Wednesday, August 29, 2012

Um espetáculo para iluminar a alma



Quando eu ainda estava no Departamento de Artes Dramáticas, fui duramente criticada pelos colegas nas redes sociais por dizer que eles eram pretensiosos por quererem, já de início, fazer espetáculos a partir de textos de dramaturgos famosos, clássicos como Romeu e Julieta, as Gaivotas, etc. Ainda penso que certas obras exigem maturidade do ator e não estou falando aqui de idade, mas de experiência, de ensaios, de preparação. Então, foi com surpresa que recebi o trabalho do diretor Igor Ramos em O mágico de Oz, apresentado pelos alunos da Escola Cecília Meireles, no Festival de Teatro Estudantil.
Como diz no programa, livremente adaptado da obra de L. Frank Baum e que já foi montada muitas vezes por grandes companhias internacionais, transformada em filme... Assim, parecia um desafio enorme para estudantes. Não pela capacidade dos professores, mas pelas circunstâncias, horário das aulas, espaços, etc.
Sem cenário, o espetáculo se baseia nos atores que, na mão de uma direção precisa, com as cenas bem definidas e mantendo o essencial da história, deixa tempo para observar o trabalho corporal intenso e, ao mesmo tempo, delicado do espantalho. Algo realmente difícil de fazer e que exige muito da atriz. Também vemos a flexibilidade do “cão” de Dorothy, a menina protagonista que conduz as cenas com segurança e mantém o equilíbrio de todos os demais.
O figurino deixa claro quem eles são e ganha toques especiais na bruxa e no homem lata, ambos divertidos e, enquanto o texto aparece reduzido, cresce a força da cena e os poucos elementos como os sapatos de Dorothy, a corda e o caldeirão da bruxa, a latinha de óleo do homem de lata vão destacando os cuidados desse trabalho.
A plateia, adultos e crianças, entram nesse universo de fantasia em que a luz tem também um papel importante e, quando estamos todos envolvidos, é justamente essa que falta no teatro e deixa todos nós no escuro para frustração, tanto do público, como dos atores. Ninguém quer ir embora. Ninguém quer o cancelamento. Sugiro aplaudir os atores, mas nem isso acontece, pois representaria de fato o fim da expectativa. Subo no palco e cumprimento os atores pelo trabalho. As lágrimas escorrem nos rostos de alguns e molham a maquiagem.  Não tenho dúvidas de que é essa paixão, essa vontade que chegava até nós. A luz volta. Eles também. Resgatam a mesma força cênica de antes e vão até o final. Saímos com um sentimento de conquista, de vitória contra uma adversidade que revela tão “claramente” uma das características mais importantes do teatro: a imprevisibilidade.
Sentada do lado de fora, uma menina vem em minha direção e só a identifico pelo comentário que ela faz. Era o “cão” agora sem maquiagem e sem lágrimas. Creio que ela ainda nem sabe que ser ator é isso, fazer o personagem ocupar nossas vidas e nos transformar por fora, mas, principalmente, por dentro. Logo depois, vem o diretor que fala da sua satisfação em ter visto seu mestre na plateia. Sem dúvidas, o que Igor Ramos apresentou no teatro Renascença comprova que Luis Paulo Vasconcellos conseguiu mesmo repassar seus ensinamentos no curso de direção. Por tudo isso, me vejo pensando que Shakespeare, assim como todos os grandes mestres de teatro foram estudantes um dia e, assim como Dorothy, volto para minha casa me sentindo mais inteligente, como o espantalho, com coragem para continuar buscando um caminho, como o leão, e com ótimos sentimentos, como o homem de lata. Tudo isso provocado pela arte que nos tira da escuridão. 

