Tuesday, June 17, 2008

Comédia de erros. Espetáculo de acertos.


Fui assistir ontem a Comédia de Erros. Segunda-feira. Dia estranho para teatro em Porto Alegre, mas, bom para mim que tenho aula de francês aos sábados e fico com preguiça de fazer quase tudo no fim-de-semana até mesmo o que me dá prazer como o teatro. Mas, sempre digo aos meus amigos que adoro fazer teatro, mas, vou mesmo é ao cinema! É chato, eu sei, mas, quem gosta de teatro como eu, acaba entendendo. É que cinema, quando o filme é ruim, a gente sempre aproveita alguma coisa. Teatro quando o espetáculo é mal feito, fico constrangida. Não só porque, muitas vezes, eu conheço quem está no palco. Mesmo quando nunca vi o ator antes, me sinto assim. Pois bem, mas, ontem, foi totalmente ao contrário.

Foi um prazer estar naquela platéia. Porque é assim, quando o teatro é bom. Não há coisa melhor do que ter as pessoas ali, ao vivo, em carne e osso. E quando a representação é bem feita, somam-se todas aquelas emoções e expressões. E, na Comédia de Erros, são muitas e muitos acertos (será que forcei o trocadilho?), também, eu diria. E olha que a minha expectativa era alta. Com Sofia Salvatori, Gustavo Curti e Lauro Ramalho no elenco, eu já esperava muito. Então, foi perfeito ver que eles não decepcionam. Aliás, não somente eles, mas todo o elenco. Os demais atores, que não conheço pessoalmente, estão ótimos, convincentes, divertidos. Falando nisso, preciso destacar a atuação de Rodrigo Mello que, apesar do sobrenome, não é meu parente. Trata-se de um jovem ator. Um dos seus colegas de cena me disse que este parece ser seu segundo trabalho. Então, Porto Alegre prepare-se:está nascendo um ótimo ator! Não conseguia tirar os olhos dele em cena.

Bem, mas, antes de me aprofundar nos meus comentários sobre a atuação, preciso falar do espaço cênico. É muito bom ver o Stravaganza conseguindo transformar aquele “garajão” em um local tão aconchegante, tão receptivo, principalmente, em uma noite em que os termômetros estavam próximos dos 5º. A cada espetáculo, eles conseguem, realmente, criar. A idéia de um mercado não só se insere, completamente, ao conteúdo da peça, como serve de atrativo para o público. Percebe-se um cuidado nos detalhes de todos os elementos colocados em cena. Assim, mesmo antes, dos atores começarem a contar a história, eu já estava impressionada com tudo que via e feliz por verificar que não é preciso de um palco italiano e poltronas forradas para que a gente se sinta confortável.

Sim. Prestei à atenção a iluminação. Nilton Filho, diretor e meu professor de iluminação, me deixou com este “cacoete”, mas, não tem nada a ver com a história estar entediante ou não, pois, certamente, este não era o caso. Mas, é algo que, até fazer a sua disciplina, nunca me dava conta e agora me divirto percebendo como uma boa luz, como a do Fernando Ôchoa, pode conduzir o nosso olhar, mesmo em um espaço tão grande como do Stravaganza.

Voltando ao espetáculo, encenar Shakespeare só confirma, cada vez mais, minha opinião sobre ele. Escrevia uma história como ninguém. Mas, claro que isso não é suficiente para fazer um bom espetáculo. São muitos componentes. Por isso, no programa vemos uma grande equipe para chegar a este resultado que não é fácil atingir. A gente sabe. No entanto, o que mais chama a atenção de quem assiste é a “inteireza” dos personagens. Quando o espetáculo começa com o texto dado pelo Lauro Ramalho já comecei a pensar: “como será que ele aprendeu a dizer um texto assim?” Claro que ele ensaiou e muito. Lembro que nos vimos pouco antes da peça estrear e ele estava preocupado. Só que o que ele faz não se aprende em poucos meses. É um trabalho de anos e diria sim: talento. Por isso, ele consegue receber o público totalmente maquiado, com cílios postiços, roupas extravagantes e depois aparecer no final com a aparência humilde de um prisioneiro.

Também dava para perceber que não deve ter sido nada fácil dirigir a Comédia de Erros, mesmo com este grupo de atores. A proposta de Adriane Mottola é irreverente, com vários momentos em que os atores se deslocam de forma “anárquica” pelo espaço. É claro que para chegar a isso é preciso saber exatamente o que se quer.

Quanto à história, não gosto de adiantar nada, principalmente para quem não conhece o texto, mas, preciso dizer que mesmo os atores não sendo tão parecidos, a interpretação estava tão convincente que comecei a me confundir com os atores, sem saber quem era quem, confundindo-os, exatamente, como pretendia aquele menino (como diz Sergio Silva), o Shakespeare.

Será que preciso dizer mais? Não creio. Quando vou ao cinema não leio a sinopse e quando retiro um DVD não leio a caixinha. Então, por que estragaria a surpresa das peças de teatro? Assistam.

PS: Desta vez, escrevi olhando os tópicos repassados por Bárbara Heliodora durante a sua passagem em Porto Alegre, mas, continuo preferindo deixar fluir minhas idéias do jeito que elas vão surgindo. Espero que isto não seja um defeito, mas, meu estilo!

4 comments:

  1. Criticar quando devo, elogiar também. Que texto, minha querida. Amei tudo que tu escreveu. Falou com propriedade, com arte. É essa Helena que eu queria que tivesse escrito o texto do Genet. Parabéns! Só pra não deixar de ser eu: não gosto da luz da peça, ela não tá a altura do espetáculo, de resto, faço minhas as tuas palavras.
    Beijo.

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  2. Caro Morpheus,

    Não quero que tu deixes NUNCA de seres tu!!! Ainda bem que tu não és ator. He,he,he. Mas, já que não gostas da luz é sinal que entendes disso e eu quero detalhes, mais detalhes.

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  3. A "convite" de um link do Morpheus, cheguei até a tua página. Também assino embaixo. Assisti no terceiro dia, também uma segunda-feira, mas queria assistir de novo. Adorei! Só tenho uma errata: o nome do novo ator é Rodrigo e não Felipe Mello, também me chamou a atenção e perguntei ao Gustavo como ele se chamava. Enfim, adorei teu texto!

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  4. Nossa, Lúcia, que furo! Pensei ter verificado no programa da peça o nome certo do ator, mas, me passei! Entrei lá e corrigi. Graças a ti. Obrigada pela atenção e pelo elogio.

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