Wednesday, July 27, 2011

Momentos de decisão

Tem muita gente que diz que futebol é bobagem, que se foi o tempo de um futebol arte, que agora é tudo na base da grana e coisa e tal, mas ontem vivi uma situação que me fez repensar sobre isso. Sou colorada. Já disse que fui induzida pelo meu avô que dava umas balas para os netos se eles torcessem pelo Inter. Mas, mesmo gulosa, não foi isso que me fez aderir ao time. Foi a vontade de agradá-lo. De ver por trás daquela cara sisuda um meio-sorriso. Mas já faz tempo que ando bem desligada em relação aos jogos. Isso que moro no caminho do Beira Rio. Acompanho o trânsito. Não as partidas. Daí, ontem estava passando na frente do estádio quando um carro começou a buzinar muito. Como eu não estava fazendo nada de estranho, nada que pudesse atrapalhá-lo, achei que devia ser algo a ver com os times. Liguei o rádio e logo soube que era o Inter que havia feito um gol contra o Barcelona em uma partida em que ele estava perdendo. Pelo empate, já no segundo tempo, a decisão seria nos pênaltis. Fiquei contente com a notícia. Resolvi deixar o rádio ligado. Mais algumas quadras e um dos radialistas ainda estava na metade do comentário sobre o gol de empate e pronto: o Barcelona fazia outro gol. Lá estava o Inter perdendo novamente.

Cheguei ao meu destino. Enquanto aguardava ser atendida, me conectei. Um primo postava no Facebook o novo empate. Não tive mais como acompanhar. Só depois fui saber que perdemos nos pênaltis. E isso me fez pensar. Mesmo que o futebol não seja mais o que já foi, que haja mesmo muita grana envolvida, ele pode servir para preparar para as perdas da vida. Neste esporte, mais do que em qualquer outro, tudo pode mudar a qualquer minuto, segundos até eu diria. A prova estava ali, naquela tarde. Fiquei pensando na quantidade de torcedores que chegaram a pensar em instantes que a vitória estava próxima. 70 mil pessoas estavam ali naquela mesma situação. Ora achando que iam vencer, ora achando que iam perder. Bem, mas justo quando eu achava que era a única a filosofar sobre o futebol ouço Ruy Carlos Ostermann, meu professor desta disciplina no colégio. Em seu comentário ele disse que nem era tão surpresa assim o Inter ter perdido para o Barcelona. Segundo ele, um time que cobra pênaltis muito, muito bem. E todo torcedor sabe que não é fácil quando vai para esta parte. Na vida, em geral, a gente não passa da felicidade para a tristeza tão rápido assim. Mas acontece. Então, depois de alguns poucos quilômetros, pensei que o futebol pode servir de treinamento para que a gente lide com esta possibilidade sem achar que é o fim do mundo. Até porque, na vida, depois de “perder nos pênaltis” a gente tem que estar sempre pronto para uma próxima partida.

Sunday, July 17, 2011

Molière: queridinho do rei, perseguido pelo clero, rejeitado pelos poderosos


Já há algum tempo me convenci que mesmo a pessoa mais brilhante, mais genial, não se sente assim. Adoro ver as histórias e depoimentos de pessoas muito famosas, consagradas que expressam suas inseguranças, seus medos, suas fraquezas. Isso tudo faz delas gente como a gente. Depois, o tempo passa, elas atingem o sucesso, todo mundo os reconhece e fica cada vez mais difícil acreditar que, um dia, eles tiveram dúvida sobre suas escolhas na vida. Com Molière não foi diferente. Ele estudou direito. Mas decidiu fazer teatro.  Ficou sem dinheiro para pagar os impostos. Passou um tempo na prisão. Caiu nas graças do rei Luis XIV e enfrentou a sociedade. Em uma época em que ninguém queria saber de comédia, em que atores nem podiam ser enterrados em solo sagrado, Molière escreveu sobre a arrogância, a falsidade, resumindo, sobre a babaquice, quando este termo nem existia ainda. E por que ele segue sendo montado até hoje no mundo todo? Venha descobrir.