Monday, August 27, 2012

Sem tempo ruim para bom teatro



Domingo, de manhã, chovendo. Vou ao teatro. Por que? Porque no palco vão estar meus amigos apresentando Fábulas em 4 tempos ou o fabuloso La Fontaine. O espetáculo do Grupo Farsa e Nossa Trupe é dirigido por Marcos Chaves que me convidou para traduzir um filme sobre esse escritor e me puxou para dentro do universo desse francês que escreveu mais de 200 fábulas e desafiou o rei Luis XIV.
Sou a primeira a chegar. Passa pela minha cabeça que, talvez, nem haja espetáculo. Em poucos minutos, porém, as pessoas vão entrando, as crianças... Logo em seguida, aparece Gilberto Fonseca, meu colega de mestrado, que tem uma ligação profunda com o grupo e que, também, ainda não tinha conseguido vê-los. Aliás, entrar no teatro de Arena me faz concordar totalmente com ele: é um espaço que deveria ser mais bem aproveitado. É um local agradável, central e que permite um contato mais próximo com o público.
Não demora o espetáculo começa. Os atores conversam com o público como se ainda não estivessem encenando. Já de cara sou seduzida pela energia dos atores em cena. Plinio Marcos, Ariane Guerra, Lisiane Medeiros, Tefa Polidoro estão à vontade, inteiros, mas não relaxados, quer dizer, eles mantêm as marcações dos movimentos, das falas, gestos, tudo no que eu só posso chamar de capricho e que reflete a mão desse novo diretor. Como plateia me sinto respeitada ao ver eles se transformarem em burro, pomba, leão, raposa, etc sem titubear, sem medo do ridículo. Ao contrário, precisos, convincentes. Esse mesmo cuidado aparece em toda a produção gráfica do espetáculo: programa, cartazes, desenhos que estão à venda no próprio teatro, o que não deixa de ser uma homenagem a La Fontaine que sempre desenhou suas fábulas.
Eu sabia que eles haviam ensaiado várias fábulas e que apenas algumas seriam sorteadas e encenadas, mas a ideia da roleta da sorte para fazer a escolha acrescenta ainda mais criatividade a tudo que já percebemos. O figurino, os elementos de cena, os acessórios são, sem dúvida, um ponto forte. Talvez por isso seis nomes assinem pela equipe de Arte: Marcos Fronckowiak, Maura Sobrosa, Daniel Carvalho, Rafael Araújo, Paulo Cruz, Ateliê GZBL. Resta saber que basta a atriz colocar uma máscara para uma das crianças dizer: “a formiiiga!” Outra imita o movimento que a pomba (Ariane) faz com a cabeça.
O espetáculo segue e eu me divirto com a maneira com que os atores contam as histórias. Esqueço o desafio que foi ensaiar 16 fábulas para apresentar apenas quatro, mas que ainda assim me levam para aquele mundo cheio de fantasia. Um enorme desafio para o grupo com essa proposta deixa em aberto para uma das características que mais aprecio no teatro: o improviso. Previsível, porém, é que a trilha sonora seja tão boa e tão adequada às cenas. Afinal, quem se responsabiliza por essa é o próprio diretor.
 Eu me pego, em um determinado momento, fazendo uma exclamação de surpresa, quando as personagens “deixam cair o leite no chão”. Para mim, essa é a prova de que o espetáculo atingiu seu objetivo de chegar à plateia e que valeu todo o esforço de usar linguagens distintas como do musical, do clown e do teatro de objetos para contar essas histórias, tão ricas de conteúdo, de mensagens que fazem nós, adultos refletirmos e que encantam as crianças.
Só na saída do teatro lembro que chovia. Saio pensando que mais pessoas precisavam ter contato com a arte, que uma visão mais otimista do mundo vem daí. São nesses momentos que deixamos de nos concentrar nas coisas ruins, no lado mal dos seres humanos, nas dificuldades de nossas próprias vidas para como diz uma das músicas do espetáculo “poder sonhar”. Tudo isso tem muita relação com o que o diretor escreveu no programa, onde consta o meu nome nos agradecimentos:  “Será loucura a guia de quem dedica-se à arte? Se sim, que predomine a insanidade do mundo para que o Amor esteja sempre presente”. Considero uma honra ver meu nome associado a artistas que levam a arte tão a sério. Por tudo isso, quem sai agradecida sou eu. E como La Fontaine dizia que textos curtos e interessantes eram melhores do que longos e distantes encerro por aqui, certa de que, realmente, as fábulas tem poder, o poder de ficar na memória. Caminho pela Avenida Borges cantarolando uma música da minha infância de uma fábula de La Fontaine: “Lá vem dona tartaruga, vem andando sossegada. Vou sair da frente dela para não ser atropelada”.

