Saturday, January 29, 2011

Uma audácia que não se perdeu na curva

No meu entender, o público tem sorte do Porto Verão Alegre ser quase um Festival Julio Conte. Afinal, na programação estão incluídos vários espetáculos desse diretor que teve a dádiva e a desgraça de ter feito Bailei na curva. Digo isso porque acompanho a cobrança que existe sobre ele de continuar fazendo algo no mesmo estilo. Porém, já faz tempo que ele demonstra que não pretende viver dos “louros” de um dos maiores sucessos do teatro gaúcho. Mas também é verdade (pelo menos a mim parece) que é, justamente, isso que permite que ele tenha o atrevimento de trazer para o público seus “experimentos”. E é assim que eu vejo Essa noite se improvisa. Não porque não seja acabado, porque seja menor ou mais simples. Muito pelo contrário.

Acho que não é preciso ser psicanalista para saber como é complexo misturar várias linguagens e deixar todas elas quase ao sabor do vento. Eu disse quase. Isso porque é clara e nítida a mão do diretor em tudo que acontece. E esta mão é firme e competente e ao mesmo tempo sutil. E eu acredito que não existam tantos diretores que tenham esta coragem, esta audácia de correr riscos todo o tempo. Tudo que é proposto pode, simplesmente, não funcionar ou funcionar hoje e ser terrível amanhã. Claro que sempre é assim no teatro. Só que Conte leva isso ao extremo.

Em teoria, o que ele propõe poderia ser extremamente chato e monótono: reproduzir cenas de filme no palco. Mas como ele não pretende deixar por menos, não é qualquer filme, mas Um bonde chamado desejo. Uma história conturbada, cheia de nuances, com personagens complexos e, cá entre nós, com um elenco que intimidaria qualquer um. No entanto, aquele grupo demonstra toda a sua disponibilidade e se coloca à disposição para aceitar o congelamento das cenas, o retorno, a inversão. Conte “brinca” com seus atores como alguém que tem o controle do DVD na mão e faz isso enquanto projeta as cenas do filme e as imagens da própria cena no palco. Mexe com o tempo e com espaço. As trocas dos atores que encenam personagens de outros sexos remetem a própria homossexualidade do dramaturgo americano e tudo isso acaba interessante e divertido.

Incita, também, a participação do público e de uma maneira que eu que entrei decidida a não fazer nada já estava repensando esta decisão. Mesmo que quem se habilite tenha alguma experiência, serve para fazer entender melhor o teatro e dá a oportunidade para aqueles que sempre sonharam em pisar no palco. Aliás, este é um ponto importante do espetáculo. Uma espécie de aula que a gente leva de brinde. Sobre Tennesse Williams, sobre improvisação, sobre personagens...

Agora, se você faz questão de assistir a uma peça, vai se perguntar por que está vendo um filme, se você quer ver o filme, vai querer saber por que precisa ver aquelas cenas. Se você já conhece Tennesse Williams vai achar que não precisava tantas informações sobre ele. Se nunca ouviu falar vai achar ruim que tanta coisa seja dita em tão pouco tempo. Assim, eu sugiro que você não fique criando expectativas, mas esteja aberto a uma proposta que pode até não ser só teatro, pode também não ser filme, nem aula, mas que, sem dúvida, é uma experiência artística. Vendo Essa noite se improvisa entendo, completamente, o medo de Blanche Dubois de enlouquecer e fico em estado de alerta quando ouço Julio Conte dizer: “se me der na louca...” porque sabe-se lá o que esta mente criativa será capaz de fazer.

Friday, January 28, 2011

Sobre o Arrigo

Publico eu mesma um comentário do colega Marcio Silveira que me chega por email. Afinal, a frase dele é pura poesia!


"Como o vento minuano, ricocheteia as ideias e derruba o vivente num descampado de imaginações mesmo tão longe do sul. Eta saudades da minha terra onde cantava Lupicinio e Elis."

