Thursday, June 05, 2008

Ninguém está livre do seu destino!

Fui assistir Édipo ontem, convidada pela artista Ida Celina que foi minha mãe no filme de Sergio Silva. Agora, mãe de Édipo. Nada mais, nada menos do que Jocasta. Então, preciso dizer que a ida ao teatro começou no momento que atendi o celular no domingo e era ela dizendo que eu estava convidada para uma sessão especial, não aberta ao público. Fico feliz e orgulhosa por ser lembrada por alguém que ganhou tão rapidamente meu respeito e minha admiração. Ela atriz, experiente, ex-diretora do DAD. Eu, amadora. Uma mesma paixão: as artes e um mesmo interesse: gente. Perguntei se podia estender o convite ao canadense que estou recebendo. “Sim, claro”, disse ela. Assim, ficou combinado. Mas, Charlie tem muitas ocupações e toda a dificuldade de se organizar em um lugar desconhecido. Ainda lembro o prazer e agonia que isso significa. A dificuldade de assumir compromissos, ao mesmo tempo em que tudo que ser quer é poder “ir ao sabor do vento”. Perto da hora combinada, comecei a ligar para o celular dele. Nada, nem um sinal. Meia hora antes do espetáculo, já havia decidido. Eu vou. Fazer o que? Um pouco contrariada pela falta de notícias. Teria acontecido alguma coisa? Seria descaso? Sim, quem me conhece sabe que sou levemente paranóica. Às vezes, insisto em achar que o mundo gira ao redor de mim, mas, no mau sentido. Ops, mas isso não é paranóia, é egocentrismo. Seja o que for, estava me deixando meio invocada. Estou chegando ao teatro quando o celular toca. Faltavam menos de 10 minutos para o espetáculo. Ele estava perto. Pede desculpas. Digo que vou buscá-lo. Mal abro a porta do carro, ele diz: “como tu estás bonita”, cheio de um sotaque que não tem como não me fazer sorrir.

Bem, mas, é hora de falar do espetáculo. Como Bárbara Heliodora, vou para gostar. E foi o que aconteceu. Bem, a história me fascina. Como alguém pode inventar um enredo tão interessante? Alguém que tenta fugir do seu destino e não consegue? Matar o pai e casar com a mãe sem saber? Quer algo mais perturbador? Agora o que interessa é que já li e reli a história algumas vezes, mas, Luciano Alabarse conseguiu montar um espetáculo que me colocou tão para dentro que me vi totalmente envolvida, angustiada, sofrendo com os personagens. Brecht que me desculpe.
Marcelo Adams (Édipo), para mim, é garantia de que não vou perder meu tempo. Gosto de tudo que o vi fazer até agora e o resto do elenco não fica atrás. O vidente Tirésias, pelo ator Lutti Pereira, merece também destaque. Palmas para o figurino de Rô Cortinhas que não exagera e sublinha o corpo dos atores com suas vestes. E o mais importante. Não há apenas pontos fortes. O todo é bem feito. O cenário, incluindo as projeções, não peca pelo excesso, nem pela falta. É limpo, poético e dramático, ao mesmo tempo. O coro reforça a tragédia, esclarece o que precisávamos para ir compondo melhor a história. Gosto também dos deslocamentos no palco, faz parte do ritmo do espetáculo.

No entanto, mesmo acreditando que possa ser uma escolha do diretor com o objetivo de acompanhar o tema trágico, devo confessar que já no final, depois da revelação da intensa brutalidade dos fatos para Édipo, comecei a me inquietar com a entrada ou re-entrada de personagens para terminar a história. Talvez, fosse porque já havia atingido o meu nível máximo de reação ao espetáculo e precisasse de um momento de alívio, mas, senti esta perturbação. Também pode ser porque estou desacostumada com um outro ritmo, “sem efeitos especiais”, como disse o canadense que elogiou o trabalho, provavelmente, porque também estava ali para apreciar o momento e pode compreender mais claramente as palavras ditas com tanta apropriação por todos os atores. Não entendo inglês para saber se a trilha de Stones era inconveniente, mas, não entendi o uso de Satisfaction em um determinado momento. Ignorância minha? É possível. De qualquer forma, recomendo: assistam ao espetáculo e depois me digam.

1 comment:

  1. Verei e direi.
    Minha casa está sempre de portas abertas pra ti, amigona.
    Beijo.

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