Sunday, July 03, 2011

O Festival da Canção Francesa e seu imprevisível clima musical

Fazia bastante frio e, como se isso não bastasse, chovia. Porém, não me passava pela cabeça deixar de ir ao Festival da canção francesa. Parece que muita gente pensou da mesma forma. A Reitoria estava quase lotada. Muitos rostos conhecidos. Só o fato de saber que todos estão lá para ouvir pessoas cantando música francesa já me traz satisfação. Além de ver que mais gente compartilha do meu interesse pela França, para mim, significa que aquelas visitas de minha mãe de emissora em emissora de rádio, tentando divulgar a música francesa (junto com a então presidente da Associação dos professores de francês, Denakir Campos) não foram em vão.

As apresentações começam. Imediatamente, lembro com saudades de Christophe, o diretor anterior que criou o Festival. E não sou a única. Ele é citado pelo presidente: Hipérides Ferreira de Mello. Em seguida, Jacques Petriment, atual diretor, faz os devidos agradecimentos. Lê em português e percebe que misturou um pouco de espanhol ao dizer “por supuesto”. Encerra falando “beleza”, o que me gera um certo estranhamento da gíria, mas minha irmã chama a atenção que é melhor do que “show de bola”. Quem foi que disse que falar português é fácil?

Dudu Sperb começa a chamar os concorrentes do Festival que este ano homenageia Serge Gainsbourg. A primeira música, deste cantor que não conhecia, me chama a atenção pelo título: “Je suis venu te dire que je m’en vais”, ou seja, eu vim dizer que eu me vou. Parece incoerente, mas lembra muito o término das relações. Além disso, a ótima voz do primeiro cantor mostra que a noite, realmente, promete. Mas não vou falar de cada um. Apenas direi que a concorrência era mesmo acirrada. O nível dos selecionados garantiu, sem dúvida, um ótimo show. Nem todos me agradaram, mas é verdade que estamos ficando cada vez mais exigentes. De qualquer forma, eu que havia pedido no último festival, mais movimentação no palco, tive meus desejos atendidos pelos cantores da noite. Alguns tinham até fã-clube, torcidas, com gritos e tudo mais.

Em todas as edições sempre me vejo achando no mínimo engraçado estar em plena cidade gaúcha com aquelas pessoas cantando em francês, estabelecendo uma mágica ponte POA-Paris que só aqueles que amam esta língua podem fazer. Além disso, foi interessante a ideia de conversar com os vencedores anteriores. Foi muito bom poder ouvi-los cantar novamente também. Richard Emunds disse que a pessoa que ganhasse o prêmio deveria se sentir a pessoa mais feliz do mundo quando chegasse a Paris, pois, não estaria ali por ter ganho uma passagem de alguém, mas sim, pelo fato de ter cantado bem. Concordo.

Com gente tão boa competindo fica evidente que não são só os jornalistas que tem dificuldade de se destacar profissionalmente. Ser cantor também não é nada fácil. Afinal, muitos tinham todas as condições de serem famosos, se a fama dependesse apenas de talento. Bem difícil para a comissão julgadora, da qual fazia parte meu amigo, Newton Silva.

Quando uma das concorrentes favoritas do público foi chamada para o terceiro prêmio, o público não perdoou e vaiou. Eu, particularmente, não concordo com esta reação. Mesmo que o primeiro lugar não tenha sido a minha escolha, achei simplesmente terrível as pessoas começarem a sair, enquanto ele cantava novamente a canção vencedora. Infelizmente, mostra que ainda serão necessários mais festivais para que todos entendam que mesmo que o escolhido não seja o da nossa preferência, o que importa é este incrível evento que valoriza esta língua linda e coloca no palco pessoas que com suas vozes aquecem uma noite fria. Ano que vem, mesmo que esteja nevando, estarei lá. Com o frio que está lá fora, alguém dúvida?



1º Lugar
Augusto Darde (RS)
Música: Initials BB
Pela segunda vez no Festival da Canção, Augusto Darde é integrante da banda de eletro-folk "L'étoile est morte". Estudante de Francês na UFRGS, sua relação com a música vem desde a pré-adolescência, quando aprendeu a tocar bateria e logo depois vieram as cordas. Passou a juventude ouvindo e tocando, fazendo parte de diversas bandas como baterista e compositor/guitarrista. Suas principais influências musicais estão no pós-punk e na new wave dos anos 80.

2º Lugar
Helena Wöhl Coelho (RS)
Música: Le Poinçonneur dês Lilás
Jornalista formada pela UFRGS e em Comércio Exterior pela Unisinos. Trabalha com arte desde sempre, através de projetos como o “Cante e Dance com a Gente”, onde teve sua formação voltada para a atuação em Musicais e participou de produções cênicas, fonográficas e audiovisuais. Estudou canto e piano na Musikschule Bochum e no Instituto de Música da EST; ballet clássico na escola Petit Ballet, e cursou a Oficina de Formação de Atores da Escola de Teatro Popular da Terreira da Tribo, além de passar por diversos grupos vocais no Brasil e no exterior. Atualmente estuda francês, faz aulas de salsa e segue cantando.

3º Lugar
Raíssa Panatieri (RS)
Música: Le Poinçonneur des Lilás
Bacharel em Música com Habilitação em Canto pela UFRGS, Raíssa Panatieri é mezzo-soprano e transita com fluidez entre o repertório lírico e o popular. Em maio de 2009, sob a orientação do barítono Carlos Rodriguez (Brasil/Holanda), realizou com a OSPA, sob a regência do Maestro Manfredo Schmiedt, a sua estréia como cantora profissional. Atualmente realiza a preparação vocal do Coro do Colégio de Aplicação da UFRGS, e conclui a Licenciatura em Música pela mesma universidade.

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