Arrigo Barnabé e Lupicínio Rodrigues “beliscando meu coração”

Fui provocada pela minha colega Betha Medeiros para ver o show de Arrigo Barnabé cantando Lupicínio. Como me pareceu uma mistura inusitada de talentos e era em um lugar que tem feito propostas sempre interessantes, decidi comprar os ingressos pela internet. Escolhi a primeira fila para juntar o prazer de ouvir música ao de estar ao lado de minhas amigas. E estava certa.

O lugar estava lotado. Logo percebo a presença de Roger Lerina. (Às vezes, acho que jornalistas têm faro para outros jornalistas). A sala é pequena, mas aconchegante e a permissão de poder consumir bebidas enquanto se assiste ao espetáculo me agrada. Mesmo antes de Arrigo entrar já dava para perceber que estaríamos muito perto. Quando ele chega, minha primeira impressão é estranha. Aquele homem de cabelos brancos pouco se parece com o cantor irreverente dos meus 20 anos. É... o tempo passou e rápido. Ao piano, ele executa uma das músicas de forma bem tradicional, o que me causa estranheza. Será que ele mudou tanto assim? Porém, mal termino o pensamento, ele já está de pé, cantando outra música com o seu timbre característico e com a força de uma interpretação sem igual. Ao fundo, fotos em preto e branco dos bares freqüentados por Lupicínio. Locais simples, cheios de gente, muvuca total. Em sua conversa com a plateia, Arrigo faz menção ao vento Minuano e é muito bom pensar que este gênio da música andava por aqui, em minha cidade.

No palco, Arrigo já conversa com o público e dá a cada sentença das músicas uma intenção. Algumas músicas mais conhecidas do que outras, mas todas poéticas, verdadeiras, espelhos da alma humana. A emoção surge em mim quando tomo consciência de que estou ali vivendo um momento único, especial. Isso fica ainda mais claro quando o cantor-interpréte começa a se perder em uma música e diz que está emocionado e intimidado pela presença do filho do homem. Mais uma titubeada, e o filho de Lupicínio sobe ao palco e começa a cantar com ele. Isso é impressionante. Temos tanto medo de errar e, no entanto, quando alguém, com a experiência de Arrigo, declara sua incapacidade, a gente se delicia. É quando nos sentimos mais próximos do artista.

Fico pensando que o boêmio gaúcho adoraria ver suas músicas cantadas daquela maneira. Tão diferente do seu próprio jeito. Quando interpreta Vingança, Arrigo traz para a música um escárnio, um prazer que faz a plateia sorrir. As palavras ricocheteiam. Não sobra nada da voz suave e do jeito doce de seu autor. Nem por isso, deixamos de perceber a perfeição dessa letra que só quem já sofreu por amor pode entender.

Arrigo interpreta também Volta uma das minhas músicas preferidas. Fico controlando a vontade de cantar também para não atrapalhar. Mas fica quase impossível quando ele canta Esses moços, uma das primeiras músicas que aprendi no violão. Quer dizer... na verdade, não precisa a ligação ser tão direta. Também quero cantar Judiaria, Se acaso você chegasse, Nervos de aço, Aves Daninhas e até mesmo Dona Divergência ou Prá São João decidir, isso sem conhecer estas últimas.

Ainda bem que não tinha um repertório mental. Se não, era capaz de ficar lá querendo ouvir Foi Assim, Nunca, Felicidade e tantos outros sucessos gravados por outros incríveis cantores como Elis Regina e Maria Bethânia. A boa música não perde força, nem beleza e com isso faz com que a gente até esqueça que lá se vão muitos anos desde que havia visto Arrigo Barnabé que mostra que sempre haverá tempo para Lupicínio que não só inventou o termo “dor-de-cotovelo” como deixou muito claro do que ele estava falando, ou melhor, cantando.

Thursday, January 27, 2011

Sobre a minha ausência na performance Viúvas

Quando comecei a ouvir falar do espetáculo Viúvas, do Oi nóis aqui traveiz, tentei convencer amigos a irem também. Uma me disse que tinha medo de andar do barco. Brincando (mas nem tanto) disse que eu tinha medo do grupo e outra me disse que tinha medo da Tânia (uma das atrizes). Na verdade, isso tudo faz sentido. Afinal, falava com pessoas que já conhecem o trabalho deles e sabem que ninguém sai dos seus espetáculos ileso.

