Monday, June 23, 2008

Canção de Assis: levando a alegria onde houver tristeza


Fui convidada (ou intimada?) a escrever sobre Canção de Assis pelo diretor Gilberto Fonseca. Infelizmente, não consigo ser imparcial enquanto isto for motivo de orgulho para mim. Fazer o que? Admiro alguém que tenha a mesma paixão pelo teatro que eu e competência para dirigir uma peça. Mas, por ora, tentarei deixar isso de lado.

O espetáculo era na sala Álvaro Moreira e, nada contra esse gaúcho fundador do teatro de brinquedo (primeiro movimento de renovação do teatro no Brasil): não gosto da sala. Não há uma razão específica, mas, em geral, vi espetáculos ali que não me agradaram e acabei associando uma coisa à outra. Mas, era hora de dar uma chance ao lugar.

Sentei bem na frente, pois se vou ao teatro é para sentir toda a energia dos atores. Não me arrependi. Mal a peça começa e os atores cantam. Suas vozes, em perfeita harmonia, enchem a sala e, imediatamente, o espaço se transforma. Pronto! Estava estabelecida a magia do teatro. Dali para frente só um erro muito grave me jogaria de volta para a sala fria daquela rua em Porto Alegre. Enquanto isso, eu ia sendo levada por cidades da Itália em busca de um burrinho perdido. Burrinho, aliás, objeto inanimado, mas, muito bem feito e que ganha vida na mão dos atores. Mãos que desaparecem sob meus olhos, enquanto mergulho no drama e na singeleza da história tão bem contada (ou seria cantada?) pelos atores.

A personagem principal interpretada por Fernanda Petit me emociona e me faz sorrir. Graças, é preciso destacar, a contracenação com Cássio Schonarth. Rio alto, como fazemos quando a risada vem de dentro e, em outros momentos, me esforço para não lacrimejar. Como assim? Mas, não era uma peça infantil? Quem disse? Então, só as crianças podem ter compaixão? Só elas se identificam com o sofrimento alheio? Jamais aceitarei isso. Sim, ok, eles estão fingindo, mas as emoções estavam ali, eu as vi, tenho certeza. Mesmo que as trocas de roupa fossem feitas na minha frente. Mesmo que um único ator fizesse mais de um personagem. Não importa. Fui conduzida em uma tarde de Domingo para a história de um menino frágil e sozinho que descobre um amigo, ou melhor, dois: um, gente, outro bicho. Sente o prazer de não estar mais só no mundo e não é isso que todos queremos?

Pois é, Gilberto, acho que vou ter que pedir desculpas. Minha capacidade de identificar os elementos teatrais e procurar analisá-los ficou perdida entre as notas das melodias tão bem executadas. Tudo que pude perceber foi um ótimo trabalho de grupo, de pessoas entrosadas que, na tua mão, nos envolvem e nos levam para aquela linha tênue onde a fantasia e a realidade se mistura, onde os atores e os personagens são apenas um, onde tudo parece verdade e mentira, onde, simplesmente, isso não importa. Sai leve, feliz e sem nenhuma dúvida do porquê da minha paixão pelo teatro. Por que a vida é um teatro e o teatro, quando bem feito, é a vida!

PS: Só para que o Gilberto não reclame (muito) da minha falta de objetividade, achei que algumas falas da Lúcia Bendati foram abafafas pelo instrumento que a acompanhava.

2 comments:

  1. Muito obrigado pelas palavras, querida. Tenha a certeza de que fico muito feliz de teres gostado do espetáculo. Beijão.

    ReplyDelete
  2. Que bom ler teu olhar sobre a peça, Helena. Eu que passei de espectadora a cancioneira, sei bem do que estás falando, embora de dentro do palco às vezes seja difícil perceber o todo. E obrigada pelo PS, vou ficar atenta, pois às vezes me emociono tanto ali dentro, que sei que não projeto muito a voz mesmo, vou ficar atenta e me afinar com o povo. Beijão.

    ReplyDelete