Monday, September 29, 2008

Caetano, me perdoa...

Ontem, assisti ao show de Roberto Carlos e Caetano Veloso na televisão. Antes de comentar, queria dizer que cresci ouvindo Roberto Carlos. No tempo, em que suas músicas eram “rebeldes”, Maria Rita não tinha chegado nem perto e ele não tinha todas as tais manias.  

 

Cheguei à adolescência, curtindo minhas primeiras decepções e saudades ainda ouvindo suas músicas. “Detalhes tão pequenos de nós dois...” Mas, logo em seguida, fui apresentada a Caetano Veloso e daí, não teve mais volta. Tenho apenas dois ídolos na vida que já se aproxima de meio século: Caetano e Mario Quintana. A voz doce de Caetano, seu jeito displicente, ia na contramão da minha rotina, das cobranças e da rigidez de meus pais. Ele conseguia me provar que a poesia não precisa ficar distante da razão, da lógica, das opiniões fortes e contundentes. Em uma época em que a ansiedade e a insegurança me comiam por dentro, Caetano chegava para me fazer sentir em paz, feliz, amada, completa.

 

Com o passar dos anos, fui ouvindo menos música. Uma pena...e, com isso, menos Caetano. Mas, tento acompanhar o que ele vem fazendo, vejo as polêmicas que se criam ao seu redor e sigo com uma admiração total, coisa que só os ídolos podem ter.

A idéia de um show, reunindo estes dois para comemorar a Bossa Nova e cantar Tom Jobim era algo próximo da perfeição. No entanto, comecei a ler as notícias que antecipavam a possibilidade de assistir a este encontro e vi que não eram favoráveis. Duvidei. Quando vi Caetano abrindo aquele sorriso maroto que faz ele ter cara de menino apesar dos cabelos brancos pensei: que delícia!  Mas, Caetano saiu do palco e veio Roberto Carlos. Bem, já faz tempo que estranho tudo nele. Os cabelos, a cara amassada. Só reconheço a voz. Nunca achei ele bonito, mas, já faz alguns anos que eu acho ele meio deformado, mas, infelizmente, não só esteticamente. Vejo um homem duro, sem graça e foi esta sensação que acabei tendo durante todo o show. Nunca pensei que alguém conseguisse deixar o Caetano pouco à vontade. Pois achei que ele estava. Só conseguia lembrar dele e do Chico cantando juntos, em um programa que deixou tanta saudade. Isso que o Chico, principalmente naquela época, era um poço de timidez. Mas, dava para ver que eles se divertiam, que tinham carinho um pelo outro e que reconheciam e admiravam o talento do outro.

 

Não senti nada disso ontem. Eles foram cordiais, mas, foi só. E o que quer que existisse de dificuldade entre eles apareceu para mim. Acho que para o público também, apesar de ver as pessoas sorrindo, cantando junto e aplaudindo de pé. Acredito que não era exatamente aquele show que elas aplaudiam. Acho que era agradecendo àquelas duas pessoas por terem embalado suas emoções, por mostrar que existem coisas que ainda se mantêm e que nos acalentam ao longo da vida. Infelizmente, para mim, isso não foi o suficiente. 

Thursday, September 18, 2008

Onde está Peter Brook?

Tem gente que cria expectativa. Não adianta. Peter Brook é um. Depois de ver alguns poucos espetáculos ao longo de décadas, mas, também de ver  documentários e ler coisas sobre ele, a gente se interessa. Ponto. O cara sabe das coisas. Então, foi assim que lá me fui para o teatro do CIEE, mesmo lugar onde havia visto o lastimável O Imperador e Galileu e sentido um frio de "ranguear cusco". Bem, mas, é muito agradável ir esbarrando em gente conhecida, que tem os mesmos interesses e que comenta com entusiasmo outros espetáculos. É o real POA em Cena. 

