Sunday, June 29, 2008

Vive la musique!

Fui ontem assistir ao 1º Festival da Canção Francesa, promovido pela Aliança. Para quem não sabe, eu havia me inscrito. Não porque já tivesse o hábito de cantar, mas, porque o prêmio era uma passagem com estada (não estadia, como dizem e disseram) para Paris. Para isso, sou capaz de cantar, sapatear e tocar flauta! Já escrevi sobre esta experiência aqui. Mas, quero falar de ontem.
Eles distribuíram dois ingressos para cada aluno. O que achei pouco, imaginando o tamanho do teatro da Reitoria onde foi realizado o evento. Bem, mas, seja como for, eles conseguiram um excelente público. Havia ainda lugares, mas, todos os níveis estavam com muitas pessoas. Foram selecionados apenas 10 que cantariam ontem. O diretor da Aliança Cristophe Benest abriu o Festival falando pouco, mas, falando bem, quase tudo em português de forma clara e gentil.
Já no primeiro candidato, foi possível prever o que nos aguardava. A candidata Sheila Schipper (2º lugar) cantou de forma tão extraordinária que comentei com a minha irmã: “se eu fosse a próxima, iria embora”. No entanto, a candidata que a sucedeu, Elizabeth Jaeger, entrou e cantou com outro estilo, outra maneira, mas, tão encantadora quanto. Uma dicção perfeita e uma voz doce, quase mágica. E assim, na medida em que os candidatos iam se apresentando, ficávamos cada vez mais felizes de não fazermos parte do júri. Havia esquecido que três pessoas seriam premiadas, mas, como os demais prêmios eram um bolsa na Aliança Francesa e um jantar no Chez Philipe, realmente, o prêmio que fazia toda a diferença era o do vencedor.
Foi interessante pensar que gostaria de estar ali no palco naquele momento. Só quem me conhece há muito mais tempo pode entender por que. É que isso significa uma longa conquista de uma boa auto-estima, algo que, sem dúvida, é muito importante para minha existência. Como candidata, havia planejado fazer uma performance. Interpretar, realmente, a música, utilizando o aprendizado teatral. E foi interessante perceber que os nove candidatos (um não se apresentou por motivos de saúde o que fez minha irmã dizer que, na verdade, ele se enforcara nas cortinas do teatro ontem à noite ao perceber o nível dos demais candidatos) não fizeram nada parecido. Havia como critério a questão da postura cênica e isso levou os candidatos a tentarem movimentar os braços, trocando o microfone de mão, o que em alguns casos, era até um pouco enervante, mas, não fizeram nada além. Havia uma cantora cega que não deixou nada a desejar em relação aos outros, nem na voz, nem nos movimentos (o que mostra a falha dos demais). Não que não fosse impressionante ver um dos candidatos, Maurício Barcellos, começar a música cantando a capela (ou seja, sem qualquer instrumento), mas, isso nada tinha a ver com a movimentação cênica que eu havia imaginado. Assim, apesar de ficar maravilhada com o nível dos cantores que se apresentaram ontem, ainda consegui pensar que meu projeto poderia ser algo diferente. Pelo menos nos meus planos.
O terceiro lugar ficou para Vanessa Medeiros de Jesus que cantou "Non, je ne regrette rien". Acho esta música maravilhosa, mas, não vi vantagens em vê-la cantada por esta menina. Ela tinha uma linda voz e cantou muito bem, mas, imitar Edith Piaf é algo que não me agrada. Piaf tinha um timbre incrível, só seu. Além disso, esta música é daquelas que estão entre as mais conhecidas e famosas e eu queria algo mais atual. Felizmente, não que a música não seja linda, ninguém escolheu "La vie en rose!"
Bem, mas, apesar não ter condições de rejeitar nenhum dos candidatos, tinha meus preferidos e Richard Emunds, o vencedor da noite, com a música "Mes yeux dans ton regard", não estava entre eles. Ele tem uma voz maravilhosa. Canta divinamente, mas, eu já o conheço há mais de dez anos fazendo isso e queria algo inédito. Seu profissionalismo não parecia fazer parte da minha idéia deste concurso. No entanto, a bem da verdade, o edital não o impedia. O único requisito é que a pessoa cantasse algo em francês nesta segunda etapa. Nada contra a vida artística anterior dos candidatos ou a ausência desta (meu caso). Assim, ontem, não fiquei muito satisfeita com o resultado. Parecia “marmelada”. Palavra que expliquei, hoje, para meu hóspede canadense. No entanto, com mais calma, hoje, pela manhã, comecei a pensar que o vencedor é uma pessoa que valoriza a língua francesa e insiste em divulgar esta cultura há muito tempo. Coisa na qual a Aliança também tem interesse. Além do mais, em seu “discurso” de agradecimento, ele foi bastante gentil elogiando o nível dos candidatos que foi, realmente, extraordinário. Sendo assim, para mim, que acompanhei a luta da minha mãe, enquanto vice-presidente da Associação Francesa do Rio Grande do Sul na valorização da língua no estado, foi uma grande satisfação ver o sucesso do evento realizado ontem.
Creio que para todos que amam esta língua, que não serve apenas para que sejamos arrogantes em relação aos que a desconhecem, mas, que nos abre para uma cultura tão rica e interessante, foi uma noite de contentamento e realização. Isso me fez lembrar, imediatamente, um texto que lemos durante a minha aula de francês sobre um questionamento feito pela imprensa americana se a cultura francesa estaria morta. Tenho certeza de que todos que estavam ontem na reitoria ontem à noite (e não eram poucas pessoas) diriam com muita ênfase e categoricamente que não.


