Sunday, October 24, 2010

A boba da corte
De início, o nome Arte na Corte me parecia um pouco arrogante. Vinha a minha mente reis, rainhas e castelos. Algo esnobe. Porém, o lançamento desta proposta, que visa uma integração entre arte, cultura, língua, música veio para me fazer pensar de uma maneira bem diferente. O lugar provisório no Bom Fim é uma casa antiga, salas de pé direito alto, mesas, sofás, bem aconchegante, na verdade. Sabendo que haveria uma certa improvisação no serviço e que o cardápio seria reduzido, fui surpreendida pelo sabor do que era oferecido e pela simpatia das pessoas que se esforçavam para atender de maneira gentil e eficiente. Rapidamente, as pessoas iam se juntando e era visível que as conversas vinham fácil e a integração ocorria rapidamente.
Assim, estavam todos se divertindo quando Vera Mello pegou o microfone para apresentar as pessoas da casa, um lugar agora chamado Passageiro 59 que pretende manter atividades como esta com certa frequência. O assunto divulgado no convite super bem feito era a única coisa que eu, realmente, já sabia: Tour de France. Entretanto, pouco sabia sobre o tema. Assim, toda e qualquer informação recebida foi bem-vinda. Cansada do longo dia de trabalho, imaginava quanto tempo duraria a fala desta professora de francês que sempre pesquisa sobre o que vai dizer para os seus alunos que, nesta noite éramos nós. Porém, ela teve a sensibilidade de não se estender e mais, o jogo de cintura de descobrir naquele momento que a famosa corrida de bicicleta já não era tão importante assim para os franceses e trazer isso à tona pela voz de um francês que compareceu ao encontro. Desta forma, mesmo que ele viesse para contrapor algumas de suas colocações anteriores, sem dúvida, valorizava ainda mais a apresentação.
Como se isso não bastasse ainda escutamos a vencedora do Festival da canção francesa deste ano Luana Pacheco cantar L’amour. Assim, a Arte na Corte cumpriu com sua promessa de um jeito gostoso de fechar a semana e ainda “entregou” algumas surpresas como eu descobrir que minha irmã, que se diz uma rígida virginiana, fala muito bem em público e ainda por cima no microfone! Fiquei boba. E como nenhum evento, por menor que seja, “termina depois que acaba”, este rendeu conversas que me fizeram descobrir que Samuel Beckett escreveu Esperando Godott  justamente por causa de um dos competidores do Tour de France que todos esperavam e que não chegava nunca. Cultura é isso. Algo que cresce e se multiplica. E mesmo que alguns reis e rainhas não soubessem, são mais valiosos do que os bens, pois não acaba nunca e não pode ser roubada. Uma vez que chega até nós, será nossa para sempre.
PS: Por falar em roubar, sai com a caneta que me emprestaram para que eu pudesse fazer as anotações que gerariam este texto. 

Sunday, October 17, 2010






Se você quer cantar, cante.
Bem, se você quer cantar, cante
E se você quer ser livre, seja
Porque existem muitas coisas pra ser
Você sabe que sim
E se você quer viver pra cima, viva
E se você quer viver pra baixo, viva
Poque existem muitos caminhos pra ir
Você sabe que sim
Você pode fazer o que quer
A oportunidade está aí
E você pode encontrar um novo caminhos
Pode fazer isso hoje
Fazer com que tudo seja verdadeiro
Fazer com que seja desfeito
Você vê ah ah ah
É fácil ah ah ah
Você só tem que querer
Bem, se você quer dizer sim, diga
E se você quer dizer não, diga
Porque existem muitos caminhos pra ir
Você sabe que sim
E se você quer ser eu, seja
E se você quer ser você, seja
Porque existem muitas coisas pra se fazer
Você sabe que sim
Bem, se você quer cantar, cante
E se você quer ser livre, seja
Porque existem muitas coisas pra ser
Você sabe que sim
Você sabe que sim
Você sabe que sim
Você sabe que sim

Música de Cat Stevens em Ensina-me a Viver




http://www.youtube.com/watch?v=NDq36YD1ESM

Tuesday, October 12, 2010

RICARDO SILVESTRIN

Por Ramon Mello

A MUTIPLICIDADE DE UM POETA

Passeando pelo calçadão virtual, no Orkut, conheci um poeta gaúcho chamado Ricardo Silvestrin. Fiquei entusiasmado ao esbarrar no site dele e perceber que a música, o jornalismo, a performance e o universo acadêmico são quintais explorados pelo poeta. Desde então, indico a leitura dos seus poemas para todos os meus amigos.

