Fui ontem assistir ao meu primeiro espetáculo deste Porto Alegre Em cena: Imperador e Galileu. Estava bastante animada com a perspectiva de ver tantas peças, pois, me cobro por sempre fazer a escolha pelo cinema e deixar o teatro de lado, já que é esta uma das minhas paixões. O espetáculo era em um espaço novo de Porto Alegre, o teatro do CIEEE. Fiquei impressionada na chegada, com o prédio amplo e bonito.
Tinha comprado meu ingresso pela internet, sem muitas chances de escolha de lugar já que o sistema estava totalmente emperrado e eu apenas torcia para finalizar a solicitação. Ao entrar no teatro, maior do que eu esperava e aparentemente, bem estruturado, descobri que a minha cadeira era bastante próxima do palco, mas, totalmente enviezada. Com as cortinas fechadas, parecia um péssimo lugar, mas, imaginei que com a cena no palco seria diferente...e foi. No entanto, dali, eu podia enxergar as coxias e a movimentação de pessoas que nada tinham a ver com a cena, além dos atores que dela saiam. Mas, ao invés de me perturbar com isso (já que, às vezes, penso que ainda defendo a catarse de Aristóteles), achei que, como estudante de teatro, isso poderia ser interessante.
O cenário não era exagerado e tinha bastante a ver com a contextualização da peça. O silêncio total do público me impressionava e fazia pensar nesta magia do teatro de concentrar todas as atenções para algo que está para acontecer no palco. Podia ver o cuspe do Caco Ciocler todas às vezes que ele se exaltava para dar uma fala. E isso me fez lembrar a primeira vez que vi meu próprio cuspe no palco e fiquei apavorada. Iria cuspir em público? Algo que não estava de acordo com a educação rígida que recebera.
Bem, mas, se estou até agora a divagar é porque, provavelmente, desejo fugir de falar da peça propriamente dita. Não provocou em mim absolutamente nada. O texto parecia realmente bom, embora não raras vezes tenha sido dito baixo demais e com os atores de costas para o público. A atuação do protagonista não parecia estar errada (apesar de ouvir hoje opiniões totalmente contrárias), mas, por mais que ele e os demais se esforçassem, não conseguiam acabar com minha vontade de olhar o relógio e pensar quanto ainda faltava para terminar. Alguns atores coadjuvantes lembraram meus primeiros exercícios de teatro, meus colegas iniciantes, cheios de vontade e tão falsos, tão pretensiosos. Em um determinado momento, o ator que contracenava com o Caco Ciocler quase todo tempo, o mestre, ensaia uma entrada no palco com a coroa. Aos olhares de canto do primeiro de pura surpresa, se retira andando para trás como fazia Michel Jackson. Muito engraçado. Vantagem de estar naquele lugar ou todos viram este equívoco? Grande por sinal já que a cena em questão só foi ocorrer muito tempo depois. Sim, era a estréia deles no Brasil, mas, não creio que muitas outras apresentações tornem o espetáculo melhor. Mas, confesso que ainda não consigo dizer o que seria necessário. Nem mesmo o texto, de Henrik Ibsen que fala sobre a vida do Imperador Juliano, que tentou destruir a igreja católica como religião oficial do império romano e resgatar os cultos pagãos, tema tão contundente e de grande importância histórica, o que sempre me fascina, foi capaz de fazer valer a pena minha ida ao teatro.
Ao terminar de escrever sempre leio em voz alta para alguém que está próximo. A pessoa em questão, me pergunta: “Eles não são daqui?” Não, são de São Paulo. Talvez por isso tenha conseguido ser mais “crítica” do que o costume. Não os conheço e, muito provavelmente, este texto nunca seja lido por nenhum deles. Claro que este medo da reação dos atores ao que eu escrevo prejudica qualquer intenção minha de me profissionalizar fazendo isso, mas, veremos o que dirá Kil Abreu em sua oficina Exercícios da Crítica teatral que começa amanhã e da qual participarei. Seja o que for, deverá provocar mudanças ou até mesmo me convencer de que deveria guardar minhas opiniões apenas para mim e meus amigos próximos. Enquanto isso...
Boa e velha Helena, de volta ao texto que eu admiro.
ReplyDeleteParabéns!
Você deve mesmo ter visto a primeira apresentação.
ReplyDeleteFui assistir ontem a peça aquie em São Paulo e fiquei imprtessionada com o timing, com o texto, com a atuação, figurino, iluminação, sonosplatia. Parece que vimos peças diferentes. Caco ciocler está extraordinário, conseguindo humor na medida certa e dramaticidade impecável nas cenas que assim necessitam como a final.
Acho que valeria a pena você rever a peça e sua visão, quem sabe num teatro melhor e num posicionamento que não te traiam a atenção.