Friday, August 24, 2012

“Quero acabar de viver o que me cabe”



Nada como a música para sublinhar os acontecimentos dos últimos dias e sacudir ainda mais profundamente minha memória. Betha Medeiros me liga e diz: “responde rápido sem pensar muito. Eu tenho dois convites para ver o show da Gal hoje, tu queres?” Até parece que é um teste, pois tenho dito que preciso de um tempo para me programar, não tenho disponibilidade imediata. Mas, nesse caso, não tinha por que dizer não.  Fui poucas vezes ao Bourbon Country. É meio longe, mas a principal razão é que não é um dos lugares mais baratos. Então, essa era uma oportunidade que não podia ser desperdiçada.  Nessas horas, lembro-me do meu amigo e diretor de teatro Nilton Filho que, quando recebe algo de alguém, comenta que deve estar fazendo alguma coisa certa já que mereceu tal coisa. Pois então... é isso que me vem a cabeça. Quem tem amigos... Aliás, poder rever a Betha já era suficiente para mim. Então, lá nos fomos. 
Um pouco antes de entrar, ela me avisa que nossos lugares são na plateia alta e eu digo rindo que, então, vou embora, que ela devia ter me dito antes, etc. Brincadeira, claro, mas se não fosse um espetáculo de música seria mesmo difícil. No início, tudo que consigo ver é a cabeleira crespa de Gal.  Pouca luz, ela de preto, mas a voz, é claro, inconfundível. Estranho as músicas mais taciturnas. Na minha cabeça,  está a imagem de uma Gal meio carnavalesca. Mas não demora muito para ela começar a cantar as canções que me jogam para um passado distante. Vejo-me no início dos anos 80, em meu primeiro emprego como assessora de imprensa na Sociedade Amigos de Tramandaí. Hospedada em Imbé, fazia o trajeto de uma praia a outra todos os dias e, no caminho ouvia muitas vezes: “Eu preciso lhe falar....lhe encontrar de qualquer jeito...” Tendo terminado um namoro de nove anos com o meu primeiro namorado,  é natural que a música surtisse um efeito angustiado que me marcaria para sempre. Talvez, por isso, tenha sido tão bom ver a Gal fazendo ora uma voz grave, imitando Tim Maia, ora a sua própria voz, levando toda a plateia, inclusive a mim, a rir.
Cantando uma música atrás da outra (e foram muitas) fui atirada de volta para o momento presente, enquanto ela cantava “eu vi a mulher preparando outra pessoa...” Imediatamente, surgia na minha cabeça a imagem da minha amiga Daniela Aquino que está grávida do seu primeiro filho. Sempre achara essa frase extremamente forte e poética e agora podia ligá-la a um momento tão real, tão importante e reforçar o meu afeto por essa atriz, mestra, bailarina, professora. Depois (ou antes), foi a vez de lembrar de  um amigo ainda mais antigo que, ao perceber o meu jeito mais prático de ver as coisas, cantava para mim: “Você precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina...”
E as lágrimas vieram entre uma música e outra e eu ouvia vozes masculinas na plateia gritando “linda” para essa mulher de quase 70 anos, cheia de curvas e via nos seus deslocamentos, nos seus gestos a direção do  meu ídolo Caetano Veloso. Tudo que a deixara tão charmosa e tão cativante, levando um teatro lotado a aplaudi-la de pé, mesmo antes dela fazer o bis e incluir uma música que fazia o elo entre o passado e o presente. Mais precisamente com os acontecimentos dessa semana em que reencontrei meus colegas de comunicação que propuseram que nós deveríamos nos reapresentar. Isso me fez acordar no dia seguinte pensando que deveria simplesmente ter cantado: “Quando eu vim para esse mundo, eu não atinava em nada. Hoje, eu sou Gabriela. Gabriela êee meus camaradas....” Afinal, ilusão pensar que podemos conhecer (ou reconhecer) as pessoas apenas pelo que elas nos contam ou cantam. Mas, devo dizer que, por noites como essa quando "tudo é divino e maravilhoso", ao contrário do autor do poema “Ressuscita-me”, musicado por Caetano, Vladimir Maiakovki  (que de acordo com os registros, se suicidou aos 37 anos) eu ainda quero viver o que me cabe.




Wednesday, August 15, 2012

Em homenagem a Sergio Silva que nos deixa publico um texto que escrevi quando ainda era sua aluna. Ele diz um pouco do que representou para mim o ter conhecido. Ainda essa semana pedi para minha mãe, Dora Mello, fazer um doce de coco para eu levar para ele, pois moramos perto e nas vezes em que veio aqui em casa ele sempre elogiou. Vou sentir saudades...

