O futebol começou a fazer parte da minha vida muito cedo. Não lembro exatamente quando, mas ainda recordo que meu avô colorado oferecia balas para que a gente torcesse para o time dele, o Internacional. Claro que naquela época isso era apenas uma brincadeira com os netos e não exatamente um suborno como hoje (depois de tantas maracutaias) acabaríamos pensando.
Também tenho fortes lembranças da copa de 70. Tinha oito anos na época e achava muito engraçado meu avô gritando com o Tostão pela tv, dizendo: “vamos sua vaca”. Devo esclarecer que meu avô era um homem de aparência séria, careca de sobrancelhas grossas, mas que assistindo a uma partida se transformava. O que, sem dúvida, faz ainda mais sentido se considerarmos que ele estava diante de um time com Pelé, Gérson e Rivelino, entre outros. Além disso, que criança não ficaria impressionada com todos aqueles carros na rua, as pessoas gritando, bandeiras, fogos de artifício? E é um mistério o que acabamos guardando na memória.
Anos mais tarde, quando estava com 12 anos conheci meu primeiro namorado. Ele estava indo jogar futebol. Vi pela janela do carro que, enquanto os outros jogadores do time zombavam do menor porque ele não conseguia pegar a bola, meu futuro amado pegou a bola e entregou para ele. Foi paixão a primeira vista. Durou nove anos. Nestes anos, muitas partidas de futebol assistimos juntos. Torcíamos os dois para o Internacional. Sim, meu avô conseguiu me “influenciar”.
Ainda neste período, muitas partidas de futebol assisti da nossa turma. Havia um clube na esquina da minha casa e era comum os meninos alugarem a cancha e fazerem partidas, campeonatos. Mauro Galvão era um deles. Embora naquela época ninguém pudesse imaginar que aquela fissura toda pela bola não os tornaria jogadores profissionais, creio que os demais seguem no anonimato. Bem, talvez, outros joguem em times que eu desconheça, espalhados pelo Brasil.
Mais tarde, conheci outro menino que era gandula do Inter. Assim, depois de passarmos horas segurando a mão um do outro e ele me dando beijos no pescoço (o que me deixava meio incomodada), ele se despedia de mim e ia para o estádio. Quando o jogo era televisionado, eu ia para casa. Não para ver o jogo. Mas para vê-lo ir buscar a bola quando esta saía do campo. Diante de uma multidão, ele aparecia por alguns segundos segurando a bola e jogando de volta. Eu me esforçava para identificá-lo e quando conseguia confirmar que era, realmente ele, era uma emoção.
Curiosamente, nunca namorei alguém do time oposto. Talvez as afinidades também passem pelo esporte. Meu pai, com quem sempre discutia, era gremista. Um tio tinha conseguido influenciar ele mais fortemente do que o próprio pai. Não com balas, mas o levando a assistir aos jogos. Mesmo em times opostos, eu era a única a fazer companhia a ele quando via os jogos. Meu irmão nunca se interessou por futebol. Naquela época, era ele que preferia as artes, a poesia. Ouvir os Beatles fazia muito mais sentido. Aliás, na família, apenas outra mulher tem um interesse profundo pelo esporte. Justamente a irmã do meu pai. Colorada. Costuma não programar nada em dia de jogo e já foi, muitas vezes, ao campo. Lê todos os comentaristas. Ouve rádio o dia inteiro em dia de jogo.
De qualquer forma, estamos prestes a começa a assistir a uma Copa do Mundo e a antiga paixão pelo futebol reacende e traz a memória meus amores que, hoje, estão espalhados, distantes, mas que ainda assim tenho certeza de que por 90 minutos, assim que a Copa começar vão estar desejando mais uma vez o mesmo que eu.
Vou buscar novas companhias, pois para mim, o futebol sempre veio acompanhado de afeto.
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