Sunday, June 20, 2010

Entendimentos e desintendimentos

Em outras ocasiões já comentei como era difícil eu e o meu pai concordar, mas havia uma situação em que isto acontecia.Por incrível que pareça era em vendo futebol.  Aqui em casa eu era a única que me interessava. Nem mesmo meu irmão gostava. Assim, assistimos várias partidas juntos. Embora ele fosse gremista e eu colorada isso não nos impedia de entrarmos em acordo sobre o melhor jogador, a melhor estratégia e criticar todas as jogadas mal feitas, tanto de um time, quando de outro. São estas mágicas que só o esporte concretiza.
Nos últimos anos, fui me desinteressando. Mal sei do meu time, mas não ia deixar de assistir a mais uma Copa do mundo. Mesmo minha mãe que não tem quase nenhum interesse comentou: é uma ótima chance poder assistir aos melhores jogadores do mundo. E não é só isso. Futebol me acalma. A voz dos narradores, os comentários de Galvão Bueno, as análises de Arnaldo Coelho são coisas estáveis, neste mundo de impermanência em que vivemos. Já são personagens, eu diria. Eles passam o tempo todo criando contrapontos.  Galvão fala tudo boca a fora, faz gracinhas, provoca. Arnaldo Coelho é o sério, rígido e contido eterno juiz. Ouvindo suas vozes narrando futebol e comentando lembro de pessoas que amei e me sinto segura e esperançosa nos jogos do Brasil. Assim, mesmo quando o jogo começa com o time adversário jogando melhor como hoje, acredito que isso logo vá mudar.
Custou um pouco mais do que eu gostaria, mas terminamos o primeiro tempo com um certo alívio. O Brasil parecia começar a achar seu futebol. Antes do intervalo, porém, já comentávamos a força do time adversário, as camisetas mais pareciam baby-looks nos jogadores da Costa do Marfim. E é isso que vai atrapalhar todo o segundo tempo. Depois daquele gol “lindo, mas ilegal”, como disse, honestamente, Arnaldo, o jogo devia ficar bonito, ter jogadas interessantes e, no entanto, tudo que acontece são chegadas maldosas, faltas, jogadores machucados e assim vai até que Kaká nitidamente perde a paciência e é expulso pelo mesmo juiz que fez um dos lances mais curiosos que já tinha visto até hoje. Vimos ele “perguntando” para Luis Fabiano se ele tinha colocado o braço na jogada doo gol e o jogador desmentindo, claro. Agora, é muita cara de pau dizer que "para ficar mais bonito ainda é melhor um toque duvidoso". Não estou nem um pouco interessada em vitórias roubadas.
Bem, mas nós aqui quase previmos que Kaká acabaria expulso. Como o Dunga não viu? Porque não o retirou de campo quando percebeu que aquelas atitudes não iam dar bom resultado? Provavelmente, porque estava ele tão irritado quanto o próprio jogador. Aliás, se Galvão diz que não pode adivinhar os diálogos porque não sabe fazer leitura labial, posso garantir para vocês que ninguém “lê” melhor a alma dos técnicos da seleção brasileira do que ele. Quer dizer...nenhum deles o desmentiu até hoje quando, ao olhar seus gestos e movimentos, ele garante: “Dunga não gostou!” Bem, quem não gostou fui eu de ver uma partida de jogadas bem feitas e interessantes se transformar em um desentendimento tão grande em campo. Felizmente, a saída de Kaká aliviou a tensão e o jogo termina com uma vitória de 3 X 1 para o Brasil e os jogadores dos dois times trocando as camisas e dando abraços. Quem disse que futebol e teatro não tem nada em comum? Acho melhor, porém, não darem um atenção especial aquela defesa que fracassou totalmente no momento do gol da Costa do Marfim. Se o Brasil quiser aplausos no fim do seu “espetáculo” vai precisar melhorar neste sentido. Tenho certeza que o meu pai concordaria.


PS: Por falar em espetáculo, levei minha mãe e tias para assistir O Sobrado que está em cartaz no Renascença até dia 4 de julho e gostaria de usar meu recente título de mestra para recomendá-lo. 



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