Tuesday, June 08, 2010

Tempo...tempo...tempo.

Saber envelhecer... o que é isso? Houve época em que era saber a hora de ficar em casa fazendo tricot, de pantufas. Mas e hoje? Vi a Julia Lemmertz em entrevista a Fernanda Young dizer que se recusava a fazer papel de mãe e, de repente, se viu fazendo a mãe do Wagner Moura na série JK. Fernanda declarou que ainda se sente aos 10 anos, cantando Lança Perfume. Acabo de ver Sharon Stone na propaganda da série Lei e Ordem. Não a reconheci. Fiquei pensando que era a artista da série A Gata e o rato que não existe mais. Era uma loura bonita, mas envelhecida. Vi também um filme sobre a vida de Natalie Wood onde uma personagem representando a Marilyn Monroe dizia que tinha 36 anos e que estava velha demais para Hollywood. Este fim-de-semana passamos por uma casa para idosos chamada Tempo de viver. Estava inspirada a pessoa que o criou.

Eu estou a caminho dos 50. Faço 48 em outubro. Às vezes esqueço a idade que tenho. Não por que a negue, mas porque começo a dizer a idade que vou fazer e acabo me confundindo. Tenho que prestar mais atenção. Afinal, os 50 quero comemorar em Paris. Outro dia, atravessava a rua com os cabelos presos, tênis e abrigo. Não me sentia diferente de quando tinha 20 anos. Menos angustiada, talvez. Com mais gana de viver, com certeza. Eu precisei de uma doença que me colocasse em risco para me apaixonar pela vida. E da terapia, do teatro, da ioga e, sem dúvida, dos amigos. Tenho amigos mais jovens que eu. Me identifico com eles. Talvez, porque não tenha me casado, nem tido filhos que me comprovariam que o tempo passou. Mas quando vejo minha irmã, quatro anos mais velha do que eu, e um filho de 30, de bermuda e botinha em plena forma, andando de bicicleta, já não tenho tanta certeza. Meu irmão se preocupava muito com a idade. Bobagem. Sempre pareceu mais jovem do que era. Mas brigava quando dizíamos a idade dele e insistia em não ser o irmão mais velho. Morreu com 49 anos. Será jovem para sempre em nossa memória. Meu pai, ao contrário. Foi ficando debilitado fisicamente e um pouco antes dele morrer tivemos uma conversa sobre isso. Concluímos que se continuássemos tendo todas as capacidades de quando jovem, não aceitaríamos a morte e achamos sabia a natureza.

Observo que os mais jovens logo começam a dizer que as pessoas mais velhas já não tem noção das coisas, que não deveriam se vestir de uma determinada maneira e vão sendo excluídas. Mas meu conhecimento da maneira como os mais velhos são tratados na França (na Europa em geral) insiste em não aceitar esta ideia. Em outros países, os mais velhos fazem muitas atividades não só físicas, mas intelectuais. As pessoas estão vivendo mais. Os avanços da medicina estão permitindo isso. Houve um tempo em que as pessoas morriam muito jovens. Está aí a história que não me deixa mentir. Heróis, poetas, escritores não passavam dos 30.

Acho bonito as pessoas com rugas. Na natação, estes tempos, tinha uma senhora com uns 90 anos. Achei lindo. Agora, me assusto com aquelas que ficam puxando a cara com plásticas. Ou que mantém o rosto jovem enquanto o resto denuncia a verdadeira idade. Provavelmente seja isso envelhecer bem. Aceitar que o exterior apresente estas marcas. Não tentar mascarar, fingir que é jovem. Mas por dentro, como se sentir mais velho? Quando começo a me sentir um pouco culpada por não me sentir assim, lembro que não estou sozinha. Um dos meus ídolos, o poeta Mario Quintana fez até uma poesia sobre isso:

RECORDO AINDA



Recordo ainda... e nada mais me importa...

Aqueles dias de uma luz tão mansa

Que me deixavam, sempre, de lembrança,

Algum brinquedo novo à minha porta...



Mas veio um vento de Desesperança

Soprando cinzas pela noite morta!

E eu pendurei na galharia torta

Todos os meus brinquedos de criança...



Estrada afora após segui... Mas, aí,

Embora idade e senso eu aparente

Não vos iludais o velho que aqui vai:



Eu quero os meus brinquedos novamente!

Sou um pobre menino... acreditai!...

Que envelheceu, um dia, de repente!...

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