Sunday, July 03, 2011



A sofisticada simplicidade do novo espetáculo do Gaia
Fui ver Cinderela fashion week. Não sabia o que esperar. De cara, já achei agradável ser colocada em uma sala que recria justamente uma passarela. De frente uns para os outros, olho as tantas pessoas que saíram de casa para ver o espetáculo em uma noite fria e sei que também sou vista. Aos poucos, sou levada a um universo divertido e, ao mesmo tempo, intenso.
Se o cenário é apenas uma plataforma, quase uma cópia do real, os figurinos (muitos, aliás) moldam os corpos em cada gesto. Algo simples como colocar um par de botas nos braços, encobrindo as mãos, geram uma impressão estética extremamente forte como se tudo estivesse de pernas para o ar.
A trilha sonora traz muitos sucessos populares nacionais e internacionais que remetem  a ícones como Xuxa a Leonardo di Caprio e provocam emoções diversas.  Quer tango? Tem. Quer valsa? Tem. Quer Axé. Também tem. Tem até uma caixinha de música! Enquanto isso, os bailarinos atores (ou atores bailarinos?) cruzam o tapete vermelho de ponta a ponta, ora em movimentos normais, ora lentos, ora hiper velozes.  Ora quase voando, ora rastejando. Neste espetáculo o corpo não só fala, como grita e esperneia.
Sinto uma falsa leveza na proposta do grupo Gaia que, enquanto me embala ao som de músicas tão conhecidas, me faz ver um dos homens com o rosto coberto por uma máscara negra, arrastar uma das mulheres que sorri, quase inconsciente da brutalidade da qual é vítima. Gestos agressivos aparecem em várias outras ocasiões, em uma contracenação em que a mulher aparece quase sempre submissa e desfazem o mito da história feliz daquela que espera pelo príncipe.
Para mim, Cinderela Fashion week é sensual, divertido, dramático. Será que estou vendo demais? Será que tudo que vejo e ouço foi pensado ou é resultado de improvisação e intuição? Estou tornando filosófica uma proposta que não tinha esta intenção? Mas saber isso, realmente, importa? Quem continua apegado ao caráter de denúncia e subversão da arte, perde muitos momentos de pura fruição e se tem uma coisa que aprendi com os cursos que fiz  é que nenhum artista controla as repercussões daquilo que cria e que, muitas vezes, o público  percebe coisas que ele não tinha consciência, mas que estavam lá.
E para quem pensa que eu estou sendo “boazinha” como a fada madrinha, devo dizer que não gosto do final. Acho que a escolha de sambas força, desnecessariamente, a empatia do público. Afinal, ao ritmo de uma bateria não tem quem não se deixe levar. Mas, na minha opinião, não acrescenta. Só não chega a ser grave já que eles pretendiam mesmo acabar. E se alguém discorda completamente de tudo que eu disse, ótimo. Sinal que estava lá para assistir. Quanto a mim, bem que gostaria de uma cópia daquela trilha para espantar o frio, exatamente como o grupo Gaia, botando o corpo prá dançar. Ah, talvez, acrescentasse a Macarena só para lembrar.


Ficha técnica
Direção geral e coreografia: Diego Mac e Alessandra Chemello
Elenco: Alessandra Chemello, Aline Jones, Daniela Aquino, Denis Gosch, Fabi Vanoni, Guadalupe Casal, Joana Nascimento do Amaral, Nilton Gaffree, Patrick Vargas e Ricardo Zigomático.
Figurino: Raquel Capeletto
Cenário: Zoé Degani
Iluminação: Fabrício Simões
Trilha-sonora: Diego Mac
Designer: Tupax - Tiago Giordani 
Assessoria de Imprensa: Fabulosa Ideia
Produção Operacional: Sandra Santos
Produção: Grupo Gaia
Financiamento: Fumproarte


Serviço

Espetáculo: Cinderela Fashion Week
Datas e horários: 02,03, 09, 16 e 17 de julho, sessões às 17h e 19h. Não há sessões no dia 10.
Local: 4° andar da Casa de Cultua Mário Quintana
Ingresso: entrada gratuita

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