Sunday, June 30, 2013

Terpsi: a arte forjada nos corpos dos bailarinos



Celebração. Talvez essa seja a melhor palavra para descrever a apresentação do Terpsi dentro da Programação Dança.ponto.com. A ideia era fazer uma homenagem aos 25 anos desse grupo. Prima de Angela Spiazzi, a única bailarina a permanecer desde o início, acompanhei toda essa história na plateia e posso dizer que não há limites para a criatividade dessa coreógrafa chamada Carlota Albuquerque. Assisti tudo  arrepiada do início ao fim, emocionando-me com a música, com o cenário e, é claro, com esses corpos que se doam a cada movimento. A predominância do branco, os poucos elementos em cena, só destacavam ainda mais os cheiros das especiarias que saiam da pequena mesa próxima a minha cadeira. No palco, não há bailarinos, mas o pé de um, a cabeça de outro, os braços de outro, tornando, ironicamente, impossível o desmembramento desse coletivo de teatro-dança. Enquanto isso, eu segurava as lágrimas que vinham da simples constatação do privilégio que era estar ali, nessa cidade que luta para não ser esquecida no cenário nacional, vendo algo tão único, criado por pessoas com tanto talento e que transformam emoção em movimento. Reconheço características de outros trabalhos, enquanto observo que nada é igual. Pouco importa que eu já tenha visto duas décadas e meia de espetáculos, nada se repete. O Terpsi transpira o calor do corpo dos bailarinos, exala a energia de sua coreógrafa e surge e ressurge chacoalhando com os nossos sentidos. Assim, mesmo que uma chaleira esteja fervendo ali ao meu lado, tenho a sensação de que estou sonhando pelo simples fato de ser difícil acreditar que esteja diante de cenas tão poéticas, tão estéticas, tão sensíveis. Mas, tendo visto tantas outras obras do grupo não deveria estranhar que tudo é novo, fresco, como se nem tivesse sido ensaiado. Mas só quem não conhece a persistência de Carlota para imaginar que tenha sido assim e, por falar nisso, ela que sempre teve como referência Pina Baush, me faz lembrar Federico Fellini. Não importa que os bailarinos brinquem com pratos, sovem massa de pão, sirvam café ou caipirinha aos expectadores, eles me transportam a um universo onírico, onde nada é impossível, onde a gravidade é desafiada em pequenos passos ou grandes movimentos. E se tem algo que sempre me atraiu é que todos os espetáculos me trazem a vontade de dançar, me dão a impressão de que qualquer um poderia levantar e dançar também. Bem, mas terminado isso tudo, chegou a hora dos depoimentos de quem fez parte dessa história e a choradeira geral, inclusive minha, já que estavam falando de especiarias, me lembrou o filme “Como água para chocolate” no qual a tristeza da cozinheira vai parar nos pratos que ela prepara levando todo mundo as lágrimas. Pudera não. Eram milhares de momentos extremamente especiais para serem recordados. De pessoas que dançaram no grupo, de quem colaborou na criação e na estruturação do Terpsi ou até mesmo para quem sempre o fotografou e da própria Carlota que declarou que ela não era só ela, mas a soma de todos aqueles que só tinham palavras de agradecimento. Intensidade. Foi a que usaram para descrevê-la e que, sem dúvida, também serve para falar do seu trabalho e dessa noite. Como ela mesma falou, mais uma vez ela disse estar fazendo seu último espetáculo. Mas quem a conhece sabe que essa afirmação só dura até ela começar a criar o próximo. Ainda bem porque, mesmo tendo visto tantos, a gente nunca se cansa de rever o Terpsi que se recria a cada espetáculo, a cada passo dessa dança-teatro que é simplesmente fascinante. Ah, prima, e tu podes aparecer aqui em casa para sovar um pão de vez em quando.