Friday, December 17, 2010

Compartilhando arte e emoção

“Não existem apenas os atores globais. Há pessoas nesta cidade que também fazem teatro”, disse o guia da visita de uma escola no teatro Glênio Peres, na Câmara Municipal. Ótima observação. Afinal, eu estava ali para assistir a uma antiga colega das oficinas com Zé Adão Barbosa. Embora ela não fizesse parte, até pouco tempo, nem do circuito gaúcho de teatro, quem viu Tânia Cavalheiro no palco não pode duvidar que ela mereça estar ali.

Desde que recebi o convite, tive interesse de ir. Lá se vão mais de seis meses. Desta vez, a chamada foi mais forte. Era a última apresentação do ano. Na divulgação do espetáculo A Fuga, a sinopse de uma história impressionante. Uma mulher que no início do século XX abandona o marido e faz uma viagem de 32 dias de carroça com 8 dos seus 11 filhos. Para tornar ainda mais interessante, era uma história verídica e de uma pessoa da família da própria Tânia.

Sabia que seria algo curto, com menos de uma hora. O fato de ser um monólogo me deixava ainda mais curiosa. Como contar esta história sozinha? Como manter o interesse do público? Bem, mas antes quero dizer que cheguei com o afilhado da minha irmã um pouco antes e não tinha ninguém. Quase na hora e o teatro continuava vazio. Pensava justamente em como é difícil fazer um espetáculo sem plateia. Que, além das outras razões para não querer estar no palco, havia esta dificuldade de encarar de forma tranqüila a ausência de público. Eu, que procuro não inflar meu ego, teria dificuldade de não levar para o lado pessoal um teatro vazio. Porém, poucos minutos depois, chegou a tal turma e quase lotou o espaço. Ufa!

Neste meio tempo já tinha dado para ver que havia uma cadeira e um caixote no palco, um saco e fotos colocadas em cavaletes. Este era o cenário. Quase nada. Em seguida, entra Diamantina. Sim, porque, com certeza, não era a Tânia que estava ali. Minha amiga é uma pessoa charmosa, elegante, que chama atenção assim que chega. Diamantina era uma mulher idosa, meio tímida, com um caminhar limitado e um jeito de falar titubeante. O recurso para começar a contar sua história é imaginar outra pessoa que está lá para ouvi-la e não pensem que é fácil esta história de faz-de-conta. Exige bastante do ator. No caso, da atriz. Mas ela faz as pausas certas. O tempo certo para as respostas. O olhar. Tudo. E assim vai também se dirigindo ao público, transmitindo as emoções daquela mulher que de vítima, se descobre guerreira. Não há necessidade de grandes deslocamentos no palco. Não há trilha sonora. Na cadeira, no caixote, mexendo no saco (de batatas!), Diamantina consegue separar os diferentes tempos e as emoções de cada momento.

Tânia Cavalheiro me faz pensar naquela concepção básica do teatro, de uma história para ser contada. É no seu tom de voz, no seu timbre e no seu olhar ora alegre, ora triste, ora emocionado que ela nos transmite tudo que é preciso saber para compreender o que aconteceu com aquela mulher e admirar a sua força. Passamos por todas as emoções de uma vida que, sem dúvida, é um exemplo para qualquer ser humano e que não tenho dúvidas impressionaria até mesmo autores como Shakespeare. Feliz da Tânia que tinha um tema desses na própria família e que soube levá-lo ao palco com muita competência. Não sem antes pesquisar muito, ensaiar muito e querer mais do que tudo fazer aquilo que ama: compartilhar. Feliz de mim que, mesmo depois de anos sem a ver, a reencontro assim e recebo um abraço que faz o afilhado da minha irmã dizer: foi muito lindo ver vocês assim.

PS: E se ela voltar em cartaz, fuja para ver!

1 comment:

  1. Helena, tuas palavras me incentivaram a continuar atuando...Obrigada!
    Por outro lado, escreves com maestria e isso me fez continuar
    acompanhando teu trabalho. Tens o sucesso merecido!

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