De qualquer forma, acabei sendo convidada também e, mesmo sabendo que as senhas só começariam a ser distribuídas às 19h, fui para a fila às 16h. Muitas pessoas já estavam lá. Havia uma lista e a primeira tinha chegado às 14h. Resultado: não adiantaria esperar. O barco que levaria todos para a ilha, local da performance, só tinha 40 lugares. Teria esperado se houvesse alguma possibilidade. Acho cansativo. Acho chato, mas fico. Em parte, concordo que a espera faz parte do “evento” e, muitas vezes, gera conversas interessantes e até mesmo novas amizades. Não deu.

Voltar outro dia não estava nos meus planos. Por isso, recebi feliz a notícia de que a TVE faria uma transmissão sobre o espetáculo, com cenas do mesmo. Peça televisionada é teatro? Não. Não há dúvidas sobre isso. É outra coisa, outra forma de linguagem, outro meio. Mas isso não quer dizer que não possa dar uma boa idéia do que se trata e, se o roteiro for bom, se a equipe de TV trabalhar bem, podemos ter, sentir, imaginar o que sentiríamos se lá estivéssemos. Perdemos em percepção. Ganhamos em conforto e temos uma visão do espetáculo que não sofre de miopia, nem tem problemas de audição. Passa pelos “olhos” daqueles que captam as imagens, editam, etc. Isso não sou eu que digo. Minha formação em comunicação me dá esta consciência, mas existem muitos pensadores sobre o tema, trabalhos acadêmicos, bibliografia. Dito isso, sabia que seria melhor se tivesse conseguido aquela senha. Porém, me consolava o fato de que teria uma idéia.

Mesmo passando pela estrutura de um programa televisivo com apresentador, entrevistas e comerciais, pude ver o quanto a beleza da natureza transformava o lugar em um cenário incrível. Já no barco, um dos atores começava a “dar o texto”, o que, sem dúvida, ia preparando o público para o que estava por vir. Na medida em que todos vão descendo do barco, recebidos já pelos personagens, me dei conta de que havia ali uma grande entrega da “plateia” que havia se disponibilizado a ficar à mercê do grupo, de sua organização, de sua estrutura. Duvido que alguém ali soubesse como fazer para voltar da ilha caso o barco do grupo não estivesse mais naquele local na hora de ir embora. Esta confiança significa respeito pelo Oi nóis.
O programa incluiu também entrevistas que falam das diretrizes da performance, da alegoria política, das mães de maio. Este caráter simbólico de suas apresentações é algo que já acompanha o grupo há muito tempo, desde o início. Os espetáculos são sempre cheio de metáforas, de uma meta-linguagem que, embora tão sofisticada em teoria, chegam até mesmo às pessoas comuns e geram impacto. Eles usam para isso elementos que estão presentes no cotidiano: a água, o fogo, a terra... Mas que com as palavras dos atores ganham muitos significados.

Dá para ver, mesmo pela TV, que a luz tem uma participação importante no clima que se cria em cada ambiente. Paulo Flores fala em ritual. Logo depois, a TV mostra uma cena de Tânia Farias de joelhos diante de alguém do público. Nesta hora, volto a pensar na amiga que falava do seu temor. É difícil ser indiferente a alguém suplicante. Isso lembra exatamente o tema da peça. Os mortos da ditadura. Não há um discurso. Não é preciso. Ao contrário, há cenas com dança, música... Oferecem bebida e comida a plateia. Tudo isso sem tirar a força do que é preciso ser dito. A estética das cenas é impactante. O público está dentro dos acontecimentos em um cenário real o que acaba mesmo por tornar o espetáculo inesquecível e imperdível como diz quem conseguiu assistir. O programa da TVE encerra com a fala de algumas pessoas que acabaram de assistir ao espetáculo. Sinto que elas estão sob o efeito de algo que elas jamais vão esquecer. Acredito que Oi nóis colabore, mais uma vez, através da arte, para que o Brasil não apague da memória o que não deve nunca mais se repetir. Ao contrário do espetáculo que, tomara, eu ainda tenha a chance de assistir.