O espetáculo começa. Não há cenário. Um tablado no chão. Duas banquetinhas. Dois homens sentados diagonalmente. O texto dito todo em inglês é forte, instigante. Questiona a presença de Cristo. A Humanidade. Resumindo: o que foi feito de nós. Bruce Meyers é impecável. Todas as entonações perfeitas. As inflexões corretas. Olhares e suspiros. A platéia não respira...mas tosse. Penso: estes deviam ter ficado em casa. Afinal, apesar da fala, praticamente, ininterrupta deste ator, o espetáculo é silencioso. Sua voz e nada mais. Há pequenos deslocamentos e, pouco a pouco, ele aproxima sua banqueta do outro que está no palco, que compreendemos que representa Cristo. No entanto, se não há o que dizer de Meyers, este outro, talvez, nunca tenha pisado em um palco antes e isso é bom perceber, pois, valoriza a prática teatral. Estar no palco, não é como estar na rua, na sala de casa. Contracenar com o Inquisidor exige, sem dúvida, uma tensão corporal que não estava lá. 

O texto vai ficando agressivo. Uma atitude muito significativa encerra os 55 minutos de espetáculo. O "pretenso" Cristo levanta do seu lugar e vai até o outro e lhe dá um beijo. Ação que é narrada e justificada como reação a tudo que foi dito. O caminhar é frágil. O beijo nem morno. Não convencem. Termina o espetáculo.  Estou incomodada. É teatro? Claro.  É um excelente ator? Indiscutível. Mas, lembro de todas as vezes que fui crítica em relação as novas propostas de teatro em que os atores tinham que plantar bananeira, ficar pendurados pelas paredes, misturar-se com o público e que me diziam que eu tinha que gostar. E agora? Agora, Peter Brook vem (vem?) mais uma vez minimalista? Que o espetáculo é, basicamente, o texto? 

Se o professor Décio de Almeida Prado soubesse, não teria dito que não daria conta de continuar fazendo críticas no teatro contemporâneo. Estou sempre dizendo: a vida, como a arte é cíclica. Sabe aquele lance da moda? Saia lá no pé, saia lá no umbigo? Pois é. Vi isso no Porto Alegre em cena e agora estou a refletir o que EU espero do teatro e não o que eu tenho que gostar. 

Wednesday, September 17, 2008

Zé Celso a meus pés


Bem, antes de mais nada, acho melhor explicar o título de hoje.  Como afirmou Sófocles em Édipo, outra obra de teatro: “não se foge ao seu destino”.  Estava na fila do espetáculo do Zé Celso, ontem no gasômetro com uma colega. Lá dentro encontrei outro e foi ele que definiu o lugar que sentaríamos. Quem veio sentar justamente aos meus pés durante todo o primeiro ato? Nada mais, nada menos que o próprio diretor de Os Bandidos, uma adaptação de Friedrich Schiller.  

Zé Celso, que, como ele mesmo diz,  não separa a vida da arte, traz em cena a discussão que persiste do Usyna Usona com o grupo Silvio Santos.  Pronto? É isso? Claro que não. Só quem não o conhece para pensar que seria possível resumir tudo o que acontece nas tais cinco horas (ontem foram seis) de espetáculo. O espetáculo é artístico, político, poético, imagético, tecnológico. Pense em alguma coisa que faz parte do teatro contemporâneo...estava lá. Música ao vivo, telões gigantes, computadores. Uma parafernália que só uma cabeça louca pode dar conta de misturar.  

Fico imaginando que quem simplesmente diz que não gosta do espetáculo, não pára para pensar que tudo aquilo saiu da cabeça de um ser humano, igualzinho a nossa que, como a minha neste momento, pensa no café da manhã. Assim, sendo, não tem como seguir completamente a narrativa. Ela não é mesmo linear. Provavelmente, nem tenha sido feita para ser seguida. Mas, Zé Celso se diverte colocando diversas referências a outras obras, outros diretores, outras personalidades da vida e das artes, outros, outros, outros.

