Sunday, July 27, 2008

Quem disse que sonhar não custa nada?


Fui assistir ao filme O Banheiro do Papa. Já tinha passado o sábado sem fazer nada quando amanheceu este Domingo de chuva. Fazia horas que não ia no Guion. Olhando o preço do estacionamento já consigo lembrar por que. R$ 7,00? Ainda bem que quem vai ao cinema tem desconto. Fica por R$ 3,00. Mas, o cinema é R$ 12 e tem que ter dinheiro vivo. Bem, mas, a sala é muito cômoda e ainda dão aqueles saquinhos transparentes para a gente comer as coisas e não fazer barulho. Claro...chuva=chocolate!
Já tinha ouvido falar do filme, mas, na minha cabeça tinha final feliz. Que nada! Isso quem faz são os americanos. De qualquer forma, é um ótimo filme. Faz a gente cair na real, pensar, dar mais valor a tudo o que temos. Sem forçar a barra. Gosto muito de histórias que se referem a fatos reais. Nunca esqueço, porém, que a forma como são contados, é ficcional e pode ser boa ou rim. Neste caso, é ótima. Os atores são incríveis. A fotografia é excelente.
Não gosto de ler sinopses, mas, agora que já vi, não me importo. De qualquer forma, acho estranho eles dizerem que o protagonista era contrabandista. Este termo é muito pejorativo para o que ele faz para sobreviver...
Apesar de ter saído de casa apenas para me distrair e acabar vendo um filme sem happy-end, valeu muito a pena. Recomendo. Mas, não aceito reclamações. Afinal, eu avisei.

Para um domingo chuvoso

Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo Neto
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

Friday, July 25, 2008

Mestrandos na gandaia


Um absoluto sucesso a nossa primeira festa ontem. Sim, porque no que depender de mim, muitas outras virão. Nem foi tão difícil acertar uma data em que a maioria pudesse vir. Todos procuraram seguir as regras de trazer coisas para beber e comer e foram além: bons quitutes, ótimos vinhos. A mesa ficou farta e bonita e, desta vez, diferente de tantas outras, eu pouco tive a ver com isso! Assim, fica fácil programar qualquer festa. Não tem stress. Casa limpa, flores nos vasos (se não minha mãe não deixa ninguém entrar) e pronto! A cada pessoa que chegava eu ia ficando mais feliz. Estava com saudades destas pessoas que conheci há tão pouco tempo. Ainda tenho tantas curiosidades a respeito de todos. Mas, independente das lacunas curriculares, são pessoas que olham nos olhos, que sorriem e que quando abrem a boca tem coisas legais para dizer, mesmo quando é por pura brincadeira! Sei que são cabeças pensantes, se não, não seriam meus colegas de mestrado em teatro, mas, são corpos dispostos e almas alegres. Assim, não tem como não ser divertido nos reunirmos.

Quando pensei em me deitar, depois que todos haviam ido embora, eram 2h da manhã, sendo que o primeiro a chegar estava aqui as 8h. Ou seja, ficamos juntos bastante tempo, mas, não foi o suficiente. Passou rápido e consegui conversar um pouco mais com apenas alguns, não com todos. Vi que o pessoal gostou da casa e eu que trabalhei intensamente na reforma da mesma, fico orgulhosa. Mas, de que adiantaria uma casa assim se não fosse para abrir as portas para os amigos, para a alegria? Era assim antes, quando a casa nem tinha toda esta estrutura. E meus colegas puderam ver pela minha mãe que são festas que recebem a aprovação de todos. As "férias" estão no fim. Não vou negar que bate um certo pavor perceber que não fiz as leituras que precisava e que muito ainda vem pela frente, mas, sei que tudo isso vai acontecer com estas pessoas por perto, então, vamos em frente. Com cada vez mais certeza de que o que se leva desta vida não são os títulos, os bens, mas, momentos como os de ontem em que as vozes encheram o ar e as risadas, os corações!

Friday, July 18, 2008

Ia me esquecendo da poesia...

