Minha irmã disse que estou falando muito de amor, mas, sou libriana. Se não estou amando ou falando de amor, estou deprimida pela falta dele. Poderia estar falando do meu trabalho, que amo! Das minhas amadas aulas de teatro, do amor que tenho pela comida, pelo cinema, por meus amigos, por um banho quente, uma coberta gostosa, um vinho branco. Ah, o amor... domina mesmo a minha vida! E, independente do final, acho que cheguei a conclusão, como dizia Milton Nascimento, “qualquer maneira de amor vale à pena”. Mas, prometo no próximo texto fingir que estou falando de outra coisa.

Monday, May 05, 2008

Eu Te Amo

Composição: (antonio Carlos Jobim, Chico Buarque)
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir

Sunday, May 04, 2008

Crônica do Amor - Arnaldo Jabor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem noódio vocês combinam. Então?Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.
Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Falta de timing

"Te conheci por acaso. Acho que foi sim paixão à primeira vista e quando o destino te colocou no meu caminho não pensei duas vezes: decidi que faria tudo para nos aproximar. Troquei olhares, palavras, bilhetes. Tentava de tudo para te provocar. Tu não eras indiferente, mas parecia que nunca tomarias uma atitude. Descobri, depois, que tinha alguém no meu caminho, mas o que sentia já tinha se tornado tão forte e importante que, mesmo contrariando todos os conselhos, todos os meus medos, fazia de conta que só havia nós dois. E foi assim que surgiu o primeiro beijo. Aquele que me deixou de pernas bambas e a cabeça tonta, com um desejo de quero mais. E meu pedido se realizou.
Escondidos, sem promessas, nem compromissos, eu acreditava que, aos poucos, entraríamos um na vida do outro e eu te teria ao meu lado. Quando pensei que estava mais próxima desta verdade, quando me disseste que estavas livre, tomaste outro rumo sem deixar sinal. Reapareceste de repente quando já não havia mais porque fazer perguntas, quando a distância e o silêncio deveriam ter sido suficientes para dar todas as respostas. Mas, não. Descobria, aos poucos, que todo aquele sentimento de antes ainda estava ali, que bastava um sorriso ou o som da tua voz para que eu voltasse a te querer. Só que de novo não é o momento. Já existe, outra, outra vez no lugar em que eu passei todo este tempo desejando estar. Desde então fico tentando descobrir, afinal, qual é o meu lugar."

Saturday, May 03, 2008

Ilusão

Hoje me lembrei de um versinho que li em um álbum de fotografias que ganhei quando tinha uns 10, 12 anos. Acho que dizia algo mais ou menos assim: "O que é a vida, se não um sonho? Neste álbum ficará seu doce passado risonho. Passado guardado, eternamente, pelas suas fotos...." e por aí ia embora, certamente, inserindo uma palavra que rimasse. Era destes versos antigos que tinham que ter rima. Nada das inconcretudes do pós-moderno, nem das inconsistências do contemporâneo, mas, talvez, por isso mesmo ainda me venha a mente agora. Depois de todos estes anos, não acho que o meu passado seja doce, muito menos risonho, mas, concordo que esteja guardado.

Não sou destas pessoas que ficam olhando para trás, embora sofra com todas as rupturas e mais ainda quando penso que algo chegou ao fim. Tenho muita dificuldade de aceitar que as coisas terminam. Em geral, fico apegada a elas durante um bom tempo. Tempo suficiente, às vezes, para que elas até renasçam.

Foram fotos que, novamente, me levaram a esta reflexão. Fotos que trouxeram lágrimas aos meus olhos, como há tempos não acontecia. Por quê? Porque elas mais uma vez me tiram a ilusão. Derrubam alguns sonhos e, mesmo que não signifiquem a eternidade como no meu versinho, representam o hoje e o sentimento daquele que me tem (mesmo sem querer). E não é como eu queria. Sabia que podia ser assim, mas, gostava de imaginar que podia não ser. Mas, as fotos são concretas. São fatos que vão contra os meus desejos. Não são o futuro, é verdade. E, hoje, só hoje, preciso continuar acreditando que este ainda vai ser como eu queria. Não sou eu nas fotos e isso me obriga a tomar uma nova rota, mas, antes preciso tomar fôlego. Não ser correspondida? Não pode ser por toda a vida (precisava desta rima).

Thursday, May 01, 2008

Apresentadores de tv



Desde que comecei a fazer jornalismo é comum me perguntarem quem é o meu apresentador preferido. Confesso que a resposta nunca é simples. E olha que não costumo me achar muito exigente. Mas, tem coisas também que não se explicam. Eu, por exemplo, não suporto ouvir a voz do Faustão. Claro que isso não faz a menor diferença para ele. Ele tá lá, ganhando uma boa grana, reconhecido, no mínimo nacionalmente e ficando registrado como um importante nome da comunicação. Mas, o que posso fazer? Meus queridos querem a minha opinião, pois, consideram que eu sendo da área vá fazer uma melhor análise. Bem, sei que a maioria das coisas que aprendemos como incorretas na faculdade são feitas todos os dias pelos nomes importantes da televisão. Logo que me formei, isso me incomodava mais. Agora, assisto ou não assisto. O Jô Soares, por exemplo. Todo mundo acha importantíssimo aparecer no programa dele. E é. Eu costumava ser destas pessoas que ia para cama com o Jô e, talvez, por isso mesmo, fui percebendo o quanto ele pode ser prepotente e arrogante, às vezes. Não tenho a menor dúvida de que é um cara inteligente. O humor dele me divertiu durante anos, mas, até o apresentador americano que ele copia, o Lettermann, consegue ser mais simpático. E o pior é que ele tem um nome forte no meio que mais me interessa, mais do que a comunicação: o meio artístico. Só que já o vi entrevistando pessoas sobre assuntos que ele não respeita (e não sei por que a produção convida) e ele é insuportável, debochado, grosseiro até. Bem, mas, até agora só falei dos que não gosto e continuo fugindo da resposta inicial. É que é difícil mesmo. Para mim é uma incógnita porque a televisão foi sendo ocupada por pessoas que nem carisma tem, diferente da Hebe Camargo que, longe de ser minha apresentadora preferida, pelo menos sabe conquistar seu público e mantê-lo tão fiel por tanto tempo. Se não merece a minha apreciação, merece meu reconhecimento. Vai ter gente que vai brigar comigo, mas gosto do Pedro Bial até mesmo apresentando o Big Brother. Sou meio fã até. Zeca Camargo também é outro cara que acho bacana. E as mulheres? Difícil, mas, vira e mexe esbarro em figuras novas como a Mel Lisboa e na Didi que faz o programa dos EUA na tv por assinatura. As duas mostram uma excelente desenvoltura e não são metidas. Vão com um jeito de quem não quer nada obtendo informações interessantes e divertidas. Bem, daqui, gosto do Túlio Milman. Tem um jeito simples e direto de entrevistar e sabe deixar as pessoas a vontade. Já tive a chance de ver isso acontecer, algumas vezes, ao vivo. Aos poucos, vão surgindo nomes de gente competente, mas, infelizmente, em minha opinião, os espaços nobres estão ocupados por pessoas que até já foram boas um dia (a exemplo de Serginho Groismann), mas, que, atualmente, não estão sabendo manter as características que os levaram até lá. De uma coisa eu tenho certeza: bastou começar a se achar o tal, estraga. Então, é melhor eu parar de fazer esta análise de uma vez para não acabar cometendo o mesmo erro.