Wednesday, September 09, 2015

O vazio político em cena


Primeiro pensei nos equívocos que poderia cometer ao escrever sobre um texto que tão pouco conheço.  Uma das obras de Shakespeare, meu autor preferido, que ainda não li. Mas, afinal, o teatro exige conhecimentos prévios ou a pessoa que vai assistir deve compreender o que acontece em cena mesmo que seja a sua primeira vez na plateia? Enquanto me questiono sobre isso, resolvi comentar sobre o espetáculo que assisti ontem. Não há dúvida de que os atores Caco Ciocler e Carmo Dalla Vecchia são capazes de bem interpretar o texto dando vida, inclusive  a mais personagens.  Entretanto, apesar da competência do elenco enxuto, estranho a proposta cênica do diretor Roberto Alvim para Ceasar. Minimalista, eu diria. Quase nada de cenário. Um figurino austero, todo negro. Há poucos dias, eu comentava sobre as radionovelas. Essa peça me trouxe novamente à lembrança. Ficaria extasiada se apenas ouvisse o espetáculo.  Ao ver, porém, os poucos gestos dos atores não me tocam. Os deslocamentos são contidos, partituras. A fala dos atores é cheia de nuances. Mas, assim como murmurar por muito tempo ou gritar por vários momentos torna exaustivo para quem assiste, oscilar entre esses dois, também pode causar um desconforto que não me parece proposital.
Há um jogo de luz e sombra interessante. Coloca ou retira os atores da cena.  Sublinha, ofusca ou suaviza. Mas daquela limpeza toda de elementos, de repente, uma vela parece ser um dos poucos itens a trazer algo que elimine a ausência de tudo. Mas, também me dá a impressão que destoa de todo o resto. Assim, como o acender dos charutos.  
É bom um teatro que dê tanto valor ao texto. Ainda mais de um autor que parece ser tão preciso em cada palavra, porém, essa escolha de deslocamentos ríspidos não me conquistou. Essa limpeza de movimentos tão radical deixou, a meu ver, o texto frio, mesmo que fale de conspirações e assassinatos. A música é o elemento mais teatral do espetáculo.  A trilha sonora de Vladimir Safatle executada ao vivo no piano é um personagem. Ela dá dramaticidade, suspense, suaviza e quase agride, provocando diversos momentos de tensão. Quem diria que o simples fechar de um piano repetidamente pareceria quase um tambor? Em determinados momentos, chega a roubar a cena, eu diria. Cena esta que quase não existe.
Engana-se, porém, quem pensa que com isso, quero dizer que não valha a pena assistir. O teatro estava lotado e os aplausos do final garantem que a plateia não está de acordo com as minhas impressões. O teatro sempre significará coisas distintas, provocando sensações e opiniões diversas para quem assiste. Assim deve ser a arte. Assim deve ser a vida.