Lembro de Esther Góes do tempo que assistia novelas. De sua voz grave e seu jeito amoroso. Depois, cansei de seguir as histórias que repetiam suas fórmulas televisivas e, distante do eixo Rio-São Paulo, a perdi de vista. Foi com prazer que a reencontrei, ontem, no palco do Porto Alegre Em Cena com o espetáculo Determinadas Pessoas, dirigida por Ariel Borghi, seu filho.
O espetáculo sobre Helene Weigel, a mulher de Brecht, para quem não sabe, um dos dramaturgos mais importantes do século XX, é uma aula de teatro, sem o formalismo e os desconfortos das informações didáticas. Evitando compromissos com uma cronologia histórica rígida e linear, nos leva a conhecer ou identificar fatos ligados à vida destas duas pessoas tão importantes para o mundo das artes.
No palco, a projeção de imagens, contextualiza os acontecimentos. Poucos objetos complementam os espaços sugeridos. O resto fica a cargo da atuação competente de Esther Góes. Nesta, podemos ver o caráter forte desta mulher que é esposa, atriz, política, cujo papel foi tão importante seja nos palcos ou fora deles, colaborando, inclusive com a formação do Berliner Ensemble, a companhia de teatro épico. Há na narrativa um trânsito constante da vida particular do casal, para o palco e para o momento político da época. Percorremos assim, os acontecimentos, sejam de seu casamento com Brecht, da fuga do nazismo na Europa e nos Estados Unidos até à Alemanha, depois da guerra. A força expressiva de Esther no personagem de Helène leva a platéia a achar graça de sua maneira contundente e autêntica de dizer o que pensa, tornando evidente a sua contribuição na revolução das artes cênicas e na política provocadas por seu marido.
O espetáculo inclui a apresentação de cenas de Mãe Coragem, Os Fuzis da Sra. Carrar, Frau Flintz, O Triunfo da Vontade e de músicas de Brecht. Cenário, luz, figurino aparecem de forma sutil apenas para compor o personagem de Heléne e contextualizar a época. Com exceção do uso de uma imensa carroça, usada apenas no final na remontagem de uma cena de Mãe Coragem, quando surge uma dramaticidade que antagoniza com o caráter épico do espetáculo tão coerente, até então. Mas, nem isso, nem as falas ditas em um tom levemente mais baixo no fundo do palco, comprometem o resultado.
Se precisasse resumir o espetáculo em uma só frase, usaria uma do próprio texto: “Política é a humanidade nas pessoas, não na teoria”, pois, é resgatando aspectos particulares da vida desta mulher que a peça traz à tona momentos vividos por estas duas personalidades: Helene Weigel e Brecht e recupera-se sua importância no mundo de hoje.
Helena Mello
Muito bem, camarada!
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