Por estas e por outras que tenho que ser a favor do Orkut. Estava bisbilhotando (sim, eu faço isso) mensagens para ver se uma amiga minha já chegou ao Brasil, depois de alguns anos fora, e encontrei no perfil de outra um texto que me chamou a atenção. Era de Rainer Maria Rilke. Nunca tinha ouvido falar, não que eu lembre. Lembrei de Heiner Muller, dramaturgo alemão, mas, isso é outra história.

Bom, daí, coloco o nome deste poeta, até então desconhecido para mim, no Google e surgem milhares de páginas e textos. Quem diria...Na verdade, eu mesma. Canso de me dar conta de quantas coisas desconheço. O quanto sou ignorante em diversos setores. E olha que poesia é uma das coisas que sempre gostei, desde os 12 anos. Bem, mas, agora que descobri esta pessoa vou buscar mais informações e já vou publicando algumas coisas por aqui. Nestas horas, redescubro o poder da palavra!

"Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, a dizer o que vê, vive, ama e perde. (...)"

"Pois não é apenas a indolência que faz as relações humanas se repetirem de modo tão monótono e sem renovação de caso a caso, é a timidez diante de qualquer experiência nova, imprevista,para a qual não nos consideramos amadurecidos.(...)”

Quero lhe implorar Para que seja pacienteCom tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar.As perguntas como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las. E a questão é viver tudo. Viva as perguntas agora.Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.

Wednesday, July 09, 2008

Diário de um mestrado

Talvez, este título não esteja lá muito correto, já que não tenho a menor intenção de escrever todos os dias. Ao contrário. Pensei em fazer isso a cada seis meses apenas. Acho que já é o suficiente. Antes de qualquer coisa, preciso dizer que chorei quando não entrei a primeira vez. Tinha feito planos. Estava cheia de expectativas e queria, a todo custo me manter vinculada a minha segunda grande paixão, depois, do jornalismo: o teatro. É importante dizer isso para ficar óbvio o quanto fiquei feliz em me transformar, finalmente, em uma mestranda. Orgulhosa também, eu diria, por fazer o site do Pós-Graduação de Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aliás, visitem: www.ppgac.ufrgs.br. Ainda tem várias coisas para explorar, mas, dá para o gasto.

Fiz minha inscrição, obviamente, cheia de dúvidas. Pensei que havia ficado fora de uma disciplina que só mais tarde percebi que era importante. Mas, não. Logo no início, conheci meu orientador que, sendo de Santa Catarina, estava aqui para dar um curso e me orientar, é claro! Foi um ótimo encontro. De posse de uma lista de dez livros para ler e vários questionamentos (inquestionáveis) feitos por ele, eu começava a me assustar, percebendo o trabalho que ainda teria pela frente. No entanto, nos primeiros quatro meses praticamente não mexi no meu projeto. Também pudera.

Envolvida com as aulas e as leituras das disciplinas normais, não conseguia achar tempo para mais nada. Felizmente, uma delas nos obriga a ir revendo o que pretendíamos no começo, o que dissemos que gostaríamos de pesquisar. Gostaríamos? Não. Adoraríamos! Em uma das primeiras aulas, declarei a minha paixão ao meu tema e me sentia inteligente por isso. Sabia que só alguém muito a fim conseguiria manter a energia que seria necessária. Ah, preciso dizer também que me senti bem burrinha muitas vezes. Algumas palavras ricocheteavam na minha cabeça e saiam pelas orelhas exatamente do mesmo modo como entraram. Sem antes, causar certo estrago. Meus colegas me viram participar das aulas, dizer várias coisas e perguntar outras tantas, mas, eu aguardava ansiosamente o horário do café. Só uma pausa poderia trazer de volta o meu fôlego para tentar compreender todos aqueles conteúdos. Esbarrei em gente que se delicia em dar voltas nas palavras, criar verdadeiros labirintos nas idéias e no final... o que eles disseram mesmo?

