Friday, November 25, 2011

Fernanda d'Almeida: a médica de almas


Minha avó sempre dizia que queria ter médicos na família. Não deixava de ser uma idéia sábia. Afinal, em geral, todos precisam de um bom, em algum momento de suas vidas, e os tempos atuais nos mostram que nem sempre é fácil encontrar. Mas o que ela não poderia imaginar é que, um dia, teríamos artistas como Fernanda D’Almeida.
Minha prima nos convidou para o Recital de Licenciatura em Canto da filha. Como de costume, o dia acabou sendo muito corrido e eu, cansada, cheguei a pensar que seria bem difícil chegar ao local no centro, logo no final da tarde. Porém, assim que começamos a encontrar as caras conhecidas, a falta de energia foi sendo substituída pela expectativa alegre de ver Fernanda.
Sua orientadora Silvia Carvalho a apresenta dizendo que ela era admirável e que era muito fácil trabalhar com ela. Em seguida, no contraste com as cortinas vermelhas, surge Fernanda em um lindo vestido azul. Fala com a plateia de uma maneira carinhosa e articulada. Expressiva, ela dá um texto que, só depois vim a saber, era justamente a tradução da música que, acompanhada no piano por Jônatas Asafe, ela começaria a cantar: Come again! Swet Love dowt now invite.
Nada havia me preparado para aquele canto. Uma voz limpa, clara, emocionante. Em poucos minutos, lágrimas começaram a cair pelo meu rosto. E à medida que eu ia acrescentando pensamentos ficava ainda mais difícil conter. Como o avô dela, meu tio Antônio Carlos D’Almeida, gostaria de ouvir a neta cantar daquele jeito! Felizmente, na plateia estavam vários de seus parentes e amigos que a cada nova música batiam fortes palmas e mostravam o seu agradecimento por aquela voz que enchia a sala de harmonia.
Vários outros convidados fizeram parte da sua apresentação. Inclusive André Vicente, um músico cego que toca acordeon, provando que a música ultrapassa qualquer dificuldade física. Fernanda cantou em inglês, em alemão, em italiano, em francês. Escolhe nesta língua uma música divertida que na sua voz encantaria qualquer criança: Villanelle des petits canards e vai deixando os adultos completamente envolvidos em suas melodias. E quando eu já começava a pensar que faltavam músicas em português, vi no programa que ela encerraria sua apresentação justamente com canções nordestinas. E aquela menina que me pareceu sempre tão comportada, e até tímida, mostra toda a sua irreverência em gestos, sensualidade e olhares provocantes e brinca com a sonoridade de “São-João-da-ra-rão” e quadrilha. Ao ser chamada para o “bis”, traz consigo mais duas cantoras e elas encerram a apresentação não só cantando, mas dançando, com um número digno de qualquer musical de cinema americano.
Ao ouvir aquele “rouxinol” minha avó Zaira Mello concordaria comigo que, melhor do que um médico para curar o corpo, seria ter pessoas que soubessem cantar, dançar, interpretar para manter a saúde da alma. Sabemos hoje que é esta que nos mantém fisicamente bem e o mais importante: felizes. 

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