Sunday, June 08, 2008

Babel e Van Gogh


Chovia do lado de fora. Chovia no saguão do teatro Renascença ontem à noite. Último dia do espetáculo Babel, pelo menos desta temporada lá. Bom público, diga-se de passagem. A gente fica em casa com este tempo desagradável e pensa que todo mundo faz a mesma coisa. Ledo engano. Encontrei o diretor, meu colega de mestrado e com quem simpatizei desde o início, sem ter a mínima idéia do importante trabalho que ele já havia desenvolvido no teatro. (Mais uma razão para me convencer de que tenho mesmo algo a ver com esta forma de expressão artística.) Lá dentro, fui achando outros colegas. Afinal, fiz parte, com muito orgulho e suor, da primeira etapa de oficinas do espetáculo.

Em pleno verão, tínhamos práticas que tinham por objetivo ir nos colocando, aos poucos, em contato com este universo do Jean Genet. Não cheguei a ficar triste por não ter sido selecionada para o espetáculo. Já havia valido a pena o que tínhamos feito naquelas tardes quentes. Desde então, fiquei distante do processo e só ontem fui ver o resultado. Tinha comentado que tinha medo de não gostar. Sabia que o espetáculo ia apresentar uma temática do baixo-mundo, que ia explorar o nosso “lado negro”, etc. E a yoga vem me levando para outros caminhos. No entanto, detesto qualquer tipo de radicalismo, assim, tenho que estar aberta a propostas que estejam distantes do mundo tal como eu queria que fosse.

Não sabia que o “coro” (do qual faria parte se tivesse sido escolhida) teria uma participação tão ativa. Gostei do trabalho final. Estavam coesos, interessantes e com alguns destaques como a Ágata, exuberante no palco e Kalil que nem reconheci em seu personagem. Marcelo Mertins, aquele jovem ator doce, generoso que me ajudou a pular corda nas oficinas com a cumplicidade do seu olhar e que agora estava ali forte e intenso no palco. O cenário também era bem associado à proposta e o talento da coreógrafa Carlota Albuquerque está visível nos movimentos bem feitos no palco por pessoas que não tem formação em dança e estão mais acostumados com simples deslocamentos.

Humberto fez uma ousadia incluindo músicas entre as cenas. Algo meio brechtiniano, que confesso, me incomodou (não que isso seja, necessariamente ruim). A música não estava ali para sublinhar as cenas. Elas significaram um corte. Bem executadas, mas, de uma forma mais melodiosa do que eu esperava para o contexto de Genet.

Não havia exatamente uma história, nem personagens bem definidos, mas, isso nunca chegou a me atrapalhar. Só que preferia compreender melhor o que estava sendo dito, o que nem sempre acontecia e eu estava na segunda fila, ou seja, sem desculpas. Bem, mas, preciso falar de uma exceção: os textos dados pelo meu professor de mestrado e ator João Pedro Gil. Sua presença em cena era algo digno de registro individual. Ele, realmente, ocupou o espaço cênico, foi orgânico e todos aqueles adjetivos que ficamos estudando sobre os bons atores. Denis Gosch também é convincente.

De quase todos os outros, no entanto, eu esperava mais. Mal eu sabia, mas, queria ser provocada, me sentir desconfortável, abalada pela dramaturgia deste homem que deu ênfase aos excluídos. Isso acontece, mas, na última cena do espetáculo. Ali, veio o desequilíbrio que eu imaginava estaria presente em todo o espetáculo. Genet, pelo pouco que sei, gostava de apresentar o ser humano no seu limite e desestruturar com sua dramaturgia e, no final das contas, sai para ir tomar sopa no Van Gogh, a atitude mais alternativa da noite.

1 comment:

  1. Humm... não sei, acho que tu ficou em cima do muro. Ousa mais, sem medo. Acredita no teu olhar.

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