Monday, August 30, 2010

Eu tive um sonho?

A semana veio e a semana se foi. Estou em uma outra semana. Se não escrevo sobre o que acontece parece que não terminei as tarefas daquela semana. Ainda mais se foram importantes. Se foram especiais. Minha participação no Seminário de 20 anos do Teatro Nilton Filho foi como realizar um sonho. Isso se eu tivesse tido a ousadia de sonhar que um dia estaria lá, no palco, falando de teatro, de crítica teatral, de mim, agora mestra em artes cênicas.


Muita gente diz que se não sonhamos não atingimos objetivos. Não sei se é mesmo assim. A vida segue me surpreendendo. Algumas frustrações do passado me fizeram parar de criar expectativas grandiosas, de pretender realizar coisas fantásticas e nem por isso elas deixam de acontecer. Sendo assim, lá estava eu, me sentindo entre amigos. Recebida com carinho e elogios. O reconhecimento dos meus esforços e da minha paixão pelo teatro já havia acontecido pelo convite para estar lá. Nilton Filho reuniu um grupo receptivo, simpático que ocupava as cadeiras vermelhas da plateia. Ao meu lado Maristela Bairros que eu conhecia muito de ouvir falar e de algumas rápidas apresentações por seus amigos e Newton Silva, meu colega de mestrado e também jornalista.

Pensar em estar diante de uma plateia sempre me deixa com um misto de inquietação e alegria. Falar de um assunto que me apaixona também. Me preocupa pensar que meu entusiasmo possa turvar minhas ideias e que eu não saiba repassar coisas que possam ser aproveitadas por aqueles que me ouvem. De qualquer forma, foi divertido. Afinal, havia pensado que não iria somente apresentar minha pesquisa de mestrado. Mas sim, começar a apresentar as questões que investiguei, assumir algumas posições sobre o tema e tentar fazer com que as pessoas se sentissem motivadas a pensar sobre. Tive a impressão de que consegui, pois no final fizeram comentários instigantes, quiseram falar comigo depois...Porém, não vou entrar em detalhes da apresentação, nem do que discutimos. Porque não foi a razão, os produtos do intelecto, o mais importante daquele momento. Não para mim.

Preciso registrar a gentileza e a ideia criativa e inteligente desta dupla Nilton Filho e Hyro Mattos que, após a nossa apresentação, trouxe uma espécie de troféu para cada um dos “palestrantes” (eu!) que era um pedaço do tijolo-o do próprio teatro que nestes anos todos passou por profundas reformas e vidro com um papel escrito: “Certificado de gratidão”. Como se não bastasse, ainda explicaram que o tijolo significa a solidez do trabalho e o vidro a transparência das atitudes. Nenhum comunicador ou profissional do marketing teria feito melhor. Esta ideia tinha que vir mesmo destes dois artistas arteiros.

Nilton Filho poderia ter sido apenas mais um professor de um curso que nem cheguei a terminar, mas como alguns poucos outros que, felizmente, cruzaram o meu caminho, ele se transformou em um mestre e um amigo. Tem compartilhado comigo minhas dificuldades e minhas alegrias que, aliás, desde que eu passei a contar com sua visão da vida, seu apoio e seu afeto, tem sido cada vez maiores. E assim, chorei de emoção ao receber esta homenagem porque não tenho dúvidas de que era um momento mágico e confesso que ficou difícil não duvidar de que estava sonhando.

Monday, August 23, 2010

Karma

Se tu não tivesses sofrido por minha causa
Aposto que já teria morrido. 
Ai de mim que ainda te gosto
e nunca imaginaria que seria assim.