Sergio Silva é destas pessoas que, em um primeiro momento pode não parecer simpática. Não é dado a sorrisos e não gosta muito de eventos sociais, mas, na medida em que a gente tem a oportunidade de conhecê-lo, começa a se divertir com seus comentários irônicos que vão servindo para estabelecer contato. Aos poucos, vai se descobrindo que, como todo mundo que se envolve com a arte, ele se interessa pelas pessoas.


Gosta de falar e sabe o que diz. Já leu muito, estudou bastante e, hoje, repassa o que aprendeu de maneira interessada e divertida. Gosta de viajar, mas, também tem prazer de ficar no seu espaço, onde pode usufruir algum conforto e dos prazeres de tomar um Whisky, sua bebida preferida, seguida pelo café.

Fuma sem parar e cada baforada deve ser, como dizia Mario Quintana, um suspiro. Sim, porque ele não passa pela vida impunemente. Está atento e angustia-se com o que acontece ao seu redor. Buscou na arte, mais precisamente no cinema como diretor, sua maneira de extravasar isso. Crítico e pontual em seus comentários sobre a cultura, sobre o teatro, sobre a política, é capaz de ir as lágrimas com a cena de um filme.

Avesso às novas tecnologias, não esconde sua falta de habilidade com equipamentos eletrônicos, computadores, entre outros. Às vezes, posiciona-se de forma pessimista diante do futuro e da humanidade, mas isso não o impede de ensinar de forma apaixonada, e sua disposição e paciência para dar aula, demonstram que ele tem esperanças de um mundo melhor.

Apesar de manter sua vida pessoal reservada, é comum fazer comentários sobre sua família, suas tias, seus parentes e, principalmente, sua mãe. Suas críticas divertidas ao seu comportamento são cheias de afeto e amorosidade. Transforma pequenas histórias do cotidiano em situações engraçadas e experiências de vida.

Por essas e por outras, é muito bom que o meu caminho tenha se cruzado com o dele a ponto de eu desejar ser sua amiga, o que acredito esteja começando a acontecer.