PS: Senti falta de rever todos os candidatos no palco no final. Fica aqui minha sugestão para os próximos festivais.


LETRA DA MÚSICA QUE EU PRETENDIA CANTAR - MON MEC /MEU HOMEM

Il joue avec mon coeur - Ele brinca com meu coração
Il triche avec ma vie - Ele trapaceia com a minha vida
Il dit des mots menteurs - Ele diz palavras mentirosas
Et moi je crois tout ce qu’il dit - E eu acredito em tudo que ele me diz
Les chansons qu’il me chante - As canções que ele me canta
Les rêves qu’il fait pour deux - Os sonhos que ele faz por dois
Cest comme les bonbons menthe - É como bombons de menta
ça fait du bien quand il pleut - faz bem quando está chovendo
Il me raconte des histoires - Ele me conta histórias
En écoutant sa voix - Escutando sua voz
Cest pas vrai ces histoires - Não são verdadeiras estas histórias
Mais moi j’y crois. - Mas, eu acredito nelas
Mon mec à moi - Meu homem ...
il me parle d’aventures - Ele me fala de aventuras
Et quand elles brillent dans ses yeux - e quando elas brilham em seus olhos
Je pourrais y passer la nuit - eu poderia passar a noite
Il parle d’amour - ele me fala de amor
Comme il parle des voitures - como ele fala de carros
Et moi je suis où il veut - e eu fico onde ele quer
Tellement je crois tout ce qu’il me dit - tanto que eu acredito no que ele me diz
Tellement je crois tout ce qu’il me dit - tanto que eu acredito no que ele me diz
Oh oui - Ah, sim
Mon mec à moi - meu homem
Sa façon d’être moi - sua maneira de ficar comigo
Sans jamais dire je t’aime - sem jamais dizer eu te amo
C’est rien que du cinéma - não é cinema
Mais c'est du pareil au même - mas, é, ao menos, parecido
Ce film en noir et blanc - este filme em preto e branco
Qu’il m’a joué deux cents fois - que ele me apresentou duzentas vezes
Cest gabin et morgan - É Gabin e Morgan
Enfin ça ressemble tout ça - Enfim, se parece a tudo isso.
Je me raconte des histoires - Eu me conto histórias
Des scenarios chinois - Com cenários chineses
C’est pas vrai ces histoires - Não são verdadeiras estas histórias
Mais moi j’y crois - mas, eu acredito nelas


Monday, June 23, 2008

Canção de Assis: levando a alegria onde houver tristeza


Fui convidada (ou intimada?) a escrever sobre Canção de Assis pelo diretor Gilberto Fonseca. Infelizmente, não consigo ser imparcial enquanto isto for motivo de orgulho para mim. Fazer o que? Admiro alguém que tenha a mesma paixão pelo teatro que eu e competência para dirigir uma peça. Mas, por ora, tentarei deixar isso de lado.

