Para começar, quero dizer que o título é em homenagem a Ursula Krug, a psicanalista cuja confissão estará eternamente guardada por aquelas seis pessoas que estiveram com ela no Paraíso.
O lugar exato era Bombinhas, onde fui parar graças ao meu professor de natação Daniel Godoy. Mal sabe ele que o simples fato de ter me convidado significou uma confiança no meu potencial, até então, jamais imaginado. Depois de uma viagem cujo “serviço de bordo” foi melhor do que o de muitas companhias aéreas, incluindo horas de shows de voz e violão com Rafael Fofonka, o dia começou nublado mas, lá pelas tantas, fez-se a luz do sol e permitiu uma praia ótima onde muitos começaram a se conhecer e reconhecer já que, sem as tocas e os óculos, éramos outras pessoas. Em comum, tínhamos os professores de diversos horários. Sob a organização de André Merch, da Stillo, e a coordenação do professor Lucas Saldanha passamos dois dias em que o único inconveniente era a fria temperatura da água. Almoços e jantares saborosos e baratos, regados a algumas cervejas, cálices de vinho e muita risada. Disse que seria difícil fazer uma síntese dos temas que nos faziam rir tanto, então, não vou nem tentar. Só posso dizer que há muito tempo não passava horas tão relaxantes em um grupo formado por homens e mulheres de diferentes idades que tinham um objetivo comum: fazer uma travessia.
Ao contrário do que o Daniel havia imaginado, não me encorajei nem a fazer o treino da véspera. Mas isso não diminuiu o prazer de ver todos entrando na água juntos, de ver e ouvir a preocupação dos professores em transmitir informações que eram mais do que profissionalismo, mas sinal de afeto. Dia seguinte, na praia, nos juntamos a muito mais gente com a mesma intenção. Confesso que enchi meus olhos d’água ao ver a chegada de um deficiente visual e custei a entender que havia também pessoas que com apenas um braço estavam fazendo a prova. Assim, todos cumpriram seus objetivos e era fácil perceber que, para cada um, tinha um significado especial. Talvez, tão importante como para mim nadar apenas poucos metros até um barquinho junto do meu mestre. Encarar o fato de não dar pé foi como caminhar sobre as águas. Não fiz os 750 metros, mas fiz a travessia do meu medo que foi se distanciando como a beira da praia para dar lugar a vontade de voltar. Espero que no dia em que o Daniel se questionar sobre qual era a missão dele neste mundo, ele acredite que conseguiu mudar para melhor as pessoas ao seu redor, como um verdadeiro anjo.
Encerrando, não posso deixar de citar o senso de humor fantástico do Alexandre Nunes que, certamente, poderia ter seguido uma carreira como cômico. Preciso também salientar os comentários de Fred sobre todos os temas como um verdadeiro expert, lembrando que este pode ser apenas um codinome para atender aos pedidos de que as identidades não fossem reveladas. E, usando o mesmo critério, quero citar mais uma pessoa da mesa cuja forma de rir lembrou-me, nada mais nada menos, do que Greta Garbo. E a 6ª, mas não menos importante, era o divertido João que esteve todo o tempo mais perto do céu. Apesar de tantos nomes de de apóstolos reunidos e da bíblia da minha colega de quarto, Rosângela Segatto, que garanto não conseguiria terminar o mundo em sete dias pois acabaria pedindo mais cinco minutinhos, esta não era uma viagem religiosa, mas, em minha opinião, foi transcendental. Descobri, na ocasião, que não são necessárias doze a mesa para operar milagres.
PS1: Paraíso era o nome do restaurante em Bombinhas
PS2: A esquerda ao fundo, o barquinho até onde nadei.
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