Pesquiso informações e vejo que, no enredo original, os irmãos aristocratas Karl e Franz disputam o amor paterno e sua herança. Idealista, Karl filia-se a uma gangue para questionar o status quo, ao passo que Franz parece envenenar o pai contra o irmão. “Parece”, pois aqui os arquétipos são instáveis. Na releitura de Zé Celso, Cosme e Damião estão no centro da disputa pelo poder na multinacional do audiovisual Pro-World Corporation SS, que celebra 50 anos de atividade às voltas com outro jubileu de ouro, o de um certo teatro paulistano. No meu ponto de vista, continuar descrevendo esta história não vai levar ninguém a ter uma idéia do que são os bandidos.

E com toda a irreverência tão característica dos seus espetáculos, o espetáculo é todo em verso, onde todos os personagens têm algum momento de destaque, lembrando que teatro é uma arte de grupo, mesmo que este não seja o original dos 50 anos do Usyna Usona, isto leva a crer que, se ele ainda continua a ter que disputar por espaço para a sua arte, por outro lado, conseguiu atingir todos os seus objetivos em formar um grupo coeso e de atores e atrizes que impressionam. Isso, porém, não deveria surpreender, porque para fazer parte do universo de Zé Celso é preciso uma entrega que não é qualquer um que se dispõe e consegue fazer.

Zé Celso é um homem do seu tempo, mas, é também, um homem que está além. Ontem, tive mais uma vez a confirmação de que ele continuará sendo estudado nos bancos acadêmicos e que, provavelmente, ainda há muita coisa da sua obra que será melhor apreciada no futuro. Enquanto isso, ele segue tendo que, de vez em quando, replicar a crítica que insiste em tentar enquadrá-lo e a lutar por um espaço não para si, não para o Usyna Usona, mas para a arte brasileira. 

Eu pude ficar vendo aos meus pés, este homem que tem uma energia que só o prazer de fazer teatro pode dar. Que grita para incentivar o público em determinados momentos, bate no chão quando acha que a peça está perdendo o ritmo e ri quando seus atores conseguem colocar em cena aquilo que até então só estava em sua cabeça genial.

Estamos de olho


Foi com muita surpresa e um aperto no coração que dei de cara com esta nota no espaço do Informe Especial da Zero Hora de 16/09, na página 3:
 
Cinco vezes cinco horas
 
Atração do Porto Alegre Em Cena, Os Bandidos, peça de Zé Celso Martinez que estréia hoje, tem cinco horas de duração. Neste tempo, você poderia:
 
1. Ver seções de Batman - O cavaleiro das Trevas (152 minutos) e a Questão Humana (143 minutos), os dois filmes com  maior duração em cartaz em Porto Alegre
 
2. Sair de Porto Alegre, jantar em Gramado e voltar para casa.
 
3. Fazer por três vezes de ônibus, no horário do pico, o trajeto da linha 171, que liga a Estrada da Ponta Grossa, um dos extremos da Zona Sul, ao centro da Capital.
 
4. Acompanhar uma lesma percorrer metade do percurso da prova de cem metros rasos.
 
5. Dormir.
 
Resolvi escrever e enviar ao colega jornalista Marcio Pinheiro, a mensagem abaixo.
 
"Caro colega,
 
Não entendo o propósito da sua lista de cinco coisas que poderiam ser feitas no mesmo tempo do espetáculo de Zé Celso Martinez Correa. Tirando o fato de registrar o desconhecimento do trabalho que esse importante dramaturgo, encenador, ator e homem de profunda importância para  a cultura do país, não me parece acrescentar nada aos leitores deste nobre espaço.
 
É bem verdade que o tempo do espetáculo foge aos padrões de outras encenações brasileiras, mas Zé Celso não tem interesse nenhum em ficar preso a estes. Para este homem que acredita que o teatro é vida, cinco horas é, decididamente, pouco tempo para a existência de qualquer um. O que ele deseja é proporcionar uma experiência que fique na memória, que seja absorvida pela alma e que todo aquele que dela participe não seja o mesmo quando estas cinco horas terminarem.
 