Friday, August 20, 2010

Por que ainda somos os mesmos

Fui assistir ADOLESCER a convite de uma tia que, por sua vez, foi convidada por José Outeiral, supervisor do espetáculo. Nem sabia que existia esta função... Não teria ido por conta própria. Talvez, porque esta fosse uma época da minha vida da qual não sinto exatamente falta. Não sabia quase nada de sexo, tinha discussões homéricas com meu pai, não gostava do meu corpo e era ridicularizada na escola. Não saber o que fazer no futuro me angustiava a ponto de me deprimir. Pronto. Fiz um resumo deste período, na minha ótica, daquele tempo.
Mas foi ótimo ter ido. Primeiro, porque o elenco é muito bom. E não me peçam para explicar o que este adjetivo exatamente quer dizer. Eles são expressivos, dizem os textos de maneira convincente e dançam maravilhosamente bem. Além disso, fazem mais de um papel ao mesmo tempo e são bons em todos eles. O nome da diretora, Vanja Ca Michel não me é estranho, mas pouco sei dela. Trata-se da diretora deste espetáculo que reúne 15 atores, entre estes, João Carlos Castanha. Este sim, meu conhecido. O nome, quero dizer.
O teatro Bruno Kieffer estava, praticamente, lotado. Na maioria, adolescentes. Dava para ver que eram grupos organizados, trazidos, especificamente, para ver o espetáculo. Aliás, achei que seria difícil assistir ao espetáculo com toda aquela agitação. Falavam alto, se mexiam nas poltronas. Não pareciam acostumados com o espaço. Uma professora sentou do meu lado. Tentou, no início, coibir os movimentos e a falação. Pensei que isso seria ainda pior. Lembrei direto da Bienal quando os alunos ficavam excitados com a provocação dos artistas e que os responsáveis vinham com suas ordens, com seu autoritarismo tentar proibir as reações. Além de não conseguirem, só aumentavam o tumulto. Felizmente, ela logo se acalmou. E não foi só ela. Toda a plateia. Pude perceber, claramente, que a dança inicial, as primeiras aparições dos atores e atrizes iam levando os adolescentes presentes para uma atitude de respeito e atenção ao que estava acontecendo no palco. Isso já demonstrava a estratégia bem sucedida da direção.
Quanto ao resto, acho que não me cabe dizer se os temas estão sendo bem tratados ou não. Mas, também não posso deixar passar em branco as informações sobre as questões sexuais. Há muito tempo (estou perto de completar meio século), me indigna as formas equivocadas de tratar homens e mulheres e suas relações. Sempre foi assim. Desde menina. Para mim, sempre fomos todos seres humanos antes de qualquer outra diferença. Então, ainda me agride pensar que em pleno século XXI ainda tenha que se registrar que as meninas que fazem sexo não devam ser chamadas de galinhas, enquanto os caras são garanhões. Porém, não me parece nada inteligente passar elas a se chamarem de “pegadoras”. Em minha opinião de mulher, antes da jornalista ou mestra em artes cênicas, não é por aí que vamos resolver este assunto. Outro dia, ouvia Flavio Gikovate na tv falar justamente sobre o fato de não ser nada verdadeiro enfatizar as grandes vantagens do sexo casual, quando o melhor sexo acontece com alguém que a gente tem cumplicidade, algo, aliás, que não nasce da noite para o dia.
Outra coisa que também me deixa desconfortável é que ainda há uma reação de prazer, misturada a constrangimento quando são ditos “palavrões” no palco. Claro que entendo que esta é uma maneira de justamente criar uma identificação da peça com o seu público. Não me incomoda nenhum pouco que estes sejam ditos. O que me aborrece é que isso ainda faça a adolescência de hoje rir de um jeito exagerado. Mas o que importa é que é um espetáculo que traz à tona os assuntos que estão no dia-a-dia dos adolescentes. Não põe para baixo do tapete. Não finge que não existe. E, ao fazer isso, acaba fazendo muito. E, se me deixa triste saber que tudo que foi tabu na minha própria adolescência ainda segue em pauta, me deixa otimista ver que, os adolescentes agora não precisam ir para o escuro do seu quarto chorar e pensar em morrer. Eles podem ir para o teatro e ter a absoluta certeza de que não estão sozinhos. Nem ali, nem na vida. Alguém sabe o que se passa com eles, tanto que transformou em algo a ser assistido. E, neste aspecto, em comparação com a minha época, de déjà vu, sobra apenas o nome da companhia.
ROTEIRO: Textos de Vanja Ca Michel com pequenos fragmentos
          dos psicanalistas Cybelle Weinberg, Ruben Alves, do psiquiatra
          José Outeiral e dos escritores Carlos Drummond de Andrade e
          Moacyr Scliar.

