Fui ontem assistir ao 1º Festival da Canção Francesa, promovido pela Aliança. Para quem não sabe, eu havia me inscrito. Não porque já tivesse o hábito de cantar, mas, porque o prêmio era uma passagem com estada (não estadia, como dizem e disseram) para Paris. Para isso, sou capaz de cantar, sapatear e tocar flauta! Já escrevi sobre esta experiência aqui. Mas, quero falar de ontem.
Eles distribuíram dois ingressos para cada aluno. O que achei pouco, imaginando o tamanho do teatro da Reitoria onde foi realizado o evento. Bem, mas, seja como for, eles conseguiram um excelente público. Havia ainda lugares, mas, todos os níveis estavam com muitas pessoas. Foram selecionados apenas 10 que cantariam ontem. O diretor da Aliança Cristophe Benest abriu o Festival falando pouco, mas, falando bem, quase tudo em português de forma clara e gentil.
Já no primeiro candidato, foi possível prever o que nos aguardava. A candidata Sheila Schipper (2º lugar) cantou de forma tão extraordinária que comentei com a minha irmã: “se eu fosse a próxima, iria embora”. No entanto, a candidata que a sucedeu, Elizabeth Jaeger, entrou e cantou com outro estilo, outra maneira, mas, tão encantadora quanto. Uma dicção perfeita e uma voz doce, quase mágica. E assim, na medida em que os candidatos iam se apresentando, ficávamos cada vez mais felizes de não fazermos parte do júri. Havia esquecido que três pessoas seriam premiadas, mas, como os demais prêmios eram um bolsa na Aliança Francesa e um jantar no Chez Philipe, realmente, o prêmio que fazia toda a diferença era o do vencedor.
Foi interessante pensar que gostaria de estar ali no palco naquele momento. Só quem me conhece há muito mais tempo pode entender por que. É que isso significa uma longa conquista de uma boa auto-estima, algo que, sem dúvida, é muito importante para minha existência. Como candidata, havia planejado fazer uma performance. Interpretar, realmente, a música, utilizando o aprendizado teatral. E foi interessante perceber que os nove candidatos (um não se apresentou por motivos de saúde o que fez minha irmã dizer que, na verdade, ele se enforcara nas cortinas do teatro ontem à noite ao perceber o nível dos demais candidatos) não fizeram nada parecido. Havia como critério a questão da postura cênica e isso levou os candidatos a tentarem movimentar os braços, trocando o microfone de mão, o que em alguns casos, era até um pouco enervante, mas, não fizeram nada além. Havia uma cantora cega que não deixou nada a desejar em relação aos outros, nem na voz, nem nos movimentos (o que mostra a falha dos demais). Não que não fosse impressionante ver um dos candidatos, Maurício Barcellos, começar a música cantando a capela (ou seja, sem qualquer instrumento), mas, isso nada tinha a ver com a movimentação cênica que eu havia imaginado. Assim, apesar de ficar maravilhada com o nível dos cantores que se apresentaram ontem, ainda consegui pensar que meu projeto poderia ser algo diferente. Pelo menos nos meus planos.
O terceiro lugar ficou para Vanessa Medeiros de Jesus que cantou "Non, je ne regrette rien". Acho esta música maravilhosa, mas, não vi vantagens em vê-la cantada por esta menina. Ela tinha uma linda voz e cantou muito bem, mas, imitar Edith Piaf é algo que não me agrada. Piaf tinha um timbre incrível, só seu. Além disso, esta música é daquelas que estão entre as mais conhecidas e famosas e eu queria algo mais atual. Felizmente, não que a música não seja linda, ninguém escolheu "La vie en rose!"
