Vivo em contradição. Não gosto de comprar briga com ninguém. Não sinto prazer em contrariar as pessoas, nem em provocá-las. Mas, preciso reconhecer que não sei deixar passar impunemente coisas ditas que me incomodam. Cresci em um ambiente polêmico. Meus pais sendo professores sempre debateram assuntos políticos, sociais, econômicos, comportamentais, durante o almoço, na hora do café, nos encontros de família. Era natural para mim. Ficava surpresa quando algum amigo comentava: "a tua casa é tão diferente da minha. Lá, meu pai me diz para eu passar a manteiga. Aqui, vocês comentam as atitudes do presidente!". E não é que era assim mesmo? Provavelmente, venha daí minha escolha pelo jornalismo. Pronto! Associei minha curiosidade às técnicas de elaborar perguntas de improviso e nunca mais parei. Meus professores, desde o segundo grau pelo menos, são testemunhas disso. Quem me conhece há pouco tempo (e gosta de mim) ainda estranha. Acha que estou brava. Fica com medo que os outros me tratem mal. Eu perdi este medo faz tempo. Fiz amigos que admiro e respeito com este jeito de ser. Provavelmente, tenha feito alguns inimigos também, mas, eles não se apresentaram e, portanto, não me incomodam.
Bem, mas, isto tudo é para falar do evento chamado "Estado da Crítica" ao qual me referi antes, pois, apesar de, praticamente, roubar a palavra, ainda tenho alguns comentários para fazer.
Há um ano atrás, quando preparei meu projeto para o mestrado em Artes Cênicas levantava questões sobre a função da crítica, quem poderia fazer crítica, como formar um crítico. Hoje, depois dos estudos que fiz, percebo que estas questões eram superficiais e estavam impregnadas de conceitos (ou preconceitos) sobre a crítica. Quem tem acompanhado um pouco das minhas descobertas sabe que temi por ter escolhido um tema que já fizesse parte de um passado, morto e enterrado. Felizmente, era só uma impressão. Aqueles que imaginam isso estão apegados ao termo crítica = julgamento, o que, para arte contemporânea não faz muito sentido. Hoje, vivemos a valorização da figura do espectador e tomamos consciência de que não podemos falar de UM espectador, mas, de tantos quantos estiverem na platéia. Isso significa que não existe um único espetáculo, mas, o espetáculo que chega a cada um destes que lá está. Então, não adianta refletir sobre ele? Nada disso. Só não podemos esquecer que aquele que escreve sobre o espetáculo também é espectador. Não sei se privilegiado (como dizia Sábato Magaldi), mas, que não surgiu só para cruzar a porta daquele teatro, mas, também vem de uma família (igual ou diferente da minha), tem uma formação e vivenciou coisas particulares e específicas. Ele é tudo isso, além de uma pessoa que escreve sobre teatro. É uma figura imprescindível para a existência da arte? Não. Mas, acredito, profundamente, que ele colabore para sua existência, fortalecimento e permanência. Como? Primeiro, ele serve para fazer um registro do que foi apresentado. Não vai ser imparcial. Vai estar impregnado das suas próprias impressões. Pode fazer avaliações preconceituosas, retrógradas. Afinal, mesmo aqueles que se dedicaram ou dedicam exclusivamente a esta função cometeram erros e, às vezes, até sem querer, tentam induzir o público a rechaçar artistas que acabaram se impondo e mostrando sua genialidade (Nelson Rodrigues é um bom exemplo). Em segundo, aquele que se dispõe a escrever sobre os espetáculos pode acrescentar informações, trazer um novo olhar sobre aquilo que o público vê e não compreende. Mas, cuidado! Não estou dizendo que será ele a dizer o que devemos ou não gostar. Nem a apontar a nossa ignorância se criticamos algo que ele considera uma obra-prima ou o contrário, se gostamos de algo que ele odeia e considera uma arte menor. Não acredito que seja este seu papel. E quanto a quem pode efetivamente fazer isso, tenho muitas outras questões ainda não resolvidas e que espero minha pesquisa me auxilie a chegar a algumas conclusões. Até agora, o que vi, na história da crítica foi uma disputa de poder entre os veículos de comunicação e a academia, ora um em alta ora outro e, mais recentemente, nenhum. E é neste momento que vão surgindo os espaços virtuais. Ocupados por qualquer um que resolve escrever sobre teatro? Sim, mas, qualquer um que pára tudo que tem para fazer para ir ao teatro, escrever sobre o que viu e expor suas idéias para quem quiser, inclusive, rechaçá-las. Até agora, encontrei na maioria diretores, artistas, produtores e tantas outras pessoas ligadas ao teatro. Que prejuízo pode haver nisso? Pode induzir a opinião do público a ponto de afastá-lo do teatro? Bem, é preciso observar que nem os considerados maiores críticos conseguiram este feito. Ao contrário, suas opiniões, mesmo que negativas, acabaram contribuindo com a arte. Talvez, de forma prosaica, possa reduzir tudo isso no seguinte ditado: “fale bem ou fale mal, mas, fale de mim.” Este, vale também para as obras de arte e para os artistas. Da minha parte, como apaixonada por teatro, quero mais é ler algo absurdo sobre um espetáculo em um espaço em que possa dar minha opinião. E para não perder o hábito, devo dizer que não concordo com Antonio Holfeldt (audácia minha) quando ele diz que a crítica é um gênero jornalístico, pois, como não chamar de crítica o que começa a surgir nos espaços virtuais não elaborados por jornalistas? E se é questão de nomenclatura, rebatizemos a crítica!
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