Mas, tirando algumas raras exceções, este era o sentimento geral e assim fomos nos apoiando e sobrevivendo a aulas que, às vezes, nos sugavam para um buraco negro, o buraco negro da ignorância. Sim, porque aos poucos descobríamos o quanto ainda não sabíamos. Nós, aqueles mesmos seres que havíamos conseguido passar na prova e sermos aprovados na entrevista!

Bem, mas, seis meses (ou seja ¼ do tempo) já se passaram. E preciso confessar: meu projeto ainda está apenas começando. Após uma segunda visita do meu orientador até o nome da minha pesquisa sofreu alterações. Que dirá o resto! Mas, não se enganem. Eu continuo animada. Só que não posso evitar certa angústia que me invade dia sim, dia não e que se associa ao prazer e ao entusiasmo de encontrar mais um livro, mais um texto que preciso ler, mais nomes que devo contatar. E não creio que isso aconteça apenas com o meu tema que trata do mundo global, virtual, da rede de comunicação mundial.

Na cadeira que fiz com os colegas, que agora têm o mesmo tempo que já se passou para mim para concluir o curso, observei que suas pesquisas ainda estavam sendo processadas, discutidas, questionadas. E assim como tantos outros conceitos que se diluíram na minha mente nesta metade do ano, o do tempo é definitivo. Tenho o mesmo tempo de mestrado feito que os alunos do segundo ano para concluir e não preciso perguntar para eles se o que para mim já é muito para eles é quase nada! E, embora nenhum deles tenha me dito: “eu sou você amanhã”, isso está claro para mim.

Volto em dezembro com outro relato para que todos me acompanhem nesta saga, rumo ao pior!
  

Tuesday, July 08, 2008

Lei seca

Tenho evitado de escrever sobre a nova lei de proibição de bebidas antes de dirigir. Não porque não tenha uma ou muitas opiniões formadas sobre ela, mas, porque na minha pretensão, fico receosa (para não dizer com medo) de que se for parada alguém verifique minhas idéias antes de me pedir para fazer o exame do bafômetro. Então, vou aproveitar este mundo de internauta e publicar aqui parte do texto do jornalista e autor teatral Sergio Roveri.