Bem, mas, apesar não ter condições de rejeitar nenhum dos candidatos, tinha meus preferidos e Richard Emunds, o vencedor da noite, com a música "Mes yeux dans ton regard", não estava entre eles. Ele tem uma voz maravilhosa. Canta divinamente, mas, eu já o conheço há mais de dez anos fazendo isso e queria algo inédito. Seu profissionalismo não parecia fazer parte da minha idéia deste concurso. No entanto, a bem da verdade, o edital não o impedia. O único requisito é que a pessoa cantasse algo em francês nesta segunda etapa. Nada contra a vida artística anterior dos candidatos ou a ausência desta (meu caso). Assim, ontem, não fiquei muito satisfeita com o resultado. Parecia “marmelada”. Palavra que expliquei, hoje, para meu hóspede canadense. No entanto, com mais calma, hoje, pela manhã, comecei a pensar que o vencedor é uma pessoa que valoriza a língua francesa e insiste em divulgar esta cultura há muito tempo. Coisa na qual a Aliança também tem interesse. Além do mais, em seu “discurso” de agradecimento, ele foi bastante gentil elogiando o nível dos candidatos que foi, realmente, extraordinário. Sendo assim, para mim, que acompanhei a luta da minha mãe, enquanto vice-presidente da Associação Francesa do Rio Grande do Sul na valorização da língua no estado, foi uma grande satisfação ver o sucesso do evento realizado ontem.
Creio que para todos que amam esta língua, que não serve apenas para que sejamos arrogantes em relação aos que a desconhecem, mas, que nos abre para uma cultura tão rica e interessante, foi uma noite de contentamento e realização. Isso me fez lembrar, imediatamente, um texto que lemos durante a minha aula de francês sobre um questionamento feito pela imprensa americana se a cultura francesa estaria morta. Tenho certeza de que todos que estavam ontem na reitoria ontem à noite (e não eram poucas pessoas) diriam com muita ênfase e categoricamente que não.
PS: Senti falta de rever todos os candidatos no palco no final. Fica aqui minha sugestão para os próximos festivais.
LETRA DA MÚSICA QUE EU PRETENDIA CANTAR - MON MEC /MEU HOMEM
Il joue avec mon coeur - Ele brinca com meu coração
Il triche avec ma vie - Ele trapaceia com a minha vida
Il dit des mots menteurs - Ele diz palavras mentirosas
Et moi je crois tout ce qu’il dit - E eu acredito em tudo que ele me diz
Les chansons qu’il me chante - As canções que ele me canta
Les rêves qu’il fait pour deux - Os sonhos que ele faz por dois
Cest comme les bonbons menthe - É como bombons de menta
ça fait du bien quand il pleut - faz bem quando está chovendo
Il me raconte des histoires - Ele me conta histórias
En écoutant sa voix - Escutando sua voz
Cest pas vrai ces histoires - Não são verdadeiras estas histórias
Mais moi j’y crois. - Mas, eu acredito nelas
Mon mec à moi - Meu homem ...
il me parle d’aventures - Ele me fala de aventuras
Et quand elles brillent dans ses yeux - e quando elas brilham em seus olhos
Je pourrais y passer la nuit - eu poderia passar a noite
Il parle d’amour - ele me fala de amor
Comme il parle des voitures - como ele fala de carros
Et moi je suis où il veut - e eu fico onde ele quer
Tellement je crois tout ce qu’il me dit - tanto que eu acredito no que ele me diz
Tellement je crois tout ce qu’il me dit - tanto que eu acredito no que ele me diz
Oh oui - Ah, sim
Mon mec à moi - meu homem
Sa façon d’être moi - sua maneira de ficar comigo
Sans jamais dire je t’aime - sem jamais dizer eu te amo
C’est rien que du cinéma - não é cinema
Mais c'est du pareil au même - mas, é, ao menos, parecido
Ce film en noir et blanc - este filme em preto e branco
Qu’il m’a joué deux cents fois - que ele me apresentou duzentas vezes
Cest gabin et morgan - É Gabin e Morgan
Enfin ça ressemble tout ça - Enfim, se parece a tudo isso.
Je me raconte des histoires - Eu me conto histórias
Des scenarios chinois - Com cenários chineses
C’est pas vrai ces histoires - Não são verdadeiras estas histórias
Mais moi j’y crois - mas, eu acredito nelas
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