Enquanto isso, agradeço a TVE e ao grupo que permitiu as filmagens por não ter ficado tão à margem.



Sunday, January 16, 2011

6º dia – Céu, sol, sul, terra e cor

Com a chegada do fim-de-semana, mudança da rotina. Acordamos mais cedo para irmos a uma nova praia. O trajeto no carro dirigido pelo marido da minha amiga revela a beleza do Rio. Uma extensão de mar que não lembro ter visto em outro lugar. O dia está mais bonito que os demais até agora. O ar-condicionado do carro me permite apreciar a vista. Passamos na frente do espaço onde acontece o Rock’in Rio. Eu fui. Aliás, são muitas as lembranças por aqui. Graças aos nossos amigos (até hoje) cariocas vim muitas vezes durante um bom período. Conheço grande parte dos lugares turísticos, desfilei na Sapucaí, no bloco de Carlinhos de Jesus...Mas sempre há lugares a serem descobertos.

Chegamos a uma praia cercada por morros. Uma espécie de enseada. Algo que lembra Santa Catarina. Difícil de estacionar, embora a praia ainda tenha pouca gente. Em pouco tempo estamos instalados. Cadeiras, guarda-sóis e um isopor com bebidas. Entrar no mar ainda é complicado. As ondas furiosas batem no meu corpo e quase me derrubam. O banho é tenso, mas a água limpa e em boa temperatura. Aproveito que é cedo para ficar de costas no sol com a intenção de emparelhar meu “bronzeado”. Afinal, até então, nem parece que vim ao Rio. Todos os dias com muitas nuvens quase não haviam alterado a cor da minha pele protegida pelo filtro solar. Algumas horas depois e decidimos ir almoçar em um restaurante ali perto. Vista para o mar, claro! Peixe e caipirinha. O gosto do verão e das férias.

Em casa, o sono vem rápido vendo “Meu malvado favorito”. A menininha briga comigo por fechar os olhos por cada vez mais tempo. Não há como evitar. Entre jogos, programas de TV e filmes do Mr.Beans a noite chega. Pão de queijo e vinho e um bom papo com minha amiga. Uma combinação que me deixa feliz. Não demoro muito para dormir novamente. Não sem antes ver que o pouco tempo que fiquei de costas no sol deixou suas marcas. Apesar de ser minha cor preferida não é a que gostaria para a minha pele. Assim como as chuvas, o sol do Rio não está para brincadeira.

Saturday, January 15, 2011

5º dia - turismo




Café da manhã/almoço, filme infantil. Já está virando um hábito carioca. Céu nublado. Insisto para irmos para a praia. Dessa vez, para zona sul. Isso implica em pegar um táxi até o terminal de ônibus e um ônibus até Ipanema ou Copacabana. No primeiro, o motorista se põe a falar loucamente. O assunto? Casamentos. Dele, da atual mulher, de outras mulheres...Eu aproveito a presença da minha amiga para não dizer uma palavra. Digo para ela que a partir de agora ela vai falar que eu sou surda ou que não compreendo a língua. “Pardon, excusez-moi”.

