Dia da minha apresentação. Levemente agitada, como era de se esperar, mas bastante desperta para quem tomou uma garrafa de vinho sozinha na noite anterior. Já tenho um truque infalível para que tudo dê certo. É só lembrar de respirar. Simples assim?, dirão alguns. Não é que basta? Quando a começo a me agitar e as ideias ficam confusas, paro, respiro e pronto. Tudo se acalma. Claro que isso não chega a permitir que eu possa ficar tomando café e comendo tudo que quero. Certamente, não me fará bem. Assim, ganho tempo e não, peso. Para a minha frustração, minha sala tinha seis pessoas e quatro iriam apresentar. Sendo que apenas uma, realmente, estranha. Tenho esperanças que outras pessoas cheguem mais tarde e, assim, me agrada quando alguém se candidata a ser a primeira. Era uma doutoranda que já tinha me dito antes que não tinha tempo de se preparar. Começa a sua fala dizendo que não sabe ainda o que vai dizer, que não tem nada, realmente, escrito, etc. Isso já tinha acontecido no dia anterior e tinha me deixado muito desgostosa, para dizer o mínimo. Acho um desrespeito. Não exijo que a pessoa tenha a pesquisa completa, que faça uma apresentação brilhante, genial, mas que fale de forma coerente sobre sua ideia. Afinal, são apenas 15 minutos de apresentação. Ainda bem que ela recua e de uma maneira até um pouco curiosa diz: “Não. Espera. Vou começar de novo”. Faz, como nós jornalistas, quando gravamos alguma abertura para uma reportagem (o que a gente chama de “cabeça”). Aí sim, começa a falar corretamente do seu projeto de uma forma bem interessante, inclusive.
Bem, não vou falar de todos, nem entrar no mérito da boa apresentação de um colega de pós que também estava nesta mesa e que, depois de dois anos de mestrado, ainda me impressiona pela riqueza de seu vocabulário. Não pelas palavras rebuscadas, mas pela fluência em sua comunicação. Ele diz que, às vezes, não sabe o que vai dizer, mas eu sou testemunha de que quando diz, o faz muito bem. De mim, direi que o que me agrada é que percebo que estou ficando mais segura, sabendo o que estou dizendo e também encontrando as palavras adequadas para a hora certa. Não sei se sobrevivo a uma batalha de fogo. Ao enfrentamento com pessoas que discordem das minhas ideias. Mas, por enquanto, o que sinto é este meu crescimento que já me deixa satisfeita e que vai deixando no passado aquele pensamento sobre o porquê fazer tudo isso. Por que? Porque é bom se desafiar, principalmente, quando superamos obstáculos que, até então, pareciam intransponíveis. Feito isso, nos sentimos melhores, mais inteiros. É quando o querer ser, se transforma em, agora eu sou. Uma colega me diz (querendo me elogiar) que minha segurança chega a irritá-la. Se ela soubesse como foi longo o caminho para chegar até ali...
Livre do compromisso, sobrou tempo para o descanso. Uma tentativa de recuperação da viagem. Éramos três no quarto, cada uma com o seu note, conectadas com o mundo lá fora e sentindo prazer com isso. O hábito é tanto que brincávamos dizendo que iríamos entrar no msn para falar uma com a outra. Depois, começamos a nos separar. Um grupo voltou para ver o final do evento, outro foi dar uma volta em Blumenau, pois era a única chance de saber um pouco mais sobre a cidade. Quem voltou não se arrependeu. As apresentações finais com convidados brasileiros foram bem mais interessantes do que dos estrangeiros e nada a ver com o fato de eu ter mais facilidade com a minha própria língua. Acontece que se uma pessoa vai falar em público, ela não pode ficar olhando para o chão ou falar baixo ou sem ânimo. Caso contrário, por mais brilhante que seja o que ela está dizendo vai botar todo mundo para dormir, ainda mais que em um evento como este a maratona é grande.
Não vou entrar no mérito dos conteúdos apresentados, pois este relato ficaria muito longo. Mas o que me dei conta é que foi importante saber que existiam, mesmo aqueles que a gente pensava não estar entendendo ou ouvindo direito, que nos distraia e coisa e tal. Existem muitas boas ideias vinculadas ao teatro Brasil a fora. É mais uma chance de sabermos que não estamos sozinhos.