          CONCEPÇÃO E DIREÇÃO: Vanja Ca Michel
          SUPERVISÃO: José Outeiral
        ELENCO:   Bibi Rositto
                           Débora Spadotto
                           Daniela Guerrieri
                           Diego Bittencourt
                           Gustavo Susin
                           João Carlos Castanha
                           José Ligabue
                           Lucas Ortiz
                           Manu Menezes
                           Mathias Martin
                           Thainá Gallo
                           Michel  Tinho
                           William Molina
        
          COREOGRAFIAS: Malu Kroeff e Michel  Tinho
          ILUMINAÇÃO: Moa Junior
          TRILHA SONORA PESQUISADA: Vanja Ca Michel
          MATERIAL GRÁFICO E SITE: Moa Junior              
          OPERAÇÃO DE SOM: Rogério Câmara                             
          PRODUÇÃO: Vanja Ca Michel e Moa Junior                    

          REALIZAÇÃO: Cia Déjà-vu



Wednesday, August 18, 2010

Meu coração é vermelho

O futebol tem sido a menor das minhas preocupações. Acompanho à distância as manchetes dos jornais. E assim, sabia que meu time vinha bem, mas não tão bem. Precisou ele chegar a final da Libertadores e com vantagem para que eu desse alguma atenção. É claro que morar um pouco além do Estádio do Inter também interfere. Há as preocupações com o trânsito. Eu, porém, nunca me importei. Se está congestionado, vou na manha, observando o movimento daqueles que torcem, como eu, pelo time vermelho.

No rádio, à tarde, acompanhava o rebuliço. Atropelamentos. Fraudes com as carteiras dos sócios. O lado negro da força.

Não me preparei para assistir a decisão. Não coloquei na agenda, mas já que estava em casa na hora, por que não? Assim, encarei o primeiro tempo, mal acreditando no gol do Chivas. Difícil imaginar que, com tantas vantagens, corríamos o risco de perder. Não precisou de muito do segundo tempo para o primeiro gol do meu time. Mas senti uma taquicardia com algumas jogadas do adversário e achei graça de ver que o futebol ainda mexe assim comigo.

Claro, porém, que não sou só eu. Enquanto eu via o jogo aqui sozinha, uma multidão no estádio movia os braços, torcendo, participando do jogo. É ótimo ver este clima de união, de integração, de festa. Todos fazem uma paródia da música dos Mamonas assassinas os torcedores cantavam. É interessante ver que há gente que veio para fazer história. Como estes meninos que tiveram suas carreiras tão drasticamente terminadas, mas que permanecem até hoje na memória das pessoas e surgem em momentos de comemoração. Assim também como o Falcão para o Inter, o Pelé para o Brasil, o Galvão para a TV brasileira. Como Sóbis, Leandro e Giuliano hoje. Este último fazendo um gol quando a conquista já parecia garantida.

Se bem que em futebol, com a minha experiência de quase meio século, enquanto não apitam o fim, eu não garanto nada. Existem coisas estranhas que podem acontecer este esporte. Tinga não deve ter imaginado que seria fotografado para eternidade com uma faixa na cabeça. As faltas foram duras, aliás, e concordo com o comentário de Galvão que tem que ser meio besta para não querer considerar as imagens da tv para julgar as ações dos jogadores. Os socos dados nas costas de Solbis pelo jogador do time adversário tinham que ser punidos. Felizmente, como tudo acabou bem, a gente vai esquecendo, mas poderia ter sido diferente, como foi o final da Copa que ainda tem um certo gosto de ressaca.

Como colorada, fiquei orgulhosa de ver Pelé de casaco vermelho entregando o Troféu ao meu time. Não ia perder o sono se ele não tivesse ganho, mas vou custar a dormir agora que ganhou. Não só pela excitação da vitória, mas por causa dos fogos de artifício e dos buzinaços na vizinhança.

Rumo a Abu Dhabi.

Yaba-daba-du!

Monday, August 16, 2010

Reflexão pós-Lehmann: sou pós-dramática, dramática, cômica e, talvez, até épica!