Para conseguirmos descobrir o ônibus minha amiga chega a balançar a mão na frente do rosto da pessoa que coordena a saída deste. Comento com ela que é como estar morta e não poder ser vista, nem ouvida. O ônibus tem ar-condicionado. O que no calor abafado do Rio é muito útil. A paisagem do trajeto é muito linda. Penhascos, altos morros e o mar lá embaixo. Água azul. Água verde. Começo a reconhecer o trajeto. Decidimos descer em frente ao Copacabana Palace. De longe, enxergo o Cristo. Pensei que fosse embora sem vê-lo. Agora, lá está. O mar não está tão bonito quanto na Barra. Nem vejo pessoas bonitas tão pouco. Mas não dá para fazer comentários sobre os cariocas. Não são eles que estão ali. É tempo de férias. Eles estão em outros lugares. Estamos cercadas por pessoas de outras nacionalidades, de outros estados. Os papéis atirados no chão na minha frente me incomodam. Pego um saco e junto. Pronto. Agora sim posso aproveitar a vista.
Duas horas depois, é hora de voltarmos. É sexta-feira. Os transportes e o trânsito se complicam no final da tarde. Minha amiga decide pedir umas batatas fritas para a filha. Estamos em um dos lugares mais turísticos do mundo e a espera é de mais de 45 minutos. Perdemos três ônibus enquanto isso. Felizmente, quando os pingos de chuva começam conseguimos um ônibus que vai nos levar até a frente do condomínio. Descubro, finalmente, que pegar táxi é mais um hábito da minha amiga do que algo imprescindível para o deslocamento. Em “casa” vemos uma nova versão do Príncipe e o sapo, comemos pizza, tomo vinho e vou ler Cachinhos dourados antes de dormir. Não tenho fôlego para uma segunda história. Como as crianças pequenas, os olhos pesam...

Friday, January 14, 2011

4º dia - reflexões

Posso começar a me acostumar a acordar mais tarde... Depois do café da manhã, comendo coisas que em geral não como em Porto Alegre, vemos um filme infantil. É divertido. Deveria fazer parte da programação de todo adulto para a gente não esquecer como era quando acreditávamos em uma vida mais simples. E nessa bobeira, chega a hora do almoço. Também poderia me acostumar com esta vida de não fazer nada. Minha amiga faz para mim o que faz para a filha de seis anos. Nada mal.


Mesmo com o dia nublado, resolvo ir para praia. Dessa vez, sozinha. Peço uma cadeira, um guarda-sol que vai servir mais como guarda-chuva e me sento lendo meu livro. Mas antes de começar a grudar os olhos nas páginas, decido olhar as pessoas na água, os morros, o movimento. O mar é lindo. Vê-lo me dá sensação de liberdade, de amplitude. É, a vida não é só o nosso quarto, o nosso escritório. O mundo é maior. E por mais ÓBVIO que isso pareça é sempre bom deixar registradas estas imagens para aqueles momentos em que vivemos nossos dramas pessoais, nossas tragédias particulares. Cada vez mais me convenço que o sofrimento é uma questão de perspectiva. E fico assim, por horas. Lendo, dormindo, tomando água de coco.

Final de tarde, levanto sem precisar carregar nada e saio pela avenida caminhando. Percebo que apenas eu uso chapéu. Achando melhor não dar tanta cara de turista, tiro e guardo na bolsa. Caminho bastante, mas decido pegar um taxi em um ponto já no final da avenida para garantir. O motorista é um senhor que logo puxa conversa e embora eu tente responder só sim ou não ele vai insistindo, quer saber mais. Começa a me ganhar nos elogios. Diz que eu pareço ser uma pessoa feliz. Concordo com ele. Há poucos minutos, havia pensado exatamente nisso. Estar aqui e neste momento da minha vida é motivo para agradecer ao universo. Viajar mexe comigo. Põe todo e qualquer problema de lado. Bem, mas a conversa segue até que chega a pergunta que vale um milhão: “por que não me casei?” Fiz cinco anos de terapia buscando esta resposta. Parei percebendo que talvez nunca a tivesse. Não, não fui eu que não quis. Não, eu não sei porque. Filhos? Também não. Mas não saio com má impressão do motorista. Afinal, ele me dá 33 anos e a previsão de que ainda há muito pela frente. Quem sou eu para discordar?

À noite, mais um filme infantil, um vinho branco gelado, atirada na “cadeira do papai”. O sono vem fácil.