Helena Mello – Jornalista

15 de outubro de 2004

Monday, August 13, 2012

Mais do que um diploma, uma conquista para sempre



Assim que fui convidada para a formatura da Isadora Kolecza confirmei minha presença. Ando meio preguiçosa, mas não dava para não participar de um momento desses. Ao contrário de outras pessoas que tem medo de envelhecer, eu gosto de sentir a passagem do tempo, principalmente quando ele representa conquistas. Conheço a Isadora desde que nasceu. Fui a alguns aniversários dela e até hoje comento o delicioso bolo que a sua avó fez em uma dessas datas. Algo, realmente, inesquecível. Minha irmã, Ana Mello, como costuma me fazer companhia e também conhece a família, confirmou que iria comigo. Já minha mãe, tinha recomendações médicas para evitar lugares de muito movimento por mais uns dias. No entanto, na véspera, disse que iria, pois, gostava muito da mãe da formanda, a jornalista Rita Escobar, e queria estar lá nessa hora tão importante para ela.
Já na entrada, a estrutura do Centro de eventos da PUC impressiona, assim como a organização. São muitos profissionais espalhados por todo lugar para orientar os convidados. Mal chegamos, e tivemos o prazer de ver a Isadora, vindo em nossa direção, toda sorridente e de toga. Gentil como sempre, explicava que estava tranquila mesmo sendo ela a oradora da turma. Logo depois, encontrávamos o resto da família, incluindo o meu afilhado Pedro Escobar que quase não reconheci. Já fazia um bom tempo que não nos víamos e já ia longe o menino tímido que havia saído da minha casa. Lá estava um “rapaz”, como diria minha vó, com cabelos cumpridos e todo elegante.
Começa a cerimônia. Cantar o hino em época de Olimpíadas tem outro sabor. Por alguns instantes, sintonizávamos com aquele momento de orgulho do nosso país. Alguns outros procedimentos mais formais e começava a entrega dos diplomas. Magda Cunha, minha contemporânea da época em que cursei jornalismo, presidia o evento e fiquei imaginando como deveria ser prazeroso saber que ela contribuíra para aquele momento que, como ela mesmo disse depois, é um fim, mas também um começo. E, assim, a obrigação de repetir as mesmas palavras tantas vezes  deveria trazer uma gostosa satisfação interior.  
Ver a cerimônia me fez lembrar que havíamos escolhido o jornalista Marx Leonam para ser o nosso paraninfo e que eu nunca havia buscado as fotos da minha formatura. Na época, resistia às formalidades e não fiz questão de ter esses registros. Hoje, me arrependo. Gostaria de ter essas fotos. Lembro que o fotógrafo guardava as fotos por cinco anos e durante todo esse tempo eu de vez em quando lembrava que deveria ir buscar alguma, mas nunca o fiz.
Carlos Kober, entre outros professores da minha época também vieram a minha mente. Assim como colegas como a Rosangela Batistella e o Humberto Trezzi com os quais voltei a ter contato, pelo menos virtual.  Enquanto outros nomes iam sendo chamados, eu recordava o jeito da Rosangela sempre muito lúcido de argumentar, sempre compenetrada em todas as tarefas e das discussões que tinha com o Humberto em sala de aula,  pois ele era muito mais politizado que eu, mas assim mesmo eu insistia em defender meus argumentos. Refleti o quanto isso havia me auxiliado a desenvolver esse jeito de dizer sempre o que penso.
Houve, também, momentos emocionantes como as entregas dos diplomas por familiares que já haviam feito a mesma formação como no caso da Rita que entregou o canudo para a Isadora. Fiquei emocionada, com os olhos cheios de lágrimas, imaginando a importância que isso tinha para a Rita já que eu a conhecera no início da sua vida profissional.  Chamou-me a atenção, porém, como poucas pessoas escolheram músicas brasileiras para a hora da entrega e como todos (e era uma turma grande) eram bonitos, tantos os homens quanto as mulheres e jovens, é claro!
O discurso da Isadora e do seu colega teve sempre um toque divertido, mas, ao mesmo tempo, respeitando o significado daquela etapa. Comentaram sobre um professor que havia deixado claro que o termo marketeiro não deveria ser usado e fizeram ironias sobre o fato de que “publicitários não comem, degustam, não pensam, têm insights”, etc. Conscientes de que estavam vivendo o final de uma etapa, destacaram a passagem do tempo, lembrando que quando entraram ali a palavra “ideia” ainda tinha acento, bem como outros fatos ocorridos durante aqueles anos de faculdade e ressaltaram o poder do comunicador de influenciar outras pessoas. Fizeram um paralelo entre o desconforto de quando chegaram e o de estar saindo e brincaram com o fato de agora já poderem ter seus próprios estagiários.
Os demais discursos foram breves, o que, para mim, já significa que não se passa por uma faculdade de comunicação em vão.  No mínimo, aprende-se que não é a quantidade de palavras ditas que importa, mas a qualidade delas e somos treinados a editar o que queremos dizer para criar potência ao que é dito, transmitir o que queremos sem perder o interesse da plateia para qual falamos. Assim, o paraninfo da turma também fez um discurso que, mesmo repetindo palavras previsíveis como estar feliz e orgulhoso, soube reforçar o principal ao dizer que o bastão que eles recebiam ali significava uma conquista e que eles deveriam evitar de parar de estudar. Disse também que a medicina criou muitas próteses, mas nenhuma para a alma e fazendo uma citação disse que “só se descobre novos mundos quando não se vê mais a costa”.  
Gostei de ver que, além da entrega do destaque para o aluno com melhor rendimento, foi entregue também um para o aluno mais solidário, dando valor não só a pessoa com melhores notas, mas também aquela que se mostrou mais amiga dos colegas, mais presente. E, tive a prova de é a mais pura verdade que, aqui no sul, as pessoas cantam com mais entusiasmo o Hino Rio-grandense do que o brasileiro.
Assim, depois de abraçar a mais nova publicitária do mercado, voltei para a casa ainda vibrando com o sentimento de que o passado e o presente haviam se interligado e que, como dizia Pierre Bourdieu, somos resultado de todas as nossas experiências, de tudo que vivemos e de todos que encontramos em nosso caminho, reforçando o que o paraninfo tinha dito: “ninguém pode nos tirar o conhecimento que adquirimos”.