Dia 22 – Quarta-feira
Hora: 19h

Local: Santa Teresinha,59
Valor: R$ 35,00

Inscrições:

Sunday, July 10, 2011

14 de julho: Comemore sem perder a cabeça

Nunca serei a favor de sair cortando a cabeça de quem quer que seja. Criar um aparato para fazer isso mais rápido então...não contem comigo. Mas, dia 14 de julho está chegando e é comum algumas pessoas dizerem que não há o que comemorar. Não concordo. Bem, é verdade que festa é comigo mesmo. No caso da Revolução Francesa, porém, acho que existem razões mais concretas. Está correta a observação de que ainda estamos longe dos ideias de “liberdade, igualidade, fraternidade”, mas mesmo considerando terrível esta história de guilhotina, se a gente relembra que a ideia era igualar a forma de morrer de qualquer um (sem distinção de nível social ou econômico) havia por trás uma tentativa de direitos iguais até na morte. Além do mais, será sempre um exemplo de que nenhum poder é para sempre e que o povo tem força de transformar o que parecia imutável.
Não dá para dizer que ter escrito a Declaração dos Direitos Humanos é inútil. Podemos até discutir se são ou não cumpridos mas é preciso partir deste fato para chegar a esta conclusão. Voltaire Schilling, historiador e meu professor do segundo grau, afirma que “os ideais que serviram de pano de fundo à Revolução francesa mudaram de vez a forma de encarar a educação. É a partir dela que um ensino público que dê as mesmas oportunidades a todos é estabelecido”. Quem não concorda que isso é um bom motivo para pelo menos tomar um vinho neste dia? Eu sei. Dá pena da Maria Antonieta. Ainda mais depois do filme que mostra que o Luis XVI  não dava a mínima para ela, mas chegaram a sugerir a ele que colocasse fogo no povo. Ele achou que não devia e acabou com a cabeça cortada.
Talvez, estar agora escrevendo neste blog se deva há muitas cabeças cortadas. Afinal, desde então,  “a livre comunicação dos pensamentos e opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo o cidadão pode, pois, falar, escrever e imprimir livremente; salvo a responsabilidade do abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei". Bem, mas é justamente por causa disso tudo e por ter aprendido desde pequena a cantar “Allons enfant de la patrie, le jour de gloire est arrivé” que não vou ficar aqui tentando impor a minha opinião. Sei que, nesta quinta-feira, vou estar na atividade proposta pela Arte na Corte, na Santa Terezinha, 59, às 21h. Quem estiver a fim, faça a sua reserva por aqui. 

Sunday, July 03, 2011



A sofisticada simplicidade do novo espetáculo do Gaia
Fui ver Cinderela fashion week. Não sabia o que esperar. De cara, já achei agradável ser colocada em uma sala que recria justamente uma passarela. De frente uns para os outros, olho as tantas pessoas que saíram de casa para ver o espetáculo em uma noite fria e sei que também sou vista. Aos poucos, sou levada a um universo divertido e, ao mesmo tempo, intenso.
Se o cenário é apenas uma plataforma, quase uma cópia do real, os figurinos (muitos, aliás) moldam os corpos em cada gesto. Algo simples como colocar um par de botas nos braços, encobrindo as mãos, geram uma impressão estética extremamente forte como se tudo estivesse de pernas para o ar.
A trilha sonora traz muitos sucessos populares nacionais e internacionais que remetem  a ícones como Xuxa a Leonardo di Caprio e provocam emoções diversas.  Quer tango? Tem. Quer valsa? Tem. Quer Axé. Também tem. Tem até uma caixinha de música! Enquanto isso, os bailarinos atores (ou atores bailarinos?) cruzam o tapete vermelho de ponta a ponta, ora em movimentos normais, ora lentos, ora hiper velozes.  Ora quase voando, ora rastejando. Neste espetáculo o corpo não só fala, como grita e esperneia.
Sinto uma falsa leveza na proposta do grupo Gaia que, enquanto me embala ao som de músicas tão conhecidas, me faz ver um dos homens com o rosto coberto por uma máscara negra, arrastar uma das mulheres que sorri, quase inconsciente da brutalidade da qual é vítima. Gestos agressivos aparecem em várias outras ocasiões, em uma contracenação em que a mulher aparece quase sempre submissa e desfazem o mito da história feliz daquela que espera pelo príncipe.
Para mim, Cinderela Fashion week é sensual, divertido, dramático. Será que estou vendo demais? Será que tudo que vejo e ouço foi pensado ou é resultado de improvisação e intuição? Estou tornando filosófica uma proposta que não tinha esta intenção? Mas saber isso, realmente, importa? Quem continua apegado ao caráter de denúncia e subversão da arte, perde muitos momentos de pura fruição e se tem uma coisa que aprendi com os cursos que fiz  é que nenhum artista controla as repercussões daquilo que cria e que, muitas vezes, o público  percebe coisas que ele não tinha consciência, mas que estavam lá.
E para quem pensa que eu estou sendo “boazinha” como a fada madrinha, devo dizer que não gosto do final. Acho que a escolha de sambas força, desnecessariamente, a empatia do público. Afinal, ao ritmo de uma bateria não tem quem não se deixe levar. Mas, na minha opinião, não acrescenta. Só não chega a ser grave já que eles pretendiam mesmo acabar. E se alguém discorda completamente de tudo que eu disse, ótimo. Sinal que estava lá para assistir. Quanto a mim, bem que gostaria de uma cópia daquela trilha para espantar o frio, exatamente como o grupo Gaia, botando o corpo prá dançar. Ah, talvez, acrescentasse a Macarena só para lembrar.