Encerrada a jornada, fiquei só eu em Blumenau para assistir ao espetáculo da noite que vou comentar em texto separado, pois pretendo tentar argumentar minha opinião para não ficar só no “achismo”. De qualquer forma, foi muito bom estar presente. A organizadora do evento Pita Belli foi muito aplaudida e ao tentar agradecer, engasgou com a emoção e não conseguia falar. Pensei: o que será que a gente tem que fazer para que isso não aconteça? Mas, cá entre nós, porque não deixar acontecer? É tão verdadeiro que mesmo eu que não a conheço, passei a admirá-la. Fiquei um pouco na festa depois, mas sem meus colegas e com uma banda tocando altíssimo, não havia como fazer nenhuma tentativa de aproximação com quem quer que fosse. Assim, comi algumas coisas, tomei duas doses de whisky e vim para o hotel. Incomodada? Nem um pouco. É sempre um privilégio poder estar onde se quer, na hora que se desejou.
EXTRAS
Momento artístico
Tivemos a fantástica oportunidade de esbarrar no cantor “José Claudio” (vulgo mestrando do PPGAC) que faz suas performances em quartos de hotel e estava aqui no Plaza Blumenau. Suas rimas são tão “sofisticadas” que nem os mestres em artes cênicas presentes foram capazes de explicar mais profundamente como surgiram. Exemplo: Eu me criei na roça e sempre andei de carroça...” Porém, não é possível imaginar com perfeição o efeito desta frase sem o sotaque e o timbre fanho do cantor que se apresentou acompanhado de suas duas belas dançarinas. Chacrinha teria inveja e desejaria contratá-las imediatamente.
De qualquer forma, desconfio que ele já tenha sido plagiado, pois encontrei em uma praça da cidade, versos dignos deste cantor como: Blumenau na antiga manhã com sua tranquilidade aldeã, suas tranças, seu amado talismã. Com seus francos olhos claros, cabelos cor de avelã.
As frases:
- Para mudar de assunto, para dar a entender que você tem algo a dizer que não é apropriado para o momento, etc, basta falar: “Você sabe se tem um Banco do Brasil por aqui?”
- Descobrimos, por uma experiência aqui em Blumenau, a frase mais que perfeita para encerrar qualquer assunto, após uma conversa animada do motorista de táxi com nosso grupo, ele pergunta: e o que vocês vieram fazer na cidade? A resposta sobre uma jornada de teatro, o deixou em profundo silêncio até o final da corrida. Acreditamos que funcione em diversas outras ocasiões e públicos.
A cidade
Primeiro devo dizer que não importa o tamanho da cidade, se você não a conhece terá grandes chances de se perder, até mesmo as escadas rolantes do shopping podem ser uma aventura. Pelo menos, enquanto não der uma boa caminhada e começar a estabelecer pontos de referência. Não vi pobreza pela rua, nem pedintes. Mas, como dizem meus amigos, podem ter sido todos afogados no rio que cruza a cidade.
Segundo, a influência alemã na arquitetura é algo gritante. Tem horas que parece até uma cidade cinematográfica. Além disso, as confeitarias mostram que a culinária daquele país teve sua interferência. Quem já comeu um legítimo apple strudell sabe do que eu estou falando.
Quanto ao trânsito parece bastante organizado. Ruas largas. Mas os motoristas correm muito, inclusive os de táxi. E pasmem: em frente de um grande shopping que, impressionou mesmo a mim que moro ao lado do Barra sul, nenhuma sinaleira.
Os morros verdes encantam. Deixam a cidade mais bonita. Alguns pontos turísticos também. A praça da paz tem um monumento lindo. No entanto, o relógio das flores, valorizado por ser um dos poucos do país, decepciona. Tem mais flores até no jardim da minha casa. A Fundação cultural de Blumenau clama por uma pintura. O prédio até que é bonito.
Se eu soubesse que teria roupas tão diferentes e preços menores que Porto Alegre teria deixado para comprar algumas coisas aqui. Uma fantástica bota vermelha por R$ 70,00, por exemplo. Mas tenho que me contentar com o fato de já ter conseguido ficar mais um pouco.
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