Thursday, October 16, 2008

O filho do padeiro não ganhou o Nobel


Márcio Silveira dos Santos

 

     "O teatrólogo brasileiro Augusto Boal, o filho do Padeiro como se intitula em sua autobiografia Hamlet e o filho do padeiro: memórias imaginadas, estava entre os indicados ao Prêmio Nobel da Paz 2008. Boal não levou o prêmio, entregue a um finlandês, mas cabe aqui destacar a relevância do seu trabalho, bem como a influência no que desenvolvo nas aulas de artes com jovens.

     Augusto Boal é um dos mais importantes criadores de teatro de sua época e a sua maior criação, o Teatro do Oprimido, é realizado em mais de 70 países por centenas de grupos em diversas áreas como educação, movimentos sociais e entidades socioculturais. Os grupos de Teatro do Oprimido ajudam milhões de pessoas a afirmarem sua cidadania em suas lutas contra o racismo, o sexismo e todas as formas de desrespeitos aos inalienáveis direitos humanos. Um teatro estruturado na relação dialógica, proposta por Paulo Freire na sua Pedagogia do Oprimido, a qual Boal se inspirou.

      Tenho trabalhado nesta linha com os jovens da periferia da cidade. Utilizando desta potente ferramenta para conscientização de todos que a praticam. Considero minhas aulas como pequenos CTOs - Centros do Teatro do Oprimido. Onde procuro desenvolver caminhos para a transformação da realidade dos alunos, a partir da restauração de suas capacidades estéticas na melhor compreensão das relações que estabelecem socialmente. É um processo lento, respeitando individualidades nos coletivos, que vem apresentando resultados e se multiplicando.

     Recentemente, Boal disse que não tinha expectativa em ganhar o prêmio, mas anda extremamente feliz porque recebeu apoio para nomeação de diferentes pessoas dos cinco continentes. Ainda neste ano o dramaturgo recebeu o prêmio da Fundação Príncipe Claus para a Cultura e o Desenvolvimento, entregue pela Família Real holandesa. No Brasil, não é tão reconhecido quanto no exterior, como em Nova York, onde existe o dia do Teatro do Oprimido, proclamado pela Prefeitura local.

      O fato de Augusto Boal ter sido nomeado candidato já justifica a importância humanística do seu trabalho nos tempos líquidos em que vivemos. Repleto de violência sensacionalista, de falsidades ideológicas, da negligência com a cultura e com quem a faz. Em seu livro Teatro do Oprimido, de 1973, já dizia o que hoje representa sua condição: Tenho sincero respeito por aqueles artistas que dedicam suas vidas exclusivamente à arte - é seu direito ou condição! -, mas prefiro aqueles que dedicam sua arte à vida. Assim o filho do padeiro segue, através do seu teatro, provocando reflexão sobre o humano que ainda há em nós."

Márcio Silveira dos Santos é professor

Este artigo foi publicado no Jornal Vale dos Sinos desta quarta dia 15 (dia do professor). Reproduzo aqui, pois, vejo que muitas pessoas desconhecem ou não tem o devido respeito pelo trabalho de Augusto Boal

5 comments:

  1. Helena adorei ver meu artigo no teu blog.
    Precisamos divulgar amais o trabalho deste cidadão brasileiro entre nossos contemporâneos. Como o espaço do jornal é pequeno cortei algumas partes em que falava da comparação de Boal com Brecht e Stanislavski, claro para os dias de hoje. Na Europa se fala muito nesta comparação e com fundamentos e argumentos indiscutíveis. Acredito que as indicações para o Nobel devem ter sido mais dos outros continentes, como a África onde está seu foco maior no momento.
    valeu.

    Márcio

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  2. O prazer é todo meu. Só não vou colocar TODOS os teus artigos de uma vez só aqui para que tu não domines o meu blog. He,he,he. Mas, aos poucos, vou fazer questão de publicá-los. Assim, faço das tuas, minhas palavras e saio no lucro!

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  3. Oi, Helena!

    Adorei conhecer teu blogue e teus textos. Gostei muito do estilo "da casa", o teu jeito de escrever é como o teu jeito de falar: delicioso!

    Um abraço!

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  4. não tou entendendo...

    no meu blog a atualização do teu blog consta como algoque começa assim:

    "Acho que está na hora de mais um comentário sobre o andamento do mestrado. Seguimos fazendo a maior força para não perdermos nosso "

    não achei isso!!

    tou adorando o pavis

    bjus

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  5. Parabéns

    gostei muito.

    carla

    http://www.arte-e-ponto.blogspot.com

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