Thursday, January 13, 2011

3º dia - Comemoração

Ainda sou a primeira a acordar na casa. Quem diria... Dá tempo de ler o livro que eu trouxe. Redescobri, há pouco tempo, que tendo um livro estamos sempre em boa companhia e temos uma das melhores maneiras de passar nosso tempo. Quando o pessoal acorda, assistimos a mais um dos filmes infantis (desta vez sem a Xuxa). Eu me divirto igual. Torço pelo final. Peço para trancar quando vou pegar um suco. No fim, depois de alguma insistência, com o céu nublado, vamos para a praia. Já caminho, o sol vai dando a sua cara. O horário bem diferente do que eu, normalmente, iria em direção ao mar. Quase duas horas da tarde. Mas a idéia é ficar embaixo do guarda-sol, olhando o movimento e a água verde. Lá pelas tantas, começo os primeiros banhos. As ondas estão fortes e mais de uma vez me levam. Passo por duas crianças não rastejando porque uso as mãos para me amparar e isso evita que eu saia de lá toda arranhada. A menina que está comigo não tem a mesma sorte. Comigo? Mais ou menos. Não tenho coragem de me responsabilizar por ela. Recuso dar a mão. Já avisei a mãe dela. Não dou conta nem de mim. Para chegar à água é uma descida. Não chega a ser fundo, mas pega ondas furiosas. Talvez, se eu fosse mais para o fundo... Não tenho coragem. Saber nadar nestas horas, praticar todas as semanas como eu faço não adianta nadinha.
Nem é final de tarde e decidimos vir embora. Fazer nada também cansa. A praia segue cheia de gente. Não almoçamos ainda. Viemos para casa. Hoje é dia de jantar fora. Aniversário de casamento da minha amiga. Duas décadas já se passaram. É bastante, mas eu que já os conheci casados, sei que já se vai mesmo muito tempo. Vamos a um lugar que parece um pub. Amplo. Muito bonito. A comida é espetacular. Não mais cara do que em Porto Alegre. Nem mais barata também. Mas estamos em um shopping. Uma bela massa e um vinho branco gelado. Minha mãe ficaria louca com as sobremesas. Uma delas, para provocar a imaginação, se chamava “avalanche”. Minha amiga e a filha compartilham uma. Eu nem se quisesse. Pensei que não terminaria o meu prato. Para que o jantar seja ainda mais perfeito, não sou eu que pago a conta. Digo que já estou na mordomia, com hospedagem, café da manhã, sucos diversos. Minha amiga comenta que sou eu que estou pagando os taxis para ir para a praia. Está bem... Então, serei eu a continuar pagando. Não trouxe muito dinheiro, mas não pensei em voltar com ele.

Wednesday, January 12, 2011

2º dia - M&M


Acordei com chuva e um certo friozinho. Depois de uma manhã preguiçosa, com um café da manhã bem tarde e um passeio pelo condomínio gigante cheio de jardins e parques, o sol apareceu e nos convenceu que a melhor programação para a tarde seria ir à praia. Claro que pouco antes de sairmos ele já estava brincando de esconde-esconde e nos fazendo duvidar que valeria a pena passar protetor solar. Mas como toda gaúcha, com poucos dias para ficar por aqui, resolvi apostar.

Montanhas e mar. Uma mistura que agrada muito aos meus olhos. E a água...linda, verde. Uma cor que não se vê nem no melhor dia das nossas praias no sul. Uma temperatura bem diferente também. Uma onda infinitamente menos violenta. Uma delícia. E assim passamos à tarde, entre banhos de mar e a construção de um castelo de areia. E quem diria? Aqui, sou expert. Falta muito para fazer aquelas construções incríveis que já vi nos concursos, mas construo uma muralha como ninguém. Custo para começar, mas depois o lado compulsivo baixa e nem me importa mais se a criança que insistiu para que eu fosse lá brincar com ela, já está longe, fazendo outra coisa.

Algum tempo depois, e o céu por trás das lindas montanhas que nos cercam começa a fechar. Resolvemos “levantar acampamento” antes que ela chegue. Enquanto eu digo onde podemos tomar uma chuveirada às “cariocas”, o céu abre outra vez. Estava certa aquela mãe que recém começava a colocar sua toalha enquanto guardávamos a nossa. Depois disso, enfrentamos dificuldade para pegar um táxi. Mas qual é a pressa mesmo? Aqui, entro em outro ritmo. Qualquer compromisso está há muitos quilômetros dali.

