Tenho ido
pouco ao cinema. Como jurada do Prêmio Açorianos, minha agenda anda mais
ocupada com espetáculos. Mas, quando comecei a ver os comentários sobre o Tom
Hanks (ator que considero o melhor dos tempos atuais), em Capitão Philips, decidi
que já estava na hora de voltar a ver filmes, coisa que eu adoro. Não li nada
sobre o que se tratava. Simplesmente comprei os ingressos e me sentei em um
lugar que considerava o ideal da sala. Esquecendo, porém, que poderia chegar
alguém e se sentar atrás de mim. Uma daquelas pessoas que não cala a boca. Quem
me conhece sabe o quanto gosto de falar, mas no cinema ou no teatro, nem
sussurrar acho certo. Considero uma interferência insuportável. Assim, segui o
gesto do cara que estava sentado ao lado do tal falante e troquei de cadeira
pouco depois do filme começar. Assim
pude entrar nesse universo mágico que me provoca tantas emoções.
Devo dizer
que Tom Hanks é o responsável pelas maiores emoções que já tive no cinema.
Obviamente, já me fez rir, chorar, ficar nervosa, com raiva... Mas fez ainda
mais. Registrou em minha memória momentos inesquecíveis e falas como: “run
Forrest, run” ou “Houston, we have a problem” e, em silêncio (mas nem tanto),
me arrebatou em O Náufrago. Já perdi a
conta do número de vezes em que assisti esse último. Ah, e o Terminal também,
pois minha mãe é absolutamente apaixonada por esse filme e mesmo em Tão longe e tão perto que ele tem poucas
cenas, o acho brilhante. Tom Hanks pode ser pai, ter alguma deficiência, ser
comandante de nave espacial, grande, o que ele quiser. Sem exageros. Ele não
precisa se por aos gritos, nem fazer caras e bocas. Cada personagem parece
meticulosamente estudado para chegar à eficiência. Tanto é que se eu estivesse
no espaço, numa ilha perdida ou em um navio em alto mar, eu gostaria que no
comando estivesse quem? Ele.
Feito todos
os elogios possíveis a esse grande ator, nesse filme em particular, não seria
justo não valorizar a atuação dos “seus inimigos”. Estou tão acostumada a ver
os americanos sempre enfrentando alguma ameaça que se eu não estiver atenta
acabo sempre torcendo pelos Estados Unidos, sem observar as circunstâncias
daqueles que os enfrentam. Fato é que, graças às atuações, lá pelas tantas
estou mergulhada naquele assunto que pouco me diz respeito e menos ainda me
interessa, tentando compreender o funcionamento da marinha americana, das
decisões da Casa Branca e buscando imaginar o final daquela história. Isso nos
poucos momentos em que conseguia algum alívio das sensações intensas de perigo
e medo. Não vou nem tentar fingir que entendo de política ainda mais em águas
internacionais. O que, no meu entender, não faz nenhuma diferença para
aproveitar as cenas. Os atores que contracenam com Hanks são tão convincentes
que acabei achando graça ao imaginá-los desfilando no tapete vermelho na
entrega do Oscar. Claro que só consegui fazer isso depois de ter saído do
cinema.
Tom Hanks me
leva tão para dentro daquela “realidade” e consegue tanta empatia que, quando
vejo o seu personagem completamente exasperado, lágrimas escorrem pelo meu
rosto compartilhando seu desespero e angústia.
Felizmente, não havia ninguém do meu lado, pois embora defenda o
silêncio, meus movimentos ansiosos na cadeira e meus suspiros também poderiam
ter incomodado alguém. De qualquer forma, essa catarse faz com que eu saia do
cinema profundamente impressionada mais uma vez com esse enorme talento e, nesse
momento, chego a lastimar não estar no teatro para aplaudi-lo de pé.