Ficha técnica
Direção geral e coreografia: Diego Mac e Alessandra Chemello
Elenco: Alessandra Chemello, Aline Jones, Daniela Aquino, Denis Gosch, Fabi Vanoni, Guadalupe Casal, Joana Nascimento do Amaral, Nilton Gaffree, Patrick Vargas e Ricardo Zigomático.
Figurino: Raquel Capeletto
Cenário: Zoé Degani
Iluminação: Fabrício Simões
Trilha-sonora: Diego Mac
Designer: Tupax - Tiago Giordani 
Assessoria de Imprensa: Fabulosa Ideia
Produção Operacional: Sandra Santos
Produção: Grupo Gaia
Financiamento: Fumproarte


Serviço

Espetáculo: Cinderela Fashion Week
Datas e horários: 02,03, 09, 16 e 17 de julho, sessões às 17h e 19h. Não há sessões no dia 10.
Local: 4° andar da Casa de Cultua Mário Quintana
Ingresso: entrada gratuita

O Festival da Canção Francesa e seu imprevisível clima musical

Fazia bastante frio e, como se isso não bastasse, chovia. Porém, não me passava pela cabeça deixar de ir ao Festival da canção francesa. Parece que muita gente pensou da mesma forma. A Reitoria estava quase lotada. Muitos rostos conhecidos. Só o fato de saber que todos estão lá para ouvir pessoas cantando música francesa já me traz satisfação. Além de ver que mais gente compartilha do meu interesse pela França, para mim, significa que aquelas visitas de minha mãe de emissora em emissora de rádio, tentando divulgar a música francesa (junto com a então presidente da Associação dos professores de francês, Denakir Campos) não foram em vão.

As apresentações começam. Imediatamente, lembro com saudades de Christophe, o diretor anterior que criou o Festival. E não sou a única. Ele é citado pelo presidente: Hipérides Ferreira de Mello. Em seguida, Jacques Petriment, atual diretor, faz os devidos agradecimentos. Lê em português e percebe que misturou um pouco de espanhol ao dizer “por supuesto”. Encerra falando “beleza”, o que me gera um certo estranhamento da gíria, mas minha irmã chama a atenção que é melhor do que “show de bola”. Quem foi que disse que falar português é fácil?