Deixo a menina escolher o vídeo que vamos ver. Um equívoco. Em uma imensa quantidade de filmes que mais parece uma locadora, ela escolhe algo da Xuxa. Tento ficar aberta, esperando que sua beleza me faça esquecer o quanto sua voz é chata e como ela não sabe interpretar nadinha. Capricho na produção, no elenco, tudo. Nada melhora o fato de que tudo é falso nela.

Depois do jantar, outro filme. Agora escolhido pela mãe, minha amiga que já havia me indicado há tempos e eu continuava sem ver: Across the universe. Agora sim. A fotografia é linda. As músicas não preciso nem comentar e o roteiro muito inteligente. Filme-arte. O aparelho de última geração não colabora. Corta o filme. Quebra a mágica. Minha amiga me busca um café, pois mesmo achando incrível, a Xuxa me pôs para dormir. Quem sabe esteja aí o segredo do seu sucesso. De qualquer forma, fora de casa, aproveito para fazer coisas que lá não faria, mesmo que seja ficar vendo filmes na casa alheia. O simples fato de ser diferente me agrada.

Tuesday, January 11, 2011

O Rio continua lindo?

1 dia – a chegada

Poderia dizer que a viagem foi ótima. Nenhuma turbulência. Porém, do meu lado uma senhora que cheirava a alho e já tinha tentado pegar o meu lugar na janela se debruçava sobre mim para espiar as nuvens. Enquanto isso, outra que estava atrás, tossia sem parar. Pensei em oferecer o Halls que estava na minha bolsa, mas fiquei constrangida. Embora quem devesse estar é ela por poder contaminar todos naquele avião. No aeroporto do Rio, as malas custavam a chegar e, de repente, vi uma bolsinha japonesa minha aparecer na esteira. A resgatei. Mas desde então a espera pelo resto ou pelo que poderia ter sobrado pareceu maior. Até porque não segui a regra de ouro de um viajante de trazer na bagagem de mão uma roupa.

Com a mochila intacta mais de meia hora depois fui ao balcão de informações. Mas saí de lá com a nítida impressão de que pouco ajudou. Estava em meu país, mas não consegui obter frases inteiras daqueles para os quais perguntei como fazer para chegar a Jacarepaguá. Acabei entrando em um ônibus sem total convicção e rezei pra não ter que descer no caminho que estava longe de ser o Rio do cartão postal e das últimas viagens que fiz prá cá, há mais de 20 anos. Fiz o que sei melhor. Comecei a ler as placas de trânsito do caminho e desci no local indicado por minha amiga. Algumas ligações a ela depois e uma breve corrida de táxi, entrei em um complexo de condomínios muito diferente de tudo que conheço em POA. Sua filha pequena foi me “resgatar” em frente ao prédio. Saudades dela e da minha amiga que mora em um apartamento tão bonito quanto à casa que tinha na capital do Rio Grande. O dia estava quente e nublado.

Depois de um almoço feito para mim às 3h da tarde, fomos ao Barra Shopping Sul carioca. Fiquei feliz em ver a alegria da filha da minha amiga em uma imensa livraria. Ela corria pegando os livros e me mostrando. Final de tarde, o marido foi nos buscar e, sabendo que toda gaúcha chega ao Rio louca para ver o mar, nos leva até a praia. Comecei a ver uma parte do Rio que garante a sua fama. Eu e a menininha molhamos os pés na água e caminhamos pela areia, rindo e saltando e prometendo voltar. Ela me encanta. É divertida, inteligente e bem falante e solicitava a minha atenção todo o tempo como se eu já fosse imprescindível. Carrega nos “SS” e “RR”. Eu que adoro sotaques, acho o máximo. Ela agora já é uma “cariúcha”. De volta, vemos um filme infantil super bem feito com uma mensagem bem bacana sobre o significado da aventura. Rimos e torcemos pela história enquanto bebo vinho, como queijo e pão. Durmi, a pedidos, ao lado da menina que me pediu para que eu lesse uma versão curta da história de Alice.