O espetáculo era na sala Álvaro Moreira e, nada contra esse gaúcho fundador do teatro de brinquedo (primeiro movimento de renovação do teatro no Brasil): não gosto da sala. Não há uma razão específica, mas, em geral, vi espetáculos ali que não me agradaram e acabei associando uma coisa à outra. Mas, era hora de dar uma chance ao lugar.

Sentei bem na frente, pois se vou ao teatro é para sentir toda a energia dos atores. Não me arrependi. Mal a peça começa e os atores cantam. Suas vozes, em perfeita harmonia, enchem a sala e, imediatamente, o espaço se transforma. Pronto! Estava estabelecida a magia do teatro. Dali para frente só um erro muito grave me jogaria de volta para a sala fria daquela rua em Porto Alegre. Enquanto isso, eu ia sendo levada por cidades da Itália em busca de um burrinho perdido. Burrinho, aliás, objeto inanimado, mas, muito bem feito e que ganha vida na mão dos atores. Mãos que desaparecem sob meus olhos, enquanto mergulho no drama e na singeleza da história tão bem contada (ou seria cantada?) pelos atores.

A personagem principal interpretada por Fernanda Petit me emociona e me faz sorrir. Graças, é preciso destacar, a contracenação com Cássio Schonarth. Rio alto, como fazemos quando a risada vem de dentro e, em outros momentos, me esforço para não lacrimejar. Como assim? Mas, não era uma peça infantil? Quem disse? Então, só as crianças podem ter compaixão? Só elas se identificam com o sofrimento alheio? Jamais aceitarei isso. Sim, ok, eles estão fingindo, mas as emoções estavam ali, eu as vi, tenho certeza. Mesmo que as trocas de roupa fossem feitas na minha frente. Mesmo que um único ator fizesse mais de um personagem. Não importa. Fui conduzida em uma tarde de Domingo para a história de um menino frágil e sozinho que descobre um amigo, ou melhor, dois: um, gente, outro bicho. Sente o prazer de não estar mais só no mundo e não é isso que todos queremos?

Pois é, Gilberto, acho que vou ter que pedir desculpas. Minha capacidade de identificar os elementos teatrais e procurar analisá-los ficou perdida entre as notas das melodias tão bem executadas. Tudo que pude perceber foi um ótimo trabalho de grupo, de pessoas entrosadas que, na tua mão, nos envolvem e nos levam para aquela linha tênue onde a fantasia e a realidade se mistura, onde os atores e os personagens são apenas um, onde tudo parece verdade e mentira, onde, simplesmente, isso não importa. Sai leve, feliz e sem nenhuma dúvida do porquê da minha paixão pelo teatro. Por que a vida é um teatro e o teatro, quando bem feito, é a vida!

PS: Só para que o Gilberto não reclame (muito) da minha falta de objetividade, achei que algumas falas da Lúcia Bendati foram abafafas pelo instrumento que a acompanhava.

Thursday, June 19, 2008

Idiossincrasias

Meu blog também é cultura. Idiossincrasia quer dizer: característica comportamental própria de um indivíduo ou grupo de indivíduos responsável pela interpretação de uma situação de acordo com sua cultura e formação.
Idiossincrasia vem do
Grego ιδιοσυγκρασία, "um temperamento peculiar" "hábito corporal" (idios "próprio de si" e sun-krasis "mistura"). É definido como uma característica de comportamento ou estrutural peculiar a um indivíduo ou grupo.
A última vez que usei esta palavra, recentemente, foi para falar do meu amigo Gilberto. Ele tem armários cheios de coleções de gibis e é louco pela série Lost. Eu também gostei muito dos capítulos que vi, mas, ficava tão ansiosa e eles eram exibidos tão tarde, me deixando sempre muito acordada, que eu desisti de assistir. Gilberto não. Viu todas as temporadas. Fica torcendo para o começo de uma nova. Pois bem, eu também tenho os meus vícios, idiossincrasias ou sei lá do que estejamos falando.

Comecei a assistir a série House, da Universal Chanel por acaso. Não lembro o dia, nem por que. Agora, não quero fazer nada naquele horário. Vejo as reprises. Das 13h às 14h. Horariozinho complicado, bem o sei, mas, eu tenho esta disponibilidade. Viva o trabalho autônomo. E eu nem sei por que gosto tanto. Ele é um crânio e isso me fascina, mas, é também agressivo, grosso mesmo. Mas, o texto! O roteiro! Tão inteligente quanto seu protagonista. Tem frases que dá vontade de copiar e sair usando por aí. Em alguns episódios, sou obrigada a nem olhar, pois, sempre fui muito sensível a esta história de sair picoteando o corpo humano, mas, não é isso que me atrai. Ali tem uma estrutura dramática pensada, arquitetada para ficar interessante.