Acredito que tu devas concordar que cinco horas é pouco tempo para mudar alguém, para fazer com que desista de acreditar em falsos heróis, perca sua vontade de consumo e combata seus preconceitos diante da arte e sua falta de ânimo, não só para ficar acordado, mas, vivo e atuante, capaz de mudar a si próprio e as coisas negativas e perniciosas que os rodeiam. Com força para reagir e calar todas as vozes que querem que eles continuem cegos, surdos e mudos, se deixando levar por aqueles que tem poder, mas, não tem a sensibilidade para compreender que o tempo é relativo e que cinco horas é pouco para realimentar o prazer daqueles que são sufocados por comparações  medíocres.
 
Mas, não tenho dúvidas de que existam aqueles que preferem acompanhar uma lesma e que sejam eles cinco vezes mais infelizes. "

Monday, September 15, 2008

Quando o diabo me botou para dormir

Bárbara Heliodora, em sua passagem por Porto Alegre, disse: “Eu vou ao teatro para gostar”. Eu também. Em época de festival fico até querendo ser “arrebatada”. Até agora isso não aconteceu. E, ontem, sabendo que Peter Brook que verei amanhã também não conseguiu fazer isso com uma amiga atriz na qual confio, começo a me preocupar. Mas, começo a pensar o que significa este “ir para gostar”. O que eu espero? Outro amigo ontem (vou ocultando os nomes, pois não sei se eles gostariam de serem expostos) dizia que não eram espetáculos para emocionar. Só que não é apenas isso que eu procuro. É verdade que me agrada assistir a algo que me deixe triste, alegre, nervosa, com medo. Fico bem impressionada quando algo que sei irreal me provoca aqui e agora estas sensações. No entanto, tenho interesse por novas técnicas, um belo trabalho de ator (já sei...tem gente que já se arrepiou só com este adjetivo aí...paciência!), cenografias criativas e por aí vai. O teatro é uma arte muito rica e, nos tempos de hoje, cada vez mais. O hibridismo (falei que queria ganhar dinheiro cada vez que ouvisse esta palavra...então, acho que também vou usá-la), esta mistura de linguagens, diminui ainda mais os limites do que é possível fazer no palco. Bom, mas, por que estou escrevendo tudo isso?

Ontem, assisti a Fausto, um clássico ocidental de Johann Wolfgang. O diretor Eimuntas Nekrosius já é meu conhecido de outros festivais. Assim, lá me fui cheia de expectativas positivas. O espetáculo tinha 3h e 50 minutos, com dois intervalos de 15.  Sabia que era longo, mas, não o tempo certo. Final da primeira parte: estou satisfeita. O texto é difícil, dito em lituano, então...A tradução é numa linguagem muito sofisticada. Mal consigo acompanhar a “historinha” (como costuma dizer outro colega), mas, isto não tem importância. Eles têm propostas cênicas interessantes e surpreendentes. Fica difícil até entender como eles conseguem utilizar recursos fáceis, simples de uma maneira tão impactante. São fios, luzes e o inusitado de um figurino branco que surge na cena final no meio dos demais todos pretos e o efeito é intenso. No segundo ato, seguem-se praticamente todos os elementos que eu já havia visto no primeiro. Minha atenção diminui.

No terceiro ato, começo a cochilar e o sono vem de um jeito incontrolável. Chego a sonhar com coisas bizarras e volto ao teatro. Outras pessoas dormem também. A maioria segue atenta. É bem verdade que eu vinha de uma semana cansativa e que relaxei no escuro e tal, mas, quero acreditar que o que acontecia no palco teve a ver com isso. Teria eu ficado sonâmbula também? Não sei se “faltou letras no meu alfabeto” para compreender o que se passava lá, nem sei se o fato de outros colegas atores e atrizes que eu encontrei na saída também acharem que o espetáculo era exaustivo me isenta do sentimento de culpa que fiquei por não resistir ao sono.

Se houvesse algo que eu pudesse fazer para que isso não acontecesse, teria feito. Ainda bem que o espetáculo foi na Reitoria e que eu estava bastante longe do palco. Odiaria que os atores vissem meus cochilos, pois, apesar destes, sei que a atuação do grupo merecia maior atenção. Bem, acabo de dar mais uma prova de que não tenho pretensões de fazer críticas, pois, não conheço nenhum que admitiria ter dormido na platéia. Pelo menos posso dizer que, apesar disso, valeu a pena ter ido.

Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio, baseada no médico, mágico e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos romances de ficção, o mais famoso deles do autor Goethe, produzido em duas partes, tendo sido escrito e reescrito ao longo de quase sessenta anos. A primeira parte - mais famosa - foi publicada em 1806 e a segunda, em 1832 - às vésperas da morte do autor.

Considerado símbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que lhe enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.

Fonte: wikipedia

Thursday, September 11, 2008

Aos mestres com carinho

Amanhã, termina a primeira fase das aulas da disciplina de mestrado Cultura e Prática Brasileira com o professor Walter Lima Torres. Precisava registrar aqui a minha satisfação em conhecer este verdadeiro mestre. Não apenas por seu currículo que inclui formação e experiências em Artes cênicas e doutorado na Sorbonne, mas, pela maneira generosa que repassa seus conhecimentos. Ele veio com um conteúdo estruturado, mas, esteve sempre aberto aos comentários sobre nossas experiências profissionais e de uma forma, extremamente, tranqüila e natural incentivou novas ações e sugeriu pesquisas.

Walter me faz lembrar Voltaire Schilling, meu professor de história no Instituto Educacional João XXIII quando eu tinha menos de 18 anos e que hoje dirige o Memorial do Rio Grande do Sul. Costumávamos dizer que ele sabia a cor das cuecas do Napoleão. Na verdade, o que acontecia é que percebíamos que o conhecimento dele não era algo superficial. Ele tinha se apropriado daquelas informações, triturado-as e nos repassava um conteúdo importante de uma forma agradável e divertida. Não sei qual é a sua altura, mas, quem o conhece sabe que ele é alto, tem uma estrutura forte e um visual engraçado. Mas, mesmo para alunos “aborrecentes” e críticos de tudo e de todos sua sapiência era indiscutível. Lá se vão quase 30 anos e ele é ainda uma forte recordação para mim. Ano passado, voltei a fazer um curso com ele e mesmo sabendo que havia uma grande dose de imaginação nestas memórias foi um enorme prazer entrar em contato com alguém que saiba tanto, sobre tanta coisa.

Bem, mas, voltando a esta semana, tenho novamente a alegria de ver entrar em meu caminho alguém que inspira respeito e admiração pelo que sabe e pelo que é. São pessoas assim, como Walter Lima Torres, bem como meus colegas (que têm sido testemunhas de tudo que digo aqui sobre ele) que fazem o mestrado valer a pena. O resto é história...melhor deixar com o Voltaire!

PS: Ah, o link para o blog do professor com vários conteúdos teatrais está aí na minha lista.

Monday, September 08, 2008

Saindo de Cena

Só vou ver outro espetáculo na quarta-feira. A megera domada. Peça daqui com amigos meus que já deveria ter visto faz tempo. Como sempre, vou para gostar. Hoje e amanhã faço uma pausa merecida já que desde sexta passo todas as tardes na oficina de Kil Abreu sobre crítica. Como disse para o meu colega Gilberto hoje, é óbvio (contrariando outra colega com este comentário) que não se aprende a fazer crítica em tão pouco tempo, mas, pelo menos estou tomando conhecimento do que não deveria fazer. Coisas aliás que provocariam mudanças profundas neste jeitinho que eu acabo escrevendo por aqui. Mas, blog é blog, crítica é crítica, então vejamos:

1. Não falar na primeira pessoa.
2. Não adjetivar elementos e atores
3. Evitar falar daquilo que não se sabe. Melhor não tocar no assunto do que tentar achar um significado que talvez não exista.
4. Dar ênfase aquilo que mais provocou interesse. 
5. Procurar um distanciamento do tema, evitando considerações pessoais.
6. Evitar apenas descrever o espetáculo. 

Bem, por enquanto, acho que é isso. Li meu texto sobre o espetáculo Determinadas Pessoas hoje na aula de crítica. De certa forma, pequei em todos os itens acima, mas, foi bacana ver o Kil dizendo que o texto era bom e que não era, realmente, fácil acertar o tom do que deve se escrever nestes casos. 

