Dia dos professores sempre foi uma data comemorada na minha casa. Pelo menos, um parabéns, logo cedo, sempre pintava. Quando nasci meus pais já estudavam com a pretensão dar aulas no futuro. Éramos quatro filhos e minha mãe se desdobrava para ir a Aliança Francesa fazer seu curso. Meu pai, além do trabalho, ia para a Universidade. Física? Matemática? Não sei. Ele fez as duas. Depois, quando fui para a minha primeira escola, eles já lecionavam lá. Fui até aluna da minha mãe que, por sinal, depois de fazer algumas advertências para que eu ficasse quieta, acabou me colocando para fora da aula. Foi a única vez em minha vida que fui expulsa e logo pela minha mãe! Assim, cresci sabendo que estudar era coisa séria e que dar aula exigia muito tempo e dedicação. Talvez, seja importante dizer que ambos amavam o que faziam. O emprego no Banco do Brasil do meu pai foi sempre para sustentar a família, mas, onde ele se realizava era desafiando os alunos a aprender matemática de um jeito diferente.
Minha casa sempre foi cheia de livros. Durante os momentos em que estávamos juntos os assuntos discutidos eram os mais diversos... cultura, política, economia e, é claro: educação. Lembro de acompanhar minha mãe em alguns movimentos grevistas, de ir até um acampamento na praça da Matriz, de discutir as propostas e reivindicações desta categoria tão maltratada neste país. Tudo isso era normal para mim. Rotineiro. Só muitos anos depois, uma amiga chamou minha atenção, dizendo: “- Aqui na tua casa, vocês sempre debatem tudo. Na minha, só falo com meu pai para pedir que ele me passe a manteiga.” Vejam só...Eu pensava que todas as famílias eram assim. Acredito que venha daí este meu jeito questionador.
Minha mãe amava a língua francesa. Amava? Ainda é completamente louca por tudo que se relacione a este país. Até hoje, ela diz que quando morrer vai para a França. Com todo este entusiasmo ela acabou representando a classe na Associação de Professores de Francês do Rio Grande do Sul, o que lhe rendeu um importante título oferecido por aquele país: as palmas acadêmicas. Ah, minha mãe poderia também dar aula de inglês. Estudou sozinha e fez as provas que eram exigidas na época para obter o título de professora também desta outra língua estrangeira, mas, nunca quis fazer isso. Não ia ser com a mesma paixão.
Nunca tive aula com meu pai, ou melhor, até tentei algumas aulas particulares (eu bem que precisava), mas, que quase sempre acabavam em briga. Eu não entendia nada e não tinha paciência com seu jeito calmo e tão interessado por todos aqueles números e fórmulas e ele também ficava meio irritado com o meu desinteresse por algo que era tão fascinante para ele. No entanto, muitos alunos adoravam a maneira irreverente dele dar aula. Seus enigmas, suas histórias sobre o Sherlock Homes, o personagem que ele criou chamado o homem de cinzento, as gincanas que ele promovia na escola, etc, etc, etc. Idéias estranhas. Muitas incompreendidas que se transformaram hoje nos Jogos Boole e que vêm recebendo aceitação de educadores em todo o país (depois de terem sido reconhecidos pelo Governo Francês). Não raro, minha irmã psicopedagoga ouve os professores dizerem: teu pai era um gênio!
Hoje, o dia vai ser ainda mais comemorado do que de costume. Vamos receber aqui em casa a Lilia Rodrigues Alves. A fundadora e diretora do Instituto Educacional João XXIII da época em que meus pais estavam lá. A idéia surgiu depois que ela fez um contato com a família para dizer que lamentava a morte do meu pai. Foi neste momento que minha mãe teve a oportunidade de dizer que graças a ela ele pode desenvolver o trabalho que tanto amava. Ela deu liberdade para ele fazer inúmeras atividades naquela escola que poucos administradores escolares permitiriam. Eu, que conhecia as idéias do meu pai, apelidado de Professor Pardal, sei que não deve ter sido fácil não temer que aquilo tudo acabasse em reclamações dos pais ou dos próprios alunos. Esta atitude compreensiva e incentivadora desta diretora não foi apenas com ele, mas, com vários professores e alunos daquela escola. Por isso, ela será homenageada e o fato de ser aqui em casa só faz parte de um histórico da minha família, no qual esta profissão sempre teve muito valor.
Obs: Lilia Rodrigues Alves ainda não sabe desta comemoração. Mas, não acredito que ela acesse meu blog até hoje à noite.
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