Formado em Letras pela UFRS, Silvestrin coleciona publicações em verso e prosa, além de se dedicar à Editora Ameop e ao grupo PoETs - que acaba de lançar o CD Música Legal com Letra Bacana, que mistura música e poesia com bastante humor.

Não li todos os seus livros, mas tive acesso ao O Menos Vendido (Nankin Editorial), uma coletânea com poemas inéditos, que transmite a vontade de dizer a poesia para outras pessoas. Este livro recebeu o Prêmio Açorianos, de melhor livro de poesia de 2007, concedido pela Coordenação do Livro e Literatura da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. É o terceiro livro do poeta a receber a premiação.



eu poderia ficar a noite inteira aqui

a vida inteira

escrevendo esses poemas

mas preciso viver um pouquinho

para ter mais assunto



Gostou? Então leia o resultado desse encontro virtual, que aconteceu por MSN, com o poeta Ricardo Silvestrin.



CLICK(IN)VERSOS – É difícil trabalhar com literatura fora do eixo RIO- SP?

RICARDO SILVESTRIN - Não. A literatura é sempre fora dos eixos.

CLICK(IN)VERSOS – Internet ajuda a literatura? Como é a sua relação com a Internet?

RICARDO SILVESTRIN - Sim. Hoje conheço muitas pessoas de fora do RS. Mas sempre tive um trânsito bom em todo o Brasil. Desde os anos 80, Alice Ruiz, Leminski, Mano Melo, entre outros, sempre trocaram figurinhas comigo, mesmo sem Internet.


CLICK(IN)VERSOS – Como acontecia essa troca?

RICARDO SILVESTRIN - Por exemplo, a Alice e o Paulo vieram a Porto Alegre para um evento em 1987. Passei meu livro ‘Viagem dos Olhos’ para eles. Gostaram e convidaram para ir ao Encontro Brasileiro de Haicai em SP... Fomos... A Roda de Poesia, um evento que havia no Brique da Redenção por aqui também recebia os poetas que chegavam... Os poetas estão sempre ligados, de uma forma ou de outra se acham.

CLICK(IN)VERSOS – Eu conheci o seu trabalho na Web. A Internet colabora para a Literatura de que maneira? Existe a tão discutida 'Literatura de Internet'?

RICARDO SILVESTRIN - No meu caso, sou pré-internet. Demorei inclusive para fazer um site. No meu site, coloquei todas as faces da minha produção: a poesia com os 6 livros para adultos, mais os 4 de poesia para crianças, mais o caminho para o site dos poETs com o trabalho musical, os ensaios, a crítica a meu respeito, enfim, reuni tudo para que me visse por inteiro.

CLICK(IN)VERSOS – Quando você começou a se interessar por Literatura?


RICARDO SILVESTRIN - Desde criança, estou sempre ligado a coisas criativas, fazendo música, peça de teatro, na escola, em casa, com os amigos... Gostava muito das aulas de português, das crônicas, dos poemas nos livros como o Criatividade, que tinha quadrinhos, letras de música, poemas... Aos 15 anos, queria fazer uma banda de rock pesado, mas não tocava nada. Comecei a escrever letras para uma banda que não existia. Então, li o Manuel Bandeira e vi que queria ser poeta. Vi que o texto poderia ficar no papel e ser rock and roll.

CLICK(IN)VERSOS – Você lançou o CD Música Legal com Letra Bacana, com o PoETs. Como é essa relação de música e poesia?

RICARDO SILVESTRIN - Tem uma parte do trabalho de letra e de poema em que há uma intersecção entre as duas artes, que é na construção do verso. E tem outra parte em que cada uma das artes tem a sua especificidade (nós brincamos que falar essa palavra especificidade é um teste pra saber se o cara está bêbado...)

CLICK(IN)VERSOS – Letra de música é poesia? Ou poesia é letra de música?

RICARDO SILVESTRIN - A letra é parte da música. Tem a harmonia da música, a melodia da música, o ritmo da música, o pulso da música, a interpretação da música e a letra da música. A letra de música não tem esse nome por acaso. Não é um lapso: puxa esquecemos de chamar de poesia. Isso não tem nada que ver com uma idéia de valor. A letra é uma arte que pode ser tão culta e criativa quanto a poesia (escrita ou falada).