Buscando auxílio de meus colegas universitários, pedi que me mandassem definições sobre o trabalho dos atores. Confesso que eu não sei como falar disso sem adjetivar. Espero receber ajuda. Não somente deles, mas, de qualquer pessoa que tenha pensado a respeito.

Sugestões do Kil para espetáculos que estão em cena:

- Por Elise
- Amores Surdos





Sunday, September 07, 2008

Muito bem, camarada!

Lembro de Esther Góes do tempo que assistia novelas. De sua voz grave e seu jeito amoroso. Depois, cansei de seguir as histórias que repetiam suas fórmulas televisivas e, distante do eixo Rio-São Paulo, a perdi de vista. Foi com prazer que a reencontrei, ontem, no palco do Porto Alegre Em Cena com o espetáculo Determinadas Pessoas, dirigida por Ariel Borghi, seu filho.

O espetáculo sobre Helene Weigel, a mulher de Brecht, para quem não sabe, um dos dramaturgos mais importantes do século XX, é uma aula de teatro, sem o formalismo e os desconfortos das informações didáticas. Evitando compromissos com uma cronologia histórica rígida e linear, nos leva a conhecer ou identificar fatos ligados à vida destas duas pessoas tão importantes para o mundo das artes.

 

No palco, a projeção de imagens, contextualiza os acontecimentos. Poucos objetos complementam os espaços sugeridos. O resto fica a cargo da atuação competente de Esther Góes. Nesta, podemos ver o caráter forte desta mulher que é esposa, atriz, política, cujo papel foi tão importante seja nos palcos ou fora deles, colaborando, inclusive com a formação do Berliner Ensemble, a companhia de teatro épico. Há na narrativa um trânsito constante da vida particular do casal, para o palco e para o momento político da época. Percorremos assim, os acontecimentos, sejam de seu casamento com Brecht, da fuga do nazismo na Europa e nos Estados Unidos até à Alemanha, depois da guerra. A força expressiva de Esther no personagem de Helène leva a platéia a achar graça de sua maneira contundente e autêntica de dizer o que pensa, tornando evidente a sua contribuição na revolução das artes cênicas e na política provocadas por seu marido. 

O espetáculo inclui a apresentação de cenas de Mãe Coragem, Os Fuzis da Sra. Carrar, Frau Flintz, O Triunfo da Vontade e de músicas de Brecht. Cenário, luz, figurino aparecem de forma sutil apenas para compor o personagem de Heléne e contextualizar a época. Com exceção do uso de uma imensa carroça, usada apenas no final na remontagem de uma cena de Mãe Coragem, quando surge uma dramaticidade que antagoniza com o caráter épico do espetáculo tão coerente, até então. Mas, nem isso, nem as falas ditas em um tom levemente mais baixo no fundo do palco, comprometem o resultado.

Se precisasse resumir o espetáculo em uma só frase, usaria uma do próprio texto: “Política é a humanidade nas pessoas, não na teoria”, pois, é resgatando aspectos particulares da vida desta mulher que a peça traz à tona momentos vividos por estas duas personalidades: Helene Weigel e Brecht e recupera-se sua importância no mundo de hoje. 

Helena Mello

Friday, September 05, 2008

Xerxeeeeeeeeeeeeeeeeeeessssssssssssssssssss!

Escrevo pressionada pelo adiantado da hora e o fato de que amanhã já estarei vendo mais um espetáculo sobre o qual devo também comentar. Fui, ontem, assistir aos Persas, espetáculo alemão. Já havia escutado dois colegas de mestrado, nos quais confio, fazerem seus comentários. No entanto, ambos discordavam profundamente e me provocaram a ir ver a peça para fazer um desempate.