Juntando tudo que Hans Lehmann disse, mais as perguntas durante o Seminário Teatro contemporâneo: para além do drama deu um total de 16 páginas de conteúdo. Andei repassando parte deste aos amigos e colegas. Mas fiquei feliz em ver que alguns ainda queriam o que eles chamam de meus “relatos”. Não o texto pura e simples transcrito, mas as minhas impressões, o meu "trato jornalístico". E esta alegria não veio só por uma questão de vaidade. Também por me mostrar que meu gosto pela escrita e pelas artes tem valor para alguns. Dito isso, decidi, então, retirar de tudo que este alemão comentou o que eu considerei mais importante e dar os meus pitacos. Mas, ainda assim, vou ter que dividir em partes. Então, lá vai:

Primeiro quero dizer que gostei muito do formato que o evento acabou apresentando. Em uma articulação do Programa de pós-graduação em artes cênicas que mal acabou de concluir, mais a Secretaria, entre outros, surgiu esta ideia de misturar os “acadêmicos” e os “artistas” para esta ocasião. Para mim, isso deveria acontecer sempre. Claro que sou suspeita. Afinal, estou mais encaixada nos primeiros dos que nos últimos, mas todos sabem da minha paixão por estes. Minha admiração profunda por todos aqueles que produzem e pensam o teatro. Espero que este tenha sido o primeiro de muitos encontros deste tipo, pois assim sendo estes, certamente trarão novo significado aos eventos culturais da cidade.

Depois, quero registrar que não foi com total simpatia que ouvi as ideias do Lehmann em sala de aula. Não porque não fossem interessantes, mas porque me pareciam que vinham com o peso da “voz da verdade absoluta” e isso sempre me causa algum desconforto. Porém, ao lê-lo ia reconhecendo que seria muita burrice não dar ouvidos a este pensador tão reconhecido em toda parte. Mais burrice ainda se não fosse lá ouvi-lo ao vivo e a cores e, realmente, já adianto, não houve arrependimentos. Até porque, ele próprio, não se coloca como alguém que detém a sabedoria. Em certo momento, após algumas perguntas que exigiam um exercício de futurologia, ele disse: “não sou a pitonisa do teatro”. Afirmou, também, que as pessoas costumavam fazer reflexões sobre o que ele disse que vão muito mais além do que ele próprio havia pensado. Ou seja, uma postura modesta diante da reação das pessoas à sua obra. Fez até piadinhas. Perguntou a plateia se esta conhecia uma zombaria que se fazia na Alemanha. Disse que a resposta sobre a pergunta: “qual o teatro mais bem sucedido do século XX?”, a o do século XIX! Nem Barack Obama escapou. Lehmann comentou que mesmo que ele seja bem-intencionado, só pode mudar poucas coisas na política americana.

Claro que ele falou das misturas das artes cênicas com as outras artes, com o uso de recursos tecnológicos e todas aquelas outras coisas que quase todos já sabemos. Citou bastante Heiner Muller (o que sempre me faz pensar em Sergio Silva, pois foi quem me apresentou este autor) e a estrutura pós-dramática de seus textos. Foi dizendo frases muito fortes inseridas dentro de um contexto maior. Ou seja, se a gente não se toca, passam despercebidas. Como esta, por exemplo: "A vida é cada vez mais o contingente fragmentário e não estilo dramático, mas em episódios, fases, trechos, sessões. Uma forma de vida dramática não é mais concebível.”

Lehmann destaca Deleuze (ai, esta criatura me persegue!) para falar que a filosofia das últimas décadas desconstruiu ideias anteriores. Porém, ele sabe que não é assim tão simples, pois, segundo ele, existe em nós um desejo do drama. “Nós adoramos o drama”, diz. E isso fica bem claro no cinema. Neste momento cita um livro chamado “Aristoteles em Hollywood" (vai dizer que não deu vontade de ler?) no qual fica claro que as regras da Poética são úteis para filmes que tenham ressonância com o público. E, logo em seguida, parte para um momento delicado ao falar em entretenimento. Diz que, para ele, a arte é uma prática essencialmente crítica, que ele não despreza o entretenimento, mas diz que, como teórico, não lhe interessa. Bem, devo dizer que suas afirmações me entretêm.

Logo depois, chega o momento em que algo que ele diz abre um verdadeiro clarão na minha cabeça. Ele explica que, na verdade, diferente do que se pensa, o teatro, historicamente falando, tem muito mais tempo de não-dramático do que dramático, que em países orientais, por exemplo, sempre existiram estas outras formas de fazer arte que não mostram uma narrativa, ou seja, o ciclo da vida do teatro dramático é curto, pois o teatro da antiguidade está muito distante do drama que conhecemos desde o Renascimento. Ele disse que não era um exagero afirmar que o teatro da Antiguidade era pré-dramático.

