Antes de mais nada, preciso dizer que nunca entendi estas pessoas que viajam querendo encontrar exatamente as mesmas coisas que têm em casa. Dito isso, estou de volta da praia do Rosa. A primeira vez que estive aqui foi em para uma reunião com meu orientador, Edélcio Mostaço, em Floripa. Fiz uma confusão com praias e acabamos lá, eu e minha irmã. Dessa vez, não foi por o acaso. Agora já sabia que teria que passar trabalho até chegar na praia. Pelo menos, desta vez, fomos de avião. Santos Dumont sabia o que estava fazendo.
A praia do Rosa é cheia de pousadas. Na nossa, a primeira impressão é que é realmente pequena. Tem cozinha, mas a cama é dessas que a gente sobe uma escadinha e tem colchões no chão do “segundo andar”. Sem guarda-roupa. Saímos para ir a praia. O dia esta emburrado e foi estressante não saber onde íamos. Sobe morro, desce morro, chegamos a um caminho estreito onde um urubu comia um bicho morto. Quem me conhece sabe que tenho ojeriza a estas coisas. Passei, praticamente, de olhos fechados. Na praia, absolutamente, ninguém. Nós e os cachorros. Cruzam de um lado a outro com a gente. Se paramos, eles param. Se ficam adiantados, eles esperam. Seria divertido, se não fosse meio assustador.
Eram quase quatro horas quando achamos onde tomar um café e comer algo. Felizmente, não demorou muito para que começássemos a nos localizar. Apesar do pouco movimento, os carros andam em velocidade. Não combinam com a energia do lugar. Muitos fucas, tratados aqui como as vacas na Índia. Bem que o trânsito podia ser só de bicicletas. Um suco de fruta, uma casquinha de siri e ouvir uma conversa entre um brasileiro e um americano e já estamos mais relaxadas. Um vinho, uma massa feita por mim, um chocolate e nem estranhamos o novo quarto. Manhã seguinte começa com céu azul e sol. No caminho, agora, aparece um gambá. Pior do que com o bicho morto. Só consegui passar de mãos dadas com a minha irmã. Acho bonito, quero fotografar, mas tenho fobia, que chega quando quer, porque quer. Encontramos uma pousada na beira da praia aberta com café da manhã. Delícia. Na praia, leituras e o sono que compartilhamos com não mais de 20 pessoas em toda orla. À tarde, caminhadas. Outra receita de massa e vinho e o sono vem.
Acordamos sabendo que era dia de mudança de hotel. Sol. Céu Azul. Na praia, me sinto uma encantadora de cães. Eles vão chegando e ficando em volta até que começam a brigar entre eles e nós viramos reféns. Vou em direção a água absurdamente gelada para me livrar deles. Eles vão atrás. Cão de praia é outra coisa. Estes aqui adoram turistas novos e não estão nem aí para a placa que cita a lei proibindo-os na praia. No novo hotel a decoração tem um aspecto meio africano. Finalmente, descolamos um peixinho para comer e salada. Acho que minha reeducação alimentar está funcionando. Fico mais feliz com as rodelas de tomate e a cenoura do que com as batatas fritas! Vida mansa. Alguma falta de conforto, mas logo penso que, para mim isso tudo é temporário, para as pessoas aqui é a vida delas. Eu se sofresse de depressão iria mudar radicalmente a minha. Experimentar coisas novas. Uma vez disse para o meu sobrinho, que queria fazer uma chamada de agência de viagens tipo: “A vida não tem mais sentido? Pegue uma estrada e siga em frente”. Pegamos dias espetaculares. Vamos a praia por trilhas. Minha irmã se sentindo a Alice do país das maravilhas e eu o Tarzan. Na areia, sinto algo na mão e era um caranguejo dando uma voltinha. Entro na água gelada tentando molhar os pés que estão doloridos por causa das caminhadas, influenciada pelo filme Origem em que Darwin ia consultar James Gully para fazer uma espécie de hidroterapia. Não fazia ideia de que além de um gênio, com ideias revolucionárias, ele era tão doente.
Nossa viagem de volta começa com o tempo nublado mas com algumas surpresas. Da praia do Rosa a Garopaba conseguimos um transporte. O cara que nos conduz é o dono. Largou a faculdade, foi morar nos EUA, ganhou dinheiro. Voltou, não se adaptou mais a sua cidade, Porto Alegre, e decidiu morar em Santa Catarina. A conversa lembra bastante a inquietude do meu sobrinho. Chegamos a Floripa e almoçamos no mercado. Tento um reencontro com o Edélcio que está em voltas com o seu cachorro que não está bem. Saímos em busca de um café e de uma sobremesa. Estamos novamente andando sem saber exatamente o destino. O vento e a chuva atrapalham. Não há muito a fazer até pegar o avião de volta. De novo um voo internacional, a caminho de Buenos Aires! Pura provocação para minha irmã. Não deu para ficar escondida. E, cá entre nós, as pessoas querem igualar tudo e todos mas haja coragem para ser responsável pela vida de todas aquelas pessoas. Desço sem nem saber o nome do piloto.
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