Sunday, May 23, 2010

Grupo Galpão: o talento de contar histórias


Foi a mestre em teatro Betha Medeiros que me convidou no sábado para ir ver o Galpão. Devia ter deixado a preguiça de lado e ido. Nem sempre temos uma segunda chance. Felizmente, neste caso, o espetáculo ainda seria apresentando no Domingo. Cedo e de graça. Ou seja, não havia mais desculpas para não ir. Além disso, já não era mais um convite, era uma ordem: “vai!”, me disse minha colega de mestrado depois de assistir Till, a saga de um herói torto. Como se ainda não fosse suficiente, a Doutora Mirna Spritzer também enviou um email sugerindo a ida ao Gasômetro, local que costuma ficar extremamente movimentado aos Domingos. E, claro que hoje não foi diferente. Cheguei, razoavelmente cedo e isso me permitiu ficar em um local que me permitiu ver e ouvir bem tudo que acontecia no palco montado naquele espaço.


Logo de início, eu que já confessei ter mais hábito de ir ao cinema do que ao teatro, senti que seria conquistada. O cenário é simples. Não há recursos técnicos sofisticados, mas os atores são de um carisma impressionante. Talvez não seja esta a palavra correta para denominar atuações tão competentes, bem definidas que só a experiência teatral pode trazer. Em pouco tempo me vejo pensando em quantas vezes já ouvi dizer que teatro é a arte de contar histórias. É justamente isso que me fascina.

Eles usam alguns recursos cênicos simples de serem executados, mas que propiciam uma estética impecável. Um deles, ao jogar um pó branco a sua frente para simular a neve, me lembra meu professor Sergio Silva, que dizia que o teatro tinha esta magia. Bastava que um ator dissesse: “fecha a janela que lá fora está frio” para que ficasse definido que a cena era em um lugar interno. O texto “Till Eulenspiegel”, de Luís Alberto de Abreu, que deu origem a esta montagem que é ótima, engraçada, inteligente e o elenco nos conduz ao riso solto, aquele que anda cada vez mais difícil ultimamente. E olha que gosto de rir. Rio bastante com meus amigos, com a minha família, mas quando se trata de trabalhos artísticos no teatro ou na tv, acabo achando tudo muito caricato, forçado ou agressivo e vulgar. Nada disso acontece durante este espetáculo. E em muitos momentos a gente sente o controle que eles têm das cenas, seja nos momentos de improviso com a plateia, seja olhando para o fundo do palco e fazendo com que até eu me vire para verificar se tem alguém.

Bem, mas desta vez, não levei papel nem caneta, o que já no começo senti falta. Algumas falas precisavam fazer parte deste meu comentário. Lembrando delas, agora, porém, me dou conta que elas tinham outro efeito na boca dos atores. “Vamos peregrinar”, dizia um dos três cegos que são responsáveis por uma das partes mais divertidas do espetáculo. Mesmo utilizando algumas brincadeiras já conhecidas com as palavras, quando se trata da cegueira, eles provocam risos na plateia. Às vezes, basta o simples fato de salientar coisas que dizemos sem nos dar conta como ao ameaçar alguém: “tu vais ver!”

E eu ri profundamente, ri alto como há tempos não fazia. Ao mesmo tempo, o Till não tem nada de bobo, ao contrário. Lembrei de outro comentário que escutei relativo a outra situação, mas que se adapta, perfeitamente, aqui: “Há várias camadas de compreensão” e os próprios autores comentam isso com a plateia. É interessante também como eles são “narradores deles mesmos”, referindo-se ao seu próprio personagem, enquanto se dirigem a plateia.

Além disso, embora eu tenha destacado os três cegos, não falei nem do “protagonista” da história (que na ficha técnica é uma mulher, mas hoje jurava que era um homem) em particular porque é muito nítido que se trata do trabalho de um grupo formado há quase 30 anos com “G” maiúsculo cujo resultado é uma ação coesa, intensa e cheia de talentos. A Ficha técnica do espetáculo não me deixa mentir. Para parecer simples e perfeito é preciso muita gente.

PS: Doutora Mirna Sprizer esclarece: A montagem na sua concepção tem a Inês Peixoto como Till. Logo,começaram a revezar-se no papel, ela e o ator que vimos aqui, Paulo André.

Direção JÚLIO MACIEL

Texto: LUÍS ALBERTO DE ABREU

Cenografia e figurino MÁRCIO MEDINA

Direção musical - arranjos, adaptações e composições ERNANI MALETTA

Preparação corporal para cena: JOAQUIM ELIAS

Iluminação ALEXANDRE GALVÃO E WLADIMIR MEDEIROS

Caracterização MONA MAGALHÃES

Adereços LUIZA HORTA, MARNEY HEITMANN E RAIMUNDO BENTO

Sonorização ALEXANDRE GALVÃO

Assistente de figurino PAULO ANDRÉ

Assistentes de cenografia POLIANA ESPÍRITO SANTO E AMANDA GOMES

Pintura de telão ESTEVÃO MACHADO

Elenco ANTONIO EDSON : Borromeu : Povo : Anão

ARILDO DE BARROS : Parteira : Juiz : Camponês : Padre : Miserável

BETO FRANCO : Parteira : Português : Padre : Camponês : Miserável

CHICO PELÚCIO : Demônio : Camponês : Voz do Soldado

EDUARDO MOREIRA : Doroteu : Povo

INÊS PEIXOTO: Till

LYDIA DEL PICCHIA : Parteira : Consciência : Cozinheira : Menino

SIMONE ORDONES : Alceu : Povo

TEUDA BARA : Mãe : Miserável

Preparação vocal BABAYA

Técnica de Pilates WANESKA TORRES

Assistente de técnica de Pilates CAMILA COURI

Construção do palco TECNOMETAL

Ajudante de cenotécnica NILSON SANTOS, ELTON JOHN E GERALDO ALVES

Costureiras TAIRES SCATOLIN E IDALÉIA DIAS

Fotos GUTO MUNIZ / CASA DA FOTO

Projeto gráfico LÁPIS RARO

Consultoria de planejamento ROMULO AVELAR

Assessoria de planejamento ANA AMÉLIA ARANTES

Assessoria de comunicação PAULA SENNA

Estagiários de comunicação ANA ALYCE LY E JOÃO LUIS SANTOS

Consultoria de patrocínio MAURO MAYA

Assistente de produção ANNA PAULA PAIVA

Produção executiva BEATRIZ RADICCHI

Direção de produção GILMA OLIVEIRA

Produção GRUPO GALPÃO

Patrocínio PETROBRAS

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