Outro ponto nevrálgico que ele acabou abordando foi sobre a presença do ator no teatro pós-dramático. Mas até nisso ele foi tranquilizador. Lehmann comentou que sobre a pergunta do que acontece com o ator neste momento, ele responderia: isso depende. Segundo ele, não existe o teatro pós-dramático no singular. Ele diz que é uma tentação muito grande utilizar conceitos genéricos como se eles definissem as coisas e as colocassem em uma caixinha fechada. Ah, que alívio... Ele também não gosta de verdades supremas.

Fala de algo que para mim já está muito claro há algum tempo, desde a mediação da Bienal em 2005, pelo menos. Ou seja, quando surge uma proposta nova de arte, é preciso perguntar sobre a essência da arte anterior. Ele diz que um bom exemplo é a fotografia, que a pintura precisou se perguntar o que ela é, que a fotografia não é. E eu não estava errada em pensar mesmo na Bienal, pois teve uma artista que trouxe uma obra que era pintura da natureza, exatamente como os objetos reais, pássaros e frutas e todo mundo que visitava a obra dela ficava de queixo caído com a qualidade do que ela pintava. A técnica era tão incrivelmente perfeita que impressionava, mesmo agora com o fato de que qualquer um pode sair fotografando por aí. Ou seja, é preciso relativizar estas afirmações categóricas. Isso, não foi o Lehmann que disse. Isso digo eu.

Lehmann chama a atenção para outra coisa que também sabemos de cor e salteado, mas que, às vezes, parece que esquecemos: “o teatro pode implicar o espectador de uma forma diferente do que qualquer filme pode fazer. Pode enfatizar a presença de atores e espectadores de forma particular, envolver habilidades artísticas, co-presença. Enquanto “plateia” sabemos que podemos interferir no que acontece a qualquer momento. Ele enfatiza que diante da tv não estamos envolvidos na produção das imagens que nos chegam. A nossa responsabilidade diante destas não existe. Já no teatro, isso é diferente.

Ele salienta que para Guy Debord a sociedade tem a tendência se mostrar como espectador, o cidadão como recebedor passivo de processos que lhe são ensinados. O teatro muda esta mera recepção passiva. “Consiste em romper com esta concepção e isso pode acontecer de formas muito diferentes”.

Lehmann defende que não faz sentido ficar perguntando se as novas formas de representação e encenação ainda são teatro ou não. “O teatro assume características de performance e a performance se teatraliza”.

Eu não disse que ele fazia afirmações poderosas, jogadas no meio do discurso? Esta foi uma delas: “O objetivo da arte é achar o caminho para se habitar um universo”. E ele tirou até aplausos no meio do seu discurso quando disse que, em sua opinião, não existia só prazer e alegria na arte, que o teatro não deveria ser apenas uma festa, mas uma festa que lembre as pessoas que não podem participar dela. “Do contrário, ele não é nada”.

Lehmann comentou que fez referência a Aristóteles, pois, segundo ele, o nosso pensamento ainda está impregnado por este. Diz que a famosa catarse para o pensador grego não está associada ao teatro, como creem muitas pessoas que falam que este conceito. Para Aristóteles, já começa da leitura da tragédia. Mais chocante é ele dizer que para Aristóteles o teatro era para as pessoas mais burras (conheço o tradutor, caso contrário desconfiaria desta palavra) que não conseguem pensar por conta própria. Lehmann explica que esta predominância do lógico define a nossa compreensão do teatro hoje e que temos que nos voltar contra isso de forma deliberada. Neste momento penso que isso faz muito sentido e que seria bom se alguns críticos de teatro lembrassem disso também. Aliás, Lehmann também faz referência a estes, dizendo que muitos ainda falam a mesma coisa que Platão dizia ao criticar os seres humanos por se entregarem ao teatro ao invés de pensar rigorosamente utilizando a lógica.

Comenta um pensamento de Baudelaire, desses que eu adoro, pois deixa claro o quanto podemos estar enganados. Diz que este, quando a fotografia surgiu, afirmou que seria o fim da arte. Lehmann afirma que esta reação de medo, da superficialidade do teatro, sempre existiu e continua existindo hoje em dia.

