Fui provocada pela minha colega Betha Medeiros para ver o show de Arrigo Barnabé cantando Lupicínio. Como me pareceu uma mistura inusitada de talentos e era em um lugar que tem feito propostas sempre interessantes, decidi comprar os ingressos pela internet. Escolhi a primeira fila para juntar o prazer de ouvir música ao de estar ao lado de minhas amigas. E estava certa.
O lugar estava lotado. Logo percebo a presença de Roger Lerina. (Às vezes, acho que jornalistas têm faro para outros jornalistas). A sala é pequena, mas aconchegante e a permissão de poder consumir bebidas enquanto se assiste ao espetáculo me agrada. Mesmo antes de Arrigo entrar já dava para perceber que estaríamos muito perto. Quando ele chega, minha primeira impressão é estranha. Aquele homem de cabelos brancos pouco se parece com o cantor irreverente dos meus 20 anos. É... o tempo passou e rápido. Ao piano, ele executa uma das músicas de forma bem tradicional, o que me causa estranheza. Será que ele mudou tanto assim? Porém, mal termino o pensamento, ele já está de pé, cantando outra música com o seu timbre característico e com a força de uma interpretação sem igual. Ao fundo, fotos em preto e branco dos bares freqüentados por Lupicínio. Locais simples, cheios de gente, muvuca total. Em sua conversa com a plateia, Arrigo faz menção ao vento Minuano e é muito bom pensar que este gênio da música andava por aqui, em minha cidade.
No palco, Arrigo já conversa com o público e dá a cada sentença das músicas uma intenção. Algumas músicas mais conhecidas do que outras, mas todas poéticas, verdadeiras, espelhos da alma humana. A emoção surge em mim quando tomo consciência de que estou ali vivendo um momento único, especial. Isso fica ainda mais claro quando o cantor-interpréte começa a se perder em uma música e diz que está emocionado e intimidado pela presença do filho do homem. Mais uma titubeada, e o filho de Lupicínio sobe ao palco e começa a cantar com ele. Isso é impressionante. Temos tanto medo de errar e, no entanto, quando alguém, com a experiência de Arrigo, declara sua incapacidade, a gente se delicia. É quando nos sentimos mais próximos do artista.
Fico pensando que o boêmio gaúcho adoraria ver suas músicas cantadas daquela maneira. Tão diferente do seu próprio jeito. Quando interpreta Vingança, Arrigo traz para a música um escárnio, um prazer que faz a plateia sorrir. As palavras ricocheteiam. Não sobra nada da voz suave e do jeito doce de seu autor. Nem por isso, deixamos de perceber a perfeição dessa letra que só quem já sofreu por amor pode entender.
Arrigo interpreta também Volta uma das minhas músicas preferidas. Fico controlando a vontade de cantar também para não atrapalhar. Mas fica quase impossível quando ele canta Esses moços, uma das primeiras músicas que aprendi no violão. Quer dizer... na verdade, não precisa a ligação ser tão direta. Também quero cantar Judiaria, Se acaso você chegasse, Nervos de aço, Aves Daninhas e até mesmo Dona Divergência ou Prá São João decidir, isso sem conhecer estas últimas.
Ainda bem que não tinha um repertório mental. Se não, era capaz de ficar lá querendo ouvir Foi Assim, Nunca, Felicidade e tantos outros sucessos gravados por outros incríveis cantores como Elis Regina e Maria Bethânia. A boa música não perde força, nem beleza e com isso faz com que a gente até esqueça que lá se vão muitos anos desde que havia visto Arrigo Barnabé que mostra que sempre haverá tempo para Lupicínio que não só inventou o termo “dor-de-cotovelo” como deixou muito claro do que ele estava falando, ou melhor, cantando.
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