Trata-se de uma série, mas, a cada capítulo há uma história com começo, meio e fim, o que é sempre reconfortante para quem assiste. Além disso, as únicas coisas que se repetem são os atores, os personagens e o local. A história é sempre cheia de novos elementos, desafios, estratégias.

O House é o cara, mas, quem está a sua volta não deixa por menos. Se não executassem bem o seu papel não seria tão convincente. Ah, meu sobrinho veterinário discorda deste aspecto. Já comentou comigo que está cheio de baboseiras médicas (ele não usou este termo), mas, quem se importa? Eles poderiam estar receitando remédio de coelho para uma paciente loura, House daria um jeito para que não prestássemos atenção a isso e ficássemos tentando seguir sua entruncada linha de racicínio.

Bem, mas, o que quero dizer é que espero que vocês assistam e decidam se vale ou não a pena. Hoje, está terminando uma temporada. Mas, a nova deve começar em seguida às quintas-feiras, 23h. Enquanto isso, quem tiver tempo, faça como eu, almoce vendo a atividade hospitar de House. (Agora entendo porque idiossincrasia está ligada a área psiquiátrica!)

Tuesday, June 17, 2008

Comédia de erros. Espetáculo de acertos.


Fui assistir ontem a Comédia de Erros. Segunda-feira. Dia estranho para teatro em Porto Alegre, mas, bom para mim que tenho aula de francês aos sábados e fico com preguiça de fazer quase tudo no fim-de-semana até mesmo o que me dá prazer como o teatro. Mas, sempre digo aos meus amigos que adoro fazer teatro, mas, vou mesmo é ao cinema! É chato, eu sei, mas, quem gosta de teatro como eu, acaba entendendo. É que cinema, quando o filme é ruim, a gente sempre aproveita alguma coisa. Teatro quando o espetáculo é mal feito, fico constrangida. Não só porque, muitas vezes, eu conheço quem está no palco. Mesmo quando nunca vi o ator antes, me sinto assim. Pois bem, mas, ontem, foi totalmente ao contrário.

Foi um prazer estar naquela platéia. Porque é assim, quando o teatro é bom. Não há coisa melhor do que ter as pessoas ali, ao vivo, em carne e osso. E quando a representação é bem feita, somam-se todas aquelas emoções e expressões. E, na Comédia de Erros, são muitas e muitos acertos (será que forcei o trocadilho?), também, eu diria. E olha que a minha expectativa era alta. Com Sofia Salvatori, Gustavo Curti e Lauro Ramalho no elenco, eu já esperava muito. Então, foi perfeito ver que eles não decepcionam. Aliás, não somente eles, mas todo o elenco. Os demais atores, que não conheço pessoalmente, estão ótimos, convincentes, divertidos. Falando nisso, preciso destacar a atuação de Rodrigo Mello que, apesar do sobrenome, não é meu parente. Trata-se de um jovem ator. Um dos seus colegas de cena me disse que este parece ser seu segundo trabalho. Então, Porto Alegre prepare-se:está nascendo um ótimo ator! Não conseguia tirar os olhos dele em cena.

Bem, mas, antes de me aprofundar nos meus comentários sobre a atuação, preciso falar do espaço cênico. É muito bom ver o Stravaganza conseguindo transformar aquele “garajão” em um local tão aconchegante, tão receptivo, principalmente, em uma noite em que os termômetros estavam próximos dos 5º. A cada espetáculo, eles conseguem, realmente, criar. A idéia de um mercado não só se insere, completamente, ao conteúdo da peça, como serve de atrativo para o público. Percebe-se um cuidado nos detalhes de todos os elementos colocados em cena. Assim, mesmo antes, dos atores começarem a contar a história, eu já estava impressionada com tudo que via e feliz por verificar que não é preciso de um palco italiano e poltronas forradas para que a gente se sinta confortável.