Ele volta a Aristóteles para explicar que para este a arte sempre precisa ter uma forma de ordem. A definição do belo, em Aristóteles, fala de uma totalidade, unidade, coerência, do contrário não é belo. Por isso, ele diz que esta totalidade precisa existir. Para que possamos entender bem, deve ser de fácil apreensão, com um único olhar, do contrário, ficamos confusos e a confusão não pode ser bela. Em uma ideia clássica da obra de arte, a arte precisa ser como o organismo animal. Havia uma comparação com a totalidade orgânica. Só a modernidade rompeu com isso. Antes, dizia-se que o belo deveria ser como um animal, mas o animal deveria ter o tamanho certo. Não poderia ser pequeno demais, nem grande demais como um animal de dois quilômetros tipo Jurassic Park porque não conseguimos vê-lo de uma vez. Já teremos esquecido o começo quando chegar ao fim. O belo é organizado como a compreensão lógica.

Lehmann comenta que Aristóteles diz algo que ele sempre gostou de incluir em suas aulas, e que seus alunos pensam que é besta: Totalidade é uma coisa que tem início, meio e fim. Assim deve ser o teatro drama. Esta ideia de Aristóteles, para Lehmann, é uma tese muito perspicaz, a produção de uma moldura dentro da qual incluímos e tiramos coisas. Conclui dizendo: “Acho que não preciso explicar que a arte moderna invalidou esta ideia de começo, meio e fim”. Traz como exemplo o cinema de Godard que fazia filmes nos quais os espectadores tinham dificuldade de perceber o nexo. Ao ser atacado por um crítico que disse que um filme precisava ter início meio e fim, respondeu que este tinha razão, mas que isso não necessariamente nesta sequência.

Lehmann retoma a ideia de que temos uma predileção pelo drama e argumenta que foi Ricoeur quem explicou porque esta ideia de Aristoteles acabou tendo tanto poder. Segundo ele, era um argumento que estava relacionado a uma teologia do tempo. A uma ideia de criação, desenvolvimento e apocalipse. Quem diria...Assim, os argumento estético e teológico se alimentaram mutuamente.

Ao encerrar, ele diz que o nosso aparelho de percepção consegue conviver com muita anarquia, labirintos, montagem, colagem sem que basicamente nossa pulsão para o drama desapareça. Este sempre encontra uma possibilidade de satisfazer o instinto da dramatização porque quer manter esta forma dramática na qual não acreditamos mais.“Sempre estivemos além do drama e este parece ser o caminho”.

Finalizando esta primeira parte do meu relato, gostaria de dizer que o pós-dramático pode até não ser a explicação para tudo (e nem poderia), mas bem que facilita a entendermos a arte nos dias de hoje. Diria até que dá uma ajudinha até na compreensão de nós mesmos. Não é que eu tenha deixado de procurar "inícios, meios e fins", mas não há como negar que a vida é desordenada e sofremos menos se conseguimos encontrar este "guarda-chuva", como disse Lehmann, que congrega tudo. Afinal, sabemos que muitos os invernos durante a vida.

Tuesday, August 10, 2010

SEMINÁRIO DE ARTES CENICAS

Artes Cênicas – uma constante busca pelo novo.


Local: Teatro Nilton Filho
Grão Pará, 179
Menino Deus

Terça-feira dia 24 de agosto 15 horas.

A Mídia um registro para o amanhã.

Palestrantes:

Jornalista, Critica de Teatro Maristela Bairros – A importância da Critica
Jornalista, Mestre em Teatro – Helena Mello – A Critica na era digital
Jornalista, Mestre em Teatro – Newton Silva – Testemunha Ocular: O vídeo como documento do
teatro. Uma história da cena gaúcha na década de 1980

Mediador: Jornalista, Divulgadora e Produtora Cultural Sílvia Abreu

Noite às 19 horas

Atelier de Bioconexão com Dra. Isabel Martins

Quarta-feira dia 25 de agosto 15 horas.

Elementos da Cena.

Iluminador, prof. Carlos B. Bandarra – A iluminação e as novas tecnologias.
Prof. Diretor de Teatro Arq. Nilton Filho – A cenografia e seus desafios.
Músico, Arranjador Lourenço Schmidt – A construção de uma trilha sonora.
Mediador : Ator, Diretor e Coreógrafo Hyro Mattos

Noite às 19 horas

Atelier : Roda de Leitura com Mestra em Literatura Ana Elisa Prates

Quinta-feira dia 26 agosto 15 horas.