Eles já haviam me comentado que havia um lance bacana no começo e, é claro que isso criou expectativa. Resultado: fiquei lá esperando e mesmo achando interessante certa contracenação proposta (a única realmente), não achei tão significativo. No mais, não consigo compreender qual era a proposta. Quatro atores dizendo um texto enorme, praticamente sem nenhuma movimentação no palco e como cenário apenas uma enorme divisória de rodinhas. Roupas pretas, atuais. Terno, gravata, salto alto, pulseiras. Texto, texto, texto. A língua alemã rasgando os ouvidos do público, com o nome de um dos guerreiros, Xerxes, ditos aos berros.

A história de Ésquilo sobre os Persas parecia interessante, mas, seria menos desgastante ler em casa. Bem, mas gostaria de ser mais precisa nestas minhas considerações. Quando converso com outras pessoas de teatro, mesmo que nossas idéias sejam semelhantes, observo que elas têm maior capacidade de serem específicas. Referem-se à ausência de direção, por exemplo, ou criticam a atuação propriamente dita. Para mim, na maioria das vezes, não é claro o que não aconteceu.
Lendo agora Décio de Almeida Prado para a aula de amanhã da oficina de Critica do Kil Abreu, encontro uma frase que fala do que é preciso para que a transposição do real para o imaginário se opere. Bem, é justamente sobre isso que estou falando. No caso de ontem o que quer que seja, não estava lá. Décio diz ainda que para as crianças basta um: “era uma vez...”. Mas, para os adultos isso já não é suficiente e, talvez, tenha sido justamente isso que os alemães tenham feito com o texto do Esquilo, forçando esta narrativa.

Algo a remarcar? Sim, uma prova de habilidade técnica impressionante. Uma longa parte deste mesmo texto foi dita por dois atores ao mesmo tempo, sem nenhuma titubeação, nenhum erro. Provavelmente, a única coisa que mereceu aplausos ontem à noite, mas, como a impressão favorável já havia passado, nem estes eu dei. Se me sinto viva aplaudindo muitas vezes de pé algo que me arrebata, é libertador não fazê-lo quando não vejo razões para tal.

OS PERSAS
http://greciantiga.org/lit/lit05a-1.asp
Os Persas é a mais antiga tragédia que conhecemos na íntegra; fazia parte da tetralogia apresentada por Ésquilo durante a primavera de -472 e que obteve o primeiro prêmio no concurso. A tetralogia era composta das seguintes peças: Fineu, Os Persas, Glauco de Potnies e Prometeu, o Acendedor do Fogo; a última era, certamente, um drama satírico. Segundo a tradição, o corego designado pelo arconte foi o célebre estadista Péricles (-495/-429), então com apenas dezoito anos.
Com exceção de Os Persas, chegaram a nós somente alguns fragmentos das outras peças da tetralogia. Aparentemente, nenhuma delas tinha qualquer ligação com as demais.

Começa a Batalha de Salamina

MENSAGEIRO
Entretanto a noite passa sem que o[ exército gregotente qualquer fuga por mar.Mas, quando o dia de brancos corcéisbanhou a terra dos seus raios resplandecentes,eis que, do lado dos Gregos,irrompe um grande clamor, semelhante a um canto,cujo eco é devolvido pelos rochedos da ilha.O terror invade então todos os bárbaros,iludidos na sua expectativa, porque não era para fugirque os gregos entoavam o péan sagrado,mas para marchar para o combate, cheios de determinação[ e coragem.E o grito da trombeta incendiava os guerreiros.Logo os remos ressoantes, movidos ritmicamente à voz do[ chefe,feriram as águas profundas e, de repente,todos aparecem aos nossos olhos.A ala direita é a primeira a avançar, organizada,em boa ordem, e logo a seguir veio todaa armada, enquanto se elevavaum grande grito: "Avante, filhos dos Gregos,libertai a vossa pátria, libertai osvossos filhos e as vossas mulheres, os santuários dos[ deuses dos vossos paise os túmulos dos vossos antepassados: a luta, hoje,[ é por tudo isto!".
[ A.Pers. 384-405 ]

Thursday, September 04, 2008

Imperador Juliano – Novo espaço, velho texto e um tédio inesperado.

