Thursday, September 18, 2008

Onde está Peter Brook?

Tem gente que cria expectativa. Não adianta. Peter Brook é um. Depois de ver alguns poucos espetáculos ao longo de décadas, mas, também de ver  documentários e ler coisas sobre ele, a gente se interessa. Ponto. O cara sabe das coisas. Então, foi assim que lá me fui para o teatro do CIEE, mesmo lugar onde havia visto o lastimável O Imperador e Galileu e sentido um frio de "ranguear cusco". Bem, mas, é muito agradável ir esbarrando em gente conhecida, que tem os mesmos interesses e que comenta com entusiasmo outros espetáculos. É o real POA em Cena. 

O espetáculo começa. Não há cenário. Um tablado no chão. Duas banquetinhas. Dois homens sentados diagonalmente. O texto dito todo em inglês é forte, instigante. Questiona a presença de Cristo. A Humanidade. Resumindo: o que foi feito de nós. Bruce Meyers é impecável. Todas as entonações perfeitas. As inflexões corretas. Olhares e suspiros. A platéia não respira...mas tosse. Penso: estes deviam ter ficado em casa. Afinal, apesar da fala, praticamente, ininterrupta deste ator, o espetáculo é silencioso. Sua voz e nada mais. Há pequenos deslocamentos e, pouco a pouco, ele aproxima sua banqueta do outro que está no palco, que compreendemos que representa Cristo. No entanto, se não há o que dizer de Meyers, este outro, talvez, nunca tenha pisado em um palco antes e isso é bom perceber, pois, valoriza a prática teatral. Estar no palco, não é como estar na rua, na sala de casa. Contracenar com o Inquisidor exige, sem dúvida, uma tensão corporal que não estava lá. 

O texto vai ficando agressivo. Uma atitude muito significativa encerra os 55 minutos de espetáculo. O "pretenso" Cristo levanta do seu lugar e vai até o outro e lhe dá um beijo. Ação que é narrada e justificada como reação a tudo que foi dito. O caminhar é frágil. O beijo nem morno. Não convencem. Termina o espetáculo.  Estou incomodada. É teatro? Claro.  É um excelente ator? Indiscutível. Mas, lembro de todas as vezes que fui crítica em relação as novas propostas de teatro em que os atores tinham que plantar bananeira, ficar pendurados pelas paredes, misturar-se com o público e que me diziam que eu tinha que gostar. E agora? Agora, Peter Brook vem (vem?) mais uma vez minimalista? Que o espetáculo é, basicamente, o texto? 

Se o professor Décio de Almeida Prado soubesse, não teria dito que não daria conta de continuar fazendo críticas no teatro contemporâneo. Estou sempre dizendo: a vida, como a arte é cíclica. Sabe aquele lance da moda? Saia lá no pé, saia lá no umbigo? Pois é. Vi isso no Porto Alegre em cena e agora estou a refletir o que EU espero do teatro e não o que eu tenho que gostar. 

2 comments:

  1. Olá Helena, tudo bem?
    Gostei muito de como vc escreve. Sou diretor da Cia. Tripatl que esteve no POA com Zona de Guerra e Longa Viagem. Gostaria de saber se vc assistiu!
    ABS

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  2. Infelizmente,não. Agradeço o teu elogio. Fico feliz.

    Tens como mandar o teu email para mim? Estou fazendo uma pesquisa para o meu mestrado em Artes cênicas e acredito que tu possas colaborar.

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