A escritura cênica.

Dramaturgo, prof. Fábio Ferraz – A criação de uma Dramaturgia.
Roteirista, Ator e Roteirista Carlos Paixão – O roteiro e a criação da cena.
Mestre em Literatura Ana Elisa Prates – A Literatura X Dramaturgia?
Mediador: Jornalista e Critica de Teatro Maristela Bairros

Noite às 19 horas

Atelier de Teatro Dança com Diretor e Coreógrafo - Hyro Mattos.

Sexta-feira dia 27 de agosto 15 horas.

A coreografia na dança.

Especialista, Prof. da Ulbra de história da dança. Robert Levonian– O mito da Medeia
coreografado em três versões diferentes.

Mediador : Ator, Diretor e Coreógrafo Hyro Mattos

Noite às 19 horas

Atelier de Iluminação com Carlos B. Bandarra

Sábado dia 28 de agosto às 21 horas

Festa Show.

Rua Grão Pará, 179

Menino Deus
Fone: (51) 3233.0449
Porto Alegre - RS

Sunday, August 08, 2010

A Europa para o meu bolso

Ando por ruas largas e prédios antigos. Muito. Se tem uma coisa que gosto de fazer é caminhar por uma cidade que conheço pouco, onde reconheço e me perco a cada instante. É também por querer controlar onde vou e economizar. A cada esquina um lugar charmoso. Paredes de vidro, mesas e cadeiras de madeira. Luzes, muitas luzes.

Quanto mais viajo, mas me sinto cidadã do mundo. Juro que fico "reconhecendo" as pessoas na rua. Não sei de onde, é claro, mas as acho tão familiares. Por falar nisso, lembrei do meu pai que sempre gostou de vir aqui. Faz parte do folclore da família as histórias que eles contavam como a vez que a minha mãe saiu e comprou uma roupa nova e uma peruca e na volta não a reconheceram no hotel. Trazer uma mala vazia era algo que tinha que estar nos planos. Afinal, eles não podiam voltar sem chocolates suíços para todos (não falei que era a Euroupa?).
Bem, mas devo dizer que olho para as pessoas que não conheço também. Principalmente para os homens. Acho que é a cidade com mais homens de terno por metro quadrado. E não é qualquer terno. Risco de giz, como diria a minha vó. Cabelos longos. Muitos chapéus. Alguns parecem parentes do Antonio Banderas. Ou seja, quem não olharia?
Escrevo diante de uma grande taça de vinho, guardanapos de pano e uma entradinha que veio sem eu pedir. Não vim para passear. Vim para ouvir e falar sobre teatro. Mas não é fácil ficar ouvindo alguns palestrantes em tom monocórdio, lendo suas várias folhas de papel, quase sempre sem nenhum entusiasmo, enquanto tem um sol lindo lá fora. E um frio também que faz as pessoas taparem o rosto, mas que é infinitamente melhor do que a umidade que nós enfrentamos em Porto Alegre. Algo que se resolve com um bom casaco, um chapéu e luvas. Sim, tive que me render a elas, mas não vou mentir: passo trabalho. é um tal de tira e bota entre o conforto e o funcional bem exaustivo. Porém, se considerar que foi o único inconveniente da minha viagem até agora, meu primeiro dia, que, na verdade só acaba quando eu conseguir decifrar minha saída do metrô e andar mais umas dez quadras. Tudo bem. Afinal, vou precisar mesmo baixar as calorias deste frango com cogumelos e molho de queijo com batatas fritas. Enquanto como, observo o movimento da rua. Basta pintar os taxis de preto e amarelo para parecer que eles dominam a cidade. Embora eu ache que estes senhores e senhoras grisalhos que eu vi durante todo o dia nas ruas e nos cafés, não permtiriam.
Felizmente, nunca tive nada contra os argentinos e, enquanto a cidade me receber assim devo dizer que a comparação que minha irmã faz de Buenos Aires com Paris não é nenhuma heresia. vou fazer, porém, uma promessa: da próxima vez que eu vier meu vocabulário de espanhol estará um pouco melhor. Ainda respondo "oui" para as perguntas que me fazem.