CLICK(IN)VERSOS – O que você prefere fazer música ou poesia? Por que?


RICARDO SILVESTRIN - Tem que escolher? A minha arte número um é a poesia. Adoro o poema no papel. Gosto muito também da música e da letra e do palco e de cantar. O que aprendi criando foi a compor a melodia e aí colocar a letra. É um trabalho também muito divertido.


CLICK(IN)VERSOS - É diferente o processo de criação da poesia e da música? Como acontece com você?

RICARDO SILVESTRIN - Sim. Poesia escrevo sozinho. Tenho um caminho criativo já de muitos anos. Vivo pensando em poesia. Se mostram uma caixinha de papelão, já penso, ó ficaria legal uns poemas ali dentro... Exploro possibilidades, leio os outros, enfim, sou poeta. Na letra, e não apenas na letra, na composição da música, trabalho predominantemente com o Ronald Augusto e o Alexandre Brito, que junto comigo formamos poETs. Nosso processo é coletivo. Juntos criamos uma seqüência de acordes (ou um já traz), daí partimos para a criação da melodia e só no fim colocamos a letra. E mesmo quando escrevo uma letra apenas para algum músico, penso numa letra e não num poema. Penso em algo bom de ser cantado. No poema, crio algo para ser lido.

CLICK(IN)VERSOS - Não tem vontade de escrever prosa?

RICARDO SILVESTRIN - Sim. Vou lançar um livro de contos em Abril. São 17 contos, cada um com a sua história. E tenho também uma coluna quinzenal com ensaios/crônicas no jornal Zero Hora.

CLICK(IN)VERSOS - E como é a experiência de escrever para jornal?

RICARDO SILVESTRIN - No jornal, o pedido da editoria é que fale sempre de algo relacionado à cultura, arte. Então, faço um misto de mini-ensaio com uma linguagem de crônica. Procura revelar algo interessante, mostrar um enfoque, ampliar o repertório dos leitores. A receptividade tem sido muito boa. Muita gente me escreve ou fala que leu.

CLICK(IN)VERSOS - Por que escrever? Por que poesia?

RICARDO SILVESTRIN - Escrevo para ser lido. Pelos outros e por mim mesmo. E poesia porque amo poesia.

CLICK(IN)VERSOS - O menos vendido, ex-Peri,mental, Palavra Mágica, Quase eu, Bashô um santo em mim e Viagem dos olhos, além dos infantis O baú do Gogó, Pequenas observações sobre a vida em outros planetas, É tudo invenção e Mmmmonstro!. Qual o seu preferido?


RICARDO SILVESTRIN - Acho que O Menos Vendido coloca uma produção de 336 páginas, só com poemas inéditos, que foram trabalhados com muita dedicação, ao longo de anos. O Palavra Mágica também reúne uma produção forte, foi a consolidação de uma procura estética. É tudo invenção foi um desafio legal, escrever poemas longos todos com aquela temática de encontrar versões para algumas coisas foram inventadas.

CLICK(IN)VERSOS - Porque você convidou o poeta Antônio Carlos Secchin para apresentar o seu livro O Menos Vendido?

RICARDO SILVESTRIN - O dos Planetas também tem um senso de humor e uma surpresa que me alegra muito. Enfim... O Secchin conheceu a minha poesia através de um jornal que circulou aí pelo Rio. Ele gostou muito do poema que leu e colocou como encerramento de uma aula inaugural numa universidade carioca. Saiu um livro com essa aula, e ele ligou para Porto Alegre atrás de mim para mandar o livro. Um cara que é um excelente poeta, que publica um poema meu e ainda acha um jeito de me achar merece um tratamento especial. O Pequenas Obsevações Sobre a Vida em Outros Planetas já está com 20 mil exemplares vendidos. A piazada adora.

CLICK(IN)VERSOS - Você é professor é graduado em Letras. O conhecimento acadêmico atrapalha na sua produção poética?

RICARDO SILVESTRIN - Não. Fui fazer Letras para conhecer mais o que faço. Achei alguns professores que foram importantes na minha busca: Tânia Carvalhal, Donaldo Schüler, enfim, gente que sabe das coisas.

CLICK(IN)VERSOS - Você também trabalha como publicitário. É impossível viver de literatura?

RICARDO SILVESTRIN - É impossível viver sem literatura.

CLICK(IN)VERSOS - Você tem uma editora, a AMEOP. Fale um pouco sobre esse trabalho.

RICARDO SILVESTRIN - A AMEOP lançou 14 livros de 14 poetas: Alice Ruiz, Glauco Mattoso, Estrela Ruiz Leminski, Frank Jorge, Paulo Seben, Alexandre Brito, Ronald Augusto, entre outros. Fomos, eu e o Alexandre Brito, atrás de patrocinadores. Conseguimos. A idéia foi lançar os livros em precisar de grana de autor. Nem nossa! Fizemos lançamentos em Porto Alegre, Curitiba, Campinas e São Paulo. Sempre em sessões de autógrafos com vários poetas. Vendemos cerca de 150 livros em cada lançamento. Foi capa da Ilustrada.

CLICK(IN)VERSOS – Como conseguem grana para a publicação?

RICARDO SILVESTRIN - Pedimos papel para a Ripasa. E as gráficas Metrópole e Maredi imprimem. Mas o fundamental é a qualidade dos livros. Colocamos 14 bons poetas nas livrarias.

CLICK(IN)VERSOS – Qual o critério para escolha dos poetas que serão publicados?

RICARDO SILVESTRIN - O que eu e o Alexandre gostarmos.

CLICK(IN)VERSOS – Os títulos dos seus livros são bem criativos O Menos Vendido , Culto e Grosso. Como é o processo de escolha dos títulos dos seus livros?

RICARDO SILVESTRIN - Adoro criar títulos. Bashô um santo em mim começou pelo título. Tenho outros títulos sem livro ou que já foram o título, mas depois mudei. Guardo o título, quem sabe o uso mais adiante. O Menos Vendido é um exemplo disso. Penso numa solução que seja sonora e que cause uma curiosidade. Antes de tudo, que me divirta.

CLICK(IN)VERSOS – Você tem três livros infantis publicados. É diferente escrever para crianças e adultos?

RICARDO SILVESTRIN - Para ambos, escrevi poesia. A primeira coisa que me orienta é fazer um bom poema. A diferença nos para crianças e que procuro não fazer um poema difícil de entender nem com temática exclusivamente adulta. Desse modo, meus poemas para crianças são lidos também por adultos. E vários dos livros de adultos falo para as crianças quando vou a escolas.

CLICK(IN)VERSOS – Você tem filhos?

RICARDO SILVESTRIN - Sim. A Carolina, que tem 19, e o Leonardo, que tem 10. Os dois gostam muito de arte. Gostam também de criar.

CLICK(IN)VERSOS – Você publica desde os anos 80. Como você analisa o movimento literário atual?

RICARDO SILVESTRIN - Acho que está havendo uma boa agitação tanto do mercado editorial, com as grandes editoras investindo, publicando, com grana dessas fusões, como da troca por Internet, além de eventos, saraus, shows, feiras de livro por todo o país, atividades em escolas. Houve um período ali nos anos 90 de baixa das editoras. Mas agora vejo com otimismo um grande interesse pela literatura.

CLICK(IN)VERSOS – Você lê os autores contemporâneos? Quem? Quais são os artistas gaúchos que você admira?


RICARDO SILVESTRIN - O bom da literatura é que sempre se está descobrindo novos autores. Por exemplo, o Erasmo de Roterdã, de 1511, é um autor novo para mim e com uma visão de mundo extremamente contemporânea no seu Elogio da Loucura. Mas sobres os contemporâneos-contemporâneos, na poesia, gosto muito de Geraldo Carneiro, Antônio Cícero, Chacal, Alice Ruiz, Ferreira Gullar, João Angelo Salvadori, Ronald Augusto, Alexandre Brito, Paulo Seben, Roberto Silvestrin, Glauco Mattoso, Augusto de Campos, pra ficar nos vivos. Dos gaúchos, tem na lista acima quatro deles.

CLICK(IN)VERSOS – O que e/ou quem te influencia diretamente?

RICARDO SILVESTRIN - Ler poesia. Ver filme. Ver uma exposição de artes plásticas. Ouvir um cd. Rock, jazz...

CLICK(IN)VERSOS – O que você diria para um alguém que deseja ser escritor?

RICARDO SILVESTRIN - Que seja bom! Assim eu posso ler!

Dezembro de 2007 - Link publicado recentemente no Facebook, pelo Ricardo.