Sunday, May 18, 2008

Cirque du soleil - Alegria


Acabo de chegar do “Alegria”. Não sei se é esse exatamente o meu sentimento, mas, que valeu a pena, isso é certo. Escrever sobre este espetáculo me lembra que minha tese é sobre crítica, mas, ao mesmo tempo me dou conta de que ainda vai levar um tempo para eu entrar nos padrões e falar por tópicos, de maneira estruturada. Cheguei a pensar em pegar as diretrizes dadas pela Bárbara Heliodora, mas, por enquanto, ainda prefiro fazer como fiz até hoje: fazer um relato da minha vivência.
Comprei o ingresso de um jeito meio tumultuado. Queria comprar pela internet, pois não tive vontade de ir para uma fila na chuva adquirir um ingresso para algo que ainda faltava tanto meses para acontecer. Não estava disponível e acabei ligando para o telefone que estava no site e o telemarketing, muito bem preparado, me induziu a comprar dois ingressos separados de valores que eu ainda não sabia como iria pagar. Mas, estava feito. O próximo passo era ver para quem eu daria o ingresso que, originalmente, seria da minha irmã, mas, que ao ver o valor acrescido de R$ 40,00 do que havia previsto, desistiu. Segunda opção: meu sobrinho que teve a coragem de ir fazer um curso em Pelotas no Tholl e passou por um treinamento rigoroso, sendo, inclusive, escolhido para fazer parte a trupe (o que não fez devido a todas as implicações deste ato). Estava aí alguém que saberia dar valor.
Resolvido isso, começamos a esperar o dia da nossa apresentação e, justamente, hoje, meu sobrinho acorda se sentindo mal. Mas, isso não iria impedi-lo e assim, às 19h, uma hora antes do espetáculo lá nos fomos. Já de cara uma facilidade: moro praticamente do lado. Fomos a pé. E ao irmos nos aproximando e vendo o picadeiro já fomos nos entusiasmando. Depois, passamos pela área de compras. Não impunemente porque eu comprei uma das coisas mais baratas que tinha lá, um pôster, pensando que estou para receber um canadense aqui em casa, enviado pela UFRGS. Ainda nem sei se ele vem, mas, achei que seria uma boa recepção.
Começa o espetáculo. Todos os lugares ocupados. O público aplaude. Pronto. É o suficiente para eu sentir a energia do lugar. Como já havia dito para o meu sobrinho, o que me atraia para esta apresentação era poder deixar por algumas horas todos os problemas, todas as situações negativas da vida de lado e entrar em um mundo mágico, mas, feito de pessoas reais. Acho fascinante que isso seja possível. Enquanto do lado de fora, a gente é bombardeada por notícias ruins de todos os tipos, sanguinárias até, ali naquele tempo e espaço é só “Alegria.” No mais, não tenho como descrever a capacidade de movimentos daqueles corpos. Não há nenhum respeito pela lei da gravidade. Fico ali, boquiaberta, pensando que a estrutura daquela gente é igual a minha e sei (embora fique até difícil imaginar) que aquele resultado tem a ver com muito treinamento e técnica. Nenhum ser humano faz todos aqueles saltos mortais impunemente. De quantas coisas eles devem abrir mão para me oferecer estes instantes? Tento ficar atenta a tudo. Percebo a estrutura por trás, material e humana. Observo as questões comerciais em jogo. Mas, nada disso tira o brilho do que vejo. Ao contrário. Sim, havia diferença (e grande) no valor dos ingressos de acordo com o lugar, mas, ao cruzar “a porta”, todos nos transformamos em público. Um público que aplaude, grita, assovia e que mal pode crer no que os olhos podem ver e no que os ouvidos podem ouvir. Sim, porque a música ao vivo é um espetáculo a parte. Lindas vozes, ritmos perfeitos. E alguém tinha dúvida de que é possível sonhar acordado? Uma coisa eu sei. Nem em sonhos imaginaria um figurino tão adequado, tão poético. E como se não bastasse tudo isso, para colaborar ainda mais para que a gente volte à infância, quando tudo ainda era esperança, tem maçã do amor, algodão doce e cachorro-quente. E os palhaços... Deliciosos palhaços que brincam justamente com a humanidade de todos nós, com este espaço que existe entre alguém comum e aquele artista, capaz de algo simplesmente fantástico.

Eu esperava mais, mas, não porque tenha faltado, mas, porque ter mais do que vi hoje à noite não iria me fazer nenhum mal. Crítica? Se existe, está anestesiada pelas cores, pelos sons e movimentos de horas em um picadeiro.

No comments:

Post a Comment