Tuesday, March 31, 2009

Tá e aí?

Há quem diga que devamos esperar para escrever sobre o que acaba de ser visto. Não discordo e nem concordo com esta opinião, mas, simplesmente, não pretendo respeitá-la. Acabo de voltar da comemoração de encerramento de uma temporada do espetáculo “Tá e aí?” (acredito que serão muitas) e confesso que não vou dormir direito enquanto não registrar minhas impressões. Fui assistir algo que levava o nome de duas pessoas muito queridas para mim: Julio Conte e Ian Ramil. Um, embora de tempo na terra semelhante ao meu, anos luz no caminho que eu acabaria escolhendo tardiamente: o teatro. Outro, colega de sala de aula onde demonstrava um talento e uma competência que não passa despercebida. Ou seja, a expectativa era grande. Por razões estritamente particulares, o ânimo não era dos melhores. Mas, lá me fui. Teatro praticamente cheio. Logo de cara a relação palco e platéia se estabelece e começam os jogos. Ian não está em cena.

 

Para quem fez práticas teatrais não são novidades totais, mas, a maneira como vão se apresentando impressiona profundamente. Exatamente por reconhecê-las é que é possível saber o grau de complexidade de algo que parece banal. Improvisar é uma das premissas de quem faz teatro, mas, como exercício testa o ator. Rapidez no raciocínio, disponibilidade, coragem de encarar cada desafio. Tudo está lá. O prazer é intenso. A risada vem fácil. O que acontece faz pensar: não é exatamente isso o teatro? Tendo como mestre primeiro Zé Adão, sendo aluna do DAD desde 2001 e hoje teórica do mestrado de artes cênicas, o espetáculo Tá e Aí condensa tudo e me traz à tona o fascínio completo e absoluto pelo teatro.

Quem pode não gostar de ver que tudo não passa de um jeito de brincar com a realidade, jogar com as palavras e ir além? Lembro de Augusto Boal com suas propostas do teatro fórum, teatro do invisível, teatro no dia-a-dia. “Tá e aí?” é isso tudo e mais. Tive certo receio quando pensei que a platéia deveria interagir. O que, sem dúvida, é ainda mais complicado para o público comum. No entanto, não há coerção. Participa quem, realmente, quer. E apesar de que quase tudo que é feito no palco ser feito nos moldes do que é proposto para os estudantes de teatro, não estamos falando de algo para principiantes. Quem está começando não tem o tempo certo como Rafael Pimenta, nem o jogo de cintura de Eduardo Mendonça e desse menino que não conhecia  ( e com certeza ele não faz a mínima idéia de quem eu seja) Leonardo Barison. Isso sem falar nas convidadas de hoje Ingra Liberato e Juliana Brondane. 

 Fiz várias anotações sobre cada proposta cênica, mas, vejo que nenhuma delas é importante ser registrada (aliás estão no blog para quem quiser saber). Vão ser retomadas nas próximas apresentações? Certamente. Mas, não é isso que importa. O que fica é o prazer de um teatro bem feito, com gente talentosa. Definir cada cena? Para que? Afinal, não é absolutamente delicioso pensar que o que vi hoje não vai ser o que será visto na próxima temporada? Eu quero voltar, mas, mais do que tudo, gostaria que outras pessoas fossem ver um teatro no qual a gente lava alma por ser divertido, por ser feito por gente com tanta competência e resultar em algo tão genial. 

O teatro precisa de mais gente assim que se doe pela arte, que se libere do ego, sem preocupações com a permanência e que, por isso mesmo, seja eterno se não historicamente em nossas memórias. Graças a pessoas assim e a um teatro como este sei que esta arte terá vida longa.

Fiquem atentos a próxima temporada na Álvaro Moreira: 14/21/28/ de abril e 5 de maio.

Créditos:

Direção: Clube da Patifaria.

Jogadores: Eduardo Mendonça, Ian Ramil, Leonardo Barison, Rafael Pimenta e Vicente Vargas.

Mediação: Júlio Conte.

Anfitrião: Mauricião.

Luz e som: Gabriel Lagoas.

http://blogdotaeai.wordpress.com

2 comments:

  1. Oh, Helena, que beleza estas palavras. Emocionante, sensível e delicada. Obrigado.

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  2. Helena! muito obrigado pelas palavras! to distante da cidade, mas que bom que tem a internet hehe. o julio disse tudo, todos ficamos muito felizes com a critica e publicamos no blog, ok?
    beijo!

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