Dudu Sperb começa a chamar os concorrentes do Festival que este ano homenageia Serge Gainsbourg. A primeira música, deste cantor que não conhecia, me chama a atenção pelo título: “Je suis venu te dire que je m’en vais”, ou seja, eu vim dizer que eu me vou. Parece incoerente, mas lembra muito o término das relações. Além disso, a ótima voz do primeiro cantor mostra que a noite, realmente, promete. Mas não vou falar de cada um. Apenas direi que a concorrência era mesmo acirrada. O nível dos selecionados garantiu, sem dúvida, um ótimo show. Nem todos me agradaram, mas é verdade que estamos ficando cada vez mais exigentes. De qualquer forma, eu que havia pedido no último festival, mais movimentação no palco, tive meus desejos atendidos pelos cantores da noite. Alguns tinham até fã-clube, torcidas, com gritos e tudo mais.

Em todas as edições sempre me vejo achando no mínimo engraçado estar em plena cidade gaúcha com aquelas pessoas cantando em francês, estabelecendo uma mágica ponte POA-Paris que só aqueles que amam esta língua podem fazer. Além disso, foi interessante a ideia de conversar com os vencedores anteriores. Foi muito bom poder ouvi-los cantar novamente também. Richard Emunds disse que a pessoa que ganhasse o prêmio deveria se sentir a pessoa mais feliz do mundo quando chegasse a Paris, pois, não estaria ali por ter ganho uma passagem de alguém, mas sim, pelo fato de ter cantado bem. Concordo.

Com gente tão boa competindo fica evidente que não são só os jornalistas que tem dificuldade de se destacar profissionalmente. Ser cantor também não é nada fácil. Afinal, muitos tinham todas as condições de serem famosos, se a fama dependesse apenas de talento. Bem difícil para a comissão julgadora, da qual fazia parte meu amigo, Newton Silva.

Quando uma das concorrentes favoritas do público foi chamada para o terceiro prêmio, o público não perdoou e vaiou. Eu, particularmente, não concordo com esta reação. Mesmo que o primeiro lugar não tenha sido a minha escolha, achei simplesmente terrível as pessoas começarem a sair, enquanto ele cantava novamente a canção vencedora. Infelizmente, mostra que ainda serão necessários mais festivais para que todos entendam que mesmo que o escolhido não seja o da nossa preferência, o que importa é este incrível evento que valoriza esta língua linda e coloca no palco pessoas que com suas vozes aquecem uma noite fria. Ano que vem, mesmo que esteja nevando, estarei lá. Com o frio que está lá fora, alguém dúvida?



1º Lugar
Augusto Darde (RS)
Música: Initials BB
Pela segunda vez no Festival da Canção, Augusto Darde é integrante da banda de eletro-folk "L'étoile est morte". Estudante de Francês na UFRGS, sua relação com a música vem desde a pré-adolescência, quando aprendeu a tocar bateria e logo depois vieram as cordas. Passou a juventude ouvindo e tocando, fazendo parte de diversas bandas como baterista e compositor/guitarrista. Suas principais influências musicais estão no pós-punk e na new wave dos anos 80.

2º Lugar
Helena Wöhl Coelho (RS)
Música: Le Poinçonneur dês Lilás
Jornalista formada pela UFRGS e em Comércio Exterior pela Unisinos. Trabalha com arte desde sempre, através de projetos como o “Cante e Dance com a Gente”, onde teve sua formação voltada para a atuação em Musicais e participou de produções cênicas, fonográficas e audiovisuais. Estudou canto e piano na Musikschule Bochum e no Instituto de Música da EST; ballet clássico na escola Petit Ballet, e cursou a Oficina de Formação de Atores da Escola de Teatro Popular da Terreira da Tribo, além de passar por diversos grupos vocais no Brasil e no exterior. Atualmente estuda francês, faz aulas de salsa e segue cantando.

3º Lugar
Raíssa Panatieri (RS)
Música: Le Poinçonneur des Lilás
Bacharel em Música com Habilitação em Canto pela UFRGS, Raíssa Panatieri é mezzo-soprano e transita com fluidez entre o repertório lírico e o popular. Em maio de 2009, sob a orientação do barítono Carlos Rodriguez (Brasil/Holanda), realizou com a OSPA, sob a regência do Maestro Manfredo Schmiedt, a sua estréia como cantora profissional. Atualmente realiza a preparação vocal do Coro do Colégio de Aplicação da UFRGS, e conclui a Licenciatura em Música pela mesma universidade.