Sim. Prestei à atenção a iluminação. Nilton Filho, diretor e meu professor de iluminação, me deixou com este “cacoete”, mas, não tem nada a ver com a história estar entediante ou não, pois, certamente, este não era o caso. Mas, é algo que, até fazer a sua disciplina, nunca me dava conta e agora me divirto percebendo como uma boa luz, como a do Fernando Ôchoa, pode conduzir o nosso olhar, mesmo em um espaço tão grande como do Stravaganza.

Voltando ao espetáculo, encenar Shakespeare só confirma, cada vez mais, minha opinião sobre ele. Escrevia uma história como ninguém. Mas, claro que isso não é suficiente para fazer um bom espetáculo. São muitos componentes. Por isso, no programa vemos uma grande equipe para chegar a este resultado que não é fácil atingir. A gente sabe. No entanto, o que mais chama a atenção de quem assiste é a “inteireza” dos personagens. Quando o espetáculo começa com o texto dado pelo Lauro Ramalho já comecei a pensar: “como será que ele aprendeu a dizer um texto assim?” Claro que ele ensaiou e muito. Lembro que nos vimos pouco antes da peça estrear e ele estava preocupado. Só que o que ele faz não se aprende em poucos meses. É um trabalho de anos e diria sim: talento. Por isso, ele consegue receber o público totalmente maquiado, com cílios postiços, roupas extravagantes e depois aparecer no final com a aparência humilde de um prisioneiro.

Também dava para perceber que não deve ter sido nada fácil dirigir a Comédia de Erros, mesmo com este grupo de atores. A proposta de Adriane Mottola é irreverente, com vários momentos em que os atores se deslocam de forma “anárquica” pelo espaço. É claro que para chegar a isso é preciso saber exatamente o que se quer.

Quanto à história, não gosto de adiantar nada, principalmente para quem não conhece o texto, mas, preciso dizer que mesmo os atores não sendo tão parecidos, a interpretação estava tão convincente que comecei a me confundir com os atores, sem saber quem era quem, confundindo-os, exatamente, como pretendia aquele menino (como diz Sergio Silva), o Shakespeare.

Será que preciso dizer mais? Não creio. Quando vou ao cinema não leio a sinopse e quando retiro um DVD não leio a caixinha. Então, por que estragaria a surpresa das peças de teatro? Assistam.

PS: Desta vez, escrevi olhando os tópicos repassados por Bárbara Heliodora durante a sua passagem em Porto Alegre, mas, continuo preferindo deixar fluir minhas idéias do jeito que elas vão surgindo. Espero que isto não seja um defeito, mas, meu estilo!

Sunday, June 08, 2008

Babel e Van Gogh


Chovia do lado de fora. Chovia no saguão do teatro Renascença ontem à noite. Último dia do espetáculo Babel, pelo menos desta temporada lá. Bom público, diga-se de passagem. A gente fica em casa com este tempo desagradável e pensa que todo mundo faz a mesma coisa. Ledo engano. Encontrei o diretor, meu colega de mestrado e com quem simpatizei desde o início, sem ter a mínima idéia do importante trabalho que ele já havia desenvolvido no teatro. (Mais uma razão para me convencer de que tenho mesmo algo a ver com esta forma de expressão artística.) Lá dentro, fui achando outros colegas. Afinal, fiz parte, com muito orgulho e suor, da primeira etapa de oficinas do espetáculo.

Em pleno verão, tínhamos práticas que tinham por objetivo ir nos colocando, aos poucos, em contato com este universo do Jean Genet. Não cheguei a ficar triste por não ter sido selecionada para o espetáculo. Já havia valido a pena o que tínhamos feito naquelas tardes quentes. Desde então, fiquei distante do processo e só ontem fui ver o resultado. Tinha comentado que tinha medo de não gostar. Sabia que o espetáculo ia apresentar uma temática do baixo-mundo, que ia explorar o nosso “lado negro”, etc. E a yoga vem me levando para outros caminhos. No entanto, detesto qualquer tipo de radicalismo, assim, tenho que estar aberta a propostas que estejam distantes do mundo tal como eu queria que fosse.

Não sabia que o “coro” (do qual faria parte se tivesse sido escolhida) teria uma participação tão ativa. Gostei do trabalho final. Estavam coesos, interessantes e com alguns destaques como a Ágata, exuberante no palco e Kalil que nem reconheci em seu personagem. Marcelo Mertins, aquele jovem ator doce, generoso que me ajudou a pular corda nas oficinas com a cumplicidade do seu olhar e que agora estava ali forte e intenso no palco. O cenário também era bem associado à proposta e o talento da coreógrafa Carlota Albuquerque está visível nos movimentos bem feitos no palco por pessoas que não tem formação em dança e estão mais acostumados com simples deslocamentos.

