Quando eu era pequena adorava escutar as histórias infantis que vinham gravadas em uns discos coloridos. Lembro que a gente os comprava no aeroporto. Várias eram de Hans Christian Andersen. Além disso, já comentei, que ouvíamos outro que tinha a história da Rapunzel. Registrei o tom da bruxa repetindo que o príncipe só sentiria por ela, após seus cabelos cortados, compaixão. Eu que costumo dizer que minha memória é prejudicada, nunca esqueci a voz da pessoa fazendo propaganda das lavadoras Bendix, patrocinadora das gravações. Ficaram também algumas outras histórias como O Pedro e o Lobo ou o Sapatinho Vermelho. Ah, e A roupa nova do rei também me marcou profundamente. Só isso já seria uma motivação para ir ver o espetáculo do Grupo Farsa. Assim, sabendo que Lúcia Bendati, Ariane Guerra e Marcos Chaves estavam no elenco e que Gilberto Fonseca era um dos diretores, espantei minha preguiça de uma tarde de Domingo e lá me fui.
Último dia desta temporada, o pequeno teatro Álvaro Moreira lotado. Muitas crianças. O que para mim é sempre motivo de satisfação. Mal entram em cena, os atores já dão sinais de que será divertido. O figurino de Daniel Lion muito bem elaborado, colorido, por si só já é engraçado. Junta-se a isso as falas ditas com as pausas certas e fiquei com a impressão de que assistia a personagens de histórias em quadrinhos ao vivo e a cores. Isso sim é que é 3D! É claro que a maquiagem de Elison Couto colabora. Tanto é que nem reconheci minha colega de mestrado Ariane nas primeiras cenas. Bem, não vamos esquecer o talento desta jovem atriz. Afinal, é isso que o teatro permite: ser outro. Já o cenário é simples, mas eficiente. Sei, sei... Muita gente implica com estes adjetivos, mas defendo que são palavras como outras quaisquer. Não vejo por que não fazerem parte de qualquer texto. Mas tudo bem, posso dar um exemplo. Gosto quando há versatilidade. Assim, a cadeira do rei ser virada e transformar-se no atelier de costura representa o que disse antes.
A impressão que tenho é que eles conseguem fazer várias marcações, sem deixar o espetáculo monótono ou previsível. Ao contrário, me dá a ideia de leveza. Revendo esta história tantos anos depois, agora na adaptação de Roberto Oliveira, fica mais fácil entender porque do meu fascínio. Lá mesmo no teatro pensei em como é uma história atual ou alguém acha que vaidade e poder são coisas do passado? Imagino que algo semelhante tenha se passado na cabeça daqueles pais, pois fiz questão de observá-los e ficou claro para mim que eles se divertiam tanto quanto seus filhos. E isso, com certeza, também é mérito dos demais componentes do grupo como Plínio Marcos Rodrigues e Vinícius Meneguzzi. E para usar mais um adjetivo fico feliz em ver que é um elenco tão coeso. Aliás, acho que, se não bastasse todos os outros méritos do Grupo Farsa, esse seria um que já os colocaria em destaque: saber contar histórias para um público que mistura adultos e crianças e entreter a todos. Eles dão motivos para que a história deste rei tão preocupado com a sua aparência fique na memória daquela plateia por tanto tempo quanto aqueles discos ficaram na minha e olha que lá se vai quase meio século.
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