Texto de Márcio Silveira
No tempo da inquisição era queimado todo livro que fosse considerado herege, fora da filosofia da Santa Madre Igreja, que macula-se os bons modos e costumes da sociedade medieval. Como supressão milhares de obras foram queimadas sem se quer sobrar um exemplar, que hoje poderiam esclarecer melhor a formação do homem e das sociedades até então. O filme O Nome da Rosa, baseado no livro homônimo de Umberto Eco, retrata bem este momento histórico.
Na atualidade os livros que são jogados fora por estarem defasados ao dono, são reciclados ou reutilizados abastecendo bibliotecas públicas municipais, estaduais e bibliotecas populares de ONGs, Associações e Escolas. Sejam livros didáticos ou não. Porém há uma retomada da ação praticada na inquisição, os alunos pelo Brasil afora estão queimando os livros didáticos dentro do ambiente escolar. Um fenômeno crescente no país! Sintomático? Possivelmente sim!
Cabe-nos refletir e agir quanto a essa questão antes que pensem ser o imperador Nero, que mandou por fogo em Roma, e incendeiem também as escolas brasileiras de fato. É um ato brutal a Educação, mas por outro lado pode representar uma atitude de protesto. Quais os motivos? Pode dever-se ao fato das aulas serem pouco significativas; ou os professores terem aplicado erroneamente o conhecimento ali contido, gerando desinteresse à disciplina em questão; ou é apenas um vandalismo desenfreado; enfim uma gama de possibilidades.
No momento me sobressalta a questão de um possível protesto, inconsciente que seja, pela falta de consonância dos conteúdos e sua aplicabilidade com a vida dos alunos. Os didáticos, por exemplo, são livros que não se aplicam a 50% da vida dos alunos de periferia. Faltam livros didáticos que possibilitem trabalhar com as novas realidades, existem alguns, mas são raros e voltados a seguimentos específicos da Educação Brasileira.
Portanto é necessário que os autores revejam e reformulem as abordagens dos conteúdos em sintonia com um Brasil tão diverso. Seria interessante pensar em livros didáticos que falassem não só na língua destas gerações de jovens em formação e desenvolvimento da aprendizagem, como também com ares da cultura dos povos de cada região onde eles seriam aplicados. Respeitando e mantendo evidentemente a diversidade cultural do país.
Do contrário sou a favor da queima dos didáticos que servem de bengalas para professores e professoras acomodados nos conteúdos plasmados no papel. Assim acabaríamos de vez com as aulas e o ano letivo que já iniciam em conflito quando o docente entra na sala de aula e diz do alto da sua magnitude de mestre do saber de coisa nenhuma: - Abram o livro na página...
Márcio Silveira dos Santos é Professor
Publicado originalmente no Jornal Vale dos Sinos em 27 de Abril de 2010
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