Fui ontem assistir ao meu primeiro espetáculo deste Porto Alegre Em cena: Imperador e Galileu. Estava bastante animada com a perspectiva de ver tantas peças, pois, me cobro por sempre fazer a escolha pelo cinema e deixar o teatro de lado, já que é esta uma das minhas paixões. O espetáculo era em um espaço novo de Porto Alegre, o teatro do CIEEE. Fiquei impressionada na chegada, com o prédio amplo e bonito.

Tinha comprado meu ingresso pela internet, sem muitas chances de escolha de lugar já que o sistema estava totalmente emperrado e eu apenas torcia para finalizar a solicitação. Ao entrar no teatro, maior do que eu esperava e aparentemente, bem estruturado, descobri que a minha cadeira era bastante próxima do palco, mas, totalmente enviezada. Com as cortinas fechadas, parecia um péssimo lugar, mas, imaginei que com a cena no palco seria diferente...e foi. No entanto, dali, eu podia enxergar as coxias e a movimentação de pessoas que nada tinham a ver com a cena, além dos atores que dela saiam. Mas, ao invés de me perturbar com isso (já que, às vezes, penso que ainda defendo a catarse de Aristóteles), achei que, como estudante de teatro, isso poderia ser interessante.

O cenário não era exagerado e tinha bastante a ver com a contextualização da peça. O silêncio total do público me impressionava e fazia pensar nesta magia do teatro de concentrar todas as atenções para algo que está para acontecer no palco. Podia ver o cuspe do Caco Ciocler todas às vezes que ele se exaltava para dar uma fala. E isso me fez lembrar a primeira vez que vi meu próprio cuspe no palco e fiquei apavorada. Iria cuspir em público? Algo que não estava de acordo com a educação rígida que recebera.

Bem, mas, se estou até agora a divagar é porque, provavelmente, desejo fugir de falar da peça propriamente dita. Não provocou em mim absolutamente nada. O texto parecia realmente bom, embora não raras vezes tenha sido dito baixo demais e com os atores de costas para o público. A atuação do protagonista não parecia estar errada (apesar de ouvir hoje opiniões totalmente contrárias), mas, por mais que ele e os demais se esforçassem, não conseguiam acabar com minha vontade de olhar o relógio e pensar quanto ainda faltava para terminar. Alguns atores coadjuvantes lembraram meus primeiros exercícios de teatro, meus colegas iniciantes, cheios de vontade e tão falsos, tão pretensiosos. Em um determinado momento, o ator que contracenava com o Caco Ciocler quase todo tempo, o mestre, ensaia uma entrada no palco com a coroa. Aos olhares de canto do primeiro de pura surpresa, se retira andando para trás como fazia Michel Jackson. Muito engraçado. Vantagem de estar naquele lugar ou todos viram este equívoco? Grande por sinal já que a cena em questão só foi ocorrer muito tempo depois. Sim, era a estréia deles no Brasil, mas, não creio que muitas outras apresentações tornem o espetáculo melhor. Mas, confesso que ainda não consigo dizer o que seria necessário. Nem mesmo o texto, de Henrik Ibsen que fala sobre a vida do Imperador Juliano, que tentou destruir a igreja católica como religião oficial do império romano e resgatar os cultos pagãos, tema tão contundente e de grande importância histórica, o que sempre me fascina, foi capaz de fazer valer a pena minha ida ao teatro.

Ao terminar de escrever sempre leio em voz alta para alguém que está próximo. A pessoa em questão, me pergunta: “Eles não são daqui?” Não, são de São Paulo. Talvez por isso tenha conseguido ser mais “crítica” do que o costume. Não os conheço e, muito provavelmente, este texto nunca seja lido por nenhum deles. Claro que este medo da reação dos atores ao que eu escrevo prejudica qualquer intenção minha de me profissionalizar fazendo isso, mas, veremos o que dirá Kil Abreu em sua oficina Exercícios da Crítica teatral que começa amanhã e da qual participarei. Seja o que for, deverá provocar mudanças ou até mesmo me convencer de que deveria guardar minhas opiniões apenas para mim e meus amigos próximos. Enquanto isso...