Com medo da lei seca
Na noite de domingo, após sair da última sessão do genial Wall-e, o robozinho que é capaz de cativar qualquer um mesmo em cópias dubladas, eu e dois grandes amigos, o ator e professor Alberto Guzik e o jornalista Ricardo Moreno, paramos em um restaurante para a tradicional saideira do domingo. Passava um pouco das onze da noite. O Guzik pediu uma cerveja longneck, o Ricardo foi de caipirinha de lichia e eu, bem...como naquela noite eu estava dirigindo, pedi um copo de água e aceitei dar no máximo dois goles na cerveja do Guzik, linda, gelada, amarelinha e irresistível. Naquela hora eu senti o peso da lei seca e, ainda que sob o risco de atrair uma chuva de críticas à minha opinião, gostaria de explicar aqui como eu me senti naquele momento. Eu me senti infeliz.Concordo com um outro grande amigo que costuma dizer que os números de acidentes de trânsito no Brasil são pornográficos. Concordo com qualquer medida, lei ou decreto que visem diminuir tais estatísticas e preservar a vida de motoristas e pedestres, principalmente dos mais jovens, que parecem ser as principais vítimas desta guerra que se trava nas ruas do País. Concordo também que tolerância zero é tolerância zero, sem brechas, exceções ou jeitinhos. Mas, apesar de tudo isso, continuo achando que esta lei ainda é um pouco difícil de engolir - e não sei se ela se tornará mais digestiva com o tempo, pois o problema não parece estar em sua adaptação, mas sim em suas raízes.É ridículo acreditar que alguém possa ser flagrado pelo bafômetro por ter usado Listerine, ser diabético, tomado antidepressivos ou, o que é pior, comido dois bombons recheados de licor. Com apenas um chopinho a gente já corre o risco de perder a carteira de habilitação e ainda arcar com uma multa de quase mil reais. Conversei hoje com um psiquiatra, estudioso de vários tipos de drogas e seus efeitos sobre o organismo humano a partir de certas dosagens. Ele diz que não há consenso médico que classifique como alcoolizada um pessoa que tenha ingerido um copo de chope. Parece pouco. Sei que se a lei usasse como parâmetro a medida mínima de dois copos de chope, ainda assim haveria reclamações - até porque somente os outros ficam bêbados. Nós, no máximo, ficamos alegrinhos, e olhe lá.Repito que sou favorável a qualquer lei criada para diminuir o número de acidentes de trânsito, mas esta me parece invasiva demais, penalizante demais, espetaculosa demais. Ou seja: um cenário propício para casos de propina que nosso jeitinho brasileiro bem sabe como administrar. Acredito que esta lei, da maneira como vem sendo aplicada, só reforça a idéia de que o mundo está se tornando um lugar cada vez menos prazeroso, cada vez mais vigiado e repressor.Naquele domingo à noite, ao lado do Guzik e do Ricardinho, tomei dois goles tão pequeninos de chope que parecia que estava tomando a vacina Sabin: deu para molhar a língua, mas não para engolir. Na volta, tive de cruzar toda a Vila Madalena para deixar o Ricardinho na casa dele. Fiz este trajeto com medo de ser parado pela polícia, eu olhava para cada esquina da Vila com tamanho pavor de ser flagrado que parecia que eu estava transportando um cadáver no porta-malas. Mas não um cadáver qualquer: um cadáver que eu mesmo havia produzido. Achava que a qualquer momento uma viatura ia interceptar o meu caminho, um policial desceria com um bafômetro, meu carro seria guinchado e eu passaria a noite na cadeia por causa daqueles dois golinhos de chope. E talvez nunca mais pudesse dirigir. E é isso que me dá medo nesta lei e no mundo de hoje: parece haver uma ação orquestrada para que a gente viva acuado, temeroso, marginalizado e com aquela sensação de que está constantemente fazendo algo de errado.Eu trabalhei, há alguns anos, com um famoso jornalista que matou a namorada com dois tiros nas costas. E continua em liberdade. Se eu tivesse sido pego no domingo, talvez fosse detido após meus dois goles de cerveja. Repito que não quero ser contra a lei, mas que mundo é este em que dois goles de cerveja são mais graves do que dois tiros pelas costas? É para dar medo ou estou exagerando?

Postado por Só no blog Quinta-feira, Junho 26, 2008

Monday, July 07, 2008

A língua

Vira e mexe me dou conta de que escrevi algo errado por aqui. Felizmente, entro no texto e corrijo. Mas não sei quantas pessoas já leram meus erros e fico com uma certa vergonha. Jornalista deveria saber escrever. Depois me lembro que todos eles têm revisores. Pessoas que são pagas apenas para ficar, justamente, corrigindo os erros dos outros, mesmo depois que o Word já o fez. Porque escrever algo interessante, com emoção e ainda pensar na gramática? Nem sempre é possível. No texto anterior, havia escrito "hospéde" e como me referia a um canadense, de repente, tem gente que pensou que era assim que se escrevia a palavra em francês. Que nada! Bem, mas, neste fim-de-semana, ainda sob o efeito canadense, ficamos repetindo o erro do Charles e falando no mousse "maracúja". Ou seja, basta uma mudança de acento para ficarmos ridículos. Que saco...Bem, mas, eu vou seguir escrevendo e revisando quando encontrar os erros. Muitos deles ainda devem estar por aí. Fazer o que?

