Minha
proximidade com Igor Ramos começou justamente em uma apresentação do Teatro
Aberto. Bem na hora em que o seu grupo apresentava, com o teatro Renascença
lotado, falta luz. E a peça era boa. O Magico de Oz estava em ótimas mãos. Os
atores divertindo a plateia, emocionando. Ninguém queria ir embora. Foi um
momento tenso. Lembro da atriz que fazia a bruxa aos prantos. Mas, eles fizeram
algo muito difícil: a luz voltou e eles terminaram o espetáculo. Desde então, passei
a prestar mais atenção no trabalho dele. Acabamos amigos e ele sempre me
convida para ver o que está fazendo. Hoje, fui assistir O Chapeleiro Maluco, no
mesmo evento do ano em que nos conhecemos. Sim, eu vou para gostar. Mas, não
saberia fazer isso forçadamente. Acontece que o trabalho do Igor tem um cuidado
e um capricho que são especiais e que ficam evidentes neste espetáculo. Pode
ter quase nada de cenário. Mas, uma tábua vai ser uma mesa e vai ser também o
Big Ben. Isso mesmo. Aquele relógio inglês, ponto turístico da cidade. Acontece
que o Grupo Leva Eu se dedica ao básico do teatro, a uma história bem contada,
a autenticidade dos seus atores Juliana
Johann, Josué Fraga e Alessandra Souza que são harmônicos e
revelam a potência do teatro feito sem protagonismos e com poucos recursos.
Como havia muitas falas em inglês (embora fossem traduzidas) tive dúvidas da
compreensão. Mas, a reação do público demonstrou que isso não chegou a ser uma
barreira. Aliás, as crianças que lotaram a sala deram uma aula de comportamento.
E é na criatividade de usar uma luz estroboscópica para mostrar a passagem dos
personagens por um local desconhecido, no jogo entre o imaginário do espaço delineado
pelas falas e atuações e o realismo de uma xícara de chá que vai parar na mão
do público, que O Chapeleiro Maluco vai se mostrando um teatro infantil que
respeita quem vai ao teatro. Assim, eles conseguem comprovar, mais uma vez, que
o teatro é uma das artes mais criativas que existe. Que, se bem feito, pode nos
fazer viajar de Porto Alegre à capital da Inglaterra em segundos. E por respeitar todo esforço que significa
levar ao palco um trabalho assim é que eu não vou indicar aqui os poucos pontos
que eu acho que poderiam melhorar e não faço isso, também, porque o diretor tem
a humildade de dizer que está aberto as minhas considerações e reage ao meu
comentário dizendo que estava, justamente, querendo esse olhar de fora. Assim, não
preciso enfatizar algo que, provavelmente, já estará diferente nas próximas
apresentações. Essa atitude traz à tona uma das características mais
importantes do teatro que, como arte viva, é diferente a cada representação e, ao
contrário do cinema, pode ir se construindo a partir da experiência e do
público, garantindo o verdadeiro sentido do Teatro Aberto e de um diretor amigo.
Os amigos me convenceram a começar o meu blog. Sou jornalista e mestra em artes cênicas. Sempre adorei escrever e tenho enviado textos para os meus conhecidos com uma certa frequência. Os assuntos? Os mais variados possíveis, mas, ligados as minhas experiências, ao que acho de tudo que está em minha volta. Gostaria de compartilhar com mais pessoas.
Thursday, May 21, 2015
Sunday, May 03, 2015
Abobrinhas com novos recheios
Já escrevi antes sobre este espetáculo, mas, a bem da verdade, o que vi hoje não era a mesma coisa. De qualquer forma, é um novo desafio escrever sobre Abobrinhas recheadas. Porque se engana quem pensa que é só de humor que se trata o que é colocado em cena. É uma linguagem que eu ainda não havia lido nada sobre ela. É em cima da mímica, mas vai além. Lembra algumas brincadeiras de criança e, se traz a música da Velha a fiar, o que vemos no palco é um exercício de sincronicidade, de trabalho em conjunto que faz com que a plateia lotada, logo perceba que é uma cena que merece ser fortemente aplaudida. E, se outros espetáculos ou atores, acham difícil conquistar o público, Diego Mac faz isso desde o começo. Daniela Aquino, Denis Gosch, Joana Amaral e Nilton Gaffree são de uma eficiência perturbadora, pois, não raro, não sabemos a quem prestar mais atenção. E os números apresentados vão da sutileza da música de Adriana Calcanhoto ao caos de Renato Russo. E, enquanto assisto a expressividade dos gestos e movimentos faciais de Daniela Aquino, Denis Gosh e Nilton Gaffre penso que seria ótimo se a cantora pudesse vê-los, pois, as escolhas feitas acrescentam novos sentidos à música. Um repertório eclético, cômico, romântico, brega, onde só eles conseguem me fazer ver alguma utilidade em uma música que diz “vou te amarrar na minha cama”. Não vou fingir que tenho competência para analisar exatamente o que está por trás do que faz rir as pessoas presentes ou de alguém gritar “bravo” para a ação dos atores/bailarinos sobre uma música das mais simplórias. Mas, ao mesmo tempo, é muito claro para mim que existe um forte trabalho de pesquisa para chegar naquele resultado. Algo que pode partir do improviso, mas que acaba colado em cada palavra, como se a única forma de expressar aquele sentido fosse aquele gesto e não milhares de outros possíveis. E, justamente quando eu estou pensando que seria bom se o Abobrinhas começasse a fazer como o Tangos e Tragédias e convidar alguém para a plateia, Joana Amaral faz uma linda interpretação de Feito picolé ao sol, do Nico Nicolaiewsky e sou pega pela emoção. Como posso sentir saudade de alguém que nem conheci? Mas, é exatamente o que os artistas fazem conosco. E aqui eles trazem essa harmonia entre os integrantes e, ao mesmo tempo diversidade. E isso é explorado da melhor maneira nos “números” individuais e nos feitos pelo grupo. Espero que os alunos do Departamento de Artes cênicas da UFRGS tenham tido a oportunidade de ver sua professora em cena e observar a capacidade dessa linda mulher ser tão expressiva e cômica. Denis Gosch é, para mim, o nosso Philip Seymour Hoffman e isso é uma das coisas que me faz pensar que essa forma de interpretar as músicas deveria percorrer não apenas o Brasil, mas ir lá para fora, mostrando o que está sendo feito por aqui. E, como se meus pensamentos também fizessem parte da apresentação de hoje, o grupo encerra com uma música em inglês e a distribuição de Bis (o chocolate) para a plateia que aplaude com prazer. De minha parte, quero uma vida longa ao Abobrinha. A ponto de quando eu procurar uma imagem no site de pesquisa, não me venha a receita do alimento, mas a foto desse grupo cheio de talentos.
Subscribe to:
Posts (Atom)