Humberto fez uma ousadia incluindo músicas entre as cenas. Algo meio brechtiniano, que confesso, me incomodou (não que isso seja, necessariamente ruim). A música não estava ali para sublinhar as cenas. Elas significaram um corte. Bem executadas, mas, de uma forma mais melodiosa do que eu esperava para o contexto de Genet.

Não havia exatamente uma história, nem personagens bem definidos, mas, isso nunca chegou a me atrapalhar. Só que preferia compreender melhor o que estava sendo dito, o que nem sempre acontecia e eu estava na segunda fila, ou seja, sem desculpas. Bem, mas, preciso falar de uma exceção: os textos dados pelo meu professor de mestrado e ator João Pedro Gil. Sua presença em cena era algo digno de registro individual. Ele, realmente, ocupou o espaço cênico, foi orgânico e todos aqueles adjetivos que ficamos estudando sobre os bons atores. Denis Gosch também é convincente.

De quase todos os outros, no entanto, eu esperava mais. Mal eu sabia, mas, queria ser provocada, me sentir desconfortável, abalada pela dramaturgia deste homem que deu ênfase aos excluídos. Isso acontece, mas, na última cena do espetáculo. Ali, veio o desequilíbrio que eu imaginava estaria presente em todo o espetáculo. Genet, pelo pouco que sei, gostava de apresentar o ser humano no seu limite e desestruturar com sua dramaturgia e, no final das contas, sai para ir tomar sopa no Van Gogh, a atitude mais alternativa da noite.

Thursday, June 05, 2008

"Estou na amplitude"

Sei que já me estendi falando do espetáculo de ontem, mas, como o blog se chama Palcos da vida achei importante voltar ainda hoje para falar do meu "eu líquido". Ontem, sai da aula me sentindo um ratinho. Também pudera... reunir Nietzche (será que escrevi certo?) e Artaud na mesma manhã é de derreter a massa encefálica de qualquer um. Mas, culpa também do formato daquela discussão. Mas, minha, também, é claro! Hoje, cheguei destruída após a leitura do De Marinis sobre Sociologia do Teatro. Se não dou importância para os diplomas, se respeito o conhecimento de um plantador de batata, por que fazer mestrado? Bem, acontece que sempre gostei de aprender e de estudar pelo menos desde que entrei para a primeira faculdade e as disciplinas de matemática, física e química desapareceram. Além disso, teatro me fascina. E acho que uma das respostas para isso está na própria posição de um dramaturgo em relação, justamente, a estes temas. Vejam um pequeno trecho da entrevista com Antunes Filho, publicada no site Questão de crítica:

DANIEL SCHENKER - O senhor parece pautar sua argumentação em visões sobre conceitos de interioridade/exterioridade, essência/aparência, conteúdo/forma...
ANTUNES FILHO - Meu sistema não conhece estas palavras. Considero reducionista. Estou na amplitude.

Eu também! Eu também!!!

Ninguém está livre do seu destino!

Fui assistir Édipo ontem, convidada pela artista Ida Celina que foi minha mãe no filme de Sergio Silva. Agora, mãe de Édipo. Nada mais, nada menos do que Jocasta. Então, preciso dizer que a ida ao teatro começou no momento que atendi o celular no domingo e era ela dizendo que eu estava convidada para uma sessão especial, não aberta ao público. Fico feliz e orgulhosa por ser lembrada por alguém que ganhou tão rapidamente meu respeito e minha admiração. Ela atriz, experiente, ex-diretora do DAD. Eu, amadora. Uma mesma paixão: as artes e um mesmo interesse: gente. Perguntei se podia estender o convite ao canadense que estou recebendo. “Sim, claro”, disse ela. Assim, ficou combinado. Mas, Charlie tem muitas ocupações e toda a dificuldade de se organizar em um lugar desconhecido. Ainda lembro o prazer e agonia que isso significa. A dificuldade de assumir compromissos, ao mesmo tempo em que tudo que ser quer é poder “ir ao sabor do vento”. Perto da hora combinada, comecei a ligar para o celular dele. Nada, nem um sinal. Meia hora antes do espetáculo, já havia decidido. Eu vou. Fazer o que? Um pouco contrariada pela falta de notícias. Teria acontecido alguma coisa? Seria descaso? Sim, quem me conhece sabe que sou levemente paranóica. Às vezes, insisto em achar que o mundo gira ao redor de mim, mas, no mau sentido. Ops, mas isso não é paranóia, é egocentrismo. Seja o que for, estava me deixando meio invocada. Estou chegando ao teatro quando o celular toca. Faltavam menos de 10 minutos para o espetáculo. Ele estava perto. Pede desculpas. Digo que vou buscá-lo. Mal abro a porta do carro, ele diz: “como tu estás bonita”, cheio de um sotaque que não tem como não me fazer sorrir.

