Wednesday, November 30, 2011

Oco: maciço de reflexões e cheio de sensibilidades

O espetáculo Oco fala sobre um assunto que afeta milhares de pessoas: o tédio, a rotina de um trabalho exaustivo, do homem contemporâneo. O tema não é novo mas aparece nesta peça transbordando sensibilidade. O monólogo de Fabrício Fabris incorpora poucos elementos, entre estes um banner com a foto do ator, de terno, escrito embaixo: funcionário do ano. Essa imagem vem carregada de ironia e me faz pensar quando foi que um símbolo de competência, de profissionalismo passou a representar submissão? Essa pergunta acaba sendo respondida no debate. Fabrício fala de uma loja famosa de fast-food que faz esta distinção e observa que isso acontece não porque os funcionários sejam verdadeiramente gentis ou de boa índole, mas porque são pagos para isso.
Esta, porém, não é a única questão que vem a nossa cabeça durante a encenação que foi elaborada como conclusão do curso de bacherelado, com a orientação de Sergio Silva. Para quem também estudou no Departamento de Artes cênicas é fácil identificar os ensinamentos de alguns professores. Ele carrega também as experiências com Paulo Flores, do Oi nóis aqui traveiz e do Terpsi. Vemos claramente a capacidade técnica de Fabrício mesmo que ela venha transmutada em presença cênica e contracenação com a plateia. Ele controla o descontrole. Passa da leveza para a agonia. Da suavidade para o gesto brusco e, aos poucos, vai expressando todo o vazio, toda a aflição de alguém que tenta aparentar solidez, uma imagem de sucesso, enquanto afirma: “eu coleciono fracassos”. A escolha dos focos de luz, dos movimentos no breu colaboram com a intenção do ator.
Frases contundentes do personagem misturam realidade e poesia, frieza e profundidade. “Estou ocupado sendo ninguém”, diz o homem que olha o relógio e corre pelo espaço cênico. Já Fabrício Fabris está ocupado da dramaturgia, concepção e encenação da peça maciça de reflexões e sutilezas provocadas pelas “palavras que se esbofeteiam por um significado” mas que chegam aos ouvidos daqueles que se angustiam e não se satisfazem em ser apenas mais uma engrenagem, um homem-máquina. 

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