Primeiro devo dizer que entrar em um teatro desconhecido é sempre interessante. Desde a hora da compra do ingresso em que não sabemos se vamos ter uma boa visão ou não, até descobrir onde está a nossa cadeira. Fui parar no que seria a Galeria central do Teatro São Pedro. Eva Sopher não gostaria da comparação porque o teatro Carlos Gomes é infinitamente mais simples, mas tem cadeiras neste espaço. Iguais as que tem na plateia.
Depois, teve uns discursos. De gente que também não conheço. Nem mesmo Pita Belli, a organizadora do Festival Internacional de teatro de Blumenau. De qualquer forma, foi interessante ver a receptividade da plateia as palavras dela e sua emoção. Para variar, sobravam espaços em posições bem melhores do que a minha, mas se nem em Porto Alegre me animo a tentar mudar, imagina em uma cidade estranha...
Vamos aos comentários do espetáculo, que tentarei transformar em crítica, argumentando, mas não garanto nada que vou conseguir, pois, realmente, não tenho esta prática. Até porque, como meus amigos sabem, costumo só escrever sobre espetáculos de que gosto, o que, já antecipo, não foi o caso.
Primeiro, se considerarmos que teatro possa ser a arte de contar histórias (embora, certamente, não se limite a isso), As Folhas de Cedro da Companhia Teatral Arnesto nos Convidou não tem nenhuma novidade, mesmo se tratando de uma história inspirada em imigrantes libaneses. Havia um cuidado com o figurino. Havia um código quanto a área de atuação definida por um círculo feito com giz no palco. Algo que me pareceu uma boa proposta, mas que não é a primeira vez que aparece. A ideia de usar a narrativa na figura da protagonista para situar os fatos que se misturavam entre o passado, o presente e o futuro parecia um recurso muito antiquado e formal.
E agora vem o mais grave. Não havia contracenação. Eles cometiam um erro primário de atuação. Cada um dava a sua fala, na sua vez. Correta. Na maioria das vezes, bem pronunciada, mas não havia energia entre eles. Não havia aquele estado de disponibilidade permanente que temos que ter quando estamos no palco com outros atores. Não havia generosidade, cumplicidade, troca. Era um espetáculo frio, sem ritmo. Mesmo nos momentos mais contundentes. A voz do ator ou da atriz subia. As palavras eram ditas com mais ênfase, mas não passava disso. Pensava em atores como Paulo José que conseguem demonstrar a intensidade de um sentimento com um mínimo de gestos e movimentos. Em Ralph Phiennes se quisermos fazer um gancho com a internacionalidade do festival. Claro que estou falando de mestres, mas apenas para deixar claro o que faltou naquele palco.
O que resultou foi a monotonia e um vazio. E nestas horas sempre penso que há uma falha na direção. Afinal, não havia ninguém para dizer que aquela forma não estava funcionando? E, vejam bem, estou sempre aberta a possibilidade de que as propostas sejam, realmente, estas. Ou seja, provocar estranheza, sair de atuações realistas, mergulhadas na emoção. Porém, ali não havia nem isso, nem aquilo. Surgia de vez em quando de forma muito sutil uma golfada de ar quando a atriz menina “aparecia” em cena. Ela era a única que mantinha a autenticidade de seus gestos, mas posso imaginar que isso não tivesse nada a ver com sua competência profissional.
Sem nada de atraente na luz, sem trilha sonora, sem aparatos cênicos. Sem. Cheguei a pensar que fosse a distância do palco que pudesse me prejudicar, que se tivesse na primeira fila teria visto melhor as feições dos atores e isso teria me causado outra impressão. Ontem, porém, estava na terceira fila. A senhora do meu lado quis comentar o espetáculo da noite anterior com um conhecido. A introdução dele para a sua opinião foi: “é para falar a verdade ou para ser legal?”. Então, me aproveito de estar em uma cidade que não conheço, de pensar que não vou voltar a ver estas pessoas para dizer o que penso. Imagino que se morasse em Blumenau iria preferir não fazê-lo, considerando, porém, uma pena que as pessoas ainda reajam desta maneira a crítica, comentário, opinião...Claro que ignoro aqui o fato de que no mundo virtual este texto pode chegar até o próprio diretor Samir Yazbeck e ele acabar “com uma baita de uma reeiva”.
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