Monday, September 15, 2008

Quando o diabo me botou para dormir

Bárbara Heliodora, em sua passagem por Porto Alegre, disse: “Eu vou ao teatro para gostar”. Eu também. Em época de festival fico até querendo ser “arrebatada”. Até agora isso não aconteceu. E, ontem, sabendo que Peter Brook que verei amanhã também não conseguiu fazer isso com uma amiga atriz na qual confio, começo a me preocupar. Mas, começo a pensar o que significa este “ir para gostar”. O que eu espero? Outro amigo ontem (vou ocultando os nomes, pois não sei se eles gostariam de serem expostos) dizia que não eram espetáculos para emocionar. Só que não é apenas isso que eu procuro. É verdade que me agrada assistir a algo que me deixe triste, alegre, nervosa, com medo. Fico bem impressionada quando algo que sei irreal me provoca aqui e agora estas sensações. No entanto, tenho interesse por novas técnicas, um belo trabalho de ator (já sei...tem gente que já se arrepiou só com este adjetivo aí...paciência!), cenografias criativas e por aí vai. O teatro é uma arte muito rica e, nos tempos de hoje, cada vez mais. O hibridismo (falei que queria ganhar dinheiro cada vez que ouvisse esta palavra...então, acho que também vou usá-la), esta mistura de linguagens, diminui ainda mais os limites do que é possível fazer no palco. Bom, mas, por que estou escrevendo tudo isso?

Ontem, assisti a Fausto, um clássico ocidental de Johann Wolfgang. O diretor Eimuntas Nekrosius já é meu conhecido de outros festivais. Assim, lá me fui cheia de expectativas positivas. O espetáculo tinha 3h e 50 minutos, com dois intervalos de 15.  Sabia que era longo, mas, não o tempo certo. Final da primeira parte: estou satisfeita. O texto é difícil, dito em lituano, então...A tradução é numa linguagem muito sofisticada. Mal consigo acompanhar a “historinha” (como costuma dizer outro colega), mas, isto não tem importância. Eles têm propostas cênicas interessantes e surpreendentes. Fica difícil até entender como eles conseguem utilizar recursos fáceis, simples de uma maneira tão impactante. São fios, luzes e o inusitado de um figurino branco que surge na cena final no meio dos demais todos pretos e o efeito é intenso. No segundo ato, seguem-se praticamente todos os elementos que eu já havia visto no primeiro. Minha atenção diminui.

No terceiro ato, começo a cochilar e o sono vem de um jeito incontrolável. Chego a sonhar com coisas bizarras e volto ao teatro. Outras pessoas dormem também. A maioria segue atenta. É bem verdade que eu vinha de uma semana cansativa e que relaxei no escuro e tal, mas, quero acreditar que o que acontecia no palco teve a ver com isso. Teria eu ficado sonâmbula também? Não sei se “faltou letras no meu alfabeto” para compreender o que se passava lá, nem sei se o fato de outros colegas atores e atrizes que eu encontrei na saída também acharem que o espetáculo era exaustivo me isenta do sentimento de culpa que fiquei por não resistir ao sono.

Se houvesse algo que eu pudesse fazer para que isso não acontecesse, teria feito. Ainda bem que o espetáculo foi na Reitoria e que eu estava bastante longe do palco. Odiaria que os atores vissem meus cochilos, pois, apesar destes, sei que a atuação do grupo merecia maior atenção. Bem, acabo de dar mais uma prova de que não tenho pretensões de fazer críticas, pois, não conheço nenhum que admitiria ter dormido na platéia. Pelo menos posso dizer que, apesar disso, valeu a pena ter ido.

Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um pacto com o demônio, baseada no médico, mágico e alquimista alemão Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos romances de ficção, o mais famoso deles do autor Goethe, produzido em duas partes, tendo sido escrito e reescrito ao longo de quase sessenta anos. A primeira parte - mais famosa - foi publicada em 1806 e a segunda, em 1832 - às vésperas da morte do autor.

Considerado símbolo cultural da modernidade, Fausto é um poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o demônio Mefistófeles, que lhe enche com a energia satânica insufladora da paixão pela técnica e pelo progresso.

Fonte: wikipedia

4 comments:

  1. Bom, pelo menos não vais dormir por causa da duração! O Grande Inquisidor tem apenas 55 minutos e é justo! Não precisa mais!

    Não vais ver nada de 'arrebatador' na interpretação do Myers. E sim, novamente, justeza. Ele é perfeito! E me atraiu e maravilhou com esta limpeza: não tem grito, não tem vociferação. Nem acrobacias em cena. Tem um puta ator que sabe dizer um texto e fazer rir e nos fazer calar e pensar.
    Espero que nada disso que te falei te influencie tanto 'antes'.

    Quarta falamos! Quero saber!

    Bjks!

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  2. eu não sou masoquista. esse negócio de assistir a peça chata não é comigo. e ficar com culpa muito menos!!

    ahhh coisa mais boa essa troca neh?

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  3. Herege!
    Eimuntas é diretor, não ator.

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  4. Corrigirei a informação, mas, peguei este dado na divulgação do Festival.

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