Bem, mas, é hora de falar do espetáculo. Como Bárbara Heliodora, vou para gostar. E foi o que aconteceu. Bem, a história me fascina. Como alguém pode inventar um enredo tão interessante? Alguém que tenta fugir do seu destino e não consegue? Matar o pai e casar com a mãe sem saber? Quer algo mais perturbador? Agora o que interessa é que já li e reli a história algumas vezes, mas, Luciano Alabarse conseguiu montar um espetáculo que me colocou tão para dentro que me vi totalmente envolvida, angustiada, sofrendo com os personagens. Brecht que me desculpe.
Marcelo Adams (Édipo), para mim, é garantia de que não vou perder meu tempo. Gosto de tudo que o vi fazer até agora e o resto do elenco não fica atrás. O vidente Tirésias, pelo ator Lutti Pereira, merece também destaque. Palmas para o figurino de Rô Cortinhas que não exagera e sublinha o corpo dos atores com suas vestes. E o mais importante. Não há apenas pontos fortes. O todo é bem feito. O cenário, incluindo as projeções, não peca pelo excesso, nem pela falta. É limpo, poético e dramático, ao mesmo tempo. O coro reforça a tragédia, esclarece o que precisávamos para ir compondo melhor a história. Gosto também dos deslocamentos no palco, faz parte do ritmo do espetáculo.

No entanto, mesmo acreditando que possa ser uma escolha do diretor com o objetivo de acompanhar o tema trágico, devo confessar que já no final, depois da revelação da intensa brutalidade dos fatos para Édipo, comecei a me inquietar com a entrada ou re-entrada de personagens para terminar a história. Talvez, fosse porque já havia atingido o meu nível máximo de reação ao espetáculo e precisasse de um momento de alívio, mas, senti esta perturbação. Também pode ser porque estou desacostumada com um outro ritmo, “sem efeitos especiais”, como disse o canadense que elogiou o trabalho, provavelmente, porque também estava ali para apreciar o momento e pode compreender mais claramente as palavras ditas com tanta apropriação por todos os atores. Não entendo inglês para saber se a trilha de Stones era inconveniente, mas, não entendi o uso de Satisfaction em um determinado momento. Ignorância minha? É possível. De qualquer forma, recomendo: assistam ao espetáculo e depois me digam.

Tuesday, June 03, 2008

Eu preciso dizer que te amo!

Tenho medo de não dizer que te amo...Tenho medo de dizer que te amo. Por que? Porque posso até ser correspondida, mas, meio sem querer. Como assim? Bem, todos falam que tu tens um forte sentimento por mim. Dizem que tá no jeito que tu me olhas. No teu sorriso. Na maneira como tu implicas com o meu jeito de dizer as coisas. E eu, querendo acreditar, fico feliz! Tenho esperanças de que tu também percebas que não és indiferente. Mas, enquanto isso não acontece, os dias passam contigo longe de mim. A gente até se fala, se vê mais do que antes, mas, são encontros rápidos, superficiais e, enquanto falo de amenidades, coisas práticas, tento te dizer com o olhar o quanto tu és importante para mim. Mas, vejo que tu não ouves. Talvez, até escutes um certo murmúrio, porque teu olhar também me diz alguma coisa. Algo que fala a mesma língua que eu. Mas, por falar nisso...ah, quanto tempo não sinto o teu beijo. E quanto tempo mais vou continuar esperando por ele? Ah, se eu tivesse a certeza de que ele viria, nem me importava de esperar muito, mas,muito mais. Te vi hoje, mas, estou com saudades.