Tuesday, October 28, 2008

Teatro quase à força


Fui assistir O Médico à Força, depois de um Domingo de eleição e horas ininterruptas de chuva. Havia escutado alguns comentários não muito bons. Mas, minha irmã me convidou e ela quase nunca vai ao teatro, então, quem sou eu para dizer que não?

Na entrada, sou recebida com as boas-vindas da diretora Margarida Peixoto e na bilheteria ganho o desconto da “classe”. Isso é motivo de satisfação para mim, amante do teatro e dos atores que sou. Em seguida, recebo o programa. Ficamos lendo, minha irmã (professora de francês) e eu, sobre Molière, o autor do texto de 1666, “uma das peças que têm a medicina como alvo principal do riso”. Para mim, que fui assessora de imprensa da Associação Médica do Rio Grande do Sul antes dos anos 90, isso não me surpreende. É uma classe que merece todo o meu respeito, mas, que, convenhamos, é capaz de provocar todas as reações humanas: da ira ao riso. 

Bem, o primeiro impacto é do cenário de Elcio Rossini. Grandes fotos coloridas em painéis separados em formato triangular que se revezam. Interessante. Inteligente. Esteticamente eficiente. Logo no início, Anna Fuão e Marcelo Adams no palco. A primeira, minha colega de faculdade e o segundo, um ator cujo trabalho, até hoje, sempre me agradou. Anna não é ela. É o seu personagem. Inclusive no seu rosto que, mesmo sem máscara, apresenta feições que não é daquela moça de olhos claros que sentava na mesma sala de aula que eu. Atriz. Ponto. Marcelo Adams não poderia ficar atrás. Tem uma presença cênica que admiro. Um jeito de dizer o texto que me atrai. E canta! Bem, por sinal. O último trabalho que vi dele foi Édipo e agora lá está ele vivendo Sganarelo, um lenhador. Para que outras vidas se temos o teatro? E se vamos falar do elenco, todos me convencem, todos me divertem. 

Falei que o texto era de 1666? Segue atual. Por isso, Molière é tão montado. Por isso, chegou aos nossos dias pós internet, pós-dramático, sem as Leis de Incentivo, sem o marketing. Coisa de gênio. Gosto das “confusões verbais” que ele cria, como diz o programa. Não sei se precisava inspirar-se na estética da produtora brasileira Atlântida para me apresentar o que vi. Não li o texto original. Mas, acredito na escolha da Cia. De Teatro ao Quadrado.

Algum “porém”? Quase sempre. Neste caso, em algum momento, sem que eu saiba identificar por quê, algo acontece em cena que me dispersa, me traz aquela sensação incômoda de querer saber quanto tempo falta, estas coisas que não deveriam acontecer em um bom espetáculo. No entanto, como disse, pode ter sido algo daquele dia, ou melhor, daqueles dias, de chuva, chuva, chuva. Felizmente, aceitei o convite de minha irmã, pois, se tivesse dado ouvidos aos comentários, teria ficado em casa sem dar boas risadas e ver um bom espetáculo. 

1 comment:

  1. eu cheguei a escrever um parágrafo sobre esse negócio da atlântida mas depois tirei... o kill diria que eu tenho essa mania de forçar o texto ao seu formato e não o formato ao texto, mas enfim...

    de fato, eu não vi a chanchada em nada ali além das músicas. mas há aí, a meu ver, algo bem interessante. as músicas não se relacionam com o espetáculo simbolicamente falando com nada. não têm nada a ver! mas agradam. não é legal ouví-las ali no meio das cenas? eu gostei! e achei ótimo gostar de algo sobre o qual não tenha encontrado nenhuma relação constextual.

    que bom que vc colocou isso lá.

    adorei ter te conhecido, mocinha!

    bjus

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