Saturday, July 05, 2008

Nosso hóspede canadense vai embora


Hoje levei no aeroporto o canadense que esteve hospedado aqui em casa desde o dia 24 de maio. Como detesto despedidas definitivas, prefiro sempre pensar que voltarei a revê-lo um dia, seja ele retornando a Porto Alegre ou eu indo ao Canadá. Deixo registrado aqui o texto que escrevi para entregar a ele na festa de despedida que eles (os 14 canadenses que estavam aqui na cidade estudando português) organizaram. Vai dar uma idéia de como todos nos sentimos.
"A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar..." Pequeno Príncipe




No início, era apenas um nome em um papel. No primeiro dia, este nome se transformou em um jovem sorridente e simpático com o qual passaríamos a conviver todos os dias.
Ele é uma das pessoas mais educadas e gentis que já conhecemos. Durante o período que esteve conosco, elogiou tudo: comida, lugares, pessoas. Agradeceu mais ainda. Cada pequeno gesto nosso foi sempre retribuído com um “muito obrigado”.
Em todos estes dias, nunca pareceu estar contrariado com nada, mesmo diante de alguns imprevistos no seu local de hospedagem.

Curioso, fez sempre várias perguntas sobre a política, a economia, os costumes, sem nunca dizer que no Canadá era mais organizado ou melhor. Ao contrário, fez sempre questão de mostrar estar gostando de tudo que conhecia.
Quase dois meses depois, muitas conversas, sorrisos, infinitos agradecimentos, nos despedimos de alguém de quem sentiremos saudades.

No primeiro momento, era um desconhecido. Hoje, é um amigo.

Thursday, July 03, 2008

Ah...Não. Só A.


Quanto tempo depois de ver um espetáculo a gente ainda pode comentar? Fui assistir ao espetáculo “A” nas segundas-dramáticas do Departamento de Artes Dramáticas, na General Vitorino. É aberto ao público. Apareçam por lá, às 18h. Em geral, é coisa boa. E foi assim.
Entrei lá à tarde e as vi preparando o cenário. Não era sofisticado, mas, já causava certo impacto. No entanto, é quando elas encenam que aqueles panos e balões fazem sentido. A energia daqueles corpos esbarra nos tecidos e se reflete no público. Teve discussão depois. Justamente com o meu orientador, Edélcio Mostaço. Foi ele que me fez perceber que aquele tema que, para mim não causou surpresa, ainda podia provocar tanto estranhamento, principalmente, nos homens.
A peça fala do universo feminino. Bem, o assunto desperta o meu interesse há vários anos. Já li muito. Discuti muito e elas estavam ali falando de maternidade, de violência no casamento e por aí vai. Então, o que realmente me deixou de boca aberta era a forma como elas resolveram trazer tudo isso à tona. Não havia homens em cena. Eram apenas três mulheres. No entanto, elas contracenavam com seus machos invisíveis e reagiam a eles de forma intensa, natural e verdadeira.
Ontem ainda, alguém me perguntou: tu és atriz? Sempre respondo: faço teatro. Porque sei o quanto é difícil chegar aquele resultado ali que vi no palco. Tem gente que acha que fazer teatro é fazer caras e bocas e até é, mas, as caras e bocas tem que acontecer no tempo exato e do jeito certo. E foi isso que vi. Havia teatralidade, é claro! Mas, ao mesmo tempo tudo aquilo podia estar acontecendo na sala da casa da gente. Tinha uma proposta lúdica, mas, que nem por isso era leve ou divertida. Lembra um pouco aquela música do boi da cara preta que “pega esta criança que tem medo de careta”. Ou seja, mais assusta do que faz rir.
Minha colega de mestrado, Maria Amélia Netto, foi a última a fazer o seu monólogo e isso me gerou forte expectativa, pois, as anteriores haviam sido incríveis. Mas, o bom é isso. As três têm o mesmo nível de atuação: alto, eu diria, e isso só pode dar bom resultado. Luciana Holanda, Marina Monteiro e Maria Amélia são dirigidas por Cleistenes Grött e Meire Silva. Elas partiram do texto de Dario Fo e Franca Rame, mas, fizeram entrevistas com muitas mulheres, saíram a campo para elaborar a peça e introduziram coisas que fizeram o espetáculo se tornar bem interessante mesmo para mim que por ter nascido feminina sabia exatamente do que elas estavam falando desde que Rita Lee cantava: “mulher é bixo esquisito, todo mês sangra!” Mas, vejam, isso não diminui em nada este espetáculo que é sensível e contundente ao mesmo tempo.