Wednesday, September 17, 2008

Zé Celso a meus pés


Bem, antes de mais nada, acho melhor explicar o título de hoje.  Como afirmou Sófocles em Édipo, outra obra de teatro: “não se foge ao seu destino”.  Estava na fila do espetáculo do Zé Celso, ontem no gasômetro com uma colega. Lá dentro encontrei outro e foi ele que definiu o lugar que sentaríamos. Quem veio sentar justamente aos meus pés durante todo o primeiro ato? Nada mais, nada menos que o próprio diretor de Os Bandidos, uma adaptação de Friedrich Schiller.  

Zé Celso, que, como ele mesmo diz,  não separa a vida da arte, traz em cena a discussão que persiste do Usyna Usona com o grupo Silvio Santos.  Pronto? É isso? Claro que não. Só quem não o conhece para pensar que seria possível resumir tudo o que acontece nas tais cinco horas (ontem foram seis) de espetáculo. O espetáculo é artístico, político, poético, imagético, tecnológico. Pense em alguma coisa que faz parte do teatro contemporâneo...estava lá. Música ao vivo, telões gigantes, computadores. Uma parafernália que só uma cabeça louca pode dar conta de misturar.  

Fico imaginando que quem simplesmente diz que não gosta do espetáculo, não pára para pensar que tudo aquilo saiu da cabeça de um ser humano, igualzinho a nossa que, como a minha neste momento, pensa no café da manhã. Assim, sendo, não tem como seguir completamente a narrativa. Ela não é mesmo linear. Provavelmente, nem tenha sido feita para ser seguida. Mas, Zé Celso se diverte colocando diversas referências a outras obras, outros diretores, outras personalidades da vida e das artes, outros, outros, outros.

Pesquiso informações e vejo que, no enredo original, os irmãos aristocratas Karl e Franz disputam o amor paterno e sua herança. Idealista, Karl filia-se a uma gangue para questionar o status quo, ao passo que Franz parece envenenar o pai contra o irmão. “Parece”, pois aqui os arquétipos são instáveis. Na releitura de Zé Celso, Cosme e Damião estão no centro da disputa pelo poder na multinacional do audiovisual Pro-World Corporation SS, que celebra 50 anos de atividade às voltas com outro jubileu de ouro, o de um certo teatro paulistano. No meu ponto de vista, continuar descrevendo esta história não vai levar ninguém a ter uma idéia do que são os bandidos.

E com toda a irreverência tão característica dos seus espetáculos, o espetáculo é todo em verso, onde todos os personagens têm algum momento de destaque, lembrando que teatro é uma arte de grupo, mesmo que este não seja o original dos 50 anos do Usyna Usona, isto leva a crer que, se ele ainda continua a ter que disputar por espaço para a sua arte, por outro lado, conseguiu atingir todos os seus objetivos em formar um grupo coeso e de atores e atrizes que impressionam. Isso, porém, não deveria surpreender, porque para fazer parte do universo de Zé Celso é preciso uma entrega que não é qualquer um que se dispõe e consegue fazer.

Zé Celso é um homem do seu tempo, mas, é também, um homem que está além. Ontem, tive mais uma vez a confirmação de que ele continuará sendo estudado nos bancos acadêmicos e que, provavelmente, ainda há muita coisa da sua obra que será melhor apreciada no futuro. Enquanto isso, ele segue tendo que, de vez em quando, replicar a crítica que insiste em tentar enquadrá-lo e a lutar por um espaço não para si, não para o Usyna Usona, mas para a arte brasileira. 

Eu pude ficar vendo aos meus pés, este homem que tem uma energia que só o prazer de fazer teatro pode dar. Que grita para incentivar o público em determinados momentos, bate no chão quando acha que a peça está perdendo o ritmo e ri quando seus atores conseguem colocar em cena aquilo que até então só estava em sua cabeça genial.

3 comments:

  1. achei bonita a foto. que bom então gostou da peça? hoje eu vou ver uma no são pedro.

    bjus

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  2. Desde que me conheço como pessoa de teatro ouço falar em espetáculo em comunhão palco e platéia. Teatro orgiástico e dionisíaco!
    Eu vi isso tudo lá!
    Pena que não podia beber!!!


    Foda-se quem prefere ver uma lesma andar 50 metros ao invés de ir presenciar o que, realmente, é teatro!

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