Friday, May 07, 2010

Relaxando em SAMPA?

Quem disse que não dá para descansar em São Paulo? Como não gosto de viajar sozinha, acabei convidando minha cunhada para ir comigo. Aqui de Porto Alegre mesmo tracei nossa programação. Algo digno de uma guia turística. Passagens compradas e hospedagem garantida, lá nos fomos! Faço aqui o relato destes 4 dias em São Paulo. Sabia que ficaria longo, mas resolvi não editar. Assim, leiam o que quiserem, mas já adianto: cada dia teve momentos gastronômicos, culturais, turísticos...

1º DIA: DOMINGO – PERNAS PARA QUE TE QUERO (Aqui, não sabia que o “erro” linguístico seria justificado ainda durante este relato).
Para conseguir as menores tarifas, a hora de sair de Porto Alegre, era 7h30. Muito cedo para mim. Bem, mas pouco tempo depois já estávamos chegando no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Chegaríamos antes do início de nossa diária, mas acostumada com a “camaradagem” hoteleira gaúcha, achava que conseguiríamos nos instalar. Nada feito. Podíamos deixar a bagagem, pagando R$ 5,00 por cada volume. Saímos em busca de uma padaria indicada por um conhecido lá perto, chamada Princesa. O Google havia me dado o caminho. Chegamos na rua e nada. Usei o método tradicional: perguntei para uma senhora que passava. Estava em frente, mas o nome havia mudado. Entramos e descobrimos que havia um esquema de “brunch” em  que pagaríamos um preço único e poderíamos comer todo o tipo de pão, bolacha, bolo, assim como tomar espumante, comer ovos, queijos, etc. Fila. Mas os paulistas pareciam não se importar, então, não seria eu a me incomodar. Rapidamente, conseguimos nosso lugar. Bem alimentadas, a ideia neste dia lindo de sol era ir ao Parque Ibirapuera.
Dias antes, me divertira fazendo os trajetos pelo Google maps. Nada como alguém que saiba nos dizer de onde viemos e para onde vamos! O que não aparece, porém, é que o trajeto pode ser lomba acima ou lomba abaixo. Porém, começamos a perceber que nos aproximávamos quando começaram a aparecer os primeiros ciclistas, corredores, pessoas com roupas de ginástica. Neste momento, tínhamos certeza de que nossos trajes não estavam adequados para a temperatura.  Ainda gripadas e saídas do sul, todas nossas roupas eram mais quentes do que o necessário. Meu celular tocou. Era uma amiga nossa que depois de fazer o caminho inverso do meu (formada em teatro e depois em jornalismo) está morando em São Paulo. Combinamos de nos ver aquela noite.
Finalmente, chegamos ao parque. Entramos pelo portão 8 e eu já quis ir em busca de minhas referências: os pavilhões da Bienal. Passeamos vendo uma multidão de pessoas, entramos no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Lá pelas tantas, achei que seria interessante pegar um ônibus e ir ao Shopping Ibirapuera já que tantos consideram um ponto turístico. Definitivamente, não me incluo entre estes. Tirando a possibilidade de entrar e comprar uma regata e já sair com ela, pouca diferença faz de nossos shoppings por aqui. É claro que o fato de morar do lado do Barra Sul afetou meu julgamento. Assim, após nos hidratarmos, estávamos de volta na rua.
Em dúvida sobre qual a melhor forma de transporte, sugeri que seguíssemos a pé e que quando estivéssemos cansadas, decidiríamos por um táxi ou por um ônibus (a quem eu queria enganar?). Sem ter previsto este trajeto, começamos a nos perder. Sei lá o que me leva a achar que minha intuição me indicará o caminho correto. Andamos, andamos, andamos com o sol em nossas cabeças, pernas, braços. Até que parei para olhar o mapa. Letras miúdas e pedaços de nomes de ruas separados me faziam acreditar que estava andando por uma rua chamada República e que deveria ir até a rua Líbano. Em verdade, após perguntar para duas senhoras que passavam, descobri que já estava na República do Líbano e que deveria andar pelo menos mais oito quarteirões. Após ter passado por todas as clínicas médicas possíveis, casas antigas extremamente bem cuidadas que indicavam o “gabarito” dos médicos, constatamos que estávamos no portão 2. Estávamos fazendo a volta no “pequeno” parque. Decidimos (ou nossas pernas?) que já era hora de pegar um ônibus. Ao chegar na avenida Paulista, sem que o cobrador lembrasse de nos indicar onde deveríamos descer, enquanto esperávamos o sinal fechar, fomos importunadas por um senhor de idade que insistiu em saber nossos signos orientais. Entregou uma folha para cada uma e pediu uma ajuda. Dou R$ 1,00 e pouco, o troco que tinha no bolso, pois ainda não estou preparada para ficar vasculhando minha bolsa em plena Avenida Paulista. O senhor nos xinga. Pede de volta um dos papéis (Seria o único a nos importunar durante toda a viagem). Pouco tempo depois, estávamos em nosso hotel. Outras bolhas nos pés se juntaram a que eu havia levado de Porto Alegre.
Algum tempo depois e estava na hora de encontrar nossa amiga. Sugeri que fossemos até um bar há algumas quadras do hotel. A “recém paulistana” não pareceu muito animada com a ideia. Preocupada com a segurança e sem muita disposição para caminhar pelas ruas de São Paulo não via a hora de chegar ao tal destino. Acabamos, assim, escolhendo jantar em uma pizzaria que já estava de qualquer forma incluída na programação. Ótima pizza, vinho e conversa, na volta, pegamos um táxi até o hotel e ela seguiu até a Vila Madalena.

2º DIA: SEGUNDA - PARA SE SENTIR EM SÃO PAULO

Descemos para tomar café. Sentamos à mesa que estava posta. Víamos garçons, outras pessoas tomando café, mas ninguém veio falar conosco. Foi quando observamos um movimento dos hóspedes em direção a uma outra sala que percebemos que devíamos ir até lá se quiséssemos comer algo. Estranhamos o atendimento, além do pó na sala de ginástica e o pequeno tamanho da piscina.
Apesar de ouvir dizer que quem vai a São Paulo tem que passar pela 25 de março, eu não trazia na memória boas lembranças. Bem, mas não iria tirar de minha cunhada esta oportunidade. Sem saber como seria ir de metrô e seguindo as dicas do Google, pegamos um ônibus. Ao pedir ao cobrador que nos dissesse onde descer, recebemos de volta...nenhuma palavra, gesto, expressão facial. Outro passageiro, empático com nosso problema, disse que nos avisaria. Assim, descemos atrás da Igreja da Sé. Linda, por sinal. Mesmo sem vínculos religiosos gosto de entrar em igrejas e minha comparação (graças a Deus) é sempre com a Notre Dame que, alias, não tem o “glamour” de tantas outras. É preciso usar a imaginação de toda a história que se passou por aquelas paredes para que a gente, realmente, se emocione. Rumo a 25 de março. Fiquei surpresa com a tranquilidade que tivemos de entrar e sair de lojas. Muitas. Preços incomparavelmente menores para bijuterias e sapatos. Lembrando que o objetivo da viagem não eram as compras, assim mesmo sai de lá com uma nova sandália e alguns prendedores de cabelo.
Hora do almoço. Destino: bairro Liberdade. Outro ponto turístico da cidade. A sede e a memória me fizeram escolher um dos primeiros restaurantes. Repartimos um salmão com um molho de pimenta rosa e tomamos um vinho branco. Também em uma das primeiras lojas, encontro um casaco japonês vermelho e preto lindo. Por um valor para lá de razoável. Saio da loja com mais uma sacola. Sou abordada por uma pessoa e entendo que ela me perguntava “quem é Galvão Bueno?”, surpresa, respondo: um jornalista e apresentador da área esportiva. Ela sorri e diz: Queria saber onde fica a rua com este nome. Rimos juntas. Mais algumas lembrancinhas orientais e estava pronta para pegar o metrô, refazendo um trajeto que havia feito há pelo menos cinco anos. Foi, então, que rememorei a facilidade de andar neste meio de transporte. Muitas indicações e um trajeto inalterável por um preço mínimo. O paraíso dos turistas. Aliás, esta era uma das estações que tínhamos que cuidar, pois trocávamos de linha. O que parecia complexo no papel foi muito fácil na prática.  
Chegamos cedo ao hotel. Saímos no final da tarde para tomar um café. Vi o hotel Maksoud. Resolvemos ir até lá “espiar”. Entramos e sentamos na cafeteria. O lugar é mesmo impressionante. O interior do prédio é “oco” e os apartamentos ficam em volta. Mas ficamos lá durante uns 20 minutos. Atendentes e garçons circulavam pelo salão e nenhum veio perguntar o que queríamos. Por um lado, não nos impediram de estar ali. Por outro, nos ignoraram por completo. Decidi ir até a Casa das rosas, pois sabia que era um lugar de atividades culturais. Estava fechado. Ia ter um evento. Na volta ao hotel, passamos por um grupo com cartazes escrito “Abraço”. Não lembrava que era uma campanha do australiano Juan Mann, mas sabia que se tratava de uma “intervenção” chamada free hugs. Ao ser abordada, recusei. Mas cheguei poucos passos depois,  resolvi voltar. Fui na direção da menina que havia me pedido um abraço e disse que queria. Ela sorriu. A gente se abraçou. Minha cunhada esperava na esquina. Comentei que teria que contar isso a minha mãe que estava tão temerosa com nossas andanças paulistas e eu lá abraçando uma desconhecida em plena Avenida Paulista! De volta ao hotel. Hora do descanso.
Na lista dos lugares para comer e beber outra coisa que não água, estava o tal Squat. Localizado por minhas pesquisas prévias na internet. Um pouco em dúvida quanto à segurança do bairro (depois dos temores de minha amiga), pegamos um táxi. Por R$ 8,00 percorremos as várias quadras até o lugar. Vazio. Decidi fazer uma mudança na programação e ficamos no bar da esquina: o Malley’s. No cardápio, algumas combinações exóticas e deliciosas. Bom preço. A bebida nem tanto. Mas eu sou daquelas que não consigo saborear algo sem um vinho acompanhando. Tenho que lembrar de prever isso no meu orçamento turístico. Muito agradável o lugar, mas saímos cedo. O cansaço nos obrigava a retornar ao hotel, porém, para aproveitar a noite e o movimento: a pé.

3º DIA: TERÇA – MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
Chegava o dia do objetivo real da minha vontade de ir a São Paulo: voltar ao Museu da Língua Portuguesa. Mas antes, havia previsto uma passagem pela José Paulino, rua famosa pelas mercadorias que atraem lojistas gaúchas que buscam produtos para revender aqui.  Agora, o metrô seria nosso transporte favorito. Meu mapa, porém, não era claro sobre a Estação da Luz, onde pretendíamos descer. Era ainda mais fácil do que imaginávamos. Também para nossa surpresa, pouco movimento. Roupas lindas. Preços mais ainda. Sem a intenção de comprar, resistíamos a ofertas incríveis. Claro que não o suficiente a ponto de não fazermos também nossas comprinhas, o que para minha cunhada significou três trajes completos ao preço de um daqui. Fomos salvas pelo fato de que em diversas lojas não aceitavam cartão de crédito (só dinheiro ou cheque) ou de venderem apenas por atacado (em muitos casos, isso significava escolher 12 produtos, o que nem era tão complicado assim).
Próxima parada: a Pinacoteca. O prédio é lindo. Meu plano era almoçar lá. Lembrava que o lugar era agradável e que tinha coisas deliciosas para comer.  R$ 6,00 depois, estávamos sem nossas sacolas, ufa! A primeira pergunta que faço a quem recebe os nossos tickets é qual o acesso até a cafeteria. A resposta: está fechada! Assim, ficamos vendo as obras de Rodin, Anita Malfaltti, entre outras. Descubro que Portinari morreu envenenado pelas tintas! Não fazia a menor ideia. Além disso, vimos as obras elaboradas por ele a pedido do mecenas Castro Maia, um dos primeiros a transformar sua coleção em patrimônio público, doando, inclusive, sua residência.
Atravessamos a rua, estamos no Museu da Língua Portuguesa. Mesmo sabendo que a visita seria fascinante, meu interesse continua sendo matar minha sede. O rapaz que recebe os nossos bilhetes, nos indica a cafeteria da Pinacoteca e se surpreende quando eu digo que está fechada. Ou seja, já estou começando a dar informações. Na entrada, esbarramos em várias placas de acrílico com pedaços de palavras suspensas. Como não consigo lê-las, decido consultar uma das mediadoras. Este é um hábito que só adquiri depois de ser eu mesma uma. Gentilmente, ela nos passa todas as explicações. Era preciso espiar por um buraco para que as frases fizessem sentido. A exposição do momento chama-se “Menas”. Uma provocação que coloca em debate a forma como tratamos a língua, apontando a linha tênue entre o certo e o errado, dando ênfase a comunicação.
Fomos direto assistir ao vídeo que faz uma apresentação sobre a língua portuguesa. Eu já me encanto com o fato de que o logotipo do museu é uma constelação formada de letras. Assim, o vídeo as coloca em movimento pela “atmosfera”. A seguir, várias pessoas vão falando sobre a importância da língua. A voz de Maria Bethânia aparece com uma frase de Fernando Pessoa: “quem não vê bem uma palavra, não pode ver uma alma”. Depois, passamos para uma sala onde as palavras circulam do teto ao chão e somos envolvidos pelas luzes que são na verdade letras, textos, poesias. A voz de Dorival Caymmi me emociona pela sua leveza e tranquilidade cantando: “coqueiro de Itapuã, areia...” Só lá para ouvir José de Alencar na voz de Zé Celso Martinez Correa!
Saindo desta sala fomos explorar o resto do Museu que coloca à disposição dos visitantes várias “estações” interativas. Computadores com interfaces bastante simples de serem acessadas e informações interessantes. Entre estas, um jogo de certo ou errado da língua portuguesa que era, na verdade muito mais uma maneira de instruir o jogador do que outra coisa. Entre muitas dicas e informações fiquei sabendo que a palavra “eslaide” foi aportuguesada! Esta exposição abre espaço para a língua que anda nas ruas e isso inclui para-choques de caminhão. Cheguei a anotar uma: “A fé move montanhas, mas os ecologistas são contra”. É nesta exposição que frases como do meu primeiro subtítulo são justificadas. Pode!
Outro espaço bem bolado eram os vídeos com a mesma atriz fazendo quatro personagens diferentes. Cada um “encarnando” uma norma: a gramatical, a lexical, a semântica e a discursiva. Ocorria diante dos visitantes um diálogo entre elas sobre o certo e o errado das frases em cada situação. Sem dúvida, uma forma divertida de esclarecer do que se tratava. Na saída, entramos na estação de metrô em frente e pouco tempo depois, estávamos no hotel. Enquanto descansávamos, víamos Os Normais 2. Quando terminou disse a minha cunhada: ainda bem que não fui até o cinema ver isso. Ela disse: pois eu fui. Quase todo o filme é Fernanda Torres e Luis Fernando buscando uma parceira para um ménage à trois.
À noite, fomos, finalmente, ao SQUAT. O cardápio era muito atraente. Pedimos coisas deliciosas para comer e, claro, vinho. De sobremesa churros com sorvete. Recomendo. Na frente, manobristas cobrando R$ 15,00 para estacionar os carros. É...parece que fazer isso em São Paulo vale cada tostão. Se bem que minha cunhada disse que eles ganham mesmo melhor do que nós. Uma movimentação intensa no prédio em frente chamou nossa atenção. Pensamos que era alguma inauguração. Perguntamos para o garçon e ele disse: não, é uma igreja chamada A Cabala. Ele contou que só este ano a Madonna já esteve lá duas vezes. Ah, se eu soubesse...Falha minha não ter incluído uma visita na programação.

4º DIA – QUARTA-FEIRA: ALGUMA COISA ACONTECE NO MEU CORAÇÃO
A ideia era, finalmente, ir ao MASP. Há apenas algumas quadras do nosso Hotel tinha ficado para o último dia. Como só abria às 11h, saímos pela Paulista e começamos a voltar pela Oscar Freire, rua das lojas de griffe. Na calçada, na nossa direção, vinha uma pessoa bem magra com um chapéu de aba super larga e óculos escuros que me chamou a atenção. Ao passar por ela me dei conta de que era, justamente, Fernanda Torres. Sabendo que este era o seu “disfarce” para não ser reconhecida, não pensei em pedir autógrafo, mas me passou pela cabeça ir dizer que topava o ménage à trois. E se ela aceitasse? Melhor não.
Mais R$ 25,00 para guardar as bagagens após o término da diária e lá estávamos nós no Museu de Arte de São Paulo. Quatro exposições estavam acontecendo. De cara uma exposição de “retratos”. Os detalhes, a capacidade de alguns artistas pintarem os olhos das pessoas que encomendavam seus retratos, a riqueza das vestimentas, me atraem. Logo em seguida, uma exposição sobre o Romantismo. Muito bem montada. Separada pelas características deste período artístico (natureza, exotismo, urbanismo, etc), as explicações eram claras e a grande maioria das obras impactantes. Tive o prazer de ver O Azul e o Rosa de Renoir de novo. Como é bom (re) conhecer obras de arte. O que achava que seria impossível, hoje, já acontece de vez em quando. Olhando à distância sei que é um Modigliani, um Lautrec, un Van Gogh, um Picasso. Claro que não ponho minha mão no fogo, mas não sou mais tão ignorante em artes plásticas e isso graças a pessoas que souberam me instigar, que foram generosas em repassar seus conhecimentos, sem a arrogância que tão seguidamente acompanha algumas outras, que fazem questão de dar esta ideia de que a arte é só para entendidos.  
Ainda lá no MASP vimos o processo de recuperação das obras do francês Poussin, um dos maiores representantes do classicismo do século XVII. Muito interessante. Tudo explicadinho. Passo a passo. Além das próprias obras. Ou seja, um verdadeiro antes e depois.
Minha cunhada, que acha que não entende de arte, fez ótimos comentários partindo única e exclusivamente de suas observações. Foi isso que aprendi com um artista plástico que até hoje é muito especial para mim: olhar as obras sem o compromisso de saber sobre elas, a explorá-las como só as crianças sabem fazer, sem preconceito, sem ideias preconcebidas, sem julgamento, sem compromisso. Aliás, havia um grupo delas sentada no chão do museu ouvindo, atentamente, as explicações da mediadora. Adoro quando isso acontece. Olhei para eles com interesse. A mediadora me olhou de volta e sorriu.
Precisamos lembrar que o objetivo da arte não é separar as pessoas em categorias, mas tocá-las, sensibilizá-las, provocá-las. Em função do mercado da arte e daqueles que se dizem especialistas, esquecemos disso. Aprendi, participando das Bienais, a andar pelos Museus de forma inquieta e curiosa fazendo minhas próprias descobertas e me permitindo não me interessar por algumas propostas artísticas sem me sentir estúpida por isso. Obrigar as pessoas a gostar de alguma coisa, só as afasta ainda mais, o que é, sem dúvida, uma pena. Nesta visita ao MASP, me deparei com uma palavra que não tinha a menor ideia do significado. Refiro-me a “palimpseto”. Prometi a mim mesma verificar o que era: palimpsestos são pergaminhos que, depois de lavados e raspados para apagar o texto primitivo, são reutilizados para outro texto; o próprio nome já diz: palim (Grego, “de novo”) e psestos (”raspar”).  Segundo o professor Claudio Moreno pode ser utilizado, metaforicamente. “A vida é um palimpsesto”. (Todos nós seríamos esse conjunto de inúmeras camadas superpostas, nem sempre visíveis a olho nu, que foram se acumulando ao longo de nossa existência; todos nós somos “palimpsestos”, escritos e reescritos continuamente). 
Passei batido pela exposição de Max Ernst. 184 colagens criadas pelo artista que foram reunidas no que foi chamado de “une semaine de bonté” (uma semana de bondade). Na descrição dizia que havia uma crítica cáustica e surrealista às convenções sociais da Europa do período entre guerras. Não me detive, mas percebia que cada uma poderia render longas discussões na mão de um bom mediador.
Antes de almoçarmos lá mesmo, vimos uma exposição chamada Festival do minuto. Onde as pessoas eram convidadas a enviar seus vídeos-respostas sobre algo em relação a cidade de São Paulo. O melhor receberia um prêmio de dois mil reais. Gostei mais da ideia do que dos vídeos que vi. Achei que é algo que poderia ser implantado por aqui.
Lá pelas tantas vejo um recado de uma das pessoas que faz parte da minha pesquisa de e que mora em São Paulo. Tínhamos pensado que seria uma oportunidade para nos conhecermos, já que desde 2008 quando comecei meu mestrado apenas nos falamos virtualmente. Faltavam poucas horas para eu sair da cidade quando conseguimos, finalmente, sentar para tomar um café. Nossa conversa comprovou uma teoria minha de que a virtualidade, embora não substitua os contatos pessoais, pode aproximar as pessoas e que a linguagem é, realmente, algo que nos permite encontrar gente que compartilhe das mesmas ideias. Foi rápido, mas muito interessante e agradável. Mais um bom momento desta viagem que para mim já  tinha sido perfeita. Não podia eu imaginar que ainda haveria mais.
Mal entramos no avião, começamos a ouvir um comissário com um sotaque carioca começar a dar os avisos de um jeito muito engraçado. Disse que o nosso voo seria de 40 minutos que passariam voando, literalmente. Ao falar das máscaras que cairiam caso acontecesse alguma coisa, completava com: assim eu espero. Assim como:  “Em poucos instantes nosso serviço de bordo estará servindo...toda nossa simpatia”. Ele não apenas dizia coisas engraçadas, mas tinha o tempo certo para fazer as pausas, exagerar a voz, etc. Dá para ter uma ideia acessando, como ele próprio sugeriu, o youtube e pesquisando por Ronald, o comissário.
Chegando no aeroporto, as pernas doíam e o sono era grande, mas, se o corpo demonstrava sinais de cansaço, sair da rotina, trouxe, sem dúvida, novas energias. Foram quatro dias sem ler jornal, sem acompanhar nenhuma roubalheira política, nem saber de nenhum ato de violência no Brasil ou no mundo. Alguém quer algo mais repousante do que isso?
Não estranhei as pessoas, não me sentir diferente daquele povo. Ao contrário, tinha a impressão de conhecer vários rostos até que, realmente, esbarrei em uma professora gaúcha amiga da família caminhando pela Paulista que estava de passagem com destino para a Turquia. O mundo é mesmo uma ilha.
Não, não cruzei a Avenida Ipiranga com a Avenida São João, mas alguma coisa aconteceu em meu coração. Com ou sem garoa, São Paulo, definitivamente, me conquistou.
Obs: Levei um livro para passear em São Paulo tendo em vista que ele até saiu da mala, mas  não li nem uma página.

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