Estava em um encontro com uma amiga que não via desde o ano passado. Foi no mínimo estranho dizer Feliz Ano Novo em pleno junho, mas, talvez, isso seja uma amostra do ritmo de vida que estamos levando. Menos de uma hora depois, olho meu celular e tem nove chamadas não atendidas. Todas com o número de casa. Cheguei a ficar preocupada. No fim, era o convite para assistir o balé Mahavidyas, no qual dançavam Didi Pedone, Francine Pressi, Gabriela Peixoto, Gelson Farias, Raul Voges, Rodrigo de Almeida e, por último, mas não menos importante, minha prima Angela Siazzi. Tinha, assim, pouco tempo para me arrumar. Sem combinarmos, eu, minha mãe e minha irmã acabamos as três de chapéu. Diferentes estilos, mesmas cores: preto e branco. O que rendeu elogios da artista plástica Zoravia Betiol, nossa amiga, lá presente.
Com o teatro cheio. Rampas no palco. Minha mãe estranha. Eu digo que é o cenário pelo qual, em breve, a Angela deverá escorregar. Não é vidência. É a experiência de já ter assistido outras coreografias de Carlota Albuquerque. Mal começa o espetáculo e eu penso: toda orquestra deveria ter bailarinos. Todos os bailarinos deveriam ter uma orquestra. Não tenho dúvidas de que presenciar o encontro de tantos artistas ao vivo é um privilégio. Embora meu lugar na primeira fila não me permitisse ver os músicos direito, sabia que eles estavam ali e, ficar a quatro degraus do palco do Teatro São Pedro nunca me deixará incomodada. Além do mais, vejo bem os bailarinos. Quatro mulheres e três homens que dançam juntos, sozinhos, se revezam e apresentam um equilíbrio de competência, mesmo que meu olhar insista em destacar minha prima que respira diferente e tem um olhar tão expressivo que, por vezes, me assusta. Aliás, quem disse que bailarina tem vida curta não a viu neste espetáculo. Ela consegue estar ainda melhor do que da última vez que a vi dançar. Assim como Carlota que se supera a cada espetáculo. Em vários momentos pensei: este é o melhor espetáculo dela. Claro que isso é apenas a minha opinião. A verdade é que muitos (se não todos) traziam sempre algo novo, desafios e propostas inusitadas. Este, não foge a regra. Em um jogo de revela e esconde, entrega e controle, cumplicidade e rivalidade, os bailarinos encantam com sua agilidade, leveza, perfeição de movimentos. Provocando encontros ou fugas, “discussões” ou “entendimentos”, eles ora rastejam, ora parecem voar.
Os bailarinos dançam para a música? Ou a música acontece para que eles dancem? Pouco importa porque, se no palco eles se atraem e se rechaçam, entre os bailarinos e os músicos da orquestra a integração é total e, na efemeridade deste momento, a preparação prévia pode ser percebida em alguns movimentos que se repetem e, devido a estes códigos que fazem parte da arte, quando a bailarina volta a posição inicial, sei que o espetáculo está no fim, mas não sem antes ter mostrado algo único e belo: a comunhão dos corpos e melodias que só pode acontecer devido a direção de Voltaire Dackwardt